quarta-feira, 31 de julho de 2024

CRÔNICA - Palavra (TL)

 PALAVRA
Totonho Laprovitera*

 

Os africanos chamavam de “candango” seus colonizadores portugueses. Era um termo pejorativo atribuído a um indivíduo ordinário, ruim. Porém, no Brasil, a palavra mudou de sentido. Referindo-se positivamente às pessoas que trabalhavam na construção da sua nova Capital, “candango” virou sinônimo de desbravador, de homem que confia no progresso, de brasileiro comum e operário de Brasília. 

Pois bem. Certa vez, ouvi dizer: “Hoje em dia só quem tem palavra é dicionário.” Não essa máxima sobre a importância de uma palavra dada. 

Na enseada do Mucuripe, enquanto eu espiava as ondas do mar pautando a praia, ouvi um senhor de cabelos brancos dividir suas reflexões sobre a vida, sentado na coxia da calçada. Ele falou que uma palavra é mais valiosa do que qualquer papel assinado, pois quando prometemos algo a alguém, fazemos valer nossa integridade e confiança. A palavra representa o nosso tutano, resume a nossa própria essência. Aquelas palavras, ditas com convicção o e sabedoria, fervilharam em minha mente. Passei a prestar mais atenção nas promessas que fazia e, desde então, tento viver de acordo com essa simples lição. 

Também sobre o mote, as palavras têm um grande poder. Elas inspiram, motivam, acalmam, ferem ou até mesmo mudam o curso da história. O modo como as usamos pode definir como somos percebidos e como nós percebemos. Elas têm o poder de unir pessoas, de criar laços de entendimento e empatia. Por outro lado, podem ser usadas para dividir, ferir e para semear discórdia. 

Pois é, as palavras têm consequências, e é responsabilidade de cada um de nó s usá-las com sabedoria. Podemos escolher palavras que elevem, inspirem e promovam a paz e a compreensão. Podemos usar nossas palavras para construir um mundo melhor, onde o respeito, a gentileza e a misericórdia sejam as bases do nosso diálogo. As palavras têm poder, e cabe a nó s usá-las da melhor maneira possível.

No mais, “seu” Cizota, então carcereiro da antiga cadeia pública da cidade do Icó, foi desafiado por um velho conhecido: 

– Cizota, eu lhe dou um negócio a cada palavra que você disser certa. São três, tá bem? 

– Cuma? 

– Perdeu a primeira. 

– Pois me dê uma chanche! 

– Perdeu a segunda. 

– Tumém... 

– Perdeu a terceira.

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