quinta-feira, 25 de agosto de 2011

CRÔNICA




IMORTALIDADE ACADÊMICA

Por Reginaldo Vasconcelos

Eu sempre achei que a chamada “imortalidade acadêmica” fosse um mito, assim como também achava que a “fonte da juventude” fosse mera ficção – até que um cientista me explicou a íntima relação entre o envelhecimento da pessoa e a qualidade da água que, ao longo da vida, ela consome.
Os antigos que conceberam a ideia da fonte da juventude, portanto, intuíram que ao repor os fluidos do corpo é possível remoçar, conforme sejam os insuspeitados tônicos naturais que eles infundam, ou avelhantar, se a água que se bebe transporta secretos inimigos bioquímicos.
Analogamente, os que tiveram a sutileza suprema de instituir para os homens de letras um salvo conduto imaginário contra Thánatus, advertiram-se de que realmente o dom de registrar a imaginação e os sentimentos plasma um corpo etéreo que é imune à morte extrínseca. Os acadêmicos são os que, uma vez fisicamente mortos para os íntimos, nunca morrem efetivamente para o mundo.
O pré-homem que matou o mamute, assim como aquele que o pintou na parede da caverna, estão ambos imortalizados na gravura rupestre, pela sua obra, pela sua arte”, disse certa vez este cronista há muitos anos, antecipando a convicção que depois lhe assomaria ao espírito, ao se lhe avizinhar a “juventude da velhice”, e ao se reunir ele a outros escribas na academia literária.
Na perspectiva da extinção física, o homem comum se ressente daquilo que deixará, de tudo que se perderá nas cinzas inúteis do passado. Inversamente, o homem de letras se ufana de seu legado, pois aquilo que produziu da mente e transferiu para o papel é chama eterna.
Ninguém caminha para a glória física, pois que tudo se degrada no corpo logo que seja transposta a meia idade. Mas o espírito do beletrista capitaliza o tempo, enquanto marcha célere para o éden do intelecto, que, porquanto intangível como todas as metas humanas, os seus acessos são ladrilhados de esplendor, e os seus eflúvios já gratificam imensamente.
Academia Cearense de Literatura e Jornalismo


Nenhum comentário:

Postar um comentário