OS ABUTRES
Déspotas disfarçam-se
e sempre se disfarçaram de estadistas, respondendo em todas as épocas pelas
tragédias e desatinos da história. Dinheiro e poder, irmãos siameses, nas suas
operações ofensivas, marcham de flanco em qualquer terreno e oprimem os que se
lhe façam frente.
Adejam em
círculos como abutres esfaimados, crocitando à cata de tudo que lhes dê
proveito, bicando certeiramente na mosca dos orçamentos públicos e deteriorando
estruturas do Estado. Distinguem-se das espécies detritívoras, extremamente
úteis à sociedade, “garis da natureza”, fundamentais no equilíbrio do
ecossistema. Voam em direções opostas.
Tenha-se que o
dinheiro e o poder não são um mal em si. Mas enoja o lucro fácil e espúrio,
obtido com o infortúnio de alguém, desviando verbas da saúde e da educação,
além dos que recebem robustas comissões sem trabalhar. Fazer uso dessas
afirmativas será demasiado?
A felicidade não
está no linde entre o dinheiro e o poder, mas na satisfação de ações criadoras.
Por isso, o povo está nas ruas, acreditando que porá termo à pilhagem do
erário. Alentadoras são as manifestações, mas os abutres, já estão ensaiando
voo e, se não enxotados, emudecerão vozes não mais condescendentes com o atual
estado de coisas.
A corrupção,
delineada num catálogo de amplitude enciclopédica, estimulada pelo público do panis et circenses, afigura-se
indomável. Debalde, partidos políticos só a combatem na mídia, muitas siglas de
aluguel, reduzem-se a inócuas etiquetas. O governo não tem compromisso social –
entes e servidores públicos jamais deveriam ser nossos senhores e sim, sempre,
servos nossos e para isso lhos pagamos.
O lema trivial
de que os fins justificam os meios retrata a atual reação coletiva contra os
insensatos gestores públicos indiferentes ao planejamento, à transparência, ao
controle e à responsabilidade. Manipulados por parlamentares movimentam,
abusivamente, bilhões do dinheiro público, indignos de respeito e dos postos
que ocupam.
Às exceções de
praxe, o sistema político decompõe-se, falsos líderes estão acuados, enquanto a
Justiça faz-se desacreditada pela morosidade. A história exige da Corte
Constitucional empenho, presteza, diligência, independência e soberania nos
seus julgamentos.
Será que vivemos
uma nova disposição de ânimo cívico, de anúncios de intenções ou de falsas
esperanças? Catarse? De qualquer maneira, já não há muito a esconder quanto à
promiscuidade pública. A essa altura, é de se fiar no poder do povo, revoltado
e indignado, capaz de mobilizar a nação através das revolucionárias redes
sociais, havendo de ter como senha a ininterruptividade.
Por Paulo Maria de Aragão
Advogado e Professor
Membro do
Conselho
Estadual da
OAB-CE.
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