sexta-feira, 26 de agosto de 2011

CRÔNICA

DES...CONSTRUINDO

Vita brevis, ars longa, occasio praeceps, experimentum periculosum, iudicium difficileA vida é breve, a ciência é grande, a ocasião é fugaz, a experiência é perigosa, o julgamento é difícil.  (Hipócrates).

Madrugada agitada no mar da Barra da Tijuca. O vento bate com força na minha janela, me fazendo acordar para o que estou sentindo.
Talita, Kume!

Há dias um sentimento estranho de fim, de tristeza, partida e despedida me invade com a mesma força desse vento de furacão.

Tem sido difícil demais remar contra a maré, então me rendo finalmente ao fluxo natural das ondas de emoções da minha arrebentação.

A minha insônia tem o mesmo fundo musical das cenas do enterro da filha da ficção, e agora me dou conta de que me confundo com meu personagem.

O que resta à Anecy? A filha morreu, perdeu a guarda do neto e, agora, o que ainda restava de alegria e consolo a essa mulher simples que saiu do Nordeste para “vencer” na vida também vai embora com a outra avó.

Duro demais ter que aceitar sem poder lutar, a partida da única lembrança de sua continuidade, seu neto.

Resignação, resistência, renúncia... resiliência! É o que o exercício da arte tem tentado me ensinar.

Vai-se findando um trabalho maravilhoso no Sul Maravilha. E agora?
Aceitar o fim sem querer que acabe? Dura de aprender, essa lição!
O que me resta a fazer? Não fazer nada de concreto é o certo?
Tentar fazer algo seria contraproducente? Nessa profissão há que se cuidar do melindre.

Difícil para quem herda no sangue a vontade de vencer, a necessidade da luta declarada pela sobrevivência.

Superar os complexos, fingir naturalidade, quando o tufão interno está prestes a eclodir.
Aprenda-se a lidar com a ciência das máscaras! Mostre-se a persona!

Desconstrua-se, então, o costume ancestral e aprenda-se o novo!
Fazer de outro jeito, quase sem parecer fazendo. Deixando-se refazer e recomeçar.
Honrando o que foi feito e confiando no processo da seleção natural, este, sim, imutável e independente das resistências.

Vida longa à minha arte!

Que sopre com força esse vento e que arrebentem as ondas do mar lavando e restaurando a minha alma. Que nasça o sol, brilhe sobre as ondas e que o mestre me erga dos sonos da morte em vida!!!

Que assim seja!

Karla Karenina – Em 26.08.2011 às 05:15h.

A CRONISTA E POETISA ENTRE MINO E PC NORÕES

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