terça-feira, 19 de novembro de 2024

NOTA LITERÁRIA - Solenidade na Alece Pelo Dia da Literatura Cearense

 SOLENIDADE NA ALECE 
PELO DIA DA 
LITERATURA CEARENSE


A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará promoveu, no Plenário 13 de Maio, neste 18 de novembro, uma sessão solene comemorativa ao dia consagrado à literatura cearense, dia 17 de novembro – aniversário de nascimento da jornalista e escritora Rachel de Queiroz.

A solenidade, proposta e capitaneada pela médica Silvana Oliveira de Sousa, Deputada Estadual politicamente nominada Dra. Silvana, contou com a presença de várias das entidades literárias de Fortaleza, das quais alguns integrantes receberam láureas de honra ao mérito literário.



Compuseram a mesa, além da Deputada Dra. Silvana, Marcos Praxedes, da Academia Mundial de Letras, Reginaldo Vasconcelos, da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, Regis Frota, da Academia Cearense de Cinema, Elinalva de Oliveira, da Academia Feminina de Letras do Ceará e Fernanda Quinderé, da Academia Fortalezense de Letras – seus respectivos presidentes – e o vice-presidente da Academia Cearense de Letras, Juarez Leitão. 

Foram agraciados o jornalista, poeta, linguista e professor Luciano Maia e o músico, cantor, compositor e memorialista, César Barreto, da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo. 

Também laureados os seguintes intelectuais cearenses: Elinalva Oliveira, Magno Ponte, Fernanda Quinderé, Ivan Ary Júnior, Irapuã Aguiar, Pedro Henrique Saraiva Leão (in memoriam), Francisco Alves Pereira, Tereza Norma Sampaio Caracas (in memoriam), Dagoberto Sousa, Rosane Guerra, Osmar Diógenes, Hugo Facó Fernandes Moura, Juliana Cavalcante, Haroldo da Silva Abreu, Révia Herculano, Francisco Ribeiro e Tereza Porto.

 

Destaque especial para o escritor, poeta, bibliófilo, teólogo, folclorista, homem telúrico, de origem e alma sertanejas, um dos mais importantes intelectuais do nosso tempo, que, sendo Assessor Parlamentar da Dra. Silvana, é sempre o artífice dos eventos de inspiração da Deputada, dos quais os dois personificam, aristotelicamente, corpo e alma.                   

POESIA - Versos Decassílabos Portugueses, de Vianney Mesquita, e Decodificação em prosa, da autoria de Sousa Nunes (VM)

 AGNOSTICISMO
Vianney Mesquita*

 

 Sábio sem crença é árvore sem fruto (Anônimo).

 

 

Dos incréus retêm-se os prognósticos
Provenientes de súditos cépticos,
Devaneios pessoais, organolépticos,
Esquisitices próprias de agnósticos.
 
De mil versos ateus sobram acrósticos
Sob os quais se retardam, catalécticos ...
Coisas à-toa de padrões patéticos
Irreligiosos, infiéis [...] pernósticos.
 
Na supradita inscrição inserta -
Sem autoria, porém, que a estreme -
É manifesto o raciocínio arguto,
 
Porquanto a supra ideação concerta
Um brocardo de tão vera episteme:
Douto descrido é vegetal sem fruto.
 
  

DECODIFICAÇÃO
 Sousa Nunes



A SABEDORIA é a única riqueza que os ladrões não conseguem levar [BENJAMIN FRANKLIN, polígrafo estado-unidense). 


Estesia das Estrofes 

Belíssimo é este soneto do escritor Vianney Mesquita. O equilíbrio e a justeza das palavras concedem a medida exata do domínio máximo desse vernaculista amante cioso da nossa Língua Portuguesa. Concordo plenamente com a leitura do AGNOSTICISMO. 

Quando me deleito com as obras desse autor, avulta, por contraste, a pobreza que hoje observo em jornais e livros, tanto em teor quanto em continente. Não é à-toa que o escritor, polímata e diplomata cearense Márcio Catunda Ferreira Gomes (Genebra – Suíça) expressou, nas abas de Estâncias Decassilábicas Lusitanas, de V.M., (Palmácia, Arcádia Nova Palmaciana, 2024), que o escritor sob escólio é um “... ourives do verbo. O polimento com que ele cinzela a palavra é arte reservada a poucos buriladores da parole imaginária”. 

O soneto Agnosticismo denota uma reflexão sobre a condição dos descrentes, especialmente agnósticos, por meio de uma linguagem formal e erudita. Vazado em versos decassilábicos, que alternam rimas ricas e emparelhadas, revela o autor uma destreza tanto em estética quanto em argumentação.

A obra segue uma lógica crítica e filosófica, intercalando termos sofisticados e referências eruditas para provocar uma discussão sobre a falta de fé e suas implicações. 

Título e Tema 

O título, Agnosticismo, sugere desde o início que o poema se propõe examinar a posição de dúvida ou indiferença quanto à existência de uma verdade transcendental. A peça, no entanto, ultrapassa uma análise meramente descritiva dessa posição filosófica e posiciona-se criticamente diante dela. 

A epígrafe, Sábio sem crença é árvore sem fruto, funciona como um eixo norteador do poema, reforçando uma crítica à descrença por meio da metáfora da esterilidade. 

Linguagem e Estilo 

As estrofes são densas em termos de linguagem, o que reflete o papel de sua crítica. Há um emprego deliberado de palavras sofisticadas e sonoramente marcantes, como organolépticos, cataléticos e pernósticos, que não apenas servem para enriquecer o campo lexical do poema, mas também revelam o lastro cultural do produtor, em favor de uma sutil ironia. 

O exagero desses termos sublinha o caráter frívolo e vazio que o autor atribui às reflexões dos incrédulos. O uso de palavras e expressões pouco usuais também remete ao que o soneto critica: um distanciamento da simplicidade e da fé, como se o próprio léxico complexo fosse uma metáfora para a esterilidade intelectual. 

Estrutura Argumentativa 

A crítica aos agnósticos

 

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

NOTA SOCIAL - ACLJ Visita Adísia Sá

 ACLJ VISITA
ADÍSIA SÁ

 

Os acadêmicos Reginaldo Vasconcelos e Arnaldo Santos, da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, no dia 08 deste mês, visitaram a Profa. Adísia Sá, ícone do jornalismo Cearense, Membro Honorário da ACLJ, para felicitá-la pelo seu aniversário de 95 anos, transcorrido no dia 07.

Aproveitaram a oportunidade para ouvi-la sobre o seu colega de trabalho, o falecido jornalista e político Dorian Sampaio, cuja biografia está sendo produzida, por iniciativa da família deste, sob a chancela da ACLJ. Ela fez questão de registrar que Dorian era marcado pela qualidade de bom amigo dos amigos, assim como de um incômodo inimigo. 

Frisou ainda que, bem apessoado e muito galante, o velho amigo apreciava demais um “rabo de saia” – expressão que se usava, com eufemismo, para referir às mulheres que fossem passíveis de serem cortejadas por conquistadores amorosos. De fato, como se apura pela leitura de sua obra jornalística, grande cronista que era, Dorian Sampaio primava por temas idílicos  e lascivos. 

Em suma, apesar da idade avançada, Adísia Sá se afigurou lúcida e feliz, falando de si mesma como pessoa tão temperamental como teria sido o seu saudoso pai, homem irascível e violento – mas que, assim como ela, logo se mostrava arrependido de suas atitudes bruscas – e quando ele era grosseiro com as suas filhas ia em lágrimas implorar que o perdoassem. 

Curioso que os dois amigos e confrades que, naquela manhã, tão afetuosamente, com ela se congratulavam e lhe ouviam a confissão do seu espírito indômito e estouvado, eram dois dos que, no princípio das suas carreiras jornalísticas, foram vítimas de suas invectivas, como líder sindical intransigente que era ela  mas que tornaram-se depois seus admiradores e granjearam a sua amizade e a sua estima – uma bela crônica sobre as ironias do destino.      

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Resenha da Reunião Virtual de 10.11.2024

REUNIÃO VIRTUAL DA ACLJ
 (10.11.2024)

 


PARTICIPANTES

Compareceram sete acadêmicos à conferência virtual deste domingo, que teve duração de 90 minutos, e que teve o foco principal na 2ª Assembleia Geral Ordinária de 2024. 

Estiveram presentes o Jornalista e Advogado Reginaldo Vasconcelos, o Médico e Latinista Pedro Bezerra de Araújo, o Especialista em Câmbio e Comércio Exterior Stenio Pimentel (Rio de Janeiro-RJ), o Empresário Carlos Rubens Alencar, o Músico e Cronista George Tabatinga, o Advogado Adriano Vasconcelos e o Advogado Aluísio Gurgel Júnior   todos Membros Titulares da ACLJ.

Justificaram ausência o Artista Sônico César Barreto, o Agente de Exportação Dennis Clark e a Profa. Luciara Aragão.

TEMAS ABORDADOS

Na reunião virtual da ACLJ deste domingo  após os assuntos vicinais relativos aos fatos recentes da vida de cada qual, sua experiência e o seu extrato filosófico, leitura de poemas e de crônicas,  tratou-se principalmente das démarches para a Assembleia do dia 04. 


DEDICATÓRIA

A reunião deste domingo, dia 10 de novembro de 2024, por aclamação do grupo virtualmente reunido, foi dedicada à estreia do confrade eleito Carlos Rubens, que recebeu as boas vindas. 


    

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

CRÔNICA - O Livro Não Morreu... (VRA)

 O Livro não morreu...
Carlos Rubens Alencar* 


O verão toma conta do hemisfério norte e, dias atrás, enquanto caminhava pelo Central Park, em Nova York, testemunhava a festa da estação. 

A presença de maravilhosos músicos de rua me lembrou o episódio do violinista Joshua Bell tocando no metrô de Washigton D.C., onde foi simplesmente ignorado, por estar disfarçado de “músico de rua”, ainda que manejasse um Stradivarius de 3 milhões de dólares.

Então, de repente, eu vi John Coltrane. Ele estava lá, e “blue train” ecoou naquele ambiente de paz.  

Monumento a Alice no País das Maravilhas, zoológico, romaria rumo ao mosaico “Strawberry Fields”, lado oeste do parque e na direção do edifício Dakota, onde morou e foi assassinado na calçada John Lennon. 

Lembrando o Beatle, me recordei de passeios pelo Hyde Park, em Londres, e, também pelo Jardim Botânico, Rio de Janeiro, onde encontrei, nos idos de 1986, o educador Lauro de Oliveira Lima. Tivemos oportunidade de conversar longamente sobre a capacidade de aceitar quem não é igual ao que você acha certo ser. 

Cheguei a pensar: Será que um parque ecológico de aproximadamente 30 ha poderia salvar a região central de Fortaleza? Certamente que nos dias atuais o nosso centro parece condenado à degradação e depreciação contínua. 

É tempo de pensar. Os avanços em Tecnologia da Informação, Internet das coisas e a Inteligência Artificial viraram o mundo em 20 anos de cabeça para baixo. Minha geração está perplexa, sobre o que fazer, quando e como fazer. 

A chamada geração Z assume o protagonismo, na esteira da modernidade líquida e da pós-verdade, as quais compõem um “arranjo” que coloca em xeque, ao mesmo tempo em que acena para a importância dos livros como elemento de resistência, levando-nos para um novo universo de reflexão, que certamente não será influenciado por nós, velhos “baby boomers”. 

A resultante da nossa geração é uma sociedade extremamente injusta, onde a remuneração do capital supera o crescimento da produção e da renda, gerando distorções que acentuam as desigualdades. Essas, por sua vez, destroem os princípios que fundamentam as democracias e a natureza humana.  

Acredito que é na dívida pública que se localiza o grande pacto político e social a ser construído no País. Fora disso, continuaremos a ter a sociedade que temos hoje, cuja resultante mais visível é o aumento da violência, expressão cristalina do fracasso humano. 

Na Internet, onde todos somos um produto, as nossas “verdades ou mentiras” são postas e muitas fogueiras são acesas. Tudo de acordo com as necessidades dos novos tempos, que começaram na sociedade de consumo, onde se participa ou se é engolido por ela. Cresci lendo Álvaro de Campos. Lembro-me do dono da tabacaria. 

“Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?”.

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

LITERATURA - Desde o Título, Sublime Influxo (VM)

 Novo Livro de Ítalo Gurgel:

DESDE O TÍTULO,
SUBLIME INFLUXO

 

Vianney Mesquita

(Da Academia Cearense da Língua Portuguesa).


Non sono i titoli a illustrare le persone; questi però sono ciò che danno luce ai titoli. (Niccolò di Bernardo dei Macchiavelli, pensador renascentista. Florença, 03.05.1469; 21.06.1527).

 

AFEIÇÃO E NOSTALGIA

“Para a Tereza est’obra é edificada,
Porque tudo com ela teve início,
Por ela e nela”, o gradil do edifício
Remansa, intato, dês sua fachada.
 
Da bonomia, matéria é enxertada,
No imo do autor, mestre de ofício,
Logo, do bem denota o frontispício
Duma simpleza personificada.
 
Erguidamente afeito à língua-prosa,
De inopino, inscreveu-se na poesia,
Com estrofes de erguida urbanidade.
 
Em dez ictos, pois, nomina e glosa
Ao cortejar, de pronto, a nostalgia,
Cantos de Benquerença e de Saudade.
 

 

No dia 26 de outubro de 2024, obtive a mercê de participar das comemorações do quadragésimo sétimo ano de instituída a Academia Cearense da Língua Portuguesa (evento sucedido em 1977, sob a ordem de seu fundador, o inesquecível Professor Hélio de Sousa Melo), tendo por domicílio o Colégio Batista Santos Dumont, aqui em Fortaleza.

Cumpre evidenciar, por conformar sucesso venturoso, consoante as demais ocorrências insertas na ordem do dia, em seção dirigida pelo Professor Marcelo Braga, Presidente da nossa ACPP, o lançamento do primeiro livro de poesias, da agricultura verde do ínclito professor, jornalista, escritor e cultivador de orquídeas, Ítalo Gurgel, intitulado Cantos de Benquerença e de Saudade.  

Evidentemente, por não ser azado o ensejo (ainda não experimentei o lance de o ler com detenção), deixo de proceder a comentários mais penetrantes, projetando fazer isso no tempo adequado. 

Inaugurativamente, individualizo o fato de esse escritor de tão subidos predicados – morais, intelectuais e outros associados a pessoas credoras de benignidade – haver decidido inscrever-se na esfera desta propensão nostálgica, ajuntando poemas em pés clássicos, conforme sucede com os segmentos/parte do volume sob lábil comentário. Esta ocorrência certifica, incontroversamente, sua capacidade de arrostar a produção de componentes linguísticos próprios desse estalão da Literatura, configurado na ventura do bem poético, ora magnificamente operado pelo autor, a julgar pelas três ou quatro peças por mim transitadas, antes de vir a público na escoliada edição. 

Ítalo Gurgel, na qualidade de docente dos patins elevados de estudos e perquisições acadêmicas, sobre haver sido e continuado feito produtor de livros de cariz científico no terreno das ciências literárias e na feição dos ramalhos da História – suas circunstâncias universitárias ao extenso da vida  estampa um cidadão leve, polido, dotado, pela Providência, de uma civilidade propícia a conquistar parceiros e admiradores, complexo de pessoas por ele contabilizado a mancheias. Não é interdito expressar o fato de que estou na dita fila, desde que o conheci nos preteríssimos mil e novecentos e setenta. 

Não sei se, de adrede ou por estreme casualidade, imprimiu à denominação de sua novel produção um verso decassílabo lusitano – Cantos de Benquerença e de Saudade – o qual, a ele pedido como suprimento, perfaz meu Afeição e Nostalgia, transferido para cá em sua reverência. 

Se sobrou tal deciso de caso pensado, está assente a comprovação de seus haveres poéticos, adicionados ao patrimônio cultural e científico aglomerado no seu fértil portefeuille haurido nos lindes das delongas inerentes ao senhor tempo, desde que chegado a Fortaleza, em 1964, proveniente de Caraúbas-RN, onde nasceu em 1948. 

De outra vertente, caso haja sido simples contingência redacional, já se lobriga a normalidade conducente à expressão dos devaneios inspirativos do seu estro, ora concertado no âmbito de Cantos de Benquerença e Saudade. 

Por determinação da verdade, neste passo, impende dizer-se que o Professor Ítalo Gurgel já não é apenas da nata periodista, docente de Língua e Literatura Francesa, bem assim de outros teores linguísticos e jungidos ao saber parcialmente ordenado. Isto porque, nesta hora, vagueja feito um menestrel, cuja substância suntuosamente delineada pelo Prof. Myrson Melo Lima, nas considerações preambulares ao livro em comento (sob minha decodificação) protege a família e os amigos, bem como a estende às melhores proposições, a fim de apregoar sua poética, oferenda não propiciada aos vates mais pequenos.  

Nesta produção ítalo-gurgelana, adonde “A família é toda uma galáxia” (e da qual intento, azadamente, me referir com certa profundez de cobertura), transporto o consulente à epígrafe lavrada pelo florentim, mestre e pensador-mor do Renascimento, Nicolau Maquiavel, a quem despejo razões, ao expressar a ideação de que os títulos não ilustram as pessoas, porém estas é que os esclarecem, ao procederem de acordo com o que as titulações exigem. 

De tal sorte, é o escritor e agora poeta Ítalo Gurgel quem guarda o mister de prosseguir na concessão da honra aos seus títulos universitários, científicos, literários et reliqua e, extensivamente, às denominações das matérias provindas do seu ardor inventivo. 

Abraço de parabém pela publicação de mais uma obra a engrandecer o recheio literário brasileiro de qualidade, gazofilácio de bens intelectuais de estimação indescartavelmente altiva. 

Em francês meio derribado, diversamente do seu, correto e clássico como professor da matéria, procedo-lhe a este preito:

C’est une immense gloire d’avoir l’opportunité d’écrire cest notes.

Abraço.


terça-feira, 29 de outubro de 2024

CRÔNICA - Acertos e Erros (TL)

 

NOTA SOCIAL - Exemplo de Vida (RV)

 EXEMPLO DE VIDA
Reginaldo Vasconcelos* 


Compareço ao octogésimo aniversário de José Brasileiro, festa suntuosa em que será lançada e distribuída aos seletos convidados a sua biografia, em edição de luxo, da qual fui copidesque e editor.

Adentro extasiado o salão de festas do novíssimo arranha-céu que vi construir desde as fundações e o esqueleto – observando do terraço do Ideal Clube, que é vizinho, entre doses de uísque ou taças de vinho, em eventos que recentemente promovi ou frequentei naquele histórico templo da alta sociedade cearense.


Ninguém é menos José que esse devoto Brasileiro, que fez construir uma capela no refúgio domingueiro da família, nem mais brasileiro, ele que identifica com orgulho o autóctone baiano na sua ascendência muito próxima, já ali nos bisavós – não obstante a sua aparência lusitana. 

Escreveu suas memórias com esmero e com riqueza de detalhes, desde a sua infância famélica no Brasil profundo, de onde saiu para a metrópole com a família, ainda menino, tangido pela estiagem severa dos anos 50, para brilhar na profissão e nas empresas que fundou e administra com a família. 


Agora Brasileiro celebra a adolescência da velhice, com alma de menino, sempre apaixonado pela consorte amadíssima e amantíssima, pela bela família, e principalmente pela vida, cujos percalços ele venceu com galhardia, e com muito trabalho conquistou absoluta independência econômico-financeira e boa projeção social por onde morou Brasil afora.

No seu Lions Clube, no time de futebol que ele fundou, nos profícuos negócios, faz da vida um colorido festival, sempre cultuando a música raiz no seu lazer – hábil no pandeiro, na sinuca, na elaboração de caipiroscas, desde que se tornou mixologista diletante entre os amigos. 

E eu que estou chegando à infância da velhice, que já superei fronteiras, que já escrutinei intelectualmente o Universo e a Humanidade, colecionando experiências e deparando pessoas diferentes, ainda me surpreendo com o caráter luminoso desse Brasileiro genuíno  logo depois de biografar o célebre jornalista veterano pseudonominado Lúcio Brasileiro, coincidentemente. 

E então me ocorre citar passagem poética da lavra de Caetano: “Eu nunca pensei que houvesse tanto / coração brilhando / no peito do mundo”.