CINTILANTES
ESTALACTITES E ESTALAGMITES
EDITORIAIS
DE GERALDO JESUINO
Vianney Mesquita*
Quando uma leitura eleva o espírito e inspira
sentimentos nobres e corajosos, não há necessidade de outras regras para julgar
o trabalho: é bom e feito por mão de mestre.
JEAN DE LA BRUYÈRE
Moralista, filósofo e escritor satírico.
Paris, 16.08.1645; Versalhes, 10.05.1696.
Deleite
imenso a mim remansou ao dar de rosto com a mais recente produção do professor
da Universidade Federal do Ceará e artista plástico, acadêmico Geraldo Jesuino
da Costa, conhecido e apreciado narrador de contos e outros substratos do
engenho escritural, no âmbito do Estado e em ultrapasse ao contorno
brasileiro. Procedo agora a tênues
comentários, jamais (*) a respeito do produtor do bem escoliado, sem, todavia,
me aprofundar no cotejamento da sua obra no momento sob curta glosa, Estilhaços
(Fortaleza: Imprece, 2025), porquanto somente a vi a socapa, com míngua de
tempo para compartilhá-la.
Dês
que granjeei o inaugural convívio arcádico com o hoje escritor G. J. C., na
Universidade Federal do Ceará, nos idos bem apartados de 1971, conservo-me
entusiasta do seu modo característico de exprimir intenções literárias,
plenamente distintas de outros produtores do nosso Estado, nomeadamente no que
concerne à laboriosa e intricada convivência com a bitola do conto.
Expressa
singularidade (não é supérfluo acrescer) já remansa adicionada aos demais
pressupostos registados no seu precioso portfólio – de docente do ensino
superior, operador esteta disposto em insuperável plano, pai de família,
amigo-irmão, pescador, narrador de chistosas estórias (inclusivamente as dos
açudes), entornador de fluidos espirituosos em conluio com os aliados - bem
assim de todas as coisas de supina qualidade, suscetíveis de ser fração dos
créditos de um ser distinto, transposto ao estrado mais ordinário em curso na
existência humana.
Persevero,
pois, na circunstância de admirante de seu estro singular, e tão erguido sob o
espectro opinativo de terceiros, peculiarmente no patamar das miúdas narrações
de Domingos Fernandes Trancoso (lembrei-me das “estórias de Trancoso”) e João
Batista da Silva Leitão de Almeida Garret, isto desde a fileira de analistas
exigentes e verdadeiros – como soem ser aqueles a judiciar os bens escriturais
da notabilidade coestaduana sob escólio. Entrementes, os que não alcançam os
desideratos do autor em alusão perfilham-se estrangeiros à possibilidade de
estabelecer mensurações críticas a de tal modo exaltados bens artificiosos,
retendo-se reservados e té calados, aliás, em proveito de consulentes a
mancheias, nomeadamente os fregueses obstinados do inventor de Como Abraços
(Fortaleza: Imprece, 2014).
Sob
o prisma do juízo analítico – isto admito em condição confessa – estaciono no
intermeio dos mencionados expendedores de seus bens, vazados no espinhoso
expediente das narrações ligeiras e concisas da verde agricultura de Moreira
Campos, Alexandre Herculano e Branquinho da Fonseca, onde – seja exprimido –
ele se inserta, sem, de sorte alguma, perigar assumir a lanterna de tão bem
animoso campeonato das letras, pois constantemente postado nas primeiras
posições (para mim, sem exagero, na primeira) sem qualquer pavor do mata-mata.
Por
expresso pretexto, em tempo algum, me afiz a elaborar esse estalão de escrita,
o recurso dos short stories de Shakespeare e Dickens, bem como das nouvelles de
Flaubert, Balzac e Anatole France, visto que, muita vez – toda vez, aliás – me
descobria parecido com os contistas lidos, imitados e pastichados, é bem
verdade, daí por que não chegava à editação da peça. Nunca publiquei uma,
sequer, sob os regramentos de tal custosa craveira redacional...!
Não
me haverei de esquecer, evidentemente, do fato de que, na primeira ocasião,
quem me fez imergir no Jordão literário nacional foi o preclaro contista
brasileiro alvo deste comento, o batista de Sobre Livros - Aspectos da
Editoração Acadêmica (Brasília, PROED; Fortaleza: Edições UFC, 1984), minha
invenção librária estreante e, sem dúvida, carregada de defeituações. Dela,
G.J. elaborou o Prefácio e o invólucro tipográfico, ocorrência a me larguear em
honras e encher de ufania até os dias fluentes. E, então, prosseguiu ele,
aparelhando volumes, escrevendo notações preliminares, quartas capas, orelhas,
verba foramen, continentes estéticos insuperáveis e outros aprestos editoriais
da minha colheita, e sempre preferido, também, mercê de seus misteres funcionais,
pelo ror de cultores editoriais de Fortaleza e de tantos outros recantos, os
quais, ainda hoje por ele demandam, com vistas a que proceda a esta conjunção
de labores de alteado valor cultural.
Relativamente
a Estilhaços, não me impende, porém, neste passo, maiormente pelo pretexto
referido em lance precedente (a falta de vista mais demorada ao mencionado
proveito textual), assentar-lhe juízos tacháveis, secundado pelo deciso de não
surripiar o hors d’ouvre dos lentes gejotianos antes do repasto principal
conformado nos onze pedaços dos luzidios estalagmites e estalactites de chão,
teto e parede dessa soberba gruta editorial. Muito particularmente – expresso
tal sob letras maiúsculas – em relação à estampa ostentosa e literariamente
dignificante de SUMILIANO, deixo o leitor deparar, sem dele fazer qualquer
manchete!
Demais
disso, seria sobejante e delituoso eu esfregar a grosa nos estilhaços
amoladíssimos de G.J., após a aplicação, à guisa de polimento para o leitor, de
duas afiadíssimas e elucidantes Limas: Professor Fernando Lima, na primeira
aba, e Mestra Hermínia Lima, nas initial verba que enroupam o volume.
A
modo de fecho, insisto, ainda, numa eterna ideação atinente ao jeito de tornear
do nosso engenhoso literato, exprimida nalguns conceitos expendidos em
discursos distintos e conjunturas diversas. Os bens amanhados por Geraldo
Jesuino cursam opósitos às singelezas próprias dos estilos triviais, fogem do
insosso, desprezam o irrelevante e correm léguas para se livrar do fútil, ao conferir valia à aplicação, faustosamente
diversificada, de todas as classes de palavras, jamais (*) dos verbos, com as
multíplices e alternadas interpretações, desde os substantivos e adjetivos às
interjeições, e em suas significações multifárias baixo a aquiescência de uma
conjunção linguageira polissêmica e sincrítica, atuante no âmbito do código
glossológico português.
(**) Talvez seja necessário chamar atenção para o fato, certamente não consabido, de que a dicção jamais, duas vezes mencionada neste texto, conforma igual noção dos advérbios. Principalmente, maiormente, mormente, particularmente etc.