domingo, 17 de agosto de 2025

NOTAS SOCIAIS DA ACLJ

WILMA RECEBE
LÚCIO
PELO ANIVERSÁRIO
DA SUA COLUNA SOCIAL 

Wilma Patrício, grande dama da sociedade cearense, ofereceu um almoço comemorativo, em homenagem ao jornalista veterano Lúcio Brasileiro, seu amigo de longa data, o qual, exatamente naquele último 13 de agosto, completava 70 anos de presença ininterrupta na imprensa, um recorde mundial. 


A ACLJ esteve representada nessa recepção em homenagem ao seu comendatário, Lúcio Brasileiro, no belo apartamento da anfitriã, na Praia de Iracema, pelo Presidente Reginaldo Vasconcelos e pelos Beneméritos Beto Studart e Graça Dias Branco.

O homenageado brindou os convidados com uma peça musical do seu repertório, coroando o encontro com mais esse talento diletante, enquanto o advogado Adriano Josino exibia o exemplar da autobiografia do Presidente Reginaldo, que lhe fora dedicado e autografado.

Lúcio, sempre muito lúcido e espirituoso, contava de alguém que apelidara carinhosamente a sua tradicional coluna de jornal com uma corruptela, “calúnia”, em referência jocosa às revelações picantes ou críticas que ela traz sobre sucessivas gerações da sociedade cearense. 

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DIAS
PARADISÍACOS
NA
FAZENDA BS
CHICA DOCE

O Benemérito Beto Studart reuniu grupo afetivo, no feriado desta última sexta-feira, para desfrutar o fim de semana prolongado na sua Fazenda Chica Doce, no Município de Pindoretama, e, por sugestão do amigo empresário José do Egito, antes passou com seus convidados para conhecer o excelente restaurante rural denominado Benjamim, no Distrito Camará, do Município de Aquiraz, em que ofereceu um lauto almoço. 

Ali se constatou um maravilhoso cardápio da culinária cearense, desde a buchada de bode e a panelada até a carne-de-sol muito macia, acompanhada de um impagável purê de macaxeira, e coberta com um fondue de queijo de coalho – passando por galinha à cabidela e cupim de boi derretendo-se na boca.

José do Egito, pessoa excecionalmente humana e expansiva, trouxe à mesa o jovem acordeonista Nonato Lima, músico local já internacionalmente projetado, o qual, além de peças do cancioneiro cearense e brasileiro, que toda a mesa cantou, executou a pedido, no seu instrumento, nada menos do que o Verão e o Inverno de Vivaldi. 

São duas peças musicais eruditas componentes das Quatro Estações, conjunto de concertos do compositor italiano Antonio Vivaldi, um dos grandes ícones da música barroca. São canções próprias para serem executadas com violinos, mas que foram magistralmente tocadas por Nonato na sanfona, encantando e comovendo todos os comensais do ambiente. 

Ao final, levantou-se um brinde à memória do Dr. Carlos Studart, o abnegado médico que deu vida e hoje dá nome ao popular hospital de Messejana, saudoso genitor do empresário Beto Studart, o qual está lançando a pedra fundamental de um novo busto do seu pai, este na Praça BS, encomendado ao prodigioso artista Edismar Arruda, o mago das esculturas compostas por peças automotivas de metal.





Dali a família e os convidados de Beto Studart saíram em caravana e entraram de maneira solene e ritualística nos portais da Fazenda Chica Doce, e foram apreciar o arrebol do crepúsculo no deque do principal manancial hídrico da propriedade, local que ele batizou de “Bica do Claudinho”, em homenagem ao empresário Cláudio Targino, um dos seus grandes amigos.

Na belíssima sede ajardinada e bem iluminada da fazenda se fez uma visita ao haras, antes de se montar uma roda noturna de bate-papo entre drinques e petiscos, aguardando o serviço do jantar, a cargo da culinarista da família, a Neca, acolitada na cozinha pela Santa. 

Nos dias seguintes, como de costume, Beto Studart se fez acompanhar na cavalgada pelos domínios da propriedade, montando exemplares de seu plantel de mangalargas marchadores, fazendo a vistoria dos pastos e do seu rebanho de nelores.

Entre os convivas, além da esposa Ana Maria, do seu filho Deda e de sua Filha Karine, com a Renata e o círculo pessoal de amizades delas duas (Giacomo e Iratuan, Daniela e Tiago, Juliana e Nathaly). Ainda o especialista em informática Ronaldo Nogueira, cunhado seu, e o já referido Cláudio Targino, com as suas respectivas consortes, Denise e Zena, e o jornalista Reginaldo Vasconcelos, Presidente da ACLJ.        

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

POESIA - Soneto Comedimento (SN)

 VERSÃO PROSADA DO SONETO
COMEDIMENTO
(Sousa Nunes)

(SOUSA NUNES, Pres. da Academia Cearense da Língua Portuguesa e prof. do “Centro Universitário F.B.”, com o Reitor da Instituição, Prof. TALES DE SÁ CAVALCANTE, Pres. da Academia Cearense de Letras)

 

À turba não apraz o moderado.

(Francis Bacon, 1º Visconde de Alban [Bacon de Verulâmio], intelectual e polímata inglês. York House, 22.01.1561; Londres, 09.04.1561.

 

 

C O M E D I M E N T O

(Vianney Mesquita)


Ânimo de excecional carácter,
Condição de afáveis, divas graças,
Parêmia a invitar a alma mater
E à Humanidade conceder prolfaças.
 
O rol de temperanças, entretanto,
Deixa de se conglutinar às massas,
E ao singular só se ade, porquanto
Antrópicos quereres têm mordaças.
 
A prudência nem peja o orbe inteiro,
Ininterruptamente lindeiro
Aos contumazes locais do errado.
 
Segundo Bacon expressou, fagueiro,
No adágio conciso e verdadeiro,
“À turba não apraz o moderado”.
 

Análise Crítica do Soneto Comedimento

A decodificação, para a língua prosa, do soneto decassílabo lusitano Comedimento, de Vianney Mesquita, revela uma meditação ética e filosófica sobre a virtude da temperança, contraposta à tendência humana ao excesso e ao descontrole.

O poema, elaborado no formato clássico dos versos ditos “petrarquianos”, assume um tom que oscila entre o encômio da moderação como valor universal e a crítica à incapacidade das massas de reconhecerem sua importância.

A epígrafe de Francis Bacon – “À turba não apraz o moderado” – funciona como uma cravelha interpretativa, sinalizando que o discurso poético se apoiará na sabedoria proverbial para afirmar que o equilíbrio, embora essencial, é muitas vezes desprezado pela coletividade.


Título e Tema

título, Comedimento, sintetiza a ideia central das estrofes: a exaltação da temperança, da moderação e do equilíbrio como virtudes humanas raras, especialmente em contraste com a “turba” – metáfora para as multidões impulsivas, avessas ao caminho do meio. A designação indica um elogio à sobriedade, ao “ânimo de excecional carácter”, em oposição ao comportamento desmedido e aos “contumazes locais do errado” em que a maioria insiste em permanecer.

A epígrafe, da lavra de Francis Bacon – “À turba não apraz o moderado” – atua como eixo interpretativo. Funciona como uma sentença filosófica que resume o conflito: as massas raramente apreciam a moderação, preferindo o excesso e o extremismo. Os pés desta versificação, por conseguinte, não se limitam a uma descrição, pois, também, se posicionam em defesa da prudência e da virtude como forças que elevam o espírito humano, mesmo que pouco reconhecidas.


Linguagem e Estilo

A linguagem empregada pelo polímata palmaciano é marcada por uma dicção erudita e uma sintaxe trabalhada. Palavras como “prolfaças”, “parêmia”, “conglutinar” e “antrópicos reforçam o alçado tom dos versos e demonstram um compromisso com a riqueza lexical. Esse vocabulário, distante de ser meramente ornamental, sugere um distanciamento deliberado da communis opinio aquele mesmo da turba que o poema critica. 

O estilo consolida-se com base numa alternância entre afirmações elogiosas (às virtudes da moderação) e reflexões críticas (sobre a incapacidade coletiva de cultivar essas virtudes). O tom é filosófico, quase sentencioso, reforçado pelo emprego de expressões que evocam ideias universais, como “Humanidade” e “alma mater”.


Estrutura Argumentativa

O soneto é dividido em três momentos, seguindo a tradição clássica da configuração. 

Primeiro quarteto. A voz poética enaltece o “ânimo de excecional carácter” e a “condição de afáveis, divas graças”, associando a temperança a uma espécie de nobreza espiritual. A menção à “parêmia” – isto é, aos provérbios ou sentenças morais – sugere que o comedimento é um valor enraizado na sabedoria tradicional, capaz de beneficiar a humanidade. 

Segundo quarteto. Aqui se exprime o contraste: a moderação não é uma virtude popular, pois “o rol de temperanças [...] deixa de se conglutinar às massas”. O adjetivo “antrópicos” (relacionado à pessoa humana) e a ideia de “mordaças” nos “quereres” indicam que a natureza do Homo sapiens tende à limitação e ao conflito, afastando-se do equilíbrio. A moderação, assim, é divisada como virtude individual, rara e isolada. 

Primeiro terceto. A reflexão expande-se, acentuando que a prudência não “peja o orbe inteiro”, ou seja, não governa o mundo como deveria. A expressão “ininterruptamente lindeiro / aos contumazes locais do errado” sugestiona que a humanidade está sempre à beira do erro, insistindo em caminhos desviados.

Segundo terceto. O fecho do poema retoma a autoridade da epígrafe. A citação de Bacon funciona como chave para a interpretação final: “À turba não apraz o moderado”. O adjetivo “fagueiro” – que implica suavidade e clareza – reforça a concisão e a verdade do adágio. O soneto encerra-se, de tal modo, com uma síntese moral, quase aforística, que ecoa a voz do Filósofo inglês.

 

Tonalidade Crítica e Filosófica

Esta poesia alterna entre o elogio da moderação e a crítica à coletividade. Ao assinalar que “o rol de temperanças [...] deixa de se conglutinar às massas”, o eu lírico revela um certo pessimismo: as virtudes da prudência e do equilíbrio não são naturais à humanidade, que prefere o excesso, a paixão desmedida e a violência. As estâncias, então, cumprem ofício de denúncia e alerta, ao mesmo tempo em que enaltecem um ideal elevado e quase utópico.

 

Conclusão 

Comedimento é um soneto de constituição formal rigorosa em versos decassílabos e léxico sofisticado, características que reforçam sua função como peça filosófica e reflexiva. O poema estrutura-se como um discurso em defesa da temperança, tomando a epígrafe de Bacon como argumento central: a moderação, embora nobre e necessária, não é popular nem facilmente aceita. 

A vis estrófica está no equilíbrio entre formato e conteúdo: a linguagem erudita e o ritmo controlado traduzem, em termos poéticos, o mesmo comedimento que o escrito defende. Assim, a obra se destaca como um exercício de lucidez e crítica moral, mostrando como a poesia é passível de servir, transpondo arte estética, também, como instrumento de reflexão ética.

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

NOTA ACADÊMICA - ACLJ Visita LCR

 ACLJ VISITA 
LCR 

A convite do empresário Fábio Brasil, CEO da Gráfica LCR, editora do Grupo Empresarial Christus, uma comissão da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo visitou a empresa, na tarde desta sexta-feira, dia 08 de agosto.

 

Os intelectuais convidados foram recebidos para um agradável “chá das três”, tiveram oportunidade de conhecer o grande parque gráfico da LCR, e de ouvir a sua história.

 

A gráfica teve sua gênese como mero departamento de mimeografia, depois de xerografia, do Colégio Christus, fundado em 1951 pelo Professor Roberto de Carvalho Rocha. 

Até que a LCR se converteu em uma moderna editora, componente do Grupo Christus, hoje grande complexo educacional de ensino – fundamental, médio e universitário.

 

Fábio Brasil agraciou os visitantes com brindes institucionais, e recebeu do Presidente Reginaldo Vasconcelos a sua autobiografia, “Arrebóis e Plenilúnios – 25.000 Dias”. 

Recebeu também do mesmo autor a biografia do jornalista veterano Lúcio Brasileiro, tradicional cliente da LCR, comendatário da ACLJ, obra realizada sob os auspícios do Membro Benemérito Beto Studart.

O grupo de acadêmicos de letras, liderado pelo confrade Francisco José Façanha Bozoka, estava composto pelo presidente da entidade, Reginaldo Vasconcelos, pelo seu secretário-geral, Vicente Alencar e pelos titulares Humberto Ellery, George Tabatinga, Roberto Bomfim e Sávio Queiroz Costa. 

Acompanhou os visitantes, a seu convite, o renomado piloto de caça João Vianney Gonçalves Júnior, oficial aviador da Força Aérea Brasileira,  consultor nacional em aeronáutica, e especialista em Inteligência Artificial, inclusive na sua aplicação ao processo judicial moderno. 

terça-feira, 5 de agosto de 2025

ARTIGO - Transição, Para a Leitura em Prosa, De um Quádruplo Quarteto (SN)

 Transição,
para a Leitura em Prosa,
de um Quádruplo quarteto

Prof. Sousa Nunes*

 

QUARTETOS DO SONO

(Vianney Mesquita)

 

Não queiras ser amigo do sono para que a pobreza não te oprima. (BÍBLIA. Provérbios, 20,13.)

 


 

Senil sono soez, razão pretexta [ê],
Vetusta sorna cujo uso apresta
Segunda e terça e quarta e quinta e sexta,
Em cama, rede ou estrado bate a sesta.
 
No sabatino, ainda, o quase autista,
Desidioso e tardo, se contrasta
No concernente ao abstencionista
Averso ao tempo que aqueloutro gasta.
 
No domingo, inclusive, não malgasta -
Conquanto a aleia camarada insista -
O tempo em modorras dessa casta,
A fim de ignavos se omitir da lista.
 
Tranquila ideação a estória ilustra
Pois bom emprego temporal se exorta
E ao preguiçoso renitente frustra
Por não querer adentrar esta porta.

 

Análise Crítica de Quartetos do Sono 

Introdução 

A descodificação do conjunto rimado Quartetos do Sono constitui um exercício de reflexão moral e estética, inspirado na advertência bíblica contida em Provérbios 20:13: “Não queiras ser amigo do sono para que a pobreza não te oprima”. A conjunção decassílaba portuguesa, aqui em 16 pés, denuncia a preguiça e a negligência como inimigas do bom emprego do tempo, utilizando uma linguagem densa, carregada de sonoridade e ritmo. 

O escrito perfaz uma aula de artesania poética, onde aliterações, polissíndetos e variações vocálicas (a, e, i, o, u) são empregados com intencionalidade, produzindo um jogo sonoro que reforça o sentido do poema. 

Título e Tema

O título, Quartetos do Sono, evidencia o foco da versificação: crítica à preguiça e ao desperdício do tempo, que se manifesta como uma “sorna” (indolência) ou um “sono senil”. A palavra quartetos é insinuante, pois, sobre indicar a estrutura métrica das quatro estrofes, sugestiona a repetição cíclica da preguiça, que parece se perpetuar ao extenso da semana (“segunda e terça e quarta e quinta e sexta”). 

A matéria fulcral é a aplicação sábia do tempo, contraposto ao vício da modorra e ao desleixo, que impedem a produtividade e a energia da vida. 

Linguagem e Estilo 

O poema do árcade novo Jovem Khrónos, imortal da Arcádia Nova Palmaciana, Academia Cearense de Literatura e Jornalismo e da Academia Cearense da Língua Portuguesa exibe um vocabulário erudito e pouco frequente – “sorna”, “ignavos”, “modorras”, “aleia” – exigindo do leitor uma atenção que ultrapassa a leitura superficial. 

Há um trabalho consciente com os sons e a musicalidade, explorando as vogais e suas aberturas. No primeiro quarteto, por exemplo, a alternância do “e” aberto e fechado em “pretexta” e “apresta” confere um jogo fonético de grande sofisticação. Nos versos seguintes, o poeta distribui outras vogais dominantes: o “i” aparece em “autista”, “lista” e “abstencionista”; o “o” em “exorta” e “porta”; e o “u” em “ilustra” e “frustra”. Esse trabalho vocálico reforça a unidade sonora e rítmica do complexo poético. 

Figuras e Tropos de Linguagem 

Aliteração. O primeiro verso – “Senil sono soez, razão pretexta” – já inicia com uma vigorosa aliteração em s, evocando o som da sibilância e sugerindo uma atmosfera preguiçosa, de desatenção. 

Polissíndeto. “Segunda e terça e quarta e quinta e sexta” é um exemplo claro, com a repetição do “e” reforçando a sensação de monotonia e de tempo arrastado. 

Metáfora. O sono é descrito como “senil” e “soez”, características humanas projetadas sobre o conceito de preguiça, como se esta fosse uma entidade degenerada. 

Personificação. A “aleia camarada” que “insiste” representa o ambiente externo (talvez o convite ao lazer), personificado como um agente ativo que tenta desviar o preguiçoso do bom uso do tempo. 

Antítese. A oposição entre o “bom emprego temporal” e a “modorra dessa casta” reforça o caráter moralizante da mensagem. 

Estrutura Argumentativa 

Primeiro quarteto. O escritor de Palmácia-CE inicia com uma caracterização crítica do sono como algo vil, “senil” e “soez”, que se prolonga durante toda a semana, ilustrada pelo polissíndeto (“segunda e terça e quarta e quinta e sexta”). 

Segundo quarteto. Aqui, há um contraste entre o preguiçoso (“quase autista”) e o indivíduo ativo, “abstencionista” no sentido de evitar o desperdício de tempo. 

Terceiro quarteto. No sábado e domingo, mesmo diante do convite do lazer (“aleia camarada”), quem valoriza o tempo não o “malgasta” em modorras, preferindo empregá-lo de maneira produtiva. 

Quarto quarteto. O poema encerra-se com um ensinamento moral, exaltando a “tranquila ideação” e o “bom emprego temporal” como modos de evitar a pobreza, retomando a advertência bíblica. 

Tonalidade Crítica e Filosófica 

O tom é de advertência e reprovação, mas também de exortação ao trabalho e ao uso responsável do tempo. A junção poemática sob comento mistura uma reflexão filosófica sobre a preguiça com um artesanato verbal de altíssimo nível, que transforma a crítica moral em poesia sonora. 

Conclusão 

Quartetos do Sono reúne 16 pés de rara riqueza sonora e lexical, que alia a tradição moral (inspirada na Bíblia) a uma técnica poética refinada, marcada por aliterações, polissíndetos e um jogo de vogais meticulosamente calculado. O texto convida o leitor a uma dupla reflexão: acerca do valor do tempo e relativamente ao poder da linguagem cuidadosamente trabalhada. 

A advertência bíblica funde-se à estética poética, fazendo do soneto não um mero exercício de moralidade, mas também um exemplo de como o formato (ritmo, som, estrutura) é suscetível de reforçar a mensagem.

 

CRÔNICA - Alienígenas em Casa (TL)


 

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

ARTIGO - Dois Sonetos de Vianney Mesquita Transpostos para a Língua Portuguesa (SN)

 Dois Sonetos
de Vianney Mesquita
Transpostos para
a Língua Prosa
Sousa Nunes*

  

1 PLURAL EXCÊNTRICO

 

"O erro exige perdão; castigo, o crime".

 

(Manuel Maria Barbosa de Bocage, poeta neoclássico – arcadismo-português. Setúbal, 15.09.1765; Lisboa, 21.12.1805)

  

A nós nos assemelham esquisitos
Embora tachem-nos de radicais,
Desde a portuga regra alguns plurais
Desconformam-se, contudo, expeditos.
 
Os ares-condicionados, ditos
Imperativamente, são assaz
Via alterosas normas, mui reais,
Bem liberalizados de interditos.
 
Da balaustrada, entanto, os corrimões,
Deviam ser apenas corrimãos:
Incongruentes às mãos de Camões.
Malgrado nossas meras ilusões,
Linguais defesos postos nos desvãos.
São motos, pois, de penas e perdões.



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PARA ACESSAR A ÍNTEGRA DO ARTIGO


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sexta-feira, 1 de agosto de 2025

CRÔNICA - O Dedo do Meio (RV)

O DEDO DO MEIO
Reginaldo Vasconcelos*

 

O Ministro do STF Alexandre de Moraes foi vaiado em estádio de São Paulo, neste dia 30 de julho, onde fora assistir a uma partida de futebol – logo após ser sancionado com as tenazes morais da lei Magnitsky, pelo Governo Norte-Americano.

O Magistrado reagiu agressivamente aos apupos de repúdio, com o gesto clássico da exibição ostensiva do dedo médio da sua mão na direção dos desafetos, atitude que a imprensa nacional tem narrado como “exibição do dedo do meio”, como se não soubesse exatamente o que isso simboliza. 

Os redatores sudestinos fogem da designação “dedada”, que por lá é popularmente aplicada a esse repelo gestual, enquanto no Nordeste se diria “cotoco”, verbete do dicionário da ACLJ “Dialeto Cearense”, o léxico que colige e disseca – gramática, semântica e etimologicamente o jargão estadual. 

Exibir o dedo médio, simbolizando o pênis humano, mantendo flexionados os vizinhos indicador e anular, para simular os dois testículos, é gesto que remonta aos tempos da Roma Antiga, quando então utilizado pelas prostitutas para convidar os potenciais clientes a contratarem os seus serviços. 

Modernamente, em todo o mundo, o dedo do meio em riste – mesmo sem os acessórios digitais vizinhos que completariam a configuração do órgão genital – inverteu o sentido, já que passou ao significado simbiótico do macho ativo e viril, desmoralizando grosseiramente eventual adversário. 

Toda sorte, o uso desse gesto obsceno, tanto pelas profissionais do sexo na antiguidade romana, quanto entre os nossos coetâneos da modernidade, sempre foi característico do submundo social  de tudo que é nego torto, do mangue e do cais do porto, e de quem não tem mais nada. (...) E dos detentos, das loucas, dos lazarentos, dos moleques do internato” – parafraseando Chico Buarque, em “Geni e o Zepelim”.