OITO DÉCADAS
“Do alto desse edifício, oitenta anos vos contemplam!” – se poderia dizer aos fundadores da ACLJ, em relação ao prédio da ACI - Associação Cearense de Imprensa – parafraseando Napoleão Bonaparte, dirigindo-se aos seus soldados ante as Pirâmides do Egito.
Os oitenta anos da ACI não são tanto tempo assim, comparados aos quarenta séculos
que as Pirâmides já ostentam. Porém, foi
ao longo dessas oito décadas que toda uma plêiade de cearenses notáveis produziu
e criou esta atual geração de nossos acadêmicos fundadores.
Por
seu turno, Aluísio Gurgel perseguia a utopia, militava na esquerda, produzia
jornal, confrontava o poder político, recebia medalha do governo soviético –
enquanto gestava seu filho único e homônimo, cidadão democrata, juiz de Direito, intelectual refinado, Aluísio Gurgel do Amaral Júnior.
Mais tarde o jovem
Armando Farias fundava, entre os seus primeiros professores, ao lado de Ivan Brito, Liberal de Castro e Neudson Braga, o Curso de Arquitetura da nossa Universidade Federal, que produziria tantos profissionais de alto nível, ao tempo em que gerava,
entre outros filhos, em comunhão com a poetisa Concita, o futuro engenheiro
Pedro Altino, primoroso cronista, caráter refinado.
Enquanto isso Dorian
Sampaio militava na imprensa e na política, tinha seu mandato de deputado
cassado pelo governo militar, era preso e em seguida forçado a assumir a
profissão liberal de odontólogo, já que suas outras atividades de parlamentar e
jornalista estavam proibidas pela ditadura de direita – até que após a abertura
pudesse editar o seu próprio jornal - já acompanhado pelo primogênito Dorian Filho.
Ao mesmo tempo o
professor Alves Fernandes deixava o seminário e abria o primeiro curso
preparatório para o vestibular em Fortaleza, formava sua biblioteca, organizava
dicionários, enquanto fazia dar à luz a futura poetisa Karla Karenina, a atriz,
a comediante, a luminosa criatura.
Assim também José Martins Rodrigues, Waldemar Alcântara, Ulisses Mesquita, Francisco Ibiapina, Martinho Rodrigues, Napoleão
Nunes Maia, Salomão Ximenes, Ayrton Vasconcelos, Lindival de Freitas, Almiro Vieira, Jairo Marques, Cássio Borges, um pouco mais antes, um pouco mais
depois, estavam flanando diariamente pela Praça do Ferreira.
De sua genética, dentre outros, adviriam os acadêmicos acelejanos que regularmente se reúnem no velho prédio da ACI, em prol das letras e da memória cearenses.
A eles se juntam simbolicamente os patronos perpétuos das cadeiras acadêmicas, do Barão de Studart a Edson Queiroz, de Paula Ney a Eduardo Campos, de Gustavo Barroso a Rachel de Queiroz, de João Brígido a Rodolfo Espínola, de Otacílio de Azevedo a Tarcísio Tavares, entre outros tantos nomes.
Sendo assim, no sexto andar da ACI, nas reuniões da ACLJ, não estamos somente os que nos enxergamos. Há uma seleta multidão de cearenses conosco. Sim. Do alto desses oitenta anos muita gente boa nos contempla.
A propósito, está marcada para o dia 4 de maio, coincidindo com
o segundo aniversário da ACLJ, a primeira Assembleia Geral do ano, no auditório
da ACI, às 20:00h, em que tomará posse na Cadeira de nº 39 o jornalista Wilson
Ibiapina, eleito por maioria de votos no último dia 20 de dezembro.
Por Reginaldo Vasconcelos
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