terça-feira, 9 de agosto de 2011

ACLJ 86 - Parabéns para Narcélio Limaverde



NARCÉLIO SOPRA 80 VELAS


Hoje, 08 de 08 de 2011, completa 80 anos de idade o radialista Narcélio Limaverde, um dos mais tradicionais homens de imprensa em Fortaleza, herdeiro de longa tradição familiar na atividade. Narcélio é Membro Honorário da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, que aqui lhe presta especial homenagem, com a crônica abaixo, publicada na coluna Cá Entre Nós do extinto jornal Tribuna do Ceará, em 1981, na qual o cronista Reginaldo Vasconcelos, de forma carinhosa, flagra o homem em seu ofício.

CHUVA NA ESTRADA

Com as chuvas, acometeu-me a mesma sede das aves, das arribações que voltam sequiosas ao sertão, na entrância do período invernoso. Manhazinha de sábado, chovera a noite toda e a água sobrava, desmanchando-se na cidade. O automóvel roncou na garagem, um ronco abafado por uma manifesto chuá. Nele saí a procura do sertão, rumo à fazenda, pela estrada encharcada em pequena torrante, e quase não se enxergava adiante, de tanta chuva e de tanta bruma.
Já longe da cidade encontrei pelo vidro milimetrado do rádio a voz do Narcélio Limaverde. Sintonizei em seu programa, porque ainda pelo rádio posso ouvir-lhe o coração, ponderado e amigo, saudosista e afetuoso. Fui acompanhando pelo éter as traquinagens da enxurrada cometidas na cidade, enquanto dela me afastava para deitar os sentidos na paisagem.
Mantive um vagar por todo o itinerário, pois nenhuma pressa me acossava.
A viagem em si fazia a sua parte, me fazendo espairecer da visão estreita e de toda a canseira dos dias da semana, das horas estáticas e dos dias suarento de um longo verão. A certo ponto chequei a ter pena do Narcélio – exótico sentimento, pois ninguém dá importância humana às vozes do rádio – por estar ele trabalhando naquela hora de sábado, na melhor hora da chuva.
Depois imaginei a reconfortante companhia daquele microfone, que o fazia estar a um só tempo, inclusive ali no meio do sertão, na intimidade do meu carro.
E assim fui ter dois dias de repouso, simplicidade e anonimato, a terra molhada e o céu tão baixo de quase poder tocar com a mão. O supra-sumo trivial como tomar cachaça na rede depois do banho de riacho, ouvir a rã rapando e a orquestra de sapos na lagoa.
No frio hibernal a tépida companhia das pessoas estimadas, poucas palavras para o ouvido e linha direta para o coração. Meu carro na estrada era um bólido vagaroso incendiando de alegria, rumo ao país dos passarinhos, os proprietários do arrebol.

Reginaldo Vasconcelos

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