domingo, 21 de dezembro de 2025

CONTO - LITERATURA INFANTIL - O Dentinho Sapeca (MJ)

 O dentinho sapeca
Maria Josefina*

 

Quando foi o tempo de nascerem os primeiros dentinhos na boca de Kal El, o menino super-homem, um dentinho sapeca quis ser o primeiro a aparecer. Tinha muitos dormindo na boquinha do Kal, mas Ligeirinho, o dentinho sapeca, não quis conversa, foi empurrando os outros para ser o primeiro a ver como era o lado de fora. 

– Ei, você não é pra sair agora. Ainda não é a idade de a gente aparecer – disse o dentinho que estava a seu lado. 

– Ah! Este negócio de ficar no escuro, esperando não sei o que, não é para mim. Vou é logo – e saiu rompendo a gengiva de Kal, causando uma dorzinha que mamãe resolveu com uma pomadinha com gosto de tutifrut. 

E lá vem o Ligeirinho, saliente e deslumbrado com o mundo que via quando a boquinha do Kal se abria. E era muito frequente, pois Kal é um menino muito feliz. 

Sentir o gosto das comidas, sorrir junto com Kal, tomar banho de água e outras bebidas gostosas, levar uma ducha de pasta de dente com gosto de morango... que vida! – ele pensava. 

Depois vieram seus irmãozinhos, o que facilitou destruir as comidas que Kal dava para eles se divertirem, deixando a comida bem miudinha. E dias, meses, se passaram, e a vida de dentinho de leite (primeiros dentinhos a nascer) ia de vento em popa.

 

Foi o tempo que mamãe levou à dentista. Uma moça bonita, alegre, que fica em uma salinha super legal, cheia de coisinhas bonitas. Nunca ninguém tinha cutucado, com ferrinhos e duchinha bem fortes de dentista, os dentinhos do Kal. Era legal. Sinal de que ele estava ficando um menino grande. Não era mais bebê. Nem teve medo de sentar na cadeira que deitava (“LEGAL!!!!” – ele pensou). 

A doutora dentista passou um creminho (flúor) com gosto de hortelã e mandou Kal ficar de boquinha aberta. 

“ECA!” – disse Ligeirinho. “Que gosto de coisa de adulto!” (embora ele nem tivesse ideia do que dizia, apenas repetia o comentário que Kal fazia quando mamãe dava comida que ele não gostava). 

Todas as noites Kal dava o que Ligeirinho e seus irmãozinhos mais gostavam: a pasta com gosto de morango. Era seu momento de glória. 

– Quero mais! Quero mais! Quero mais! – gritava Ligeirinho... mas Kal não ouvia... 

Num dia que parecia ser como os outros, Ligeirinho sentiu uma coceirinha bem pertinho do seu pezinho (raiz). 

– Que será isso? – Pensou apreensivo. 

Mas logo descobriu. Um dentão, bem duro, estava lhe empurrando para cima. 

– Hei!! Onde você pensa que vai??? Este lugar é meu!!” – disse Ligeirinho já incomodado. 

– Fica quieto, Oh! Menino!. 

– Ah-Ah-Ah! Você já era, Ligeirinho! Eu vou ficar no seu lugar. Você só estava guardando meu espaço! – disse o dentão todo cheio de si. 

– Ah é? E quem é que mastiga as comidas? Quem dá aquele sorriso bem branquinho, que todos acham lindo? Quem recebe o carinho da mamãe quando diz: “querido, vamos limpar os dentinhos?” – e eu estou bem na frente. Ela disse que eu e meu irmãozinho somos os incisivos centrais. É pouco ou quer mais??? 

– Eu também tenho este nome, só que vou ficar no seu lugar para sempre, sou permanente – disse o dentão. “É pouco ou quer mais???”. 

O Ligeirinho ficou pensativo. “E agora, que vai ser de mim? Vou é ficar por aqui, e ver o que acontece”. 

Os dias se passaram e o dentão (que o Ligeirinho chamou de Grandão) foi crescendo e empurrando ele para a frente, até que foi ficando sem forças para se segurar em seu lugar.

O Kal sentiu que os dentinhos estavam disputando o lugar e falou para sua mamãe: 

– Mãe, tá doendo! – e mostrou sua boquinha. A mamãe deu um sorriso e disse: 

– É assim mesmo, filho. Você está crescendo. Os dentinhos que nasceram primeiro têm que dar lugar aos que vão chegando depois. Estes vão ficar na sua boca para sempre. Por isso, é preciso ter muito cuidado com eles, diariamente, pois sua saúde depende do trabalho deles. 

– Mas quando ele vai sair, mamãe? Este danadinho ficou brigando por tanto tempo que já ficou durinho de novo. 

– Não tem problema – disse mamãe. Lembra da doutora dentista? Pois é, vamos lá e ela vai botar ele pra dormir. Quando ele ficar bem distraído ela aproveita e tira ele. É bem rapidinho... e ele já está é atrapalhando o outro que está nascendo. Quando ele acordar, já vai estar é no seu bolso, indo para uma caixinha. Ele cumpriu a missão dele muito bem. Lhe ajudou a comer seus alimentos de forma saudável, lhe deu um sorriso lindo, guardou bem direitinho o espaço do Dentão, e agora é hora de descansar. Os irmãozinhos dele vão passar pelo mesmo processo: dar lugar aos outros que vão chegar mais tarde. 

Kal disse para a mamãe, com um largo sorriso: 

– Pois eu vou querer que ele fique guardado na minha “Caixinha do Amo” para eu lembrar quando eu era menininho. Ele é tão fofinho!!! (Caixinha do Amo foi uma caixa que a vovó fez para Kal guardar seus objetos preferidos, que ele ama).

 

E assim, no dia seguinte, Kal e sua mãe foram ao dentista dar um tchau para o Ligeirinho e deixar que o Dentão começasse seu trabalho. Ele vai ter uma longa vida pois o Kal é muito cuidadoso.

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