domingo, 31 de agosto de 2025

ARTIGO - Cintilantes Estalactites e Estalagmites (VM)

CINTILANTES
ESTALACTITES E ESTALAGMITES
EDITORIAIS
DE GERALDO JESUINO
Vianney Mesquita*

 

Quando uma leitura eleva o espírito e inspira sentimentos nobres e corajosos, não há necessidade de outras regras para julgar o trabalho: é bom e feito por mão de mestre.

 JEAN DE LA BRUYÈRE
Moralista, filósofo e escritor satírico.
Paris, 16.08.1645; Versalhes, 10.05.1696.



Deleite imenso a mim remansou ao dar de rosto com a mais recente produção do professor da Universidade Federal do Ceará e artista plástico, acadêmico Geraldo Jesuino da Costa, conhecido e apreciado narrador de contos e outros substratos do engenho escritural, no âmbito do Estado e em ultrapasse ao contorno brasileiro.  Procedo agora a tênues comentários, jamais (*) a respeito do produtor do bem escoliado, sem, todavia, me aprofundar no cotejamento da sua obra no momento sob curta glosa, Estilhaços (Fortaleza: Imprece, 2025), porquanto somente a vi a socapa, com míngua de tempo para compartilhá-la.

Dês que granjeei o inaugural convívio arcádico com o hoje escritor G. J. C., na Universidade Federal do Ceará, nos idos bem apartados de 1971, conservo-me entusiasta do seu modo característico de exprimir intenções literárias, plenamente distintas de outros produtores do nosso Estado, nomeadamente no que concerne à laboriosa e intricada convivência com a bitola do conto. 

Expressa singularidade (não é supérfluo acrescer) já remansa adicionada aos demais pressupostos registados no seu precioso portfólio – de docente do ensino superior, operador esteta disposto em insuperável plano, pai de família, amigo-irmão, pescador, narrador de chistosas estórias (inclusivamente as dos açudes), entornador de fluidos espirituosos em conluio com os aliados - bem assim de todas as coisas de supina qualidade, suscetíveis de ser fração dos créditos de um ser distinto, transposto ao estrado mais ordinário em curso na existência humana. 

Persevero, pois, na circunstância de admirante de seu estro singular, e tão erguido sob o espectro opinativo de terceiros, peculiarmente no patamar das miúdas narrações de Domingos Fernandes Trancoso (lembrei-me das “estórias de Trancoso”) e João Batista da Silva Leitão de Almeida Garret, isto desde a fileira de analistas exigentes e verdadeiros – como soem ser aqueles a judiciar os bens escriturais da notabilidade coestaduana sob escólio. Entrementes, os que não alcançam os desideratos do autor em alusão perfilham-se estrangeiros à possibilidade de estabelecer mensurações críticas a de tal modo exaltados bens artificiosos, retendo-se reservados e té calados, aliás, em proveito de consulentes a mancheias, nomeadamente os fregueses obstinados do inventor de Como Abraços (Fortaleza: Imprece, 2014). 

Sob o prisma do juízo analítico – isto admito em condição confessa – estaciono no intermeio dos mencionados expendedores de seus bens, vazados no espinhoso expediente das narrações ligeiras e concisas da verde agricultura de Moreira Campos, Alexandre Herculano e Branquinho da Fonseca, onde – seja exprimido – ele se inserta, sem, de sorte alguma, perigar assumir a lanterna de tão bem animoso campeonato das letras, pois constantemente postado nas primeiras posições (para mim, sem exagero, na primeira) sem qualquer pavor do mata-mata. 

Por expresso pretexto, em tempo algum, me afiz a elaborar esse estalão de escrita, o recurso dos short stories de Shakespeare e Dickens, bem como das nouvelles de Flaubert, Balzac e Anatole France, visto que, muita vez – toda vez, aliás – me descobria parecido com os contistas lidos, imitados e pastichados, é bem verdade, daí por que não chegava à editação da peça. Nunca publiquei uma, sequer, sob os regramentos de tal custosa craveira redacional...! 

Não me haverei de esquecer, evidentemente, do fato de que, na primeira ocasião, quem me fez imergir no Jordão literário nacional foi o preclaro contista brasileiro alvo deste comento, o batista de Sobre Livros - Aspectos da Editoração Acadêmica (Brasília, PROED; Fortaleza: Edições UFC, 1984), minha invenção librária estreante e, sem dúvida, carregada de defeituações. Dela, G.J. elaborou o Prefácio e o invólucro tipográfico, ocorrência a me larguear em honras e encher de ufania até os dias fluentes. E, então, prosseguiu ele, aparelhando volumes, escrevendo notações preliminares, quartas capas, orelhas, verba foramen, continentes estéticos insuperáveis e outros aprestos editoriais da minha colheita, e sempre preferido, também, mercê de seus misteres funcionais, pelo ror de cultores editoriais de Fortaleza e de tantos outros recantos, os quais, ainda hoje por ele demandam, com vistas a que proceda a esta conjunção de labores de alteado valor cultural. 

Relativamente a Estilhaços, não me impende, porém, neste passo, maiormente pelo pretexto referido em lance precedente (a falta de vista mais demorada ao mencionado proveito textual), assentar-lhe juízos tacháveis, secundado pelo deciso de não surripiar o hors d’ouvre dos lentes gejotianos antes do repasto principal conformado nos onze pedaços dos luzidios estalagmites e estalactites de chão, teto e parede dessa soberba gruta editorial. Muito particularmente – expresso tal sob letras maiúsculas – em relação à estampa ostentosa e literariamente dignificante de SUMILIANO, deixo o leitor deparar, sem dele fazer qualquer manchete! 

Demais disso, seria sobejante e delituoso eu esfregar a grosa nos estilhaços amoladíssimos de G.J., após a aplicação, à guisa de polimento para o leitor, de duas afiadíssimas e elucidantes Limas: Professor Fernando Lima, na primeira aba, e Mestra Hermínia Lima, nas initial verba que enroupam o volume. 

A modo de fecho, insisto, ainda, numa eterna ideação atinente ao jeito de tornear do nosso engenhoso literato, exprimida nalguns conceitos expendidos em discursos distintos e conjunturas diversas. Os bens amanhados por Geraldo Jesuino cursam opósitos às singelezas próprias dos estilos triviais, fogem do insosso, desprezam o irrelevante e correm léguas para se livrar do fútil,  ao conferir valia à aplicação, faustosamente diversificada, de todas as classes de palavras, jamais (*) dos verbos, com as multíplices e alternadas interpretações, desde os substantivos e adjetivos às interjeições, e em suas significações multifárias baixo a aquiescência de uma conjunção linguageira polissêmica e sincrítica, atuante no âmbito do código glossológico português.

 (**) Talvez seja necessário chamar atenção para o fato, certamente não consabido, de que a dicção jamais, duas vezes mencionada neste texto, conforma igual noção dos advérbios. Principalmente, maiormente, mormente, particularmente etc. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário