AGNOSTICISMO
Vianney Mesquita*
Dos incréus retêm-se os prognósticos
Provenientes de súditos cépticos,
Devaneios pessoais, organolépticos,
Esquisitices próprias de agnósticos.
De mil versos ateus sobram acrósticos
Sob os quais se retardam, catalécticos ...
Coisas à-toa de padrões patéticos
Irreligiosos, infiéis [...] pernósticos.
Na supradita inscrição inserta -
Sem autoria, porém, que a estreme -
É manifesto o raciocínio arguto,
Porquanto a supra ideação concerta
Um brocardo de tão vera episteme:
Douto descrido é vegetal sem fruto.
DECODIFICAÇÃO Sousa
Nunes
A
SABEDORIA é a única riqueza que os ladrões não conseguem levar [BENJAMIN FRANKLIN, polígrafo estado-unidense).
Estesia das Estrofes
Belíssimo é este soneto do escritor Vianney Mesquita. O equilíbrio e a justeza das palavras concedem a medida exata do domínio máximo desse vernaculista amante cioso da nossa Língua Portuguesa. Concordo plenamente com a leitura do AGNOSTICISMO.
Quando me deleito com as obras desse autor, avulta, por contraste, a pobreza que hoje observo em jornais e livros, tanto em teor quanto em continente. Não é à-toa que o escritor, polímata e diplomata cearense Márcio Catunda Ferreira Gomes (Genebra – Suíça) expressou, nas abas de Estâncias Decassilábicas Lusitanas, de V.M., (Palmácia, Arcádia Nova Palmaciana, 2024), que o escritor sob escólio é um “... ourives do verbo. O polimento com que ele cinzela a palavra é arte reservada a poucos buriladores da parole imaginária”.
O
soneto Agnosticismo denota uma reflexão sobre a condição dos descrentes,
especialmente agnósticos, por meio de uma linguagem formal e erudita. Vazado em
versos decassilábicos, que alternam rimas ricas e emparelhadas, revela o autor
uma destreza tanto em estética quanto em argumentação.
A obra segue uma lógica crítica e filosófica, intercalando termos sofisticados e referências eruditas para provocar uma discussão sobre a falta de fé e suas implicações.
Título
e Tema
O título, Agnosticismo, sugere desde o início que o poema se propõe examinar a posição de dúvida ou indiferença quanto à existência de uma verdade transcendental. A peça, no entanto, ultrapassa uma análise meramente descritiva dessa posição filosófica e posiciona-se criticamente diante dela.
A
epígrafe, Sábio sem crença é árvore sem fruto, funciona como um eixo
norteador do poema, reforçando uma crítica à descrença por meio da metáfora
da esterilidade.
Linguagem
e Estilo
As estrofes são densas em termos de linguagem, o que reflete o papel de sua crítica. Há um emprego deliberado de palavras sofisticadas e sonoramente marcantes, como organolépticos, cataléticos e pernósticos, que não apenas servem para enriquecer o campo lexical do poema, mas também revelam o lastro cultural do produtor, em favor de uma sutil ironia.
O
exagero desses termos sublinha o caráter frívolo e vazio que o autor atribui às
reflexões dos incrédulos. O uso de palavras e expressões pouco usuais também
remete ao que o soneto critica: um distanciamento da simplicidade e da fé, como
se o próprio léxico complexo fosse uma metáfora para a esterilidade
intelectual.
Estrutura Argumentativa
A crítica aos agnósticos
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