segunda-feira, 15 de setembro de 2014

ARTIGO (PMA)

DEPRAVAÇÃO NÃO É ARTE
Paulo Maria de Aragão*

Numa exposição em Londres, já vai algum tempo, o fotógrafo americano Leigh Ledare chocou visitantes ao expor uma série de fotografias por ele tiradas da própria mãe, Tina Peterson, ex-bailarina profissional, fazendo sexo explícito com um jovem. Impensável é a permissividade a que chegaram. As fotos repulsivas correram o mundo e dividiram a opinião pública.

Desvio de conduta sexual para uns, para outros uma encenação de arte. Não seria ele um travestido voyeur: "Vejo o desempenho da sexualidade de minha mãe como tendo uma série de funções, entre elas, desafiar o clima de moralismo e conformismo em torno dela, como uma forma de proteger-se do seu envelhecimento (...) e recuperar a autoestima”. Talvez, em última instância, mesmo sem salvar a própria pele, seria melhor admitir: exibicionista que ofende os pudores materno e paterno. Enfim, um transtorno da sexualidade, mas psiquiatras, certamente, o designariam como anormalidade patológica diversa.

O voyeurismo, aceito por muitos como “natural” - alcance orgástico fora do conhecimento da pessoa cobiçada - não seria a patologia caracterizadora da exposição pública em comento. Sem conteúdo, sórdido e alienante, desola o sentimento e a perda de referência do homem, fazendo-o interagir como robô nas relações sociais, frio e vazio. Da mesma maneira, visto num museu na Europa, ao atribuir-lhe a condição de difusor cultural, ao franquear semanalmente um dia de entrada a homens e mulheres nus em seus recintos.

Os valores constitutivos da personalidade permanecem à deriva do bom senso e não causam mais espécie. A nudez tem seu espaço e beleza para ser explorada como cultura e abstrai-se do incentivo hedonístico, isolada da censura e da falsa pudicícia. É de todo pertinente o que já dizia Eça de Queirós, no ano de 1871, sobre a perda da razão de ser do mundo: “Estamos perdidos há muito tempo/ O país perdeu a inteligência e a consciência moral./ Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada./ Os caracteres corrompidos./ A prática da vida tem por única direção a conveniência”.

Nesse contexto, por mais que se tente ser aberto, tolerante e sem preconceito, é difícil admitir que um estroina registre o ato sexual da própria mãe, sob o argumento de demonstração artística. Sodoma e Gomorra, devido à devassidão e à promiscuidade de seus habitantes, foram destruídas. Contudo, a expansão e a libertinagem das bacanais greco-romanas permaneceram encarnadas nos nossos carnavais, festins licenciosos e particulares.

A intrigante mostra envolve uma mente perturbada, ligada ao desejo edipiano não resolvido. Com efeito, é difícil de entender ser ela derivada de culpa inconsciente quando intrincada no recôndito da mente humana. Seria incogitável admitir que, por trás da inusitada exposição fotográfica, exista um grande negócio financeiro entre os atores?


(*) Paulo Maria de Aragão 
Advogado e professor 
Membro do Conselho Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira nº 37 da ACLJ

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