quarta-feira, 28 de abril de 2021

NOTA ACADÊMICA - Sarau Virtual da ACLJ (26.04.2021)

 SARAU VIRTUAL DA ACLJ
(26.04.2021)

   


PARTICIPANTES

Estiveram reunidos na conferência virtual desta segunda-feira, que teve duração de uma hora e meia, 08 acadêmicos. Compareceram ao grupo o Marchand Sávio Queiroz Costa, o Jornalista e Advogado Reginaldo Vasconcelos, o Agrônomo Luiz Rego Filho, o Advogado e Sionista Adriano Vasconcelos, o Agente Comercial Dennis Vasconcelos, o Especialista em Comércio Exterior Stênio Pimentelo Jornalista e Sociólogo Arnaldo Santos e o Físico e Professor Wagner Coelho.
 


TEMA DE ABERTURA


O Presidente Reginaldo Vasconcelos abriu os trabalhos comentando o exemplar que o
 intelectual francês Jean-Pierre Rousseau lhe enviou, nesta semana, da sua terceira obra a respeito da poesia brasileira – "Anthologie Des Grands Poètes Contemporains Du Brésil".

Jean-Pierre Rousseau é casado com uma cearenses, e foi proposto ao título de Membro Honorário da ACLJ pelo Desembargador Durval Aires Filho, que o levou e nos apresentou na Tenda Árabe, em 2019.
 
No presente livro ele trata de poetas brasileiros e nordestinos, separadamente elencados,  cada um deles contemplado com a publicação de vários de seus poemas, em português e em francês.


Do panteão da poética nacional constam Murilo Mendes, Cecília Meireles, Augusto Frederico Schmidt, Mário Quintana, João Cabral de Melo Neto, Adélia Prado e Vinícius de Moraes. Deste último, o Presidente Reginaldo recitou o Soneto da Separação, reproduzido no vídeo abaixo.


De Adélia Prado ele destacou o poema "A Serenata", que abaixo reproduzimos:


Dentre os cearenses, Jean-Pierre distinguiu Artur Eduardo Benevides, José Albano, Antônio Tomás (o primeiro Príncipe dos Poetas Cearenses), Geraldo Melo Mourão, Júlio Maciel, José Valdivino e o Patativa do Assaré.

ASSUNTOS ABORDADOS


Adriano Vasconcelos abordou o lançamento virtual do mais recente livro físico do confrade Dorian Sampaio Filho, "História dos Municípios do Ceará", com a sinopse da história dos 184 municípios dos Ceará, em 320 páginas luxuosamente encadernadas, que está à venda na Internet, ao preço de 50 reais. 

Em seguida Wagner Coelho, que é professor de físico-química discorreu sobre a natureza e o comportamento dos vírus nos organismos, e toda na demais reunião versou-se sobre o tema da Covid-19, assunto do qual não se consegue fugir nesses tempos de pandemia. 

Por fim, houve sugestões e definições sobre qual será a "Palavra do Ano de 2021", segundo a ACLJ, bem como sobre quem serão os três agraciados com a distinção de "Destaque Cearense", láurea a ser outorgada formalmente em dezembro vindouro. 

Também tratou-se da  reunião presencial do dia 04 de maio, data do aniversário de 10 anos da ACLJ, em que se assinará a Ata e se celebrará o II Census ad Lustum, oportunidade em que serão feitas as necessárias alterações estatutárias da nossa Instituição, bem como a sublimação e o expurgo dos que apostataram e declinaram de seus votos acadêmicos. 


    DEDICATÓRIA

A sessão virtual da ACLJ realizada nesta segunda-feira, dia 26 de abril, foi dedicada aos dois confrades que estão convalescendo da Covid-19:

O Membro Honorário Edmar Santos, Pedagogo e Psicólogo, especialista em Segurança Pública e Direito Criminal, técnico da Secretaria da Justiça do Estado do Ceará,   cronista de raríssima inspiração, lírica e filosófica.

O Bibliófilo José Augustos Bezerra, nosso Membro Benemérito, Presidente Emérito do Instituto do Ceará e da Academia Cearense de Letras, dos quais já esteve à frente com desempenho excepcional, um dos mais ilustres de nossos intelectuais contemporâneos.

Ambos estão clinicamente estáveis, na fase menos grave da doença e em franca recuperação. A ambos manifestamos votos de breve retorno ao nosso convívio acadêmico, elevando as nossas preces pelo seu pleno e rápido restabelecimento. 

 


ARTIGO - Relaciomento Humano - Amizades (PN)

RELACIONAMENTO
HUMANO
*
AMIZADES
 
Pierre Nadie*
 

As boas amizades e os bons amores vêm sem a gente ter de ir buscá-los. A procura frenética exaspera nossa capacidade de amar e pode invadir a liberdade de amar do outro. 

A carência que se depreende de tal “pressão” é vitrine de algum desajuste, frustra o desejo de boa convivência. A irreverência do coração cede a momentos de paixão e os relacionamentos e amizades sazonais não conseguem calar o anseio pela felicidade. 

Quantos amores surgiram de ocasiões furtivas! Quantas belas amizades floresceram de encontros inopinados! 

Todos precisamos de amizades e queremos um bom relacionamento, podemos mesmo sair-lhes à procura, desde que a gente não se perca na ardência desenfreada de paixões e/ou de vazios existenciais. O que a gente tem a partilhar e não a consumir torna-se base sustentável de uma aproximação mais profunda de criaturas humanas. 

Sem amizade e sem amor, ninguém vive. Todavia, nunca é demais refletir que, nesta acepção, também vale o anexim: “Quem vai com muita sede ao pote pode acabar por se afogar”.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

ARTIGO - Nos Primeiros Tempos (WI)

 Nos primeiros tempos
Wilson Ibiapina*

 

Quando  cheguei a Brasília, em 1970, a cidade estava com dez anos, com muita poeira e  ritmo acelerado dos operários em construção. Muito do que aconteceu nos primeiros momentos da nova capital só fiquei sabendo agora, 61 anos depois da inauguração.

As histórias curiosas foram resgatadas pela jornalista Rosalba da Matta Machado, e estão no livro “Dutra, Memórias de um Garçom de Juscelino, Mordomo em Brasília”. Tem apresentação do saudoso jornalista Carlos Chagas, orelha escrita pelo jornalista Silvestre Gorgulho, ex-secretário de Cultura do DF. É dele a revelação de que a estátua da Justiça, na Praça dos Três Poderes, inicialmente, foi colocada dentro do prédio do Supremo Tribunal Federal, e foi levada para a praça por determinação de Oscar Niemeyer, sob o argumento de que a justiça é para todos. A lei fundando Brasília foi assinada por JK em primeiro de outubro de 1957. A data da  inauguração, a 21 de abril de 1960, foi sugerida por Israel Pinheiro, o comandante da construção.

A jornalista Rosalba da Matta Machado conversou durante meses com José Dutra Ferreira, que veio de Araxá para trabalhar como o primeiro garçom do Catetinho para servir ao Presidente Juscelino Kubitschek. Dutra trabalhou inicialmente no Palácio de Tábuas, inaugurado em outubro de 1956. Só em janeiro de 1957 é que foi rebatizado pelo violonista Dilermando Reis de Palácio do Catetinho. Hoje, aberto à visitação pública, o Catetinho hospedou gente importante dos meios político, intelectual e artístico. Estiveram lá Juca Chaves, Dilermando Reis, e também Tom Jobim e Vinicius, quando criaram  a Sinfonia da Alvorada, que  conta em música e versos a saga da construção.

Os primeiros blocos residenciais surgiram nas Superquadras 105, 106, 107 e 108 – Sul. 

Israel Pinheiro disse um dia que a construção que deu mais trabalho foi a do Congresso Nacional. 

Uma figura da maior importância na construção da Cidade foi o engenheiro agrônomo Bernardo Sayão. A missão dele era construir as estradas para que todos chegassem à nova capital e também implantar uma estrutura agrícola na região. Foi ele que sugeriu a Israel Pinheiro trazer imigrantes japoneses para criar um cinturão verde em Brasília.

Israel entregou essa tarefa ao pai da escritora cearense Ana Miranda. O engenheiro Raul Miranda contou com a ajuda das famílias japonesas que plantaram frutas e verduras em numerosas chácaras ao redor do Plano Piloto. A capital cresceu rapidamente e os novos habitantes ocuparam as chácaras que abasteciam Brasília, acabando com as nascentes de rios e riachos, transformando tudo em cidades. 

Foi Bernardo que escolheu a área em que Israel Pinheiro edificou a casa em que foi morar durante a construção. Foi chamada de Granja Israel Pinheiro. O político mineiro não gostou da ideia. Saiu o nome, mas ficaram as iniciais: I.P. – ou seja Ipê. É por isso que lá não se via um único pé da rvore que hoje enfeita o Distrito Federal. 

A Granja Riacho Fundo também foi batizada por Sayão, para abrigar o médico Ernesto Silva. Já a Granja do Torto teve como primeiro ocupante o engenheiro Iris Meinberger. Ficou lá até quando deixou a diretoria da Novacap.  Bernardo Sayão escolheu a Granja Tamanduá, mas ele estava sempre viajando, cuidando das estradas, da agricultura. Foi num acampamento às margens da rodovia Belém-Brasília, que ele estava  construindo, que aconteceu a tragédia. Em janeiro de 1959 uma árvore caiu sobre a barraca dele. Sayão foi a primeira pessoa a ser enterrada no Campo da Esperança. Uma estrada teve que ser aberta às pressas durante a noite para que as pessoas tivessem acesso ao cemitério.

 

Em seu livro de 399 páginas, ilustradas com muitas fotografias e documentos, a jornalista Rosalba da Matta Machado conta por que JK chorou durante a missa de inauguração de Brasília. O garçom Dutra disse à Rosalba que estava trabalhando durante o jantar do dia da inauguração, quando ouviu o Presidente justificar o choro: “As lágrimas foram uma consequência. Parece que somente  naquele momento de reflexão tomei plena consciência que inaugurava Brasília para o Brasil e para o mundo. Nosso sonho estava realizado”.



ARTIGO - O Sentido do Presente (RMR)

 O SENTIDO DO
PRESENTE
Rui Martinho Rodrigues*

 

A tentativa de compreender o presente é um trabalho de Hércules. Os desdobramentos dos fatos e atos presenciados ainda se desenrolaram, dificultando a compreensão. Falta o necessário distanciamento recomendado por Nicolau Maquiavel (1469 – 1527), para que se compreenda o que é observado. 

A convergência das crises sanitária, econômica, social, política, moral e de referências culturais criaram uma complexidade que desafia o entendimento do mundo. O rufar dos tambores de guerra no mar da China, na Ucrânia, no Golfo Pérsico, na península da Coreia agravam preocupações. A velha indagação sobre a possibilidade para superarmos os problemas que ela mesma cria está posta. 

Stephen Hawking (1942 – 2018) manifestou temor de colapso da civilização, argumentando que sistemas muito complexos têm mais probabilidades de colapsar. A Idade Média não representava uma ordem social, política ou econômica tão complexa quanto a civilização global de hoje e ainda assim desmoronou. 

Ciclos de nascimento, desenvolvimento e decadência são uma forte tendência das civilizações constatadas por Arnold J. Toynbee (1889 – 1975), em seus abalizados estudos. É possível especular elaborando os mais diversos cenários, desde os mais desastrosos até os mais paradisíacos, partindo da visão segundo a qual grandes problemas foram superados ao longo do tempo. A ameaça de desastre pode funcionar conforme o brocardo segundo o qual a visão do patíbulo clarifica a mente. 

Referências culturais estão em crise; especialistas, autoridades, instituições, imprensa, professores, clérigos e pais desacreditados. Celebridades de idoneidade nem sempre confiáveis tornaram-se referência. A revanche do sagrado (Leszek Kolakowski, 1927 – 2009) convive com a secularização exacerbada. 

O declínio das elites e lideranças é real. O abandono do rigor epistemológico enseja o relativismo cognitivo. O relativismo axiológico estimula o hedonismo. O multiculturalismo do tipo diferencialista fragiliza as relações entre os grupos da sociedade e estimula o conflito. Abriram a caixa de Pandora. A esperança, todavia, permanece. O fruto da ciência do bem e do mal, visto por alguns como libertação, revelou-se um autêntico presente de grego. 

A pós-modernidade, tão disruptiva quanto o renascimento, guarda semelhança com o humanismo do fim da Idade Média e início da modernidade também por não ter uma identidade filosófica, política ou social, sendo apenas o momento em que uma hegemonia desmoronou e tendências que até então permaneciam pouco divulgadas vieram à tona. 

O antropocentrismo e o cosmocentrismo de humanismos distintos, secularização, rigor epistemológico, avivamento do teocentrismo cristão e misticismo competiram. Até o domínio da retórica, cujo desdobramento no Renascimento foi a volta de alguns sofistas nos períodos seguintes, agora se repete com o arrimo de elaboradas teorias sociais, políticas, psicológicas e gnosiológicas. 

Não se trata do eterno retorno dos gregos relatado por Friedrich Nietzsche (1844 – 1900), mas de condições que ensejam diferentes respostas. Admitindo que a história seja uma estrada cheia de desafios cujas respostas cada época deve criar, a projeção dos cenários possíveis pode ser favorável. O desenvolvimento da ciência e tecnologia é uma esperança. O surgimento de novos problemas criados por cada solução, porém, é um sinal de perigoso. 

Como o passado é irrecuperável, a inocência perdida não se recupera. Traçar cenário para o porvir é uma ingrata tarefa. O futuro é imprevisível. Conjecturas, embora necessárias ao planejamento, têm uma margem de erro pouco animadora quando se trata de fenômeno de grande complexidade. O presente, por sua vez, é fugidio. Logo, estamos navegando às cegas.

domingo, 18 de abril de 2021

CRÔNICA - ...E Os Pássaros Desapareceram! (JGB)

 ...E OS PÁSSAROS
 DESAPARECERAM!
Jo Gu Bas*

 

NUMA quarta-feira que há pouco passou, estava à tardinha a contemplar um belo pôr-do-sol, quando fui surpreendido ao ver pousar no muro da área do apartamento do lado nascente, uma das raras aves que não cantam, apenas arrulham: uma linda rolinha a virar-se e revirar-se como se estivesse com piolhos ou pulgas, ou alguma preocupação (?). Por dois dias, a cena repetiu-se no mesmo local e hora, levando-nos a pensar em colocar algo para alimentá-la e, assim, ter aqueles momentos de alegria. 

ILUSÃO apenas, pois o belo pássaro não mais retornou. E a tristeza com esses intermináveis tempos do Coronavírus aumentou ante a ausência dos cantos dos bem-te-vis, do arrulhar das pombas nas madrugadas, das buzinadas dos carros com a chegada das crianças aos colégios. E, também não sai da memória, a falta dos urubus – (o macho, a fêmea e o filhote) – com suas incríveis acrobacias, no ar pairando sem balançar as asas... 

OS SONHOS fazem as noites e madrugadas se tornarem boas, mas o acordar traz-nos à realidade ao ouvir ou ler as notícias sobre o vírus, com milhares de brasileiros e brasileiras perdendo a vida. Há poucos dias, faleceu um conhecido advogado, residente no edifício onde moramos, vítima da pandemia. O seu sofrimento é indivisível: passou mais de três meses em tratamento, melhor dizendo sofrimento. Deixou esposa e três filhos menores.

DEUS está nos dando uma lição. Se não houver um basta aos crimes de toda a espécie, destacando-se o feminicídio, outros vírus de maior potência virão. Portanto, cabe a nós seguir os dez mandamentos de Deus. Muitos ainda hoje nem os conhecem ou, então, teremos um castigo ainda pior. Estamos, como sempre, nas mãos do Senhor dos Universos. 

DE PANDEMIAS, muitas sofremos, mas infelizmente há quem delas se aproveite enriquecendo. Outros, contudo, “pagam” aqui mesmo. Um fato que deveria servir de exemplo: Noé, o patriarca bíblico, ante os pecados que estavam cometendo os habitantes de Somona e Gomorra, recebeu de Deus a ordem que construísse um barco e nele levasse a família e um casal de cada espécie de animais. As cidades foram destruídas a fogo e seus habitantes queimados. 

COMECEMOS por amar, verdadeiramente, ao próximo.


quarta-feira, 14 de abril de 2021

NOTA ACADÊMICA - Sarau Virtual da ACLJ (12.04.2021)

 SARAU VIRTUAL DA ACLJ
(12.04.2021)

   


PARTICIPANTES

Estiveram reunidos na conferência virtual desta segunda-feira, que teve duração de uma hora e meia, 10 acadêmicos. Compareceram ao grupo  o Marchand Sávio Queiroz Costa, o Bibliófilo José Augusto Bezerra, o Agrônomo Luiz Rego Filho, o Físico e Professor Wagner Coelho e o Médico, Teólogo, Filósofo e Latinista Pedro Bezerra Araújo.

Compareceram também o Jornalista e Advogado Reginaldo Vasconcelos, o Juiz de Direito Aluísio Gurgel do Amaral Júnior, o Procurador Federal Edmar Ribeiro, o Advogado e Sionista Adriano Vasconcelos, e o Especialista em Comércio Exterior Stênio Pimentel.
 


TEMA DE ABERTURA

O Presidente Reginaldo Vasconcelos abriu os trabalhos comentando o aniversário de 90 anos de Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, o fabuloso Chico Anysio, nascido a 12 de abril de 1931. 

Chico Anysio foi o maior gênio brasileiro contemporâneo, artista multitalentoso, uma versão nacional do que foi para os americanos do norte o magnífico Charles Chaplin. 

Foi radialista, ator, apresentador de TV, comediante, escritor, compositor, e, na maturidade, artista plástico, especializado na pintura de marinhas.   

Quando da instalação da ACLJ ele convalescia da enfermidade que o levou, e foi contatado pela Confreira Karla Karenina para integrar a Instituição.

Chegou-se a marcar viagem de uma comissão de acadêmicos ao Rio de Janeiro para empossá-lo formalmente, mas, na véspera, a família nos comunicou que a sua saúde piorara, e logo em seguida sobreveio a falência de múltiplos órgãos que ocasionou o seu passamento. 

Chico Anysio é o Patrono da Cadeira Virtual do Confrade Wagner Coelho, Membro Correspondente da ACLJ na Cidade do Rio de Janeiro, futuro Membro  Titular da ABLJ. 


ASSUNTOS ABORDADOS
 
Pedro Araújo abordou a libertação dos escravos no Ceará, lembrando a memória da abolicionista sobralense Maria Tomásia, que fundou a Sociedade Cearense Libertadora e teve grande influência na antecipação da abolição da escravatura neste Estado, em 1884, quando o Presidente da Província era Sátiro de Oliveira Dias. 

Reginaldo Vasconcelos considerou que a abolição do cativeiro entre nós foi mais fácil porque a economia local não tinha estreita dependência do braço cativo, já que não tínhamos minas de minerais preciosos nem cultura extensiva de cana de açúcar, atividades que requeriam numerosa mão de obra. 
 
Diante disso, como os cativos cearenses eram mais empregados em serviços domésticos, e tendo em vista as dificuldades climáticas que a todos compungia pelos sertões sáfaros, os negros cearenses se integravam afetivamente às famílias de seus amos – embora houvesse resistência aos casamentos interraciais, que mesmo assim aconteciam.

Adriano pontuou que a notória matriarca Dona Fideralina chegou a estabelecer em sua fazenda um criatório de escravos, mantendo geratrizes e padreadores negros, com objetivo de reprodução comercial.   

Fideralina  Augusto Lima (1832-1919), fazendeira que herdou do marido o comando da família e o controle dos negócios, tornando-se líder política na Região do Cariri, e revolucionária na Sedição do Juazeiro, é objeto de estudo biográfico do Prof. Rui Martinho Rodrigues, publicado em livro.

O Bibliófilo José Augusto Bezerra referiu ao documento histórico constitutivo da Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, na Bahia e no Rio de Janeiro, uma das peças preciosas de sua coleção. Essa instituição foi criada para a construção de igrejas a serem frequentadas exclusivamente por afrodescendentes, em muitas cidades brasileiras. 

Falando do célebre jangadeiro Francisco José do Nascimento – o Chico da Matilde, agnominado "Dragão do Mar" – José Augusto asseverou que ele não teria proclamado que não mais entrariam escravos no porto de Fortaleza. Segundo José Augusto, ao contrário do que se diz, na verdade Chico da Matilde deliberou que não mais sairiam por via marítima cearenses escravizados, vendidos a escravocratas de outros Estados do Brasil.   

Stênio Pimentel citou então uma das maiores autoridades no tema da escravatura nas Américas e no Brasil, Manolo Florentino, Professor da UFRJ, falecido neste ano de 2021, vítima de um infarto do miocárdio.

Na mesma linha, José Augusto Bezerra lembrou o nome do Prof. Pedro Alberto de Oliveira Silva, sócio do Instituto do Ceará, autor do livro "História da Escravidão no Ceará – Das Origens à Extinção" – o principal estudioso do tema entre nós, também falecido neste ano.

Edmar Ribeiro narrou fato verídico ocorrido no Acre, seu Estado natal, de quando o filho de um seringalista se apaixonou por uma linda moça negra, queria casar com ela na capela da fazenda de seu pai, mas foi impedido de fazê-lo, e, por fim, para frustrar o conúbio, terminaram por desterrar a pretensa noiva para a cidade de Belém do Pará.

Por fim, Pedro Araújo recomendou a peça cinegráfica "Bem-vindo a Marly-Gomont", encontradiça no  Netflix, obra que versa sobre o tema da discriminação racial.  

    DEDICATÓRIA

A sessão virtual da ACLJ realizada nesta segunda-feira, dia 12 de abril, foi dedicada ao grande Chico Anysio, que na data de hoje completaria 90 anos. A efeméride in memoriam foi registrada na coluna do Jornalista Eliomar de Lima, no Jornal o Povo, conforme abaixo reproduzimos. Eliomar noticiou o descerramento virtual de um busto de Chico Anysio no Museu do Humor Cearense.

 



CRÔNICA - A Carnaubeira (PN)

 A CARNAUBEIRA
Pierre Nadie*


A Carnaubeira traz-nos algumas lições: 

Sua copa circular leva-nos a considerar a transcendência divina. Como o círculo, que não tem começo nem fim, assim Deus Uno e Trino também não tem começo nem fim, Ele é o Alfa e o Ômega. A natureza, como canta o Poverello de Assis, traz do Altíssimo um sinal. 

Outra lição volta-se para nossa contingência humana. Veem-se caracas na parte inferior do tronco da carnaubeira, até certa altura, que depois sobe limpo, sereno e livre das escamas.

As caracas lembram nossas lutas, nossas dificuldades, nossas mazelas, nossos erros, que, aos poucos, vão marejando nossa vivência e nos motivando  a encarar com altivez e denodo as situações e os desafios da vida. 

Então, chegamos à serenidade de uma maturidade, que compreendeu os desafios e os enfrenta de peito aberto, com garra, com confiança e com fé. 

Trata-se de uma questão pragmática, germinante de um mergulho nas fímbrias do ser. Por isso é que há carnaubeiras com mais e menos caracas  em algumas chegando até o topo. 

A natureza imita a vida.


sábado, 10 de abril de 2021

ARTIGO - A Condição Humana (RMR)

 A CONDIÇÃO HUMANA
Rui Martinho Rodrigues*

 

O sonho de emancipação humana vive. Criar uma sociedade apta a produzir um novo homem, cuja sociabilidade supere os problemas mais agudos da vida em sociedade, é parte da imaginação política desde de Platão (428/427 – 348/347), com “A República”, que a muitos entusiasma até hoje. O pensador ateniense, desiludido, retratou-se da quimera na obra “As Leis”. Mas a lucidez é menos sedutora do que a fantasia. 

A retratação é abandonada pelos que divulgam obras dos pensadores. “As leis” suscitam uma reflexão fundamental, apresentando “a república” como uma ordem social para anjos, não para homens. Seria a condição humana um fator limitante das possibilidades de organização social? 

Caso seja assim, a sociedade terá o demiúrgico de criar e um novo homem. Hannah Arendt (1906 – 1975), na obra “A Condição Humana”, ressalta o labor, a possibilidade de ação apta a modificar situações ao desenhar o perfil da nossa condição. Modificar situações é capacidade pacificamente reconhecida como atributo do Homo Sapiens. A retratação de Platão propõe o problema dos limites de tal capacidade, não a negação de tal atributo.

Renê Nöel Theophile Girard (1923 – 2015), na obra “Do Mimetismo à Hominização”, discorrendo sobre a ruptura radical do processo pelo qual nos fizemos humanos, ressalta o conflito mimético. Somos o animal que imita e conflita com quem imita. Ser o outro, tomar o seu lugar leva ao conflito, diz o pensador citado. Acrescente-se que a identidade construída pelo mimetismo tem a função de suprir lacuna. 

O tubarão nasce para ser um predador do seu meio. O homem nasce sem um perfil definido, podendo ser muitas coisas. John Locke (1632 – 1704), na obra “Alguns Pensamentos Sobre Educação”, descreve a condição humana, ao nascer, como uma página em branco, na qual se pode “escrever” coisas muito diferentes. A página em branco pode ser a lacuna que o mimetismo preenche. 

Mas seria a tal “página” totalmente em branco? O interdito do incesto e o próprio conflito mimético parecem indicar fatores típicos da continuidade superpostas as rupturas. Expressões faciais, também conhecidas como máscaras de expressão, são observadas em crianças de tenra idade, sorrindo, reagindo às expressões dos comunicantes, como algo já dado. 

Haveria um núcleo mínimo, não histórico, constitutivo da natureza. As leis dos antigos códigos, a despeito do isolamento geográfico, guardam grande semelhança entre si. A longa duração é um fenômeno histórico sugestivo da existência de algo estável, mais do que uma condição fortuita, uma natureza humana. 

A literatura reúne ambiente, personagens com seus atos ao lado dos fatos, compondo um enredo. Obras literárias multisseculares, de povos de culturas diferentes, apresentam aspectos comuns aos dramas contemporâneos. 

As mesmas paixões, medos ambições e conflitos, até personalidades parecem atuais, passando por cima das diferentes formas de organização social, ou distintos modos de produção, se preferem. 

Até “O Mal-Estar na Civilização”, de Sigmund Schlomo Freud (1856 – 1939), insatisfações do convívio social são universais e atemporais. Sugerem a existência de uma natureza humana. 

A existência de uma natureza humana é obstáculo ao projeto de reengenharia social e do homem. Sonhos políticos são semelhantes aos mitos tradicionais, conforme Raoul Girardet (1917 – 2013), na obra “Mitos e Mitologias Políticas”. São mais primitivos do que racionais. O impedimento aludido frustra os nefelibatas e desgraça os seus seguidores.

terça-feira, 6 de abril de 2021

NOTA ACADÊMICA - Sarau Virtual da ACLJ (05.04.2021)

 SARAU VIRTUAL DA ACLJ
(05.04.2021)

   


PARTICIPANTES

Estiveram reunidos na conferência virtual desta segunda-feira, que teve duração de uma hora e meia, 10 acadêmicos. Compareceram ao grupo  o Marchand Sávio Queiroz Costa, o Bibliófilo José Augusto Bezerra, o Agente Comercial Internacional Dennis Vasconcelos, o Agrônomo Luiz Rego Filho e o Médico, Teólogo, Filósofo e Latinista Pedro Bezerra Araújo.

Compareceram também o Jornalista e Advogado Reginaldo Vasconcelos, o Juiz de Direito Aluísio Gurgel do Amaral Júnior, o Jornalista e Sociólogo Arnaldo Santos, o Especialista em Comércio Exterior Stênio Pimentel, e o Engenheiro e Empresário Altino Farias.  
 


TEMA DE ABERTURA

O Presidente Reginaldo Vasconcelos abriu os trabalhos comentando o falecimento precoce do radialista, músico e publicitário Will Nogueira, conhecido de todos, amigo do Altino e do Arnaldo Santos. 

Aluísio, Luiz Rego e Sávio Queiroz pontificaram sobre experiências suas com os programas de rádio e TV do Will Nogueira, "Hallo Crazy People", "Studio 93", "Sábado Alegre" e "Terral", e sobre o seu conjunto musical dos anos 70, "Os Canibais".   


ASSUNTOS ABORDADOS
 
Em seguida o Dr. Pedro Araújo, a pedido, fez um longo pronunciamento sobre a Covid-19, em relação a controvérsia em torno do tratamento precoce, e sobre o uso de medicamos em caráter preventivo.

Embora não tenham cientificamente comprovada em laboratório a sua eficácia contra o coronavírus, esses remédios já são utilizados há décadas contra outras enfermidades, sem efeitos colaterais importantes.

Ademais já contam com inúmeros trabalhos de instituições médicas assegurando os bons resultados empíricos desses fármacos, colhidos por milhares de profissionais, na primeira fase da doença, em torno do Planeta.

E para não dizer que não falou de flores, Pierre Nadie (pseudônimo de Pedro Araújo) declamou um poema seu, que abaixo reproduzimos:


José Augusto Bezerra comentou sobre a sua perplexidade com a interferência política e econômica no trato das questões da pandemia. O grupo comentou o tal do "negacionismo", de parte a parte, ora um lado minimizando a gravidade da doença, ora o outro querendo impor isolamento social vertical; ora alguém querendo o lockdown prolongado, ora o outro querendo a abertura da economia; ora a imprensa demonizando o tratamento precoce, ora os médicos prescrevendo os remédios profiláticos. 

Diante disso, considerou-se que o saber humano nem sempre é servido de "sabedoria" – aquela faculdade de analisar os fatos e tomar decisões de forma ética e humanitária, sem interferência do egoísmo, da vaidade, da cupidez. Citaram-se os sábios hindus e os filósofos gregos que observaram e registraram esse vezo moral da humanidade.  

    DEDICATÓRIA

A sessão virtual da ACLJ realizada nesta segunda-feira, dia 05 de abril, foi dedicada a dois  brasileiros que faleceram nesta semana, vítimas da Covid-19. O radialista, publicitário e músico cearense Will Nogueira, aos 64 anos, pessoa muito conceituada no seu meio profissional e queridíssima pela sociedade fortalezense   e o cantor mineiro Agnaldo Timóteo, ex-deputado federal, uma das mais potentes vozes do Brasil  (84 anos). 

Abaixo, em vídeo, Will cantando em uma das festas que promovia. 


Aqui abaixo Agnaldo em entrevista ao teatrólogo e comunicador Antônio Abujamra, em que o cantor e político revela sua nobreza de caráter, sempre se manifestando contra a corrupção, contra o socialismo e contra o "politicamente correto". 

Negro, ele protestava contra os afrodescendentes que se ofendem ao serem identificados publicamente como tal, e que, ao ascenderem na escala social, deixam suas mulheres para casaram-se com loiras. Homossexual, Agnaldo também era crítico das "paradas gays", que exporiam a classe ao ridículo, e contra os que tentam mudar de sexo.