PLURAL EXCÊNTRICO
Vianney Mesquita*
O erro exige perdão; castigo, o crime.
(Manuel Maria Barbosa de Bocage, poeta neoclássico
(arcadismo) português. Setúbal, 15.09.1765; Lisboa, 21.12.1805)
A nós nos
assemelham esquisitos
Embora tachem-nos
de radicais,
Desde a portuga
regra alguns plurais
Desconformam-se,
contudo, expeditos.
Os ares-condicionados,
ditos
Imperativamente,
são assaz
Via alterosas
normas, mui reais,
Bem liberalizados
de interditos.
Da balaustrada,
entanto, os corrimões,
Deviam ser apenas
corrimãos:
Incongruentes às
mãos de Camões.
Malgrado nossas
meras ilusões,
Linguais defesos
postos nos desvãos.
São motos, pois, de
penas e perdões.
Observações
Há no âmbito da Língua Portuguesa, dentre outras espécies, o registro de plurais que achamos estranhos, como, exempli gratia, o de corrimão, o qual admite esquisitamente como correto, além de corrimãos (por onde a pessoa, na subida e na descida, apoia as mãos), a palavra corrimões (como se amparasse as “mões”).
De tal modo, eles não se configuram como diligentes, prontos, expeditos, mas são havidos legais e certos pelas regras gramaticais, isto é, recebem a certificação. Não está incorreto o mencionado no soneto ares-condicionados, mais de um ar-condicionado, que, de aparelho de ar-condicionado, virou um substantivo – ar-condicionado. Estranho, sem dúvida.
No mesmo passo, vem corrimões, comentado há pouco, onde “não cabem as mãos de Camões”, como se fosse corrimão onde se pusessem as “mões”, isto é, há incongruência no “acerto”.
De tal sorte, estando, no nosso modo de ver, embora sob esse emprego nos desvãos da LP, proibido de proibir, embora sob a tacha de radicais, conforme a citação da parêmia de Bocage, fechamos o poema como motivos de perdão para o erro e castigo para o crime.
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