quinta-feira, 21 de junho de 2012

PRÊMIO EDUARDO CAMPOS DE LITERATURA - IDEAL CLUBE



O ideal Clube abriu inscrições para o seu tradicional concurso literário, já na sua décima quinta edição estadual, e na quarta edição em âmbito nacional, desta feita dedicado exclusivamente ao gênero CONTO.

Concorrerão nacionalmente livros de contos inéditos, em originais que tenham entre 80 e 120 páginas, e em nível estadual vão disputar contos inéditos isolados, de até seis laudas cada um, podendo cada concorrente inscrever três contos distintos.

A edição deste ano do Concurso Ideal Clube de Literatura recebeu o título de honra de PRÊMIO EDUARDO CAMPOS, merecida homenagem ao mais completo intelectual cearense contemporâneo, recentemente falecido.

Manuel Eduardo Pinheiro Campos, conhecido no meio radiofônico como “Manuelito Eduardo”, foi radialista, jornalista, poeta, escritor e dramaturgo. Fundou a televisão no Ceará como principal executivo local dos Diários Associados.

Eduardo Campos é Patrono Perpétuo da Cadeira de nº 20 da ACLJ, fundada pelo seu atual titular, Reginaldo Vasconcelos. Postamos abaixo uma crônica publicada pelo referido acadêmico, quando do seu falecimento.


MORRE EDUARDO CAMPOS: UM TOQUE DE SILÊNCIO

Foi sepultado na tarde desta quinta-feira, 20 de setembro (2007), o maior orador do Ceará, Manuel Eduardo Pinheiro Campos. Ou, “o último grande orador cearense”, como mais enfaticamente dizia Haroldo Serra, em programa transmitido pela Rádio Universitária, exatamente no momento em que o cortejo de parentes e amigos seguia o féretro em carreata.

Tenho a honra de poder me imiscuir em sua família, na veleidade de fintar um contraparentesco com ele, quando um certo lote de seus sobrinhos afins são meus sobrinhos legítimos, nessa trança em que ainda se enroscam todas as famílias mais antigas da cidade, ao deslindarmos a genealogia cearense como um todo.

Mas o que me fez intumescer os olhos e constranger a garganta ao receber a notícia, e de novo depois, diante do caixão, não foi esse pseudoparentesco que tenho o topete de querer ostentar.

Foi a amizade, foi a gratidão, foi a ternura que aquele homenzarrão me pôs na alma, a afabilidade com que me recebia, a magnanimidade com que acatava os meus apelos, a gentileza com que compareceu a todas as minhas noites de autógrafos para apresentar os trabalhos que fiz publicar.

“Esse Reginaldo é um louco!”, bradava ele do púlpito, com seu vozeirão afetuoso. “Mas um louco adorável!”, rebatia então, depois de provocar acessos de risos na plateia.  “Teima em fazer crônicas, que é um gênero menor, quando na verdade é um contista de mão cheia”. E falava mais, e falava muito, e fazia imagens, e lembrava gentes, sempre encantando a audiência como se fora um canoro pintagol.

No final, em refinada ironia, desculpava-se pela má oratória, “que hoje eu não estou com os meus duendes” – delicada modéstia de querer negar o estro e a verve que na verdade lhe sobravam.

Eduardo Campos teve a ventura de envelhecer, com o bônus da sabedoria e da vivência, sem contudo arrostar o maior ônus da velhice.  Era um homem belo, e não deixou de sê-lo com o avanço dos anos. A senectude não pode com ele. E jamais lhe faltaram o ânimo de tudo dizer com voz potente, que ainda no dia de sua morte os amigos que o visitavam constataram.

Mas lhe faltou no seu enterro a voz alheia, quando nenhum dos presentes àquele ato fúnebre fez uso da palavra, como merecia o ex-presidente e membro destacado de nossa Academia de Letras, fundador da Academia de Retórica. Eu, que fizera o corso até o campo santo e sacrificara o tempo de outro compromisso inadiável para ouvir discursos majestosos encontrei a frustração.

Além das exéquias nas palavras bíblicas do Pastor Elnir Cortez, só o silêncio. Políticos, jornalistas, intelectuais ali presentes quedaram-se mudos. Ainda bem que um bem-te-vi sobrevoou a campa e trinou numa árvore próxima, quebrando o silêncio triste, preenchido de prantos e soluços.

Reginaldo Vasconcelos

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