Paixão lusitana
Adriano Vasconcelos*
A
conheci na pós-adolescência, lá pelos 17 anos. Era irmã de dois colegas de
colégio, embora ela mesma estudasse em outra escola, essa gerida por religiosas
dedicadas ao ensino de moças.
Bonita,
pele muito alva e ornada com lindos e pequenos olhos escuros, na minha cabeça
de jovem não concebia ter vindo do continente africano, onde, em filme, víamos
seus naturais, todos da raça negra.
Mas
Moçambique, de onde emigrara com a família, havia sido até então colônia
portuguesa, e descobri então o porquê daquele sotaque e daquela brancura.
Apesar
de cidadãos portugueses, sua família, ao deixar a ex-colônia, optou por vir para
o Brasil, trazendo hábitos africanos e aquele gostoso acento lusitano, que me
cativou. Não só a mim, mas a toda rapaziada próxima, sendo ela sempre motivo de desejos e de comentários juvenis.
Apesar
de proximidade com a família, a qual frequentava sob a meia-desculpa de
recapitular a lição do dia com seu irmão, nunca ousei revelar minha paixão pela
moça de sonho e de neve, que me fazia delirar, com seu jeito meigo, e, principalmente, aquele sotaque d’além-mar.
Mudei de colégio, de amigos, de paixões. Nunca
mais a vi. Após muitos anos, ambos já adultos, nos cruzamos em um shopping de
Fortaleza. Como não me reconheceu, chamei-a pelo nome.
A beleza da juventude se transformara em
beleza da meia idade, porém aquele sotaque da imigrante portuguesa se fora,
transformando sua voz na de uma conterrânea qualquer, e frustrando minha
memória diante da bela mulher, agora sem o diferencial sonoro pelo qual me
apaixonei na juventude.

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