NÁUFRAGO
Altino Farias*
Abruptamente tombou na água gelada e
agitada. O susto foi seguido de enorme pânico. Querendo permanecer à tona,
agitava pescoço, braços e pernas em vão. Cada vez submergia mais naquele
universo salgado.
Em pouco, somente via à sua volta um azul
imensamente turvo e bolhas de ar. Muitas bolhas. O ruído que sua agitação
provocava o ensurdecia. Perdeu a noção de onde estava a superfície e a que
distância. Viu-se naufragando verdadeiramente, mas ainda lutava.
A essa altura de sua existência, naufragara
de várias formas. Como profissional, como pai e no convívio social. Esqueceu
(ou não sabia) que para manter um relacionamento a dois é preciso bem mais que
estar sempre pronto para o sexo. Naufragara como homem, porque a própria vida não
poderia naufragar também?
Os movimentos frenéticos de braços e pernas
exauriram suas forças rapidamente. Não havia mais ar nos pulmões e seu coração batia
em disparada. Engoliu e aspirou água num primeiro instante de vulnerabilidade.
Sentiu o gelado invadir seu corpo, que sucumbia em desespero.
Os instantes que se seguiram foram
diferentes. Tudo parecia distante, frio, calmo. Braços e pernas moviam-se em
câmara lenta. Não sentia mais necessidade de oxigênio.
Olhando em certa direção viu um clarão. Pareceu-lhe que era a superfície. Tão
perto, mas ele já não estava mais ali...
*Altino Farias
Engenheiro Civil - Empresário - Cronista - Blogueiro
Editor do jornal virtual Pelos Bares da Vida
Titular da Cadeira de nº 16 da ACLJ
[www.oponiaoemperspectiva.blogspot.com]
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