sábado, 11 de outubro de 2025

CRÔNICA - Paixão Lusitana (AV)

 Paixão lusitana
Adriano Vasconcelos* 

 

A conheci na pós-adolescência, lá pelos 17 anos. Era irmã de dois colegas de colégio, embora ela mesma estudasse em outra escola, essa gerida por religiosas dedicadas ao ensino de moças.

Bonita, pele muito alva e ornada com lindos e pequenos olhos escuros, na minha cabeça de jovem não concebia ter vindo do continente africano, onde, em filme, víamos seus naturais, todos da raça negra. 

Mas Moçambique, de onde emigrara com a família, havia sido até então colônia portuguesa, e descobri então o porquê daquele sotaque e daquela brancura.

Apesar de cidadãos portugueses, sua família, ao deixar a ex-colônia, optou por vir para o Brasil, trazendo hábitos africanos e aquele gostoso acento lusitano, que me cativou. Não só a mim, mas a toda rapaziada próxima, sendo ela sempre motivo de desejos e de comentários juvenis. 

Apesar de proximidade com a família, a qual frequentava sob a meia-desculpa de recapitular a lição do dia com seu irmão, nunca ousei revelar minha paixão pela moça de sonho e de neve, que me fazia delirar, com seu jeito meigo, e, principalmente, aquele sotaque d’além-mar. 

Mudei de colégio, de amigos, de paixões. Nunca mais a vi. Após muitos anos, ambos já adultos, nos cruzamos em um shopping de Fortaleza. Como não me reconheceu, chamei-a pelo nome. 

A beleza da juventude se transformara em beleza da meia idade, porém aquele sotaque da imigrante portuguesa se fora, transformando sua voz na de uma conterrânea qualquer, e frustrando minha memória diante da bela mulher, agora sem o diferencial sonoro pelo qual me apaixonei na juventude.


segunda-feira, 22 de setembro de 2025

POESIA - Soneto decassílabo português - Supino Profissional (VM)

SUPINO PROFISSIONAL
Vianney Mesquita* 


A arquitetura é uma música petrificada (Arthur Schopenhauer, filósofo polaco. Gdansk, 22.02.1788; Frankfurt-Meno, Alemanha, 21.09.1860).


(Para o arquiteto Dr. Totonho Laprovítera)


Entusiasta sou dos arquitetos,
Mui bem espertos ao empedrar orquestras
Com mestras cerebrinas – ambidestras –
Canhestras aos malogros de projetos.
Discretos em ideias manidestras,
Maestras do urbanismo cujos vetos,
De fetos avexados, inquietos,
Diretos – e de chofre  defenestras.

Porque adestras espessa partitura,
Se depura e abanca a Arquitetura
Cura de Ciência, Inteligência e Arte.
Comparte, assim, engenhos de Escultura,
Pintura, Dança e Literatura
Em segura excelência estandarte.


sábado, 20 de setembro de 2025

NOTA SOCIAL - Aniversário da 10ª Região Militar

 FESTA DE 83 ANOS DA
REGIÃO SOARES MORENO
ACLJ E SOCER DIZEM PRESENTE

 

A academia Cearense de Literatura e Jornalismo (ACLJ), e a Sociedade Cearense de Cidadania (Socer), neste dia 18 de setembro, fizeram-se representar na solenidade aniversária da Região Soares Moreno. 

É a 10ª Região Militar, que completa 83 anos, sediada no Forte de Nossa Senhora da Assunção, construção secular que marca a gênese da cidade a que empresta o nome, Fortaleza, a nossa Capital do Ceará.

 


O grupo foi convidado pelo General Pinto Sampaio, amigo dessas entidades culturais, que acaba de passar o comando do referido Quartel General ao seu colega, General de Divisão Ivon Barreto Leão (ambos cearenses), o qual recebeu a comissão de intelectuais para o evento.

Nas imagens, o acadêmico da ACLJ, Roberto Bomfim, representando o Presidente Reginaldo Vasconcelos, ladeado pelo General Pinto Sampaio, como também pelo General Barreto, o Comandante anfitrião.

Abaixo, a Professora Doutora Luciara Aragão e Frota, Presidente da Socer, acompanhada de membros da sua associação, Dr. Nonato Soares de Castro, Perpétua Aguiar e Leonardo Henriques.

 


Na segunda imagem, Eugênia Désirée e o ex-combatente da 2ª Grande Guerra, Geraldo Rodrigues, do alto dos seus 103 anos de idade.

Por fim, a Conselheira da Socer, Dra. Maria Salete Castelo Amoreira, filha do ex-governador Plácido Castelo, a primeira Defensora Pública do Ceará, que durante a solenidade recebeu o título “Amigo da 10ª Região Militar”. Na imagem, com o Capitão Capelão Padre Barreto.   

   

  

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

FILOSOFIA - Excerto de Lógica (VCPJ)

 O REBANHO E A LIBERDADE
ESPELHO DA CONDIÇÃO HUMANA
Valdester Cavalcante Pinto Júnior*

 

Todos erram, no entanto ninguém, exceto o ignorante, é passível de perseverar no erro (CÍCERO). 

Entre a Filosofia e a impiedade a indiferença é a mesma que há entre a religião e o fanatismo. (DENIS DIDEROT, escritor, filósofo e enciclopedista francês).

 

Há momentos, frequentemente muitos, em que o ser humano se vê à beira do abismo – entre a vida e a finitude – o que consolida circunstância, muita vez, desesperadora! 

Na mencionada zona crepuscular, com recorrência, sucede aquilo suscetível de se chamar reconfiguração do olhar. Não é que aprendamos algo novo, mas ocorre, por um instante, sermos desnudados da mentira habitudinária com a qual cobrimos a vida.

Nessas experiências-limite, sobretudo quando vividas coletivamente, entrevemos aquilo que há de mais essencial em nós – e existe de mais frágil.

Mencionados eventos, por sua potência transformadora, deveriam nos reconduzir a modalidades mais humanas, solidárias e respeitosas de convivência. Haveriam de, ao menos, deixar um rastro de memória ativa. Tal lembrança, contudo, se dissipa com assustadora rapidez. Retomamos o curso da existência como se nada tivesse ocorrido – e com ainda mais sede de posse, avidez por controle, ânsia pelo poder. Aquilo que deveria ensejar responsabilidade é engolido pela rotina, desfeito por indiferença, desmerecido por via da cegueira. 

O mal, com efeito, não se exprime feito um monstro, porquanto se insinua na normalidade, sob o hábito, na dependência do silêncio. E este é o tempo taciturno, que não representa a mudez fértil da escuta e da contemplação, mas da quietação imposta, cultivada pelo receio de pensar, dizer, o medo de abraçar a divergência. Palavras tornaram-se armadilhas, enquanto o pensamento livre configurou-se, inopinadamente, um risco social. O espaço público foi tomado por slogans, expressões de ordem, fórmulas repetidas que tranquilizam os inseguros e alimentam as tribos da certeza.

As pessoas, neste passo, se organizam em guetos ideológicos, no âmbito dos quais somente o eco do que já pensam é admitido. O diferente é temido, censurado, descartado, precito. O niilismo conforma-se ativo, cursando, então, a recusa do confronto, tendo vez a domesticação da linguagem, ao fortalecer a idolatria da identidade. O espírito crítico — motor agente do humano – é crescentemente havido como ameaça. A pluralidade, antes condição do mundo comum, é, nesse ensejo, vista como falha de caráter.

E assim se forja o inimigo imaginário, isto é, alguém ou algo a ser combatido, um ponto cego a merecer eliminação. A figura do inimigo é funcional, pois legitima o surgimento de certos messias, salvadores que prometem sentido em meio ao caos.

Este salvador de araque, todavia, como já divisamos repetidas vezes na história, está a anos-luz de ser libertador: é o novo rosto da dominação, a outra lata da influência e mais uma cara da autoridade. O rebanho clama por salvação e recebe, em troca, a servidão voluntária. 

Assistimos, então, a uma cegueira cuidadosamente cultivada – barbaria expressa com trajos pretensamente civilizados. Povos são silenciados por ousarem pensar diferentemente. Culturas sobram apagadas sob a justificativa de proteger a ordem. Identidades demarcam-se esmagadas em nome dissimulado da unidade. E estas disposições, medidas prévias desazadas, absolutamente aversas aos propósitos humanos, ocorrem maquinadas com frieza, como se a destruição fosse um ato administrativo, e não um ilícito moral de consideráveis proporções. Eis que a banalidade do mal, em repetida ocasião, cumpre seu expediente. 

A humanidade, talvez, jamais tenha caminhado em linha reta. Seguimos em ciclos – ora de lucidez, e de obscurantismo noutras ocasiões – como marés que nos elevam e afogam. O “eterno retorno” é capaz de ser menos uma metáfora metafísica e mais um retrato da nossa incapacidade de aprender. Retornamos aos mesmos erros, a semelhantes ódios, a iguais violências, apenas com renovados, mas inadequados, discursos e inapropriados rostos.

E o ódio, hoje, tornou-se a língua franca das relações humanas. Substituiu a compaixão, anulou o diálogo, dissolveu as pontes. Amigos tornam-se estranhos; vizinhos se fazem inimigos. A diferença, passível de ser fonte de criação, é convertida em motivo de exclusão. Em nome de um ideal abstrato de pureza – seja étnica, moral ou ideológica – aniquila-se o outro. O diverso, por consequente, é tratado como ameaça, e a pluralidade agora é desvio.

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

CRÔNICA - Tipos Populares (TL)

 TIPOS POPULARES
Totonho Laprovitera*

  

Os tipos populares são fundamentais para o desenvolvimento das cidades, pois ajudam a formar a identidade cultural local e fortalecem os laços entre os habitantes. Eles promovem a coesão social, enriquecendo a vida cultural por meio de suas expressões e servem como uma plataforma de crítica social. Assim, desempenham um papel importante na construção de sociedades saudáveis. 

Na Cultura Ceará Moleque, mantendo a tradição de um povo gaiato, Fortaleza sempre foi cheia de tipos curiosos, daqueles que chamam a atenção. Dos mais antigos, temos alguns exemplos em ordem alfabética: Andarilho das Medalhas, Bembém Garapeiro, Capitão Pirarucu, Casaca de Urubu, Chagas dos Carneiros, De Rancho, Fabrício, Gerviz, Manezinho do Bispo, Mário Monte, Pilombeta, Quintino Cunha, Raimundo Varão, Rei da Voz, Tertuliano, Tostão, Jararaca, Zé Levi e Zé de Sales. Entre as mulheres estão: Chica Pinote, Ferrugem, Iaiá-Tem-Ovos, Micaela, Mimosa, Mucura, Noiva-do-Tempo, Siri e Teodora. 

Dos mais recentes, lembro do Boca Mole, Burra Preta, Capitão Blue, Feijão-Sem-Banha, Figo Gordo, Hélio Banha, Luciano da Praça da Lagoinha, Maria C de Homem, Maria Maranhão, Mário Gomes, Muda, Pedão da Bananada, Primo, Radiopatrulha, Tá na Hora, Tapioca, Toim Coca-Cola, Zé Tatá e tantos outros personagens importantes para a história da cidade, que nunca foram registrados nos compêndios oficiais.

Nos anos 1960 e 1970, essas figuras populares interagiam ativamente com a coletividade de Fortaleza, uma cidade que enfrentava um crescente declínio das desigualdades sociais. Naquele tempo, uma dessas personalidades era o Radiopatrulha, carinhosamente chamado de Radinho. 

O bom Radinho era um homem negro, baixinho e fisicamente robusto, com um peito de pombo e uma notável corcunda. Seu andar era ligeiro, e ele sempre mantinha um sorriso no rosto, distribuindo simpatia ao imitar com perfeição diferentes animais. As crianças pediam: “Radinho, imita um porco”, e ele imitava; “Radinho, imita uma galinha”, e ele imitava; “Radinho, imita a Rádio Patrulha”, e ele ligava a sirene de seus formidáveis recursos vocais. 

Trabalhador e honesto, o bom Radiopatrulha foi acolhido pela família Pinheiro Beltrão. Tornou-se um faz-tudo da casa e, ao envelhecer, passou a ser o vigia da clínica dentária dos irmãos Haroldo e Paulo, com quem trabalhou até o fim de seus dias. 

Por fim, seguramente, os tipos populares promovem a inclusão social ao envolver diferentes camadas da sociedade no combate ao preconceito, contribuindo para o bem-estar de todos nós, viventes.

 

 

COMENTÁRIO:

 

Magistral o tema antropológico abordado por Totonho Laprovitera sobre os tipos populares, os flâners, os “Carlitos” que vagavam pelas cidades brasileiras, e por outras povoações Planeta a fora – notadamente antes da expansão acentuada dos centros urbanos, e do fenômeno mundial dos moradores de rua. 

Com o crescimento das cidades esses elementos excêntricos foram ficando restritos aos seus bairros, salvo aqueles que frequentam pontos centrais, como, em Fortaleza, a Praça do Ferreira, alma mater do intelectual desassisado Mário Gomes e do imenso negro amulherado de alcunha "Burra Preta". 

Este, no advento da AIDS, encontrei na estação rodoviária da cidade, bastante depauperado. Abordei-o, e ele me disse que estava voltando para morrer na sua terra, em Pernambuco. 

Foi-me muito agradável o resgate da memória que me foi propiciado pelo Totonho, em relação ao chamado “Radinho”, de quem me lembro, muito frequente pela Av. Dom Manuel. 

Era um Quasímodo de caixa torácica avantajada, que tinha a habilidade de produzir sons imitatórios – inclusive o da sirene da “radiopatrulha”, que lhe rendia o apelido, e o barulho das grandes “motocicletas” – palavra pela qual, em outros pontos do bairro, as pessoas o chamavam. 

Faltaram, nas citações do Totonho, alguns dos mais antigos e notórios, como o Zé Goela e o Guará, a que meu pai referia, e o Joaquim, sobre quem publiquei uma crônica no jornal Tribuna do Ceará, em 1981, reeditada em um dos meus livros. 

Reginaldo Vasconcelos

 

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

ARTIGO - Visão Prosada de um Conjunto Poética do Autor de Nuntia Morata (MC)

 VISÃO PROSADA
DE UM CONJUNTO POÉTICO 
DO AUTOR DE NUNTIA MORATA
Márcio Catunda
[Genebra, 14.09.2025]

 

Lido e cuidadosamente apreciado há pouco, como o faço com suas centenas de produções versíficas, vi, em mais um conjunto de pés decassilábicos lusitanos do escritor coestaduano Vianney Mesquita (Palmácia-CE, 17.08.1946), amplo curso de múltiplas destrezas: assertivas filosóficas, significados polissêmicos e magníficos resgates lexicais. 

O produtor de Francisco Moradores do Céu (Palmácia-CE: Arcádia Nova Palmaciana, 2018), áugure dotado de vasta experiência na estese das catorze medidas em arte maior, com efeito, perfaz uma admirável densidade expressiva na consecução deste Travor e Melifluidade, reproduzido empós este rápido comentário, para nos explicitar a preponderância dos paradoxos na condição humana.

Assim, o autor deste mais do que precioso diamante polido com cinzel de fulgurante verve, dedicado ao eminente confrade Batista de Lima (Lavras da Mangabeira-CE) – antes se louvando na epígrafe do celebrado, per omnia secula... Dante Alighieri está a nos revelar que a vida, esse fenômeno misterioso, é composta de contradições que dialogam incessantemente. 

Sabores, cores, reflexos, ideias e atitudes do Homo sapiens estão permeadas de antíteses e antípodas, coexistindo em tudo a dialética dos dois lados, a energia binária, do fluxo e do refluxo, da dinâmica polaridade que engendra as mutações vorazes do tempo. 

O soneto e a dedicatória mais conformam uma prova dessa dicotomia em que se conciliam, no verbo iluminado do vate ora sob escólio, três grandezas do templo imortal da Poesia. Analogamente, os números se multiplicam nos ritmos universais, desde a simbiose do primeiro com o segundo algarismo, surgindo o trinitário valor das manifestações da natureza. 

In hoc sensu, o poeta é o filósofo, na conceição do Fiat lux do soneto.


Eis que, em verdade, se 

pronunciou outra vez a luz.



Márcio Catunda é escritor, poeta. Bacharel em Letras e Direito. Diplomata. Da Academia de Letras do Brasil e Academia Cearense de Literatura e Jornalismo. Mais de 50 livros.

***

 TRAVOR E MELIFLUIDADE

[Para o Acadêmico Batista de Lima, da ACLP]

Vianney Mesquita 

[Arcádia Nova Palmaciana e

Academia Cearense de Literatura e Jornalismo] 


Às vezes, nascem amargas sementes oriundas d’outras [DANTE ALHIGHIERI – político, escritor e poeta. Florença,1265; Ravena, 1321]. 


Onde quer que haja algo doce, há constantemente alguma coisa amara. [PETRÔNIO, literato romano; talvez Tito Petrônio Árbitro.  Marselha (França); Cumas (Itália -sem mais informações)].



Eis aí oximóron genuíno,
Conquanto estranho ao nosso talante,
Ideado, no entanto, em cada tino,
Azedo e sacaroso ao mesmo instante.
 
Semelha algo que é baço e brilhante
A igual azo, japonês e chino
 Em arremedo, é gélido e escaldante,
Exorbita sagrado e libertino.
 
Dulcificado e acre – par de ensejos –
Melífluo e acerbo causariam pejos,
Se acaso ordinária a insânia fosse.
 
A humana vida, entanto, é dócil e amarga,
Ao sustentar fagueira em sua ilharga
A circunstância agra e o estado doce!

domingo, 14 de setembro de 2025

ARTIGO - Conatus - Até Onde a Vida Pede Luta (VM)

 Conatus
Até Onde a Vida Pede luta
Notações Preambulares

 Vianney Mesquita*

 

 

Gli stolti hanno il cuore sulla língua. È nel cuore, invece, che i saggi guidan la língua. “Os tolos têm o coração na língua. É no coração, entretanto, que os sábios guiam a língua” (Anônimo)

 

Contenta-me, sobremodo, proceder a rápidas e despresumidas considerações de mais uma obra de rematada qualidade científica e literária da agricultura do facultativo alagoano, há mais de 20 anos mourejando como cardiologista em Fortaleza, nomeadamente na seara da Cirurgia Infantil, amplamente conhecido no Brasil, Prof. Dr. VALDESTER CAVALCANTE PINTO JÚNIOR, agora Cidadão Cearense por graça justa e oportuna dos deputados Guilherme Sampaio e Leonardo Pinheiro, da Assembleia Legislativa do nosso Estado, circunstância a nos inteirar de júbilo, haja vista a exação do ato e em decorrência do portfólio acadêmico e funcional de seu detentor. 

Pelo fato de não ser fração dos meus parcos haveres profissionais a manobra dos motes jungidos à Ciência Médica e aos seus bens adstritos, conforme o são, num exemplo semi singular, a Psicologia, a Farmacologia, a Dentística e a Enfermagem, dentre tantos sub-ramos cobertos pelo saber parcialmente unificado e ordenado (segundo intenta e leciona o biólogo, filósofo e antropólogo grãobritano Herbert Spencer [Derby, 27.04.1820; Brighton, 08.12.1903]) a mim não é dado, também, adentrar, por descabido e até inaceitável, os temas procedentes da Medicina e de ramalhos que assistem, ordenadamente, mencionada iluminação. 

Cumpre-me, por conseguinte, assente em tais razões, obedecer à estrema no concerto dos frugais entendimentos detidos ao extenso da vida e no decurso das conjunturas escolares oficiais e em particulares circunstâncias de auto ilustração, para, a convite do médico da Universidade Federal do Ceará – minha Alma Mater  e doutras instituições cearenses, mestre e doutor Valdester Cavalcante Pinto Júnior, partícipe da joia autoral da ambiência cearense e brasileira, insertado no mais elevado na Literatura, cogitar nas ideações de tão enobrecida figura. 

Por primeiro, atentemos para a epígrafe (de domínio público) do módulo sob relato e articulemos estas cotas preambulares, no tentâmen de revelar acerca do que planeou exprimir o autor – anônimo, mas que parece sugerir haver sido o Dr. Valdester a escrevê-lo, em consequência das suas reflexões racionais, que vestem como luvas a ideação translúcida desta inscrição: Os loucos trazem o coração na língua, ao passo que é no coração que os sábios a conduzem. 

Mesmo que eu haja escolhido deixar o coração avesso à sua função, primordial do cirurgião cardiovascular agora apreçado, no senso da transcrição, porém, vai o preclaro leitor divisar a ideia de que a frase merece uma ponderação acerca de como as pessoas arrebatadas, meio-apressadas, impõem vazão às próprias emoções, esquecendo-se de segregar seus humores – como por meio de um filtro. 

A segunda parte do brocardo italiano incógnito conduz-nos à noção de que os saggi detêm um comando bem mais intensivo sobre suas emoções do que os stolti as transportam com a devida introspecção e a necessária sabedoria. 

Certificar-se-á, decerto, o distinto consulente desta produção literocientífica, ao ler e interpretar as lúcidas exposições e ilações ora manifestas, de que as inferências do Alagoense e Neocidadão Cearense estão preservadas de qualquer balda de irracionalidade, configurando-se como naturais e absolutamente coerentes, em particular, porque hauridas de seus conhecimentos, práticas, instruções e habilidades, ao largo do exercício de seu labor nos vãos e desvãos dos misteres profissionais, em um País ainda bem apartado do ideal – e quase quimérico  mormente no que é relativo à atenção e ao cuidado em saúde humana. 

É fácil, genuinamente inteligível, a noção, expressa na sequência, ao se conjecturar pela atenção desmedida às idealizações literárias expendidas neste volume, maiormente por parte da vertente que aporta seus consultantes de mesma linha profissional e afins – facultativos e profissionais da saúde. Eis que o Autor, na largueza e no circuito das solicitações do seu mister vitorioso de cirurgião cardiovascular infantil e em permanente convivência com partícipes familiares, granjeou a obtenção de compreensões mais lúcidas e contíguas a outros ramos disciplinares do saber relativo, motivo por que os entendimentos expostos na produção sob comento denotam, meridianamente, a medrança de seus alcances intelectivos, consoante é verdadeiro nas moções, conducentes ao choro, ao lacrimejo, em particular de consulentes mais frouxos, do quilate deste rabiscador,  impressas, verbi gratia, nos segmentos A Humanidade em Suspenso e em A Fé, a Dor e a Ordem da Natureza.

Evidentemente, o crescimento espiritual ao abrigo da alusão imediatamente anterior, isto é, a dilatação do intelecto, não se ateve, tão-só, às observações do Escritor arrimadas na formação científica circunspecta nas universidades, sítios de caça investigativa e campos de prova, tampouco, singularmente, às realizações fáticas vinculadas às doenças, a situações estressantes sob sucessos inesperados, desordenamentos mentais dos grupos familiais, casos de má administração hospitalar, querelas invisíveis  conquanto  tangíveis demanda pelos “holofotes” por parte de oficiantes enfatuados, chefes presunçosos (...) e tantos estados de coisas domiciliados nos lugares das ocorrências. Destes, não é ocioso expressar, somente possuem a dimensão aqueles que se encontram na batalha, tanto sadia como (em certos casos) malsã, sendo que a peleja insana, muita vez, destroça a refrega salutar, se não houver a indispensável cautela, cumprida pelo Assinante de Entre Fios e Nós (Fortaleza, 2025) à proporção da sua caminhada vital-laborativa. 

Então, com o escopo de amanhar mais conhecimento, corrigir e aperfeiçoar suas ações, tão bem configuradas por Valdester Cavalcante Pinto Júnior no compêndio sob relação, ele, seus confrades e acólitos se mandam à cata de bens multidisciplinares dotados das respectivas certificações, a maioria dos quais tem suporte na prática, segundo sucede com o produtor das inspirações agora em cotejo, juntura saudável do tirocínio profissional com os teores da ciência, cujos resultados, com justeza, serão os melhores, mercê de sua elevada e induvidosa valoração.

Recorro, entrementes, neste momento, ao expediente do parêntese, incluindo a expectativa de que os eminentes leitores deste fruto literário e dotado de cientificismo não aguardem que, transpondo essas manchetes, notas principais respeitantes ao CONATUS  até onde a vida pede luta, eu informe o teor inteiro da obra. Este é propósito que a mim não me impende, porque não aspiro a surripiar do bem recepcionado leitor a satisfação de ver o conteúdo da escrita primeiro do que todo mundo, sem que subtraia nestas aligeiradas notações essa possibilidade de ele se enlear com a narração e as lições mostradas no volume, pois entendo ser preciso consagrar respeito ao futuro consultante de um escrito, ao não fornecer, sequer, manchetes de seu enredo, narrar passagens ou extrair ilações (as quais são passíveis de não corresponder à vontade expressiva do escritor e até induzir ao logro aquele que o descodifica), porquanto, compreendo que a pessoa, ao lê-lo, tenciona mesmo é conhecer in situ, sob o patrocínio direto do autor, suas compreensões a respeito dos eventos contados, sem a interferência de um terceiro, o qual é passível de larapiar-lhe a vontade de leitura. 

De tal jeito, prezadíssimo viajor dessa jornada literária: deixo ao seu querer o ensejo de ler, em primeira mão, sem minhas informações – as quais deneguei – esta conjunção ideativa de intenso vigor narrativo, produzido num horizontal modo de escrever, sem subir aos exageros linguísticos nem descer ao vulgo, em nenhuma ocasião, como sucede com escritores ainda aprendentes do ofício escritural. Expressas qualidades estampam o alteado proveito editorial cultivado pelo Prof. Dr. Valdester C. Pinto Junior – de quem me comprazo ser amigo e paciente revascularizado cardíaco há 20 anos  senhor do seu mister profissional e reprodutor das ideias excepcionais aqui socializadas, que não se esqueceu de contabilizar todos esses créditos ganhados à medida do tempo. 

Uma vez trancada a intervenção parentética há pouco exposta, cumpre remeter-me a um aspecto, extraordinário – específico – seminal, do interesse sob relação, certamente, na conceição pessoal, o ponto de saliência das posições por mim exprimidas nesta oportunidade, representado na maneira honesta e saudável de o Autor manifestar-se no que se conecta às compreensões imparciais de religiosidade e , no concerto da sua atividade facultativa feito cirurgião cardiovascular. 

Há-de se verificar, sem interferência de localização espaçotemporal, em todo o Orbe, peculiarmente nos meios de propagação coletiva, os media - neste passo insertada a obra literária - e a peça científica, nalgumas oportunidades, mesmo com a interdição do estrato do saber parcialmente ordenado (Filosofia da Ciência), o capricho e a birra de se amplificar sem medida certas ideações, sob o prisma, quer positivo, quer negativo, exagerando-se – sem necessidade, seja expresso – a axiologia e as cristalinas verdades localizadas nos centros dos pontos de vista cristalizados pela autenticidade e a razão. Daí, então, provêm as discussões, pendengas, arengas desazadas, intrigas pessoais e familiares, divisões grupais e sociais..., indo, muita vez, ter seu termo nos cemitérios. 

Insertos nestas condições, encontram-se, exempli gratia e entre muitos outros, os motes-partes de Política e Religião, os quais, haja vista seus desacertos e sem-razões, não ensejam a pacificação da Humanidade. Remansam, por conseguinte, os extremismos prejudiciais e desprovidos de razão, achegando-se às estremas (no âmbito da Política) esquerda/direita e Deus/Satanás. 

Exatamente neste lapso, encontrei o ponto de saliência, o qual adita valia qualitativa ao exemplar comentado, em decorrência do emprego da lógica, aplicação da inteligência e ajuntamento da prontidão intelectiva quando da eloquente e expedita menção aos vínculos vida/moléstia/religiosidade. No dito ensejo, o Autor, ao patentear os préstimos advindos desta excepcional coalizão, acolhe, defende e concede publicidade à ideia, com suporte no prisma científico e literário, fato garante de seu agasalho da banda dos seus mui especiais leitores, habitantes da senda onde estão os saberes da saúde humana. 

Encantou-me, demasiado, a ausência de alusões adocicadas, muito comuns na carolice dos “santinhos” e “santinhas” de mãos postas, execrada por este escrevinhador cristão-católico romano praticante, por ser atitude plenamente despropositada, aliás, avessa aos ensinamentos bíblicos. De semelhante modo, prezei de sobra o jeito humano natural de expor as concepções assuntivas sob pauta, desprendendo-se da rusticidade própria dos pseudossábios auto deificados, quando rebatem grosseiramente a assunção dos fiéis aos entendimentos do Santo Livro, e se louvam no chega-pra-lá a quem resolve habitar o ideário dogmático da Trindade. 

Impõe-se, a modo de remate destas ligeiras considerações, chamar sua atenção, leitor destacado, para o fato de que este escrito é de nobílima significação, tanto na condição de manifesto científico, adornado pela luminosa experiência do seu autor na senda da Cirurgia Cardíaca e suas ações afins,  quanto no concernente ao seu teor literário de basta categoria, principalmente no emprego utilitário, correto e vasto do código linguístico português, escrito com simpleza, porém sem descender à vala comum, tampouco intentar subir aos páramos da manifestação linguageira para se mostrar erudito. O ensaio é de uma largueza intelectual e prática impressionante, sem repetição de palavras e expressões, de sorte que aplica a Língua de Camões somente com o fito de ensejar leitura e descodificação inteiriça aos seus consulentes, sem abandonar, para servir aos ledores menos aprestados, os expedientes de um português castiço, o qual, isto sim, solicita de quem o intenta compreender o necessário aprofundamento, porquanto os escritos no valado comum não conduzem nada de pedagógico, insistindo, porém, naquilo que já se sabe. 

De tal maneira, esta neo produção do Prof. Dr. Valdester Cavalcante Pinto Junior constitui uma gema diamantina de peso para fazer parte do mealheiro da nossa cultura e servir como um depósito riquíssimo da herdade intelectual do povo cearense e brasileiro, configurando, com efeito, artefato singular a fim de adestrar os leitores no que tange às matérias de sua reprodução, pois volume a engrandecer a axiologia temática da Cirurgia Cardiovascular, da Medicina em geral e dos sub- ramos com os quais encerra contiguidade. 

Viajemos, pois, por esse périplo enriquecedor.

Feliz viagem. Vale a pena!