MÁGOA MAGOA
Pierre Nadie*
É um tapa que a gente não espera. Não há como escapar. Andarilhos, seresteiros, truões, cientistas, todos caminhantes são surpreendidos por essa visita. Amigos e amantes, colegas e parceiros não conseguem isentar-se dessas incômodas picadas.
Em algum momento da caminhada, ela vai bater em nossa alma, ferir nossos sentimentos, questionar nossa autoestima. Todavia, ela também toca o nosso corpo.
Não são apenas coisas materiais que nos podem causar mal, com danos ao nosso organismo. Os males orgânicos, decorrentes de diversas causas, não exibem tanto a nossa fragilidade quanto aqueles invisíveis que nos tomam pensamentos, sentimentos e emoções. Mágoa magoa.
E a imediata sensação que acomete a pessoa fermenta, borbulha e salpica. Todavia, se não deixarmos que a mágoa adentre nosso espirito, ela, qual bumerangue, volta-se para o emissor e seu efeito maior está no rebote, que duplica seu efeito. Quem fere quer ver a ferida, quem magoa quer ver o magoado. É a lei da emissão desse dardo.
Há uma outra face da mágoa. Ela abre os nossos porões e nos outorga uma perspectiva de aprendizagem vivencial, um exercício de autoavaliação, induzindo à tolerância e criando oportunidades de autocontrole, o que motiva um crescimento de nossa autoestima.
Se a mágoa segue na correnteza de nossos
rios, não há como empoçar no ódio, no orgulho, na vingança, na perseguição. E,
então, a mágoa não será uma "má água".
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