terça-feira, 15 de dezembro de 2020

CRÔNICA - Troca de Espelhos (ES)

 TROCA DE ESPELHOS
Edmar Santos*

 

Criamos fantasias sobre nós mesmos, que tendem a nos afastar de nosso próprio Eu, e isso se dá quando fugimos das relações com os outros. Isolar-se. 

O isolamento nos leva a indagarmos a nós mesmos diante do espelho, como na história encantada: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais... (qualquer coisa), do que eu?”. Narcisismo ou autocondenação. Equívoco. 

O uso do espelho errado, nosso auto-olhar, constrói ideias aceitas como verdades, mas que, por vezes, surgem sobre uma imagem equivocada. O espelho que melhor nos reflete é o olhar do outro através das relações, pois nos projeta não como imagem invertida, distorcida, equivocada, narcisista ou autopunitiva; mas nos mostra a imagem real refletida pelo olhar que não é o nosso. 

Podemos não concordar com a imagem que nos mostram de nós e isso é construtivo; nesse momento, algo evolutivo acontece. É que criamos a nossa oportunidade de trocar o espelho por algo ainda mais potente, que surge pelo momento do confronto das verdades expostas pelas relações, o prisma. Refrata as verdades. 

Quando fugimos das relações e buscamos o isolamento, estamos fugindo de nós mesmos. Uma atitude que nos traz adoecimentos, pois, certamente “é impossível fugirmos de nós mesmos”. Somos relacionais. 

O melhor a fazer é sair e buscar no outro, o entendimento pela confrontação das ideias; porque é sempre “possível nos reencontrarmos com o nosso próprio Eu”, por essa ação. Imagem real.

 

domingo, 13 de dezembro de 2020

ARTIGO - Faltou Combinar (RMR)

FALTOU COMBINAR
Rui Martinho Rodrigues*

 

Davi Alcolumbre, conforme noticiado, está agastado com Rodrigo Maia porque este deixou de declarar que não disputaria a reeleição, motivando a decisão do STF, contrária a possibilidade de um segundo mandato de presidentes das duas casas do Congresso. O julgamento da constitucionalidade dependeria de quem fossem os beneficiados. 

Faltou combinar? Os noticiários informam que estaria havendo um conflito interno no STF. A decisão sobre a reeleição dos presidentes do Senado e da Câmara teria sido pautada após um acordo pelo qual a constitucionalidade da reeleição seria declarada. 

O choque causado pelos primeiros votos sugerindo que vedado significa permitido e que o Pretório Excelso é uma constituinte teria causado o recuo de alguém. Represálias dirigidas ao presidente da corte estariam sendo articuladas entre os ministros vencidos. 

O STF se porta como constituinte; se coloca acima dos demais poderes; submete o Executivo e o Legislativo e revoga a separação das competências dos poderes da República. Ruy Barbosa de Oliveira (1849 – 1923) disse: a pior ditadura é a do Judiciário, contra ele não há a quem recorrer. O ativismo judicial é um tenentismo de toga. É um fenômeno complexo. 

A condição de intelectual ungido, na expressão de Thomas Sowell (1930 – vivo), é a tendência dominante desde o advento do iluminismo, sob influência atávica da presunção platônica segundo a qual os filósofos deveriam ser reis, por supostamente serem mais sábios e virtuosos. Paul Bede Johnson (1928 – vivo), na obra “Os Intelectuais”, apresenta retalhos biográficos de dezenas de pensadores, dentre os mais prestigiados do mundo, revelando condutas deploráveis. A história das ideias políticas é um cemitério de erros. 

No Brasil Leandro Augusto Marques Coelho Konder (1936 – 2014), na obra “A derrota da dialética”, desnudou a superficialidade e os equívocos da grande maioria dos nossos intelectuais. 

Os ministros do STF são intelectuais ungidos. A Nova Hermenêutica Constitucional, com interpretação conforme, mutação constitucional e a ideia de libertar o juiz dos grilhões das leis escritas, a passagem da abstração da norma para a concretude do caso singular (concreção) substitui a previsibilidade da dogmática do Direito Processual pela zetética. 

Esta é do campo da Filosofia do Direito, tem infinitos entendimentos, discussões intermináveis, imprevisibilidade. Só não tem segurança jurídica. O argumento da singularidade do caso concreto é pífio. O fenômeno social tende a repetir padrões, tornando os casos singulares excepcionalíssimos. 

Salomão já dizia “o que foi, isso é o que há de ser; o que se fez, isso se tornará a fazer; de modo que nada há de novo sob o sol” (Eclesiastes, 1;9). 

Carlos Maximiliano Pereira dos Santos (1873 – 1960), em “Hermenêutica e aplicação do Direito”, diz que a clareza do texto afasta o intérprete, lição esquecida. Jugar-se sábio e justo, substituindo o Congresso quando este deixa de introduzir novidades por temer o eleitorado é desprezo pelo povo e arrogância iluminista. As constituições tornaram-se, em todo o mundo, analíticas, programáticas e dirigentes. Positivaram princípios, que pelas inúmeras hipóteses de incidência ensejam o entendimento pessoal do magistrado. Perdida a esperança na revolução e a ilusão de reengenharia social pelo voto, agora sonham com a revolução pela toga. 

A ambição que Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 – 1900) nomeou como vontade de potência contribui para fortalecer o ativismo judicial. Um ministro aposentado declarou que o STF tem contribuído para “arejar a sociedade” (mudança dos costumes), sem competência para tanto. A politização desgasta e divide a corte, destrói a ordem constitucional, não leva a nada de bom.

  

ARTIGO - "A gente Não Quer Só Comida" (AS)

 A GENTE NÃO QUER SÓ COMIDA
Arnaldo Santos*
 

Convido o leitor a refletir sem paixão, e fora do sentimento dominante entre o mau e o pior, a propósito de um tema historicamente negligenciado no curso da história, pelos sucessivos governos no Brasil. 

Nessa perspectiva, a reflexão que aqui proponho se refere à política cultural brasileira, que, na contemporaneidade, até o papel histórico que tiveram os negros na formação da nossa sociedade, assim como a própria condição de escravos, são negados. Isso requisita de todos um pequeno esforço para se despir das motivações ideológicas, e interesses particulares, a fim de que prepondere um mínimo de  racionalidade. 

Desde já, então, sugiro esquecer os partidos e suas pseudo ideologias, pois, na cultura político-partidária vigente, já não valem muito, tampouco é necessário dizer por quê. 

Olvide-se, pois, a maior bobagem do Século XXI – rotular a si como postado na direita ou na esquerda – pois já estamos na fase da nanomolecular/biology, estudando a integração de sistemas moleculares e as nanopartículas, sendo possível diagnosticar e prevenir doenças que os humanos terão até o ocaso vital. Assim, é dado se compreender, minimamente, a realidade sensível e caótica ora vivida, de negação da ciência, pois a “Terra já não é redonda”, como se acreditava, pelo menos na visão dos “terraplanistas”. 

De modo geral, na virada do Século XXI, a sociedade brasileira fez uma inflexão nos costumes, pois criou distintos paradigmas socioculturais, estabeleceu outros padrões de comportamento para preservar o meio ambiente, incorporando como valor o consumo consciente, a geração de energia limpa, e estabeleceu relações saudáveis com as diferenças. Esses avanços socioculturais imprimiram contornos de alto grau de civilidade, e até sofisticação, ao pensar médio da sociedade pátria. Entrementes, na política...! 

É um paradoxo não se observar esse grau evolutivo e sofisticação no pensar político. Pelo contrário. Com as vênias dos personagem nos quais assentar a carapuça, em termos políticos, somos uma sociedade de práticas macunaímicas. Lá do jirau, os do andar de cima “vertem água” e evacuam na cabeça da maioria que habita o pavimento inferior. 

Com efeito, pela política de cultura vigente, tanto nas práticas de boa parte dos políticos em geral, como nas ideias geradas pelo atual governo, especialmente pelo Presidente da República, resta evidenciado o fato de ser factível inferir que chegamos ao volume morto do pensar e do agir coletivo de uma parcela significativa da população. Qual a razão para tanta irracionalidade? Os símbolos da Antropologia nos dizem muito. 

É de conhecimento geral o fato de o conceito de cultura conforma, haja vista sua abrangência, aquele que melhor exprime e consubstancia a diversidade de gênero, bem como o pluralismo das ideias, como essência de uma sociedade democrática. Esses valores, na realidade em curso no Brasil, estão sendo cada vez mais desconstituídos. 

É mediado pela cultura que o ser humano, o sapienti modern, fertiliza o ambiente das suas relações sociais, desde a mais tenra idade, com esteio nos costumes aprendidos e na internalização dos padrões civilizatórios, que dele vão fazer uma pessoa detentora dos valores, para balizamento de sua vida como membro do seu grupo de pertença. 

É por via desse procedimento de elaboração e interação social que a pessoa se torna membro de uma sociedade, sob referência do comportamento e da axiologia – determinante dos valores – estes que lhe foram legados pelo grupo e o forjaram como um ser social para, igualmente, se tornar referência para outros conjuntos societários, e assim germinar mais cultura e conhecimento nas diversificadas searas das relações humanas. Esse fenômeno enseja um círculo virtuoso de renovada produção de manifestações culturais, para os outros grupos e povos. 

Nesses tempos obscuros vivenciados no Brasil, onde o que predomina é a negação da ciência, a internalização e a produção cultural sobram significativamente prejudicadas, embora seus efeitos, somente a posteriori, hão de ser percebidos em sua real dimensão. Essa realidade, em maior ou menor grau, nos situa a todos na qualidade de gente em sociedade, no centro de um desafio, configurado na produção e difusão cultural, em suas variadas modalidades de manifestação. 

Em um país de desenvolvimento tardio como o Brasil, onde a pobreza do saber é tão grande ou maior do que a carência monetária e a desigualdade social, a cultura – que deveria assumir papel preponderante na busca pelo desenvolvimento econômico e social, bem como na geração e difusão de conhecimento, à extensão da história – se reserva ao lugar de uma percepção atávica por parte dos gestores nas três esferas de governo. Prefeitos, Governadores e o Presidente da República tratam a cultura como um subproduto de suas administrações. Vejam os orçamentos para o setor que, ano após ano, são reduzidos! Até quando? – Pergunta este “Cícero” caboclo, principalmente, a um certo Catilina, bem mais obtuso do que o antecessor. 

Em geral os políticos, mormente em períodos de campanhas eleitorais, como vimos agora, asseguram que em seus governos vão priorizar a cultura, assim como a educação, pois só pela via do desenvolvimento cultural é que os cidadãos e as sociedades se desenvolvem, intelectual, social e economicamente – dizem eles. O que notamos, entretanto, ao largo da História é a negação desse discurso, com a subtração dos recursos que deveriam ser alocados para o setor. 

Nas últimas décadas o Brasil experimentou significativas transformações em sua infraestrutura física, nas comunicações digitais, dentre outras, entretanto pouco mudou em relação à infraestrutura humana, pois o homem, sob o ponto de vista educacional e cultural, continua excluído do bem mais valioso, que é o saber. 

Se, de algum jeito, a fome foi saciada, a sede por cultura continua desidratando os sonhos, ressequindo cada vez mais a garganta cultural das pessoas, notadamente das gerações mais jovens, na medida em que educação e cultura, apesar de serem bens essenciais à vida, não parecem sensibilizar a elite pátria que é dirigente, cada vez mais insensível, tendente ao embrutecimento. 

As escolhas feitas até aqui pelos sucessivos governos nas três esferas, excluindo da maioria da população os bens culturais em todas as suas manifestações, pela falta de investimentos nesse importante setor, têm nos legado uma herança maldita expressa no atraso cultural. 

Como nos ensina a letra da música “COMIDA”, dos Titãs – Você tem fome de quê? Você tem sede de quê? A gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte, a gente quer a vida com diversão e arte, para aliviar a dor!


sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

ARTIGO - Um Caso de Polícia (RMR)

 UM CASO DE POLÍTICA
Rui Martinho Rodrigues*

  

Dezenas de bandidos subjugaram, por algumas horas, a cidade de Criciúma, SC, que ao tempo do censo de 2010 contava com cento e trinta e três mil habitantes. Objetivo: roubar a agência do Banco do Brasil. Foi a repetição do ocorrido uma semana antes em Araraquara, SP, cidade de duzentos e trinta e oito mil habitantes, segundo estimativa do IBGE para o corrente ano.

 

Há quem fala em novo cangaço. Os cangaceiros, porém, atacavam apenas cidades pequenas. Depois de tentar apoderar-se de Mossoró, Lampião teria dito que cidade com mais uma torre de igreja não é para cangaceiro, conforme Cícero Rodrigues de Carvalho, na obra “Sociologia do cangaço”. A minúscula vila de Nazaré, na zona rural do município de Arco Verde, também repeliu um ataque de famoso bandido. O rei dos cangaceiros contava entre gargalhadas que saiu de lá correndo porque na citada vila até menino atirava. 

Hoje, criminosos escolhem cidades médias, sede de batalhões que são atacados e encurralados pelos bandidos. Táticas de combate urbano são usadas. Vias são bloqueadas, emboscadas são preparadas para os reforços que porventura sejam enviados. Armamento de guerra é empregado. Informações sobre a presença no Brasil de veteranos das lutas do Oriente Médio, contratados para treinar e organizar combatentes do tráfico não são novidade. 

A enorme soma de recursos arrecadado pelas organizações criminosas permite isso. O controle de territórios; a imposição de normas rigorosamente obedecidas pela população; o despejo de famílias de suas casas, resolução esta que transita em julgados imediatamente e a implantação do terror com práticas que vão do tiro na mão ou na coluna vertebral até a morte estão consolidados. 

Os laços entre as organizações criminosas e a sociedade vão desde o consumo do que elas oferecem, financiando-as; até a participação nas fileiras dos exércitos das mencionadas facções, passando pelo suborno e a intimidação. Tudo isso fica relegado aos noticiários policiais menos prestigiados. A sociedade adaptou-se ao quadro trágico descrito. As parcelas mais influentes da sociedade ainda não são despejadas de suas casas. A expressão “caso de polícia”, usada para indicar problema grosseiro, mas simples, diverso dos magnos desafios da política não corresponde a este tipo de criminalidade, que é “apenas um caso de política”. 

O Leviatã emasculado pela vitimização da bandidagem; pela falência dos valores sem os quais as leis “não pegam”; pela decadência da democracia transformada em demagogia, conforme previsão de Aristóteles (384 a.C. – 322 a. C.), cria uma situação semelhante a tantas outras em que figuras nomeadas como “senhores da guerra” (bandidos poderosos) assumem o controle da sociedade, como na China, durante o período de desordem que lá se instalou. 

A queda do Império Romano foi sucedida pelo surgimento de poderosos que ofereciam proteção cobrando vassalagem, compondo um quadro, em nossos dias, comparável com o fim da pax romana. Temos senhores da guerra, algum tipo de proteção em troca de vassalagem, perda de referências e desorientação na sociedade líquida (Zygmunt Bauman, 1925 – 2017), pós-moralista (Giles Lipovetsky, 1944 – vivo) e desorientada (Anthony Daniels, conhecido como Theodore Darlymple, 1949 – vivo). 

“A Revanche do Sagrado Sobre a Cultura Profana”, obra de Leszek Kolakowski (1927 – 2009), ressalta mais um elemento comparável ao que resultou na ordem medieval. Resta saber se teremos uma Idade Média islâmica ou se uma religião civil prevalecerá com os seus dogmas.

COLUNA VICENTE ALENCAR

 VICENTE ALENCAR
SEXTA-FEIRA
11 DE DEZEMBRO DE 2020
FORTALEZA - Capital do Artesanato Brasileiro
CEARÁ - Primeiro Estado do Brasil a libertar escravos

A ACADEMIA
Cearense de Cultura e Arte homenageará, na temporada do próximo ano, o Poeta Artur Eduardo Benevides, com o lançamento de um Prêmio com seu nome.

 


PRESIDENTE 

da Academia Cearense de Letras por 10 anos, Artur Eduardo Benevides foi uma unanimidade em termos de poesia em nossa terra, e por isso mesmo merece a homenagem da ACCA. 

DESEJO
informar  a todos os que me conhecem que devem sofrer do mesmo problema. Estou recebendo a cada dia, 8, 10, 12  telefonemas das famosas “Operadoras” oferecendo os mesmos serviços e aborrecendo a todos. Cuidado. O pior de tudo é que não temos para quem apelar. 

QUERO 
agradecer aos meus amigos que ouviam o Programa Vicente Alencar – Educação, Cultura e Esporte das 22 às 23 horas os telefonemas, nos perguntando por que  o ele saiu do ar. Fácil de responder: Não se enquadraria na nova programação. Aí, digo a vocês: “Tudo passa sobre a terra” já dizia o escritor José de Alencar.

O MEU AMIGO 
Colombo Sá não está mais na programação noturna com o seu Programa Clube dos Tetéus - Não dorme ninguém. É uma pena, pois o grande público de Colombo Sá está na expectativa do seu retorno na sintonia que se disponibilize a lhe conceder horário. Acredito que em breve o Presidente do Clube dos Tetéus voltará ao seu horário de zero-hora para as duas da manhã, pois ele lidera a audiência no horário.    


NATAL DISTANTE

José Maria Bonfim de Morais
 
Dezembro apontava qual uma brisa,
uma esperança de Paz abençoada,
o sertão se vestia em divinal sorriso.
O Natal já próximo a festa tão ansiada,
nos banhando de inefável alegria,
nos enchendo de perene esperança,
como éramos felizes naqueles dias.
 
Fruta, pois, dentro de nós, um rah tão santo.
Dali a pouco Jesus, logo chegaria,
nos alegrando e a toda a humanidade.
Em cada Lar logo uma fruta se erguia.
E a festa maior de toda a Cristandade.
Em cada coração uma prece floria,
aspergia em nós tanta felicidade.
 
Vicente Alencar
 
O relógio da minha vida
marcou grandes momentos
horas e horas entre nós.
 
O relógio de minha vida
marcou felicidade,
muitos sorrisos e alegrias.
 
O relógio da minha vida
marcou inesquecíveis instantes
onde desfrutamos o amor.
 
O relógio da minha vida
marcou o brilho da noite,
vindo da Lua Cheia.
 
O relógio da minha vida
marcou o perfume das flores,
em românticos momentos.
 
O relógio da minha vida
marcou o canto das aves,
em nossos  corações.

O RELÓGIO

ARTIGO - É Educação (TSC)

 

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

ARTIGO - Teorias Conspiratórias (RMR)

TEORIAS CONSPIRATÓRIAS
Rui Martinho Rodrigues*

 

Teoria conspiratória é uma forma de desqualificar suspeitas e acusações. Conspiração tem a participação de duas ou mais pessoas “para a realização de um ato qualquer, mais estritamente para a execução de um delito. (...) planejam todas as fases de algum ato punível e decidem firmemente executá-lo” (Juan Blasco Quintana, Dicionário de Ciências Sociais da FGV, p. 250). 

É, portanto, um planejamento de pessoas que usam meios ou perseguem objetivos ilícitos. Nada disso é extraordinário na ação política, no planejamento e pode envolver atos ilegais, mantendo parte dos objetivos, meios e identidades nas sombras. 

Interesses, paixões, ardis, articulação de pessoas, violação da lei e da ética são realidade na política. É fácil invocar nobres propósitos e camuflar o que Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 – 1900) chama de vontade de potência, legitimando ambição de poder. 

A lei é invocada quando convém, do contrário passa a ser pejorativamente legalismo. Moralidade defendida com adesivos do tipo “pela ética na política” se transforma em “moralismo da desprezível classe média”. Conspirações não explicam a história quando tomadas isoladamente, em análises reducionistas, porque são tantas as conspirações que dificilmente uma delas será um fator determinante. 

Projeto de poder é planejado. A luta pelo poder pode adotar procedimentos e objetivos ilegais. Revolucionário conspira. O projeto de um mundo melhor estimula a ética teleológica, na qual os fins justificam os meios, como na “A moral deles e a nossa”, de Leon Trótski (Lev Davidocivh Bronstein, 1879 – 1940). 

Os intelectuais ungidos (Thomas Sowell, 1930 – vivo), em “Os Intelectuais e a Sociedade”, herdeiros dos reis filósofos de Platão (428/427 a.C. – 348/347 a.C.), prometem emancipação, a semelhança da promessa da serpente no livro de gênese. A obra “O Estado e a revolução” (Vladimr Ilyich Ulyanov, Lênin, 1870 – 1924) promete todo poder aos soviets (comitês), emancipação. 

Outra obra do mesmo autor, “O Que Fazer”, descarta os comitês e declara: quem tem o conhecimento não precisa consultar o número (de votos). Intelectuais ungidos sonham com o poder, como detentores do saber valorizado em “O que fazer”, mas são perseguidos nas revoluções. Lesley Chamberlain (1951 – viva, “A Guerra Particular de Lênin”), relata a violência contra os intelectuais na revolução de 1917. 

A teoria da pauperização falhou como apelo revolucionário. Os indicadores de qualidade de vida explicam tal fracasso. Mortalidade infantil, esperança de vida, analfabetismo e escolaridade e acesso aos bens materiais só melhoraram. Karl Heinrich Marx (1818 – 1883) e Friedrich Engels (1820 – 1895, “Manifesto Comunista”), mostraram-se deslumbrados com os feitos do capitalismo, que condenavam por entender que estava exaurido como modo de produção. O que diriam hoje? 

Os ungidos deixaram de falar na teoria da pauperização. Adotaram a crítica ao consumismo, mas a frugalidade não faz prosélitos. A solução foi explorar as mágoas de grupos identitários. Adotar e largar teses é fácil para os messiânicos. Internacionalismo pode ser trocado por nacionalismo; assembleísmo pelo saber dos “esclarecidos”; igualdade comporta os “mais iguais”, de George Orwell (Arthur Blair, 1903 – 1950, “A revolução dos bichos”) e das experiências históricas (“Nova Classe”, Milovan Djilas, 1811 – 1995). A dialética, senhora de costumes cognoscitivos fáceis (Lucio Coletti, 1924 – 2001) ou logomaquia (Karl Raymond Popper, 1902 – 1994) salvam os sofistas.

Conspirações existem e alimentam movimentos amplos.

ARTIGO - As Eleições os Partidos e sua Crise de Representatividade (AS)

 AS ELEIÇÕES 
OS PARTIDOS E SUA
CRISE DE REPRESENTATIVIDADE
Arnaldo Santos*

 

Os partidos surgiram, pela primeira vez, naqueles países que adotaram a modalidade de governo representativo, com suporte na organização dos seus processos civis e sociais. Esse modelo – bom que se expresse  previa uma gestão do poder por parte dos representantes do povo. 

Em essência, o nascimento dos partidos tem origem na busca pela criação de organizações de caráter participativo, quer dizer, em razão do crescente aumento da demanda por participação nos processos das decisões políticas pelos diversos estratos da sociedade. 

Ainda no Século XVII, encontramos registros da existência de dois grandes partidos pertencentes à aristocracia, atuantes no Parlamento Inglês, mas sem relevância ideológica, e de representação política. 

No itinerário malsão da política brasileira, historicamente, os partidos são a nossa primeira referência de negação da política como instrumento de constituição do bem-estar social coletivo, no contexto dos ideais de partidos programáticos e representativos de uma sociedade democrática. 

O caráter quase que privado que se observa em cada um deles (quase sempre são propriedades dos latifundiários da política) os distância dos reais interesses da nossa Nação. Essa distorção se evidencia e se confirma a cada eleição, com procedência nos postulantes que nos oferecem como opção eleitoral; esse fato foi observado agora, no primeiro e segundo turnos das eleições municipais, com as exceções que confirmam essa regra. 

Nesse contexto, deparamos outro problema que implica repercussão direta na representatividade política, pois, na cultura democrática brasileira, cultivamos uma tradição de muito interesse e valor pela eleição para o Poder Executivo, representado pelos candidatos a Presidente da República, Governador e Prefeito, e conferimos pouca importância à eleição para o Poder Legislativo. 

Esse comportamento desazado conduz-nos, quase sempre, a negligenciar as escolhas que fazemos para a Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais, ao ponto de nem evocarmos os nomes das pessoas em quem votamos para vereador, deputado estadual, distrital e federal, na última eleição. 

É tão evidente o interesse pela eleição dos titulares do Poder do Executivo, nos três níveis da Federação, (incluindo o DF), que de um dos integrantes da chapa majoritária quase nunca nos lembramos, tampouco lhe conferimos importância. Referimo-nos aos candidatos a vice, que, ao nosso sentir, padecem do que chamamos de pecado original, pela maneira como são escolhidos. 

Tradicionalmente, aqueles pinçados para o cargo de vice são indicados por um dos partidos coligados, e, na cultura política nacional, servem como moeda de troca para aumentar o tempo nos meios de comunicação, notadamente na TV e no rádio, e financiamento da campanha da coligação.  Embora eles se prestem para ajudar a eleger, não necessariamente servem para governar, pois, quase sempre, não gozam da confiança do titular, na medida em que, sendo de outro partido, têm interesses políticos distintos, a começar por almejar suceder o eleito no próximo pleito. 

É nesse âmbito que identificamos a gênese dos rompimentos políticos, especialmente entre os prefeitos e seus vices, que, ao contrário do que entende o senso comum, têm funções que vão muito além de substituir eventualmente o titular em suas ausências, conforme o que preceituam as leis orgânicas de cada município. Aliás, na era das tecnologias e da comunicação online, com a digitalização crescente dos processos civis, políticos e sociais, a existência do vice, apenas como substituto eventual do eleito, já não se justifica. 

Teoricamente, um vice-prefeito ou vice-governador que detenha formação técnica e experiência política, independentemente de a sua filiação partidária ser diversa da do titular, não invalida sua participação efetiva no governo que ajudou a eleger. Ele, não somente pode, como deve ser bem mais útil e atuante, acumulando, por exemplo, a função de secretário de uma pasta que tenha atribuições substantivas na estrutura administrativa. 

A rigor, os partidos deveriam ser a porta de entrada para o efetivo exercício de uma práxis política, segundo nossas ideações, como organizações defensoras das reivindicações coletivas dos representados, nos oferecendo como opções eleitorais cidadãos vocacionados para o nobre exercício do poder político. Entretanto, sob o aspecto ético e também moral dos candidatos, o  que se verifica é uma aguda deterioração, com graves influxos na qualidade da representação política, em desfavor à democracia. 

Para a consecução desse fim, aos grêmios partidários impõe-se a adoção de critérios no processo de  formação dos seus quadros, mediante o estabelecimento da exigência de um padrão moral e ético, bem como de um perfil democrático, aos seus filiados, como precondição para se conceder legendas aos postulantes que disputarão mandatos eletivos. Deveriam, mas, na prática, o que prevalece é, tão-só, a “má-intenção daqueles que buscam se servir da política, em detrimento do bem social. 

São as explicações para essa distorção encontradas na famosa definição de Marx Weber, na qual ele ensina que “[...] os partidos têm caráter associativo, obedecem a um fim deliberado, seja ele de ‘objetivo’, a realização de um plano com intuitos materiais ou ideais, seja ‘pessoal’, isto é, destinado a obter benefícios, poder, e consequentemente, glória para os chefes!. 

No Brasil, essa definição foi interpretada, e é exercida pelos chefes (donos) dos partidos ao pé da letra, haja vista o caráter personalista de nossa cultura político-partidária. Não é por acaso que quase todos os políticos buscam ter um partido para chamar de seu, o que levou a essa profusão de legendas consideradas de aluguel. Na história recente identificamos nas eleições do ex-presidente Collor (PRN) e do atual (pelo PSL) exemplos emblemáticos dessa realidade. 

A existência e a estruturação dos partidos, na teoria política, se fundam ou deveriam se fundar, no princípio democrático da participação cidadã, e da representação política da sociedade, para afirmação de um Estado autônomo e soberano, assegurando a participação do cidadão nas decisões políticas, entretanto, na realidade em curso, não é o que se constata; ao contrário, é nesse contexto que se evidencia a falta de representatividade dos partidos. 

Como é consabido, nos períodos de crises políticas e de transformações econômicas e sociais, com influência direta na ordem tradicional e constitucional da sociedade, como a que vivemos agora no Brasil, a demanda por participação fica ainda mais intensa, na defesa, especialmente, da democracia, e aos  partidos caberia o papel de mediador dos conflitos e dessas transformações, mas não é o que ocorre, pelo menos na realidade fluente. 

Com tal ação, os partidos brasileiros, à extensão da história, foram não só perdendo a legitimidade intrínseca da representatividade política do País, como legaram às gerações de hoje o desestímulo à participação política, levando o cidadão de bem, vocacionado a servir na vida pública, a ter vergonha de participar.

CRÔNICA - Poesias Paulinas (ES)

 POESIAS PAULINAS
Edmar Santos*

  

O Apóstolo Paulo, figura descrita na narrativa bíblica cristã, conta em 2 Coríntios, versículos do 2-4, que conheceu um homem em Cristo que, há catorze anos, foi elevado ao Terceiro Céu. Não sabendo, segundo ele, se ele estava no seu corpo ou fora do seu corpo; “Deus o sabe”, conclui. Visões!

O garoto Paulo, personagem do texto “A incapacidade de ser verdadeiro”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), possui fama de mentiroso porque conta histórias inusitadas. 

Traz o texto drummondiano, que um dia o garoto Paulo contou para sua mãe que todas as borboletas da Terra passaram por uma chácara de uma senhora por nome Siá Elpída, e queriam formar um tapete voador para leva-lo ao Sétimo Céu. Visões! 

O médico a quem a mãe de Paulo o levara, concluiu o diagnóstico com o seguinte: “Este menino é mesmo um caso de poesia”.

Concluo eu, também, em concordância com o representante da ciência, o médico, que em ambos os casos não há, em ambos os Paulos, nenhuma identificação de mentiras. Trata-se, pois, de sublimes casos de poesias.