quarta-feira, 21 de outubro de 2020

ARTIGO - Dnocs - Triste e Melancólico Aniversário (CB)

 DNOCS
TRISTE E MELANCÓLICO
ANIVERSÁRIO 
Cássio Borges* 

Neste dia 21 o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) completou 111 anos de existência e, pelo que estou sabendo, não  houve sequer hasteamento da Bandeira do Brasil, comemorativo do aniversário deste Departamento Federal, que é, como já foi dito, “o maior fazedor de água do mundo em regiões semiáridas do mundo”.

Tudo indica que a atual Direção daquele brioso Departamento Federal foi posto ali com o propósito de consumar o sonho e o desejo de um grupo de empresários e técnicos (se é que se pode, assim, ser  denominado) que sempre teve o apoio total  de alguns  influentes membros da Academia Cearense de Engenharia. Os mesmo que, até recentemente, não sabiam o significado do termo “vazão regularizada” de uma açude e, até hoje, não saber  dizer qual é a vazão regularizada (oficial) do maior açude do Estado do Ceará, o Açude Castanhão.

Os seus projetistas, comprovadamente incompetentes, diga-se de passagem, no caso, do Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS) e da própria Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Ceará,  que apoiou desde o inicio, incondicionalmente,  a aprovação de 30 m³/s (uma quimera) de sua vazão regulariza, estabelecida pelo extinto DNOS. Hoje, já se fala que a vazão regularizada do referido açude é de 10 m³/s, um erro de engenharia de 300%.

Como se pode fazer gestão dos recursos hídricos  com um erro desta magnitude? No livro que escrevi sobre a construção  do Açude Castanhão constam cerca de 8 ou 10 erros graves cometidos na elaboração do projeto, entre as quais o índice evaporimétrico, que foi considerado como sendo de 1.700 milímetros,  quando, no seu Eia Rima, somente elaborado posteriormente, foi  considero como sendo de 2.893,5 milímetros.


Nenhuma entidade mais competente (assim suponho) do que a Academia Cearense de Engenharia para dirimir estas questões que, com certeza, vão atingir em cheio a própria gestão do Projeto de Integração do Rio São Francisco, entregue por mãos incompetentes a uma entidade sem nenhuma experiência e vivência como semiárido nordestino de rios intermitentes que nunca construiu um só açude em nossa Região. Isto é profundamente lamentável. 

Desde o início desta pandemia que eu e mais quatro conceituados técnicos nordestinos, através de videoconferências, elaboramos um belíssimo trabalho técnico/científico em defesa do Dnocs que o intitulamos de REVITALIZAÇÃO E FORTALECIMENTO DO DNOCS. Solicitamos, então, ao Dr. Reginaldo Vasconcelos, eminente Presidente da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo (ACLJ) fazer a Apresentação deste documento, que  transcrevemos logo abaixo para seu conhecimento.


Sobre a referida Apresentação de autoria do jornalista e advogado Reginaldo Vasconcelos, o engenheiro agrônomo e economista José Maria Marques de Carvalho, servidor aposentado do Banco do Nordeste, e um dos autores do mencionado trabalho, mandou-me o seguinte e-mail: 

“Caro Cássio, 

Espetacular a visão do Dr. Reginaldo sobre nosso trabalho. Transmita, por favor, ao Dr. Reginaldo o reconhecimento e gratidão da equipe, pela excelente apresentação. Se o nosso trabalho estava bom, agora, com esta apresentação, ficou excelente, merecendo aquela capa, para conferir o destaque final. 

O DNOCS, por sua história e por tudo que poderá fazer na gestão dos recursos hídricos no semiárido nordestino, merece nosso esforço de voluntários, para sua manutenção e revitalização. 

Continuemos atentos e a postos!

Atenciosamente,

José Maria". 

 

 REVITALIZAÇÃO E FORTALECIMENTO DO DNOCS

APRESENTAÇÃO

 Integrado desde o princípio, na condição de jornalista, aos ingentes esforços em prol dessa gloriosa autarquia nordestina – o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) – recebi os originais deste magnífico trabalho, e a honrosa missão, que os seus ilustres autores me cometem, de lhe fazer a Apresentação.

A constelação de cientistas que se debruçam sobre o tema da manutenção e revitalização do Dnocs, que abraçaram essa causa e que elaboraram o presente estudo, é o crème de la crème da inteligência nacional no campo da engenharia hidrológica – visto que o Nordeste do País, em razão das recorrentes secas, é o foco principal a demandar essa matéria: a acumulação, a administração e a distribuição dos recursos hídricos, para o consumo humano, a pecuária e a agricultura. 

O Dnocs, por seu turno, entidade secular pioneira no combate à estiagem, mais propriamente aos deletérios efeitos da seca sobre as populações xerófilas, é uma das instituições científicas mais veteranas e beneméritas do Brasil – a exemplo do Museu Nacional, do Instituto Butantan, do Instituto Pasteur, da Fundação Oswaldo Cruz – malgrado tenha sido tratado como o “patinho feio” dos equipamentos estatais, pelo desprestígio político que marca a nossa região setentrional. 

Entretanto, nenhum estamento científico tem reunido mais conhecimento e mais experiência sobre o fenômeno da estiagem que o Dnocs, e sobre os métodos mais adequados de contornar os seus efeitos no semiárido brasileiro, valiosíssima expertise conquistada com “a mão na massa” há tantas décadas, na construção de açudagem e irrigação, no desenvolvimento de culturas próprias, nas pesquisas em piscicultura e em ações de peixamento dos açudes, assistindo os sacrificados habitantes da caatinga com atenção e desvelo. 

Tamanha é a tradição dessa entidade neste quadrante do País que dificilmente se encontra um nordestino que não tenha uma história que vincule ao Dnocs a sua história pessoal – beneficiários ancestrais das suas ações sertanejas, agricultores humildes, pecuaristas heroicos, ex-servidores do Órgão, familiares destes – eu inclusive, descendente do engenheiro Aires de Sousa, um dos seus mais antigos diretores, neto e filho de fazendeiro cearenses, sobrinho de diversos engenheiros do passado da entidade.

Por essas ligações de família, testemunhei pessoalmente, na minha infância, a construção do Açude de Orós, as operações sociais e humanitárias do Dnocs durante a seca de 1958, em torno dos seus postos agrícolas implantados nos sertões, verdadeiros oásis a que as populações famélicas se acostavam para garantir a sobrevivência – os “fornecimentos”, as obras de emergência, não raro o avião da autarquia socorrendo pessoas doentes e transportando técnicos e autoridade científicas para o sáfaro sertão. 

Nesse período, o então emergente Estado de Israel enviou ao Brasil os seus engenheiros para trocar experiências com os cientistas do Dnocs, a fim de compartilharem conhecimentos sobre as agruras climáticas do nosso semiárido, e as securas do deserto em que aquele país foi construído. O melhor aproveitamento da água, as culturas mais resistentes ao estio, as políticas estatais mais proativas na viabilização e proteção da agricultura e da pecuária em áreas mais agrestes do Planeta. 

Enfim, nesta obra intitulada “Revitalização e Fortalecimento do Dnocs”, elaborada pelos engenheiros Otamar de Carvalho, Cássio Borges, José Maria Carvalho, Ângelo Guerra, Flávio Saboya e Evandro Bezerra estão cientificamente fundamentadas todas as razões pelas quais o Dnocs deve ser mantido e revigorado pelo Governo Federal, bem como estão escrutinadas as fórmulas administrativas para o seu soerguimento, com o melhor aproveitamento dos seus potenciais técnico-científicos para a melhoria do índice de desenvolvimento humano e o progresso econômico do Nordeste. 

Reginaldo Vasconcelos   

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário