A VASSOURADA
Rui Martinho Rodrigues*
Jânio da Silva Quadros, líder
populista dos anos cinquenta, explorava a repulsa popular em face da corrupção.
Fazia sucesso prometendo varrer os desonestos da vida pública. Mestre da
demagogia, chegou à presidência, mas a vassourada não se concretizou. Tentou um
golpe. Não deu certo, morreu para a vida pública. Ele mesmo, arauto da
probidade, deixou uma pequena fortuna em bancos da Inglaterra pela qual
brigaram os herdeiros.
Hoje vivemos uma vassourada, não
promovida por algum líder carismático, nem por algum partido de “puros”. A
constelação de fatores, de que falava Weber, é composta, no momento político
brasileiro, por instituições autônomas, como a Polícia Federal (PF), o
Ministério Público Federal (MPF) e o Judiciário, amparadas pela legislação que
tornou atraente a colaboração negociada entre o MPF e os réus; a colaboração
internacional, que está revelando ativos financeiros ocultos nos paraísos
fiscais; e as novas tecnologias com imagens e áudios, somados aos registros
eletrônicos das transações bancárias.
Aparentemente não há seletividade.
Todos os grandes partidos estão enredados na teia de aranha das investigações.
As facções rivais, no interior das instituições, apontam os crimes dos mais
diversos líderes, partidos e correntes doutrinárias, desmascarando uns aos
outros. Houve uma tentativa de desinformação que procurou apresentar as
investigações e processos como seletivos e fruto de um juiz à imagem do famoso
Torquemada, perseguidor inclemente da Inquisição. Falou-se até que o juiz Moro
queria “prender todo mundo”, alegando excesso de prisões, como estas fossem
avaliadas pela quantidade, não pelos seus fundamentos.
Não existe só a Lava Jato. São
numerosos os processos e investigações conduzidos em São Paulo, Brasília, Rio
de Janeiro, por outros juízes que não o Sérgio Moro, de Curitiba. São diversas
as equipes da PF e do MPF, assim como do MP do DF e de São Paulo, ao lado das
respectivas polícias civis. PMDB, PT, PP, PSDB e outros partidos estão
gravemente feridos, tendo expressivos nomes envolvidos nas diversas operações
policiais, alguns já denunciados e outros até condenados.
Muitos confessaram seus crimes e
colaboraram com a justiça, mediante barganha. Pode-se arguir que as
colaborações atendam a seletividade do interesse dos réus. Mas os múltiplos
investigados desmentem uns aos outros e completam informações. A tecnologia de
áudio e filmagens, registros de transações, tudo dificulta a impunidade.
Políticos ainda não entenderam isso.
Empresários e tecnocratas puxaram o
cordão dos apenados. Agora chegou a vez dos políticos. Senadores, inclusive o
Presidente do Senado, Renan Calheiros; o Presidente da Câmara, Eduardo Cunha,
ao lado deputados e senadores-ministros e ex-ministros;
líderes de governo, até ex-presidente e familiares, estão todos fisgados. O
Senador-ministro Romero Jucá referiu-se ao Deputado Eduardo Cunha como “morto”.
Mortos estão todos eles. Não ficará pedra sobre pedra.
O que virá depois? Só o tempo sabe a
resposta. Não está sendo gestado nenhum salvador da pátria. O caos produzirá a
luz?
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