domingo, 21 de dezembro de 2025

ARTIGO - Um Exemplo de Mensagem Natalina (VM)

José NEUDSON Bandeira BRAGA
Protótipo de Cristão
(Um Exemplo de Mensagem Natalina)
Vianney Mesquita*

 

 

O homem piedoso e o ateu falam constantemente em religião: aquele se reporta ao que ama; este fala no que teme (MONTESQUIEU).


 

Com José Liberal de Castro, à esquerda.
Fonte: Jornal O Povo.

 

Travamos conhecimento inaugural com o Professor Doutor José Neudson Bandeira Braga (1935 – exatos 90 anos), no recuado ano de 1966, quando cursamos a disciplina (introdução à) Arquitetura, no Curso Técnico de Edificações da Escola Técnica Federal do Ceará, hoje Instituto Federal de Ciência e Tecnologia, vizinho ao Campus do Benfica da UFC. 

Nesse período, ele já privava de elevado prestígio em todo o País no estado de arquiteto de nomeada, autor de centenas e centenas de projetos, um dos mais conhecidos dos quais é a extensão do prédio da Reitoria da UFC, ao qual ele e o Dr. Liberal de Castro imprimiram a bilateralidade da construção do edifício, anteriormente residência de João Gentil e sua família, adquirido pelo Prof. Martins Filho, primeiro reitor da UFC, aumentando, no sentido da banda de Parangaba, no mesmo formato da casa dos Gentis, com lados simetricamente iguais. 

Nossa amizade, entretanto, se dotou de liames mais estreitos e de raízes com maior profundez, na oportunidade em que nos topamos como docentes da Universidade Federal do Ceará – da qual ele foi, com o Professor Antônio Martins Filho, e o Prof. Dr. José Liberal de Castro – um dos adeptos e construtores, juntamente a tantos outros paredros da mencionada Academia. 

Nessa Instituição, mourejou até bem pouco tempo, quando decidiu se jubilar e cuidar de seus trabalhos de arquiteto, juntamente com o filho, Prof. Dr. Bruno, arquiteto, o qual dirige no momento os programas acadêmicos de Arquitetura e Urbanismo da UFC. 

Essa amistosa aliança e não menos proveitosa afeição veio a tomar proporções no exato ano de 1977, quando adentramos a Universidade Federal do Ceará como docente no Programa de Comunicação Social, vizinho, no bairro do Benfica, à Escola de Arquitetura e Urbanismo. 

Não obstante tal prestígio, absolutamente bem adquirido em razão de haveres sobremodo alçados, sua simpleza de humano cristão jamais arriou em favor da fama e a crédito metálico. Por toda a vida guardou a convicção de que mortalha não tem bolso nem caixão possui gaveta, e que, consoante seu colega arquiteto e compositor paraense William Blanco Abrunhosa Trindade (o Billy Blanco), compositor de “A Banca do Distinto”, todos terminam “na horizontal”. 

A vida opulenta de atributos morais, intelectuais e de cariz cristológico do Prof. Dr. Neudson Braga conformaria um verdadeiro tratado de centenas de páginas, e essas labílimas informações aqui transpostas publicamente servem, somente, para a narração de um lance de raríssimo contentamento, ocorrido hoje, 20 de dezembro de 2025. 

Ao bulir (desculpem o verbo nordestino...! Gostamos de usar esta insuperável língua!) nos guardados à cata de informação bem anosa, tivemos a ventura de deparar um cartão de Natal que já completou 15 anos, enviado pelo nosso modelo de pessoa, exatamente o Dr. Neudson Braga, onde retrata, em transposição à linguagem escorreita e elevada, a singeleza humana e seu estado cristológico verdadeiro, mediante o qual – veja o leitor – comprova a classificação de primeira que todos os que privam de seu contato admiram e com a qual se deleitam repetidamente. 

Há algum tempo, não ensaio a dignidade de provar das delícias pessoais advindas de tão distinto cidadão. A derradeira vez ocorreu no dia 9 de setembro de 2022, durante o velório do Prof. Dr. José Liberal de Castro (*21.05.1926)  na fotografia, com o Dr. Neudson. 

Vejam, preclaros consulentes, a qualidade da mensagem do meu amigo. 

Caríssimos amigos Vianney Mesquita, sua Socorro e Família. 

Nossos corações rejubilam-se com a chegada do Natal, sintonizados com o clima de alegria e festa que envolve as pessoas nessa bela ocasião, numa rara demonstração de solidariedade e fé coletivas. É momento, portanto, de profunda reflexão e definição de propósitos, uma vez que a celebração do nascimento de Jesus Cristo sinaliza o mais importante acontecimento de nossa história, dividindo o tempo em duas eras. 

Os princípios e os ensinamentos emanados da sabedoria de Jesus, ao largo de sua vida terrena, devem nortear nossos caminhos e decisões, porque se apoiam nos dons divinos de justiça, bondade, partilha, humildade, verdade, igualdade e misericórdia, tornando-se mais próximos dos escolhidos.

São nossos desejos de revisão e resistência, fortalecendo a corrente dos que ainda acreditam no Novo Tempo, porque as palavras e os exemplos do Cristo estimulam e desenvolvem nossos sentimentos, voltando-nos para as ações que elevam e consolidam a nossa vida cristã. 

O mundo atual, tão repleto de desigualdades e materialismo, necessita, urgentemente, de uma reação forte, consciente e poderosa, à procura da formação de uma irmandade universal, sem preconceitos nem diferenças, operadoras de uma paz só possível com a prática dos princípios cristãos, personificados na mansa figura de Jesus. 

Assim, entendendo e assumindo esse desejo de confraternização universal, somos capazes de preservar e comemorar o verdadeiro Natal de Cristo, certos de que estamos caminhando, com segurança, para a consagração do amor na qualidade de princípio e a paz como fim. 

Renovando nossa velha amizade [transposta aos anos de 1960] e acreditando que participamos dos mesmos propósitos, de modo fraterno e cristão, encaminhamos nossos mais sinceros votos de um Natal pleno de luz e esperança, com muita saúde e prosperidade, fundamento para a fruição de todos os dias do próximo ano com toda a felicidade merecida, sob as bênçãos e as graças de Deus. 

[Fortaleza-CE], 2009-2010. Neudson, Socorro e Bruno.

CONTO - LITERATURA INFANTIL - O Dentinho Sapeca (MJ)

 O dentinho sapeca
Maria Josefina*

 

Quando foi o tempo de nascerem os primeiros dentinhos na boca de Kal El, o menino super-homem, um dentinho sapeca quis ser o primeiro a aparecer. Tinha muitos dormindo na boquinha do Kal, mas Ligeirinho, o dentinho sapeca, não quis conversa, foi empurrando os outros para ser o primeiro a ver como era o lado de fora. 

– Ei, você não é pra sair agora. Ainda não é a idade de a gente aparecer – disse o dentinho que estava a seu lado. 

– Ah! Este negócio de ficar no escuro, esperando não sei o que, não é para mim. Vou é logo – e saiu rompendo a gengiva de Kal, causando uma dorzinha que mamãe resolveu com uma pomadinha com gosto de tutifrut. 

E lá vem o Ligeirinho, saliente e deslumbrado com o mundo que via quando a boquinha do Kal se abria. E era muito frequente, pois Kal é um menino muito feliz. 

Sentir o gosto das comidas, sorrir junto com Kal, tomar banho de água e outras bebidas gostosas, levar uma ducha de pasta de dente com gosto de morango... que vida! – ele pensava. 

Depois vieram seus irmãozinhos, o que facilitou destruir as comidas que Kal dava para eles se divertirem, deixando a comida bem miudinha. E dias, meses, se passaram, e a vida de dentinho de leite (primeiros dentinhos a nascer) ia de vento em popa.

 

Foi o tempo que mamãe levou à dentista. Uma moça bonita, alegre, que fica em uma salinha super legal, cheia de coisinhas bonitas. Nunca ninguém tinha cutucado, com ferrinhos e duchinha bem fortes de dentista, os dentinhos do Kal. Era legal. Sinal de que ele estava ficando um menino grande. Não era mais bebê. Nem teve medo de sentar na cadeira que deitava (“LEGAL!!!!” – ele pensou). 

A doutora dentista passou um creminho (flúor) com gosto de hortelã e mandou Kal ficar de boquinha aberta. 

“ECA!” – disse Ligeirinho. “Que gosto de coisa de adulto!” (embora ele nem tivesse ideia do que dizia, apenas repetia o comentário que Kal fazia quando mamãe dava comida que ele não gostava). 

Todas as noites Kal dava o que Ligeirinho e seus irmãozinhos mais gostavam: a pasta com gosto de morango. Era seu momento de glória. 

– Quero mais! Quero mais! Quero mais! – gritava Ligeirinho... mas Kal não ouvia... 

Num dia que parecia ser como os outros, Ligeirinho sentiu uma coceirinha bem pertinho do seu pezinho (raiz). 

– Que será isso? – Pensou apreensivo. 

Mas logo descobriu. Um dentão, bem duro, estava lhe empurrando para cima. 

– Hei!! Onde você pensa que vai??? Este lugar é meu!!” – disse Ligeirinho já incomodado. 

– Fica quieto, Oh! Menino!. 

– Ah-Ah-Ah! Você já era, Ligeirinho! Eu vou ficar no seu lugar. Você só estava guardando meu espaço! – disse o dentão todo cheio de si. 

– Ah é? E quem é que mastiga as comidas? Quem dá aquele sorriso bem branquinho, que todos acham lindo? Quem recebe o carinho da mamãe quando diz: “querido, vamos limpar os dentinhos?” – e eu estou bem na frente. Ela disse que eu e meu irmãozinho somos os incisivos centrais. É pouco ou quer mais??? 

– Eu também tenho este nome, só que vou ficar no seu lugar para sempre, sou permanente – disse o dentão. “É pouco ou quer mais???”. 

O Ligeirinho ficou pensativo. “E agora, que vai ser de mim? Vou é ficar por aqui, e ver o que acontece”. 

Os dias se passaram e o dentão (que o Ligeirinho chamou de Grandão) foi crescendo e empurrando ele para a frente, até que foi ficando sem forças para se segurar em seu lugar.

O Kal sentiu que os dentinhos estavam disputando o lugar e falou para sua mamãe: 

– Mãe, tá doendo! – e mostrou sua boquinha. A mamãe deu um sorriso e disse: 

– É assim mesmo, filho. Você está crescendo. Os dentinhos que nasceram primeiro têm que dar lugar aos que vão chegando depois. Estes vão ficar na sua boca para sempre. Por isso, é preciso ter muito cuidado com eles, diariamente, pois sua saúde depende do trabalho deles. 

– Mas quando ele vai sair, mamãe? Este danadinho ficou brigando por tanto tempo que já ficou durinho de novo. 

– Não tem problema – disse mamãe. Lembra da doutora dentista? Pois é, vamos lá e ela vai botar ele pra dormir. Quando ele ficar bem distraído ela aproveita e tira ele. É bem rapidinho... e ele já está é atrapalhando o outro que está nascendo. Quando ele acordar, já vai estar é no seu bolso, indo para uma caixinha. Ele cumpriu a missão dele muito bem. Lhe ajudou a comer seus alimentos de forma saudável, lhe deu um sorriso lindo, guardou bem direitinho o espaço do Dentão, e agora é hora de descansar. Os irmãozinhos dele vão passar pelo mesmo processo: dar lugar aos outros que vão chegar mais tarde. 

Kal disse para a mamãe, com um largo sorriso: 

– Pois eu vou querer que ele fique guardado na minha “Caixinha do Amo” para eu lembrar quando eu era menininho. Ele é tão fofinho!!! (Caixinha do Amo foi uma caixa que a vovó fez para Kal guardar seus objetos preferidos, que ele ama).

 

E assim, no dia seguinte, Kal e sua mãe foram ao dentista dar um tchau para o Ligeirinho e deixar que o Dentão começasse seu trabalho. Ele vai ter uma longa vida pois o Kal é muito cuidadoso.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

ARTIGO - Engano e Autoengano (RMR)

 ENGANO E AUTOENGANO
Rui Martinho Rodrigues*

 

A percepção e a realidade 

Realidade: livro aberto ou enigma? Tem aspectos óbvios ou assim considerados sem grandes prejuízos. Mas pode ser enganosa. A complexidade do objeto, os nossos desejos, com o véu de Maya, de Arthur Schopenhauer (1788 – 1860), e informações ou convicções anteriores podem dificultar a compreensão do real e do imaginário. 

Gaston Bachelard (1884 – 1962), em "O novo espírito científico", menciona obstáculos epistemológicos ou desafios à compreensão da realidade em razão de conhecimentos prévios supostamente válidos. Thomas Kuhn (1922 – 1996), na "A estrutura das revoluções científicas", trata da incomunicabilidade dos paradigmas e ressalta os limites da razoabilidade de estudos e pesquisas. Bachelard e Kuhn eram físicos que se tornaram excelentes historiadores e filósofos da ciência. 

As ideias políticas são mais escorregadias do que as ciências da natureza, porque o fator humano não tem a regularidade nas respostas a estímulos, como os fatores físicos. Interferências de interesses e paixões são incomparavelmente maiores nos problemas políticos. A inconformidade com a realidade pode ser enaltecida como ato de coragem, visão privilegiada e abnegação, mas pode desconectar da realidade. 

Isaiah Berlin (1909 – 1997), em "O sentido da realidade", examina o discernimento político ao tratar das tradições doutrinárias. Na obra Ideias políticas na era romântica, ele analisa o efeito do titanismo, atributo romântico que se opõe à realidade, podendo escorregar para ilusões, longe da superioridade intelectual de quem percebe o que foge à compreensão dos “alienados”. 

Raoul Girardet (1917 – 2013), em "Mitos e mitologias políticas", ressalta a semelhança entre o pensamento das tradições políticas e a mitologia. Prudente, não nomeou nem descreveu mitologias políticas mais prestigiosas, que poderiam alijá-lo dos meios intelectuais. Mas pode inspirar o exame de aspectos que ele não ousou citar. 

O paraíso perdido e o pecado original 

A ideia de uma idade de ouro ou paraíso perdido está presente no pensamento político supostamente secular, inclusive o jacobino e o neojacobino. Uma comuna primitiva, sem distinção de classe, no passado distante, no relato bíblico, guarda semelhança com a narrativa havida como laica, do pensamento político. A perda do paraíso por um pecado original, cujos efeitos perduram, é outra semelhança embora um relato fale do fruto da ciência do bem e do mal, enquanto o outro culpa a apropriação da propriedade privada. 

A promessa messiânica 

Imediatamente após a queda e a consequente perda do paraíso, o relato bíblico introduz a promessa messiânica: a semente da mulher irá esmagar a cabeça da serpente e está lhe morderá o calcanhar. A semente da mulher, o Messias; a serpente o inimigo das criaturas de Deus. A propriedade privada, como o pecado original na narrativa ideológica, ao produzir a desigualdade de classe dá origem ao conflito fundamental entre elas, criando a dinâmica que terminará por destruir a divisão de classe recriando a sociedade sem conflito fundamental, sem exploração, sem desigualdade, análoga ao paraíso bíblico. 

A semente libertadora, no discurso político, não virá da Abraão, mas da dinâmica social conflitiva como uma classe revolucionária. É grande a variedade do pensamento neojacobino. Mas a dinâmica do conflito, a marcha triunfal de volta para o paraíso não pode ser ignorada. 

O novo homem redimido 

Jean Jacques-Rousseau (1712 – 1778), no "O Contrato Social", afirma que os homens nascem bons, mas a sociedade os corrompe. Não explicou quem corrompeu a sociedade que corrompe os homens nascidos bons. Jacobinos ou os seus descentes guardam estreita afinidade com o Iluminismo do Contrato Social. A sociedade molda o homem, mas uma vez corrigida, deixará de corrompê-los, dando lugar a um novo homem. O texto bíblico diz: quem está em Cristo é transformado pelo Espírito Santo em nova criatura. Engenheiros sociais não admitem uma natureza humana cuja modelagem radical seja ilegítima, como a lavagem cerebral. 

Autores laicos, mas educados em famílias de tradição judaica, cuja conversão, conveniente ou sincera, não implica em afastamento do relato do Gênesis, tornam as citadas semelhanças mais relevantes. O espírito missionário de personagens do mundo confessional e do ativismo político são muito semelhantes. Nas conversas jocosas é comum ouvir que a diferença entre um neojacobino e uma pessoa comum é que os comuns, se gostam de cinema vão ao cinema, o neojacobino, porém, se gosta de cinema quer que todos gostem, como imperativo de verdadeira consciência e de virtude cívica. 

Ativistas virtuosos e carolas 

Distinguir o missionarismo político do religioso é ainda mais difícil quando examinamos o virtuosismo de ambos os lados. Um lado tem ativismo político radical. O  outro o carolismo. A fusão dos dois tipos é o fariseu que patrulhava condutas políticas, exigia correção, sendo uma corrente religiosa. O sentido de heresia e de blasfêmia está presente na correção política havida como laica. 

Separar laicos e confessionais requer uma diferença essencial entre eles. Religião é a busca de superação da finitude, da totalidade e de radicalidade, conforme Thomas O’Dea, na obra Sociologia da religião. Não precisa haver divindade no fenômeno religioso. A superação da finitude do indivíduo pode ser na classe social, grupo identitário ou partido político, conforme as muitas faces do neojacobinismo. 

A totalidade está presente em movimentos políticos que podem moldar literatura, teoria econômica, jurídica, política, saúde pública, urbanismo, pedagogia e Teologia. Tal abrangência é a totalidade e a radicalidade do fenômeno religioso. O debate sobre a contaminação da política por convicções confessionais deveria considerar o desafio que é fazer a distinção entre os confessionais e o laicismo.

 

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

SONETO - Condutores da Palma (JC)

 Condutores
da Palma
Jovem Chronos*
(Árcade Novo da Arcádia Nova Palmaciana)
Para os Árcades Novos
Iolita Polínia e Eládio Dionísio

 

 

 

Árcades primos de nossa Palmácia,
Sem a falácia de luminescência
Na coerência, sob perspicácia,
Com acurácia, mostram inteligência.
 
Na eficiência, tino e pertinácia,
Bravura, audácia e grande eloquência,
Tomam tenência, expondo eficácia
Sem contumácia, com clarividência,
 
Deusa Fortuna, dona da vitória,
É nosso marco pra que o brilho luza
Nos passos da cadência compulsória.
 
A fim de que o Destino mais aduza
E aportemos aos píncaros da glória,
Quem tiver a palma que a conduza!
    

Palmácia, 14 de dezembro de 2019 – quando da derradeira reunião do ano desse Sodalício.

 

ARTIGO - Viaja Ligeiro (JDS)

Viaja Ligeiro
o Número Inaugural de Palma Serrana
(Revista Anual da Arcádia Nova Palmaciana)
 
José Damasceno Sampaio *
(Árcade Novo Adamastor Urano)


Nada fica tão bem na testa do vencedor do que a coroa da modéstia (DONOSO CORTÊS,  filósofo e político espanhol. Vale de la Serena, 6.5.1809; Paris, 3.5.1853)

 


Foi efetivada no último dia 6, sábado passado, a última reunião, de 2025, da Arcádia Nova Palmaciana, instituição científica, literária e artística da nobílima terra dos celebrados professores Vicente de Paulo Sampaio Rocha, José Rebouças Macambira, Maria Grasiela Teixeira Barroso e, entre tantos outros, Paulo Tadeu Sampaio de Oliveira, árcade novo titular, com o agnome de Artur Zéfiro, partícipe da magnífica sessão. 

O evento sucedeu na estância Balneário do Zé Moisés, bairro Caboclos, em Palmácia-CE, de propriedade de D.a Rejane Mendes Andrade (rebento do Sr. Luís Mendes e da Prof.a Ivanise Mendes, hoje com 90 anos) que recebeu com alteada generosidade a Diretoria e os componentes da Instituição e acompanhantes com um lauto almoço, acompanhado de mil conversas e lembranças da Cidade. 

A reunião teve como primordial propósito proceder à eleição da Diretoria para o biênio 2026-2027, depois de dez anos tendo como Presidente o Árcade Novo Eládio Dionísio,  Prof. Fernão de la Roche D’Andrade Sampaio, o qual, além de não consentir que a entidade perecesse, haja vista, principalmente, a ocorrência da pandemia de covid-19 e das grandes chuvas impedientes da comparência dos imortais ao Distrito-Sede do Município, desenvolveu esta série de mandatos (cinco), no âmbito dos quais dirigiu o patrocínio de  uma conjunção de procedimentos institucionais, culturais, científicos e de lazer, de considerável significação, como, num exemplo entre tantos outros, a edição de livros sob a égide do Solar dos Sampaios e da Arcádia. 

Foi unanimidade a manifestação de parabéns e agradecimentos ao ex-presidente por tão vasto e proficiente mandato, bem como à Prof.a Lúcia, a principal do Solar dos Sampaios. 

Naquela ocasião, lançou-se a chapa postulante à Diretoria sequente, quando meu nome estava na cabeça, e o grupo foi eleito por aclamação. Depois de muitas participações verbais dos árcade novos, inauguradas pela minha fala, momento em que expressei ligeiramente os planos para esta Direção e que, noutra oportunidade, voltarei a detalhar, o Árcade Novo Jovem Chronos – Vianney Mesquita - lembrou o fato de que está no tempo de trazer à luz o primeiro número da revista Palma Serrana, por ele sugerida há já algum tempo e ainda não levada a efeito por causa da endemia mundial do sars.cov.19, a qual – repito – não logrou matar a Arcádia. 

 

Por tal pretexto, este magazine, o qual ainda não tem uma editoria definitiva, ficará por enquanto sob sua tutela, como sobrou acertado, e vai configurar uma seleção de textos de ciência, literatura, artes e cultura, da lavra, principalmente, dos árcades novos, bem assim de outros escritores indicados pelos titulares. O periódico receberá escritos das diversificadas áreas do conhecimento e matérias diversas no âmbito há pouco mencionado. 

Por esta razão, solicito aos nossos imortais, ao Dr. Mateus, por exemplo – e, inclusive, aos que ainda não tomaram posse, eleitos na reunião a que ora me refiro – Helder Sossa, Crisando JIC, Arino Marques e Aíla Calu – que remetam seus textos para o árcade Vianney pelo endereço eletrônico vianneymesquita@gmail.com. 

Poesias, contos, artigos científicos, relatos, piadas, chistes, serão acolhidos com satisfação, nomeadamente aqueles relativos à nossa Terrinha. Será, consoante se conforma a ANP, a primeira revista de Palmácia. 

Noutro lance, voltarei por aqui, com a gentileza da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, a dar mais informações acerca da ANP, incluindo a posse da Diretoria, cujos componentes indicarei, e o lançamento deste magazine, que, sem dúvida, representa mais uma glória para a Terra dos Prefeitos Atanásio Perdigão Sampaio, Chico Damasceno, Campelo, João e Antônio Simplício, Darcília etc etc. 

Até outra ocasião.



* José Damasceno Sampaio

Advogado
Presidente do Instituto dos advogados do Ceará
Membro da Arcádia Nova Palmaciana

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

NOTA ACADÊMICA - Assembleia Geral de Fim de Ano - 2025

 

ACLJ
2025
ASSEMBLEIA GERAL
DE FIM DE ANO




 

Atingiu pleno êxito a 2ª Assembleia Geral Ordinária da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo (ACLJ), encerrando o exercício anomalístico da entidade, cerimônia realizada na noite deste dia 1º de dezembro, no auditório principal do Palácio da Luz, silogeu que sedia as principais academias literárias da Capital Cearense, principalmente a Academia Cearense de Letras, a mais antiga do País.

 

A solenidade foi conduzida pelo Secretário-Geral e Mestre de Cerimônia da ACLJ, Vicente Alencar, e a Mesa Diretiva foi composta pelo Presidente Reginaldo Vasconcelos, o Presidente Emérito Rui Martinho Rodrigues, os Membros Beneméritos José Augusto Bezerra e Graça Dias Branco, e pelos Membros Titulares Cândido Albuquerque, Sávio Queiroz Costa e Aluísio Gurgel do Amaral Júnior. 



Compareceram ao evento 20 Membros Titulares e dois Membros Beneméritos da ACLJ. Além dos já citados, Adriano Vasconcelos, Altino Farias, Carlos Rubens, César Barreto, Djalma Pinto, Edmar Ribeiro, Franzé Façanha, Humberto Ellery, Luciara Aragão, João Pedro Gurgel, Paulo César Norões, Pedro Bezerra de Araújo, Roberto Bomfim, Totonho Laprovitera e Ulysses Gaspar. 

*****************

A PALAVRA DO ANO

Na pauta da solenidade, primeiramente a revelação da “Palavra do Ano”, aquela que a ACLJ elegeu como a que marcou os últimos doze meses, a mais articulada na imprensa, na Internet, nas falas públicas e nas rodas sociais do País no período, neste caso o neologismo brasileiro “TARIFAÇO”. 


*****************

O CEARENSE DO ANO

O segundo item da pauta, a outorga do título de “Cearense do Ano” àquele conterrâneo que a ACLJ reputou o mais destacado na atividade exercida – técnica, científica, empresarial, artísticas, desportiva, social. 




A láurea coube neste 2025 ao Engenheiro Civil Henrique Vasconcelos, Presidente do Náutico Atlético Cearense, pelo trabalho exitoso que ele tem realizado na recuperação financeira, patrimonial, estética e social daquele clube, instituição que é uma joia do patrimônio histórico e arquitetônico do Estado. Ele foi saudado pelo acadêmico Sávio Queiroz Costa, cuja fala abaixo se transcreve.




HENRIQUE VASCONCELOS
O HOMEM DO ANO, SEGUNDO A ACLJ

 

Fui um menino de clubes – desses lugares que não eram apenas estruturas de concreto, mas territórios de afeto de uma cidade que pulsava diferente. 

Praticamente nasci no Ideal Clube. Meu carrinho de bebê circulava pelos salões ao lado do carrinho de uma futura amiga: Marjorie Marshall, bisneta de dois homens que ajudaram a erguer o sonho: Mirtyl Meyer e Pedro Augusto Sampaio, o primeiro presidente do Ideal. 

Talvez por isso o Ideal sempre me soasse familiar, como se eu reconhecesse seus sons e passos antes mesmo de aprender a falar. Hoje, tenho duas ações de sócio proprietário – e não são apenas títulos: são fragmentos vivos da minha própria história. 

Houve um tempo em que os grandes clubes de Fortaleza pareciam perder o brilho. Era como ver antigos faróis se apagando silenciosamente. Mas a vida tem dessas ironias belas, e o tempo, um senhor caprichoso, resolveu surpreender. 

Hoje temos o Iate Clube, brilhantemente conduzido pelo Comodoro Pompeu Vasconcelos, que saneou as finanças e devolveu ao clube o ar de casa aberta ao mar; temos o Ideal, renascido nas mãos de Amarílio Cavalcante Júnior, que trouxe mais do que gestão: trouxe alma, ousadia, cuidado, genialidade – tudo isso recolocou o clube no rumo de um futuro que muitos já não acreditavam possível. 

Mas nem todos tiveram o mesmo destino. O Clube Líbano Brasileiro, tão querido, não resistiu. E essa perda ainda dói na memória da cidade. 

Por fim, temos o caso do Náutico Atlético Cearense – um clube que respirou fundo e decidiu viver. O Náutico estava ali, gigante e silencioso, esmagado por dívidas e desafios. Acordá-lo exigia coragem rara. Exigia fé. 

E, felizmente, foi parar nas mãos do amigo Henrique Vasconcelos – filho e herdeiro de uma presidência histórica, a de Meton Vasconcelos, nome que ecoa como tradição, dignidade e grandeza. 

E eu entendo um pouco essa travessia, desde quando assumi a missão de revitalizar o Edifício Granville – um dos maiores ícones residenciais de Fortaleza – senti o peso simbólico nos ombros. Revitalizar um prédio é revitalizar histórias, pertencimentos, memórias. A jornada de Henrique no Náutico é exponencialmente maior, mais profunda, mais épica. 

– Henrique, o futuro do Náutico brilha – e essa luz começou nas suas mãos! 

– Doutor Meton, tenha plena certeza: o caminho que o senhor desenhou está sendo honrado com respeito e com um senso de legado que atravessa gerações! 

Muito obrigado. 

Sávio Queiroz Costa


*****************

HOMENAGEM PÓSTUMA

Finalmente, a ACLJ prestou um tributo à memória da Juíza do Trabalho Milena Moreira de Sousa, que faleceu no dia 16 de novembro passado, homenagem póstuma proposta pelo acadêmico Aluísio Gurgel do Amaral Júnior.

 


Seu amigo e colega no magistério superior e na magistratura cearense, Aluísio proferiu o discurso de saudação (abaixo transcrito), dirigido especialmente à mãe da homenageada, Dona Milena Brasil, de 91 anos, que estava presente no auditório, e a outros colegas seus do Judiciário, que também compareceram.


À MEMÓRIA DE MILENA  


Presidente, confreiras e confrades, autoridades, senhoras e senhores. 

A minha amiga e irmã de vida Milena foi criança no bairro de Jacarecanga e desempenhou o papel de traquina no meio da meninada. Por esta época, a cidade de Fortaleza era ainda uma poesia. Educou-se e adolesceu no Colégio Santos Anjos, no Rio de Janeiro.

De volta à Fortaleza, sua beleza desabrochou em mocidade na bucólica praia do Ideal da década de sessenta. Enamorou-se e seguiu o seu amor no rumo do Velho Mundo, foi viver em plagas madrilenhas. Lá, seu coração viu o amor findar e experimentou a dor da separação. 

O tempo passou, a vida prosseguiu em Madrid e um novo amor surgiu. Declino-lhe o nome: era o dramaturgo e ator Emílio Lindner, que ainda hoje frequenta a cena cult daquela linda capital europeia; ele é o pai da sua primeira filha, Melisa. 

O amor tem seus caprichos e seus vezos, às vezes tem eternidade limitada. Foi assim que, certo dia, Milena deixou Emilio na Espanha após dez anos de Continente europeu e resolveu voltar com sua filha para a terra natal. Aqui se fez funcionária pública. Conheceu o poeta e arquiteto Silvio Barreira, de quem se enamorou e com quem teve as f ilhas Lenina e Yana. 

Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará. Formou-se com o gáudio de ser oradora da nossa turma. Foi advogada militante. Participou das lutas pela renovação da Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará ao lado de Ernando Uchoa Lima, Feliciano de Carvalho e tantos outros. 

Foi diretora do Sindicato dos Advogados do Ceará ao lado de Júlio Ponte. Tinha seu maior mentor na figura do mestre Evaldo Ponte, com quem dialogava frequentemente. Pós-graduada em Direito, voltou à Universidade Federal do Ceará para cursar o Mestrado. Foi professora do Curso de Direito da Universidade de Fortaleza, onde lecionou Direito do Trabalho, Direito Processual do Trabalho, Direito de Família, Direito Penal… 

Sua versatilidade no magistério superior não conhecia limites, mas posso assegurar que a disciplina que mais lhe animava o espírito era o Direito Processual Civil.Sei disto porque além de amigos e irmãos por escolha de vida, éramos também colegas de magistério na UNIFOR. 

Enquanto lecionava Direito Penal, ela ficou impressionada com o desenvolvimento e a evolução de uma turma de alunos e comentou comigo. Daí me pediu que, na condição de Juiz de Direito, providenciasse a sua participação como advogada de defesa em um Tribunal do Júri para adquirir experiência e passá-la aos alunos.

Eu era titular da segunda vara em Maranguape e o júri era da competência da primeira vara, cuja titularidade estava a cargo da Juíza Márcia Menescal, que prontamente a nomeou para advogar em defesa de cinco acusados, em processos distintos.

Resumindo, foram cinco absolvições, cada qual mais brilhante. Minha irmã simplesmente levou a metodologia da sala de aula para o Tribunal do Júri e resplandeceu. A fama correu depressa na região e o Juiz Geraldo Bizerra, titular da primeira vara de Maracanaú, intimou-a para fazer a defesa de mais cinco acusados por lá. 

Estive presente ao julgamento do primeiro deles e lhes digo aqui que Milena parecia flutuar, rodeada de alunos, cada qual com um livro aberto, como se fossem estantes vivas, e ela a consultar jurisprudências, normas, conceitos jurídicos e citações doutrinárias com toda elegância enquanto desenvolvia o seu discurso de defesa. 

Em determinado momento, olhei para o Conselho de Sentença e estavam todos absolutamente mesmerizados por ela. Um espetáculo de defesa que depois comentei com mestre Evaldo Ponte, seu orgulhoso mentor. O carretel do tempo se desenlinhou e Milena se faz Juíza Federal do Trabalho. 

A magistratura é uma tarefa árdua. Requer muita abnegação e renúncia. Imaginem cobrar isto de uma mulher que criava suas três filhas e cuidava de seu companheiro. Quando pensava em descansar, tinha que corrigir as provas dos alunos! Mas dava conta de tudo. Era intensa. 

Se estava triste reclamava: “Alú, por que será que as coisas são sempre tão difíceis para mim?” E na alegria, dizia: “Alú, se as coisas não forem difíceis para mim, não serve. Só serve se for com desafio!”.

Assim, minha amiga e irmã trilhou seus caminhos e dirigiu a Escola da Magistratura do Trabalho e foi diretora do Fórum Autran Nunes, e formou as três filhas e se separou do Silvio e disse que não cabia mais ninguém no seu coração e um dia se aposentou e criou seu neto Iuri e curtiu os seus netos Luka e Lina e pronto. Partiu serena e em paz. 

A respiração foi diminuindo, diminuindo e parou naturalmente. Foi muito calmo. Que eu tenha este mesmo privilégio quando chegar a minha hora. Está tudo bem no melhor dos mundos. Maria, Mãe de Deus, olhai por nós agora e na hora da nossa morte!

Aluísio Gurgel do Amaral Júnior


*****************

O BRINDE E A FOTO OFICIAL


 







*****************


ANO SABÁTICO

A Decúria Diretiva da ACLJ, por ocasião do seu terceiro Census ad Lustrum, nos seus 15 anos de existência, decidiu fazer ano sabático em 2026. 

Entrará em letargo administrativo e social, para reavaliações – mantendo apenas em atividade o coetus decem, estamento interno denominado Arcádia Alencarina. 

A Arcádia Alencarina realiza reuniões físicas bimestrais, a partir de agora na sua sede própria (Sala Irmãos Ximenes). 

São concílios privativos dos dez “fardonados” da sua Diretoria, com mais quatro convidados – fornecendo apenas imagens para as redes sociais.

Ao final do recesso se deliberará sobre manter ou extinguir a entidade nos moldes tradicionais da quadraginta numerati