sexta-feira, 31 de outubro de 2014

CRÔNICA (PMA)

DO PÓ VIEMOS...
Paulo Maria de Aragão*


Não é de hoje que o homem tem perguntado sobre o fim da vida, certo de que dela se despedirá envolto num mistério humanamente insolúvel. E de nada adianta temor e desespero  “nem choro nem vela” – todos hão de seguir essa viagem, pois a invisível mensageira está sempre à espreita. 

Não há motivos para pânico ou preconceito, se a velhice for entendida e vivenciada com naturalidade. Brigitte Bardotaos 80 anos, expõe todas as rugas e manchas, jamais passou pelo bisturi. Assim, a Vênus francesa, símbolo sexual dos anos 50 e 60, a loura de beleza estonteante, olhos penetrantes e corpo escultural, aceitou a passagem do tempo. Não oculta os anos nem as deformações inexoráveis da velhice, prova viva do ciclo da vida.

A comédia existencial, caracterizada por um conjunto de personagens de um seriado repetitivo, encerra-se de repente, de acordo com o Grande Roteirista. Enfim, todo ser que respira expira, pois a vida e a morte são inseparáveis. Esta não marca o tempo de sua chegada, simplesmente, de rompante, chega e não discrimina o morituro: pode ser pobre ou rico, feio ou bonito; todos são bem-vindos.
 
A verdadeira riqueza floresce pela prestança, pela solicitude. Não há erro em possuir bens, mas, em apegar-se a eles, sim. A título de ilustração, há a história do paciente moribundo que chegou ao hospital, com a chave do carro às escondidas, a fim de privar o próprio filho de usá-lo. Talvez o haja feito por acreditar que mortalha tenha bolso e caixão gaveta. Assim, npassamento, às vezes, há mais comédia do que tristeza.

A vida acaba quando menos esperamos. Alegria e sonhos em poucos minutos deixam de existir. Num dia estamos muito bem; entretanto, num átimo, abandona-se o plano físico, sem mesmo se saber como isso aconteceu. O Dia de Finados celebra-se neste domingo  é o Dia do Amor, “porque amar é sentir que o outro não morrerá nunca”. Enfim, só se leva desta vida a vida o que se cultivou no coração, sem se olvidar a inevitável prestação de contas no Plano Maior.

É desse modo que a massa organizada volta à matéria bruta, inerte e simplificada: “No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gênesis, 3: 19). Sem qualquer outra chance, só resta rendermo-nos à natureza das coisas. Valerá a pena a luta nossa de cada dia, se for apenas por dinheiro e poder? O dia de finados nos convida a esta reflexão.


(*) Paulo Maria de Aragão 
Advogado e professor 
Membro do Conselho Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira nº 37 da ACLJ

ARTIGO (RV)



DIREITOS PATRIMONIAIS DO GAMETA
Reginaldo Vasconcelos*


O compositor Roberto Carlos intrigou-se publicamente com o Pelé, quando acolheu um filho natural que apareceu, e na mesma época o ex-jogador de futebol se recusou a reconhecer a paternidade de uma moça que nascera de uma rápida aventura que ele tivera no passado, a qual depois morreu de câncer, sem contar com as atenções afetivas de seu pai.

O assunto é sensível e delicado. Pouco antes de morrer o então vice-presidente da República, José Alencar, fincou pé contra uma senhora que surgiu do nada e se dizia filha sua, e que ele, ainda mesmo admitindo a eventualidade de que ela pudesse ter sido gerada de uma de suas relações carnais de solteiro, não a queria como herdeira e insurgiu-se na Justiça, recusando-se inclusive ao exame de DNA.

Agora o tema é abordado em novela da Globo, quando um milionário se inclina e assumir a paternidade de uma sobrinha pobre, com cuja mãe teve um affair em tempos idos, e então ele enfrenta a oposição da mulher e dos filhos, seus sucessores patrimoniais. Neste caso, como se espera, a boa arte imita a vida. 

Pessoalmente defendo que assiste razão ao Roberto Carlos, que até então só tinha um filho, e que simpatizou com o descendente adventício.  Também admito que pode ter tido seus motivos o Pelé para rejeitar a filha, já que inclusive reconheceu depois uma outra que já lhe surgiu na juventude.

Do mesmo modo, abono a resistência do rico idoso José Alencar, e nesse ponto formulo uma tese jurídica própria, para entender que a lei civil atual, nesse particular, é equivocada. Ora, qualquer um pode ser adotado como filho e adquirir todos os direitos hereditários, concorrendo de forma igual com os demais herdeiros do adotante – sem que haja qualquer consanguinidade entre eles.

Isso significa que a filiação é condição muito mais afetiva que genética, de modo que a mera condição acidental de descendente não deveria credenciar ninguém a de repente adquirir direitos patrimoniais idênticos aos dos que foram gerados de forma intencional e criados dentro de uma relação familiar formal e duradoura – e o transcurso pacífico do tempo em determinada condição, no espectro jurídico, como a de únicos filhos de alguém, sempre leva à prescrição aquisitiva de direitos.

Creio que o legislador moderno deveria fazer temperamentos à lei de sucessões, à luz do que no passado já era previsto nas Ordenações Filipinas, o primeiro código jurídico adotado no Brasil. Seria justo e suficiente que filhos insuspeitados saídos já adultos do passado de  homens de posses fossem credores de alimentos, em sendo o caso, e do que mais lhe fosse preciso para manter a dignidade – facultado ao pai biológico adotá-lo regularmente como filho legítimo, ou lhe fazer objeto de disposições testamentárias, se por afeto e liberalidade ele o quisesse.    

*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

NOTA ACADÊMICA




Foi inaugurada ontem, 28 de outubro, a exposição Narrativas Poéticas, que reúne acervo da Coleção Santander Brasil, propondo um diálogo entre artes plásticas e poesia brasileiras.

O período de exibição vai de 29 de outubro de 2014 a 11 de janeiro de 2015, com visitação de terça a sexta, das 9:00h às 19:00h -- aos sábados das 10:00h às 18:00h, e aos domingos das 12:00h às 18:00h, no Espaço Cultural Unifor, que é aberto ao público. 

A ACLJ recebeu convite oficial e compareceu ao coquetel de lançamento, representada pelo seu Presidente, Rui Martinho Rodrigues, e pelo acadêmico Reginaldo Vasconcelos, membro correspondente no Ceará da Academia Brasileira de Belas Artes.

Entre as obras que fazem parte da exposição destacam-se pinturas, gravuras e desenhos de expoentes do Modernismo do Brasil, tais como Candido Portinari, Emiliano Di Cavalcanti, Alfredo Volpi, Iberê Camargo, Tomie Ohtake e Milton Dacosta. Trabalhos recentes como obras de Tuca Reinés, Fernanda Rappa e Renata de Bonis também estão presentes na exposição.

Apresentada nos principais museus do Brasil, como o Santander Cultural, em Porto Alegre; o Museu Nacional da República, em Brasília; Museu Inimá de Paula, em Belo Horizonte; Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo; e Museu do Estado de Pernambuco, em Recife, a itinerância chega finalmente a Fortaleza, no Espaço Cultural Unifor, localizado no térreo da Reitoria.

Com curadoria de Helena Severo, Antonio Cicero, Eucanaã Ferraz e Franklin Espath Pedroso, a exposição Narrativas Poéticas foi concebida a partir de um recorte curatorial da Coleção Santander Brasil.

A ACLJ tem diversos artistas plásticos entre os intelectuais que a compõem, dentre estes o grande Descartes Gadelha, que além de musicista é pintor e escultor de fama internacional.

Em função disso, além de cultuar o beletrismo, a Academia Cearense de Literatura e Jornalismo tem especial apreço às belas artes, tanto assim que entre suas metas em curso está a instalação da Galeria Pictórica dos Patronos Perpétuos, que manterá em exibição permanente em sua futura sede própria os retratos das grandes personalidades do passado cearense, produzidos em óleo sobre tela por pintores cearenses. 

PRONUNCIAMENTO



E F E M É R I D E
Vianney Mesquita*

Um dia de anos é sempre um dia de recordações.  (Júlio Diniz)

Com recorrência, no ensejo de proferições formais, invitamos o brocardo escolástico, ainda bastante em voga, ordenando-nos sermos breves para nos tornar agradáveis – Esto brevis et placebis.

Também nos cumpre justificar o motivo pelo qual não improvisamos a fala, ao expressarmos – também nos reportando a outra parêmia romana – consoante a qual as palavras proferidas ao vento soem voar, enquanto aquelas enunciadas sob registo escrito costumam ficar – Verba volant, scripta manent.

Caríssimos confrades e nomeadas confreiras; senhoras e senhores.

Realmente é uma glória podermos comemorar, com esta série de pequenos eventos, como o relançamento desses livros de nossa autoria, a passagem dos 37 anos de instituída a Academia Cearense da Língua Portuguesa.

Este fato sucedeu em 28 de outubro de 1977, por inspiração do nosso inesquecível e dileto Professor Hélio de Sousa Melo, nosso regente de Português no Curso de Tecnólogo de Edificações da antiga Escola Técnica Federal do Ceará (hoje, IFCE), de quem guardamos as mais deleitosas recordações, mormente pelo que ele representa no ecúmeno no Ceará e no Brasil para o culto e preservação da Língua de seu sobrinho, excelso docente e insuperável pessoa humana, que é nosso coassociado Professor Myrson Melo Lima, na pessoa de quem, neste lance, homenageamos todos os consócios.

Este conjunto de atos, efetivados sob a destra diligente e em decisão carinhosa do nosso Presidente, professor e escritor – o qual também relança livro – Sebastião Valdemir Mourão – corresponde à estatura e dignidade deste Sodalício, na figura de acadêmicos tão grados constituintes do seu quadro, delegados do mais qualificado em substância, para sustentáculo, difusão e defensa do código linguístico exercitado, exempli gratia, pelos ex-mentores maiores da Academia, intelectuais Ítalo Gurgel e Vicente Alencar.

Ao nos reportar ao dito ovidiano (Ovídio Nasão – 48 a.C – 16 d.C) Non omnis moriar – “Não haverei de morrer completamente” – evocamos o fato indiscutível de dever prosseguir o eco, até consumados os séculos, dos ensinamentos de José Alves Fernandes, Padre Alípio, Itamar Espíndola, Itamar Filgueiras, Antônio Pessoa Pereira, meu conterrâneo de Palmácia, José Rebouças Macambira, Valdinar Custódio, Sinésio Lustosa Cabral Sobrinho e tantas outras figuras de escol, ora habitantes de outra dimensão e neste passo evocadas, cujo trânsito, como se diz de São Francisco de Assis, não obstou a prossecução da sua marca, como se reportava o antropólogo Melville Herkovits, a exprimir a ideia de a cultura significar a parte do ambiente feita pelo homem.

Consoante sempre assinala o Senador e nosso professor em dois cursos da U.F.C., Cid Saboia de Carvalho, figura a encher também de honores este Silogeu, na qualidade de seu titular, onde ocupa a cátedra número 8, patroneada por Carlos de Laet, das dezenas de associações literocientíficas da nossa Terra, decerto, a ACLP, pelos propósitos colimados de ensino, cultivo e defesa do nosso código glossológico, constitui a mais relevante agremiação do gênero no Ceará. Por tal pretexto, sempre em um crescendo, devemos todos pugnar pela normalidade de sua existência e evolução, a exemplo desses atos solenes de hoje, como os lançamentos de livros, a nova edição da revista, a exposição librária et reliqua, fazendo-nos presentes, de corpo e inteligência, aos seus empreendimentos.

Somos, por fim, os autores, que no momento relançamos obras, agradecidos a esta aleia de intelectuais, mulheres e homens partidários, operadores e defensores da Língua Portuguesa, pela presença a esta sessão magna e pelo suporte à Diretoria, a cuja frente, sobranceiro, está o acadêmico Sebastião Valdemir Mourão, convictos de que a Academia Cearense da Língua Portuguesa vai prosperar e se desenvolver por todo o sempre.

Fomos breve, porém não sabemos se agradável.


DISSE.
*Vianney Mesquita 
 Docente da UFC 
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa  
Acadêmico Emérito-titular da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo 
Escritor e Jornalista

ARTIGO (RMR)


MOTIVAÇÕES DO ELEITORADO
Rui Martinho Rodrigues*


O eleitorado formou dois blocos. As políticas sociais foram debatidas. A divergência está na sustentabilidade financeira delas. É preciso preservar o equilíbrio fiscal e a estabilidade da moeda para que as políticas sociais seja sustentáveis? Ou tal argumento é a negação das referidas políticas?

Probidade administrativa é outro tema. Só é verdade a improbidade do outro? As irregularidades estão de ambos os lados? Há quem justifique o assalto ao erário. Sempre foi assim; o outro excede quantitativamente a desonestidade; moralidade é ingenuidade; argumento ético é hipocrisia; o denunciante é desqualificado: eis os raciocínios postos pelas partes, conforme o lado e as alianças.

Clientelismo e compra de votos, embora presentes no mundo dos fatos, são acusações meio esquecidas no debate atual. O silêncio não foi explicado.

A percepção do Estado como agente da História para o aperfeiçoamento do homem, através da reengenharia da sociedade, é outro divisor de águas. Há os que temem invasão da vida privada. Outros desejam um Estado curador de incapazes, criador de um novo homem.
Relacionado ao tema do Estado curador de incapazes, a moral tradicional, envolvendo temas ligados à vida sexual e drogas divide o leitorado. A moral tradicional é posta, por uma parte, como preconceito, patologia psiquiátrica (fobia). Juízo de valor é visto como agressão. Tolerância é interpretada como cerceamento da liberdade de expressão, de consciência e do direito à crítica. Alguns percebem ainda a atitude dos “novos gestores da moral” como agressão aos valores conservadores e tentativa de impor pela força uma orientação.

A diplomacia não foi debatida, embora haja muito o que discutir acerca da orientação dada pelo governo brasileiro às relações internacionais.

O debate não teve qualidade e nenhum dos polos é homogêneo quanto a tantos aspectos. Os ajuntamentos contraditórios contribuíram para aumentar um terceiro grupo, instável, flutuante, exacerbando a volatilidade das intenções de voto.

*Rui Martinho Rodrigues
Professor – Advogado
Historiador - Cientista Político
Presidente da ACLJ
Titular de sua Cadeira de nº 10

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

ARTIGO (WI)

B DE PAIVA DE VOLTA ÀS ORIGENS
Wilson Ibiapina*

Feito o salmão, que consegue nadar centenas ou milhares de quilômetros pelos oceanos antes de voltar ao rio onde nasceu, B de Paiva arruma as malas para voltar para Fortaleza. A despedida dele, em Brasília, está sendo organizada pelo cineasta Pedro Jorge. Será terça feira, dia 4 de novembro, no restaurante Madrid.

Dia 5 Bê estará voltando para o Ceará com a atriz Lourdinha, sua companheira inseparável dos últimos anos. Aos 82 de idade, que completa no dia 6 de novembro, deixa a marca de sua trajetória profissional no Rio, Brasília e Ceará, com repercussão nacional.
 
José Maria Bezerra de Paiva, o que tem de competência tem de humildade. Nasceu em 1932 em Fortaleza, fruto da união das famílias Oliveira Paiva e Bezerra de Menezes. O avô dele, João Francisco, mestre de ofício, pintor e escultor, foi o primeiro fotógrafo do Ceará. Morreu envenenado com produtos químicos  que usava nas revelações. Ele veio de Portugal e teve dois filhos. Um deles, Oliveira Paiva, só foi lembrado 80 anos depois de morto. A mãe dele era da família Bezerra de Menezes que está na História do Ceará.
 
O pai era jornalista e diretor da Fenix Caixeiral, até o dia em que teve a brilhante ideia de fazer uma campanha pela  “semana inglesa”. Até então o trabalho era direto, que nem cantiga de grilo. Parar aos sábados era uma audácia inadmissível. Foi demitido por ser tão criativo.

Desde menino Zé Maria era apaixonado por teatro e cinema. Seu vizinho, Tarcísio Tavares, também louco por cinema, quando ficava doente pagava o ingresso só para o Zé Maria lhe contar o filme, o que era feito teatralmente, com muita gesticulação e  ruídos onomatopaicos. Foi vendo filmes dirigidos por Cecil B de Mille que Tarcísio Tavares, o saudoso TT, teve a ideia de batizar o José Maria Bezerra de Paiva de apenas “B de Paiva”. Pegou.

Ainda menino, B de Paiva sofreu um acidente que deixou sequelas na perna direita, mas não lhe afastou  das atividades artísticas. Em 1950  estreou como autor e ator no Teatro Experimental de Arte, fundado por ele e os amigos Hugo Bianchi, Marcos Miranda e Haroldo Serra.



O problema da perna lhe perturbava e teve que pedir ajuda ao jornalista Jáder de Carvalho, que fez campanha para que ele fosse ao Rio fazer um tratamento. Em 1954, aos 22 anos, foi apresentado ao embaixador Phascoal Carlos Magno. O protetor das artes e dos artistas arranjou para ele dormir no camarim do Teatro do Estudante, na Une. Foi o primeiro contato dele com o teatro no Rio de Janeiro.

Trabalhou em mais de 500 produções para cinema, rádio, TV e, principalmente, teatro. Depois do golpe de 64 reabriu e dirigiu o teatro da Une, que havia sido destruído num incêndio. No Rio de Janeiro coordenou instituições públicas culturais e criou cursos de teatro, como o primeiro curso superior de Artes Cênicas na UniRio. Também trabalhou na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde foi reitor.

Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará, foi o criador da primeira secretaria de cultura do estado. O governador Virgílio Távora o surpreendeu dando o cargo de secretário a Raimundo Girão.

Em Brasília, onde chegou a ser coordenador da Funarte e um dos fundadores do Ministério da Cultura, foi professor da UnB e fundador da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, vinculada à Fundação Brasileira de Teatro, da qual também foi presidente em 1995. Em 1999, coordenou os assuntos culturais e artísticos da Pró-Reitoria de Extensão da UFC e a diretoria do Colégio de Direção do Instituto Dragão do Mar, além de estar ligado à Fundação Amigos do Theatro José de Alencar.
 
Como dramaturgo, escreveu, entre outras, as seguintes peças: "Complexo", "Lágrimas de um Palhaço", "Rosa Morta", "Vigília da Noite Eterna". Em parceria com o pernambucano Hermilo Borba Filho, publicou o livro "Cartinhas de Teatro".

Toda a vida profissional dele está documentada em livros, cartazes, filmes, um acervo valioso que ele guarda na fazenda do conterrâneo Geová Sobreira, numa cidade satélite aqui do Distrito Federal. O sonho de B de Paiva é conseguir em Fortaleza um local, num museu ou biblioteca, para guardar toda a história de sua trajetória profissional, um exemplo de tenacidade e talento para as novas gerações. É um dos nossos maiores artistas que não pode ser esquecido. 
 *Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação
em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ

ARTIGO (RV)

DELAÇÕES EM CADEIA
Reginaldo Vasconcelos*


A presidente Dilma Roussef ganhou a reeleição em meio a denúncias de que ela sabia das transações escusas na alta administração da Petrobrás.

Compra e venda ruinosa de algumas refinarias e superfaturamento de obras milionárias contratadas com algumas empreiteiras, com sobrepreço destinado ao partido do governo, bem como a deputados da chamada “base aliada”, tudo resultando em prejuízo na casa dos bilhões de reais ao erário nacional.

No meio da campanha ela achou por bem admitir que de fato aconteceram os “malfeitos” (mal feitos) na gestão da estatal, até aqui negadas pelo Governo, nas CPIs já instaladas, sobre acusações de um denunciante, Paulo Roberto Costa, prestigiado ex-diretor da Petrobrás que se achava encarcerado.

É que as novas denuncias estão sendo feitas diante do Ministério Público e da Justiça Federais, defluindo do acordo de delação premiada do doleiro oficial da corte, Alberto Youssef, que está preso e indiciado, e que na esteira do primeiro delator quer ir pagar a sua pena em casa.

Todos sabem que um delator nessas condições procura atenuar sua pena, e ele próprio sabe que agravaria sua situação penal se mentisse – e por isso inclusive garante que detém provas documentais irrefutáveis. Sendo assim, era forçoso que, àquela altura, certamente aconselhada pelos seus mentores políticos, a Presidente candidata tivesse de lhe dar credibilidade.

Mas dias depois “deu-se a melódia”, pois o delator premiado foi muito mais longe, afirmando taxativamente que a Presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula tinham total ciência e controle sobre os fatos criminosos.

A notícia veio a furo pela última edição da Revista Veja, que por conta disso foi atacada sem êxito por pretensões judiciais silenciadoras, o prédio da editora fisicamente agredido por militantes em São Paulo, bancas de revistas sofreram ameaças para não comercializar os exemplares.

Mas, passada a eleição, o pesadelo não passou. Yousseff vai continuar falando, e certamente provando tudo aquilo que afirma – de que a própria Presidente Dilma já reconheceu a veracidade – menos nos fatos que a atingem de forma grave e indefensável. E a Revista Veja, seguida pelas publicações congêneres de alcance nacional, vai continuar circulando e cobrindo a delação, ainda com maior empenho e minudência.

Fazer o que? Dilma Rousseff já afirmara que aprovou um dos negócios prejudiciais à Petrobrás, quando presidia o Conselho de Administração da estatal, porque lhe haviam sonegado informações essenciais – o que colocou em situação desconfortável a arraia miúda envolvida no negócio, funcionários de carreira na administração da estatal, como Nestor Cerveró e Graça Forster.

Assim, quem sabe, quando a última afirmação do doleiro estiver cabalmente comprovada, de modo a incriminar a Presidente, ela poderá afinal desvendar todos os fatos, apontando, em seu benefício, quem seriam os verdadeiros ou maiores culpados, pois não sendo petista histórica ela poderá indicar os idealizadores dessas práticas, que em termos partidários certamente estão muito acima dela na cadeia alimentar.


*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ
      

ARTIGO (WI)

HERANÇA MALDITA
Wilson Ibiapina*

Quem derrotou Aécio: os mineiros, os nordestinos ou os que deixaram de votar? Dilma foi eleita com os  votos da minoria do eleitorado.  Obteve 54.501.118 contra 51.041.155 dados a Aécio. A diferença foi de 3.459.963 votos. Como o total dos eleitores é de 142.821.348 pessoas, ela foi eleita por apenas 38% deles. Votos em branco: 1.921.819. Votos nulos 5.219.787.

Como 30.137.479 eleitores preferiram não votar, temos um total de 37.279.085 de brasileiros que não votaram em nenhum dos candidatos. Somando os que votaram em Aécio e os que não quiseram votar, temos 83.100.453 eleitores que Dilma vai precisa conquistar. Aécio perdeu em Minas, sua terra natal, e Dilma em São Paulo, berço do PT.

Nas redes sociais os nordestinos são responsabilizados pela vitória de Dilma, ressaltando o preconceito contra o Norte e o Nordeste. Já o analista político da Folha e Veja, Reinaldo Azevedo, diz que “se Minas tivesse dado a Aécio a proporção que lhe deu São Paulo, a fatura estaria liquidada. É claro que, matematicamente, não faz sentido atribuir a derrota a um único estado. Ocorre que estamos diante de uma questão política. A expectativa era que Minas votasse esmagadoramente com Aécio.” 

Já o jornalista Carlos Heitor Cony, na crônica que sai amanhã, na Folha de São Paulo, “Dilma contra Dilma”, lembra que nunca na história republicana um antecessor deixou tantos problemas para seu sucessor. Dilma, que não cumpriu grande parte de suas promessas, inclusive a da reforma política, terá um grande abacaxi para descascar, deixado por ela mesmo. O veterano cronista político prevê que teremos muitas confusões pela frente.


 *Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação
em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ

ARTIGO (RV)

VITÓRIA DE PIRRO
Reginaldo Vasconcelos*


Neste dia 26 de outubro, votaram no candidato Aécio Neves, do PSDB, 51 milhões de brasileiros com registro eleitoral, contra os 54 milhões que preferiram manter o Partido dos Trabalhadores no Governo Federal. Além desses, 37 milhões não votaram na candidata à reeleição Dilma Roussef, do PT, e nem no seu opositor, porque anularam o voto de algum modo.

Esses que não votaram em ninguém são aqueles que se decepcionaram com o partido do Governo, mas para os quais Aécio Neves era um poste, e não merecia confiança. Então, no fim e ao cabo, são 88 milhões de eleitores insatisfeitos com o PT e sua base.

É assim que fica o Brasil pós-eleições. Grande parte do povo insatisfeita, toda a imprensa livre com a pulga atrás da orelha, uma nuvem de tempestade sobre a economia nacional, outro temporal formado contra o Governo, pelas graves denúncias de corrupção.

Por outro lado, a oposição ao Governo do PT, que estivera enfraquecida nesses últimos doze anos, volta a ganhar alento, com a eleição de combativos próceres do PSDB para a Câmara e o Senado, e para o governo de vários estados importantes. Eles estão com quatro pedras na mão, e a Presidente Dilma é a vidraça.

Sendo assim, a fórmula que a realidade atual apresenta ao País é explosiva. E certamente por isso a Presidente Dilma sai da refrega clamando por “diálogo”. Vitoriosa, mas moralmente ferida pelo escândalo da Petrobras e endividada pelas promessas de campanha, que incluem punir os corruptos de seu partido e de sua base de aliados. Resta esperar o resultado. Que Deus se apiede de sua alma.



*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

CRÔNICA (WI)

UMA ELEIÇÃO DO BARULHO
Wilson Ibiapina*

Clidenor de Freitas Santos, presidente do IPASE no governo de João Goulart, candidatou-se a prefeito de Teresina, na eleição de 1954. Na campanha, distribuía arraia-papagaio, mas só com a linha. Quando a meninada perguntava pelo rabo ele dizia: “Peça ao Agenor”. Era seu adversário, que acabou ganhando. 

Além dessas histórias que entraram no folclore político, as campanhas do passado eram marcadas por slogans e marchinhas que identificavam os candidatos e que até hoje soam na cabeça dos eleitores mais antigos: “O homem da vassoura vem aí...” ou “Bote fé no velhinho/ Ele sabe o que faz...”.

Essa, agora,  realmente, foi uma eleição atípica, a começar pelos nomes de alguns candidatos, dignos de entrar na história pela excentricidade, pela extravagância.  São exemplos,  Botelho Pinto, candidato a deputado estadual pelo PSC do Rio; o petista baiano Cara de Hamburger e o cearense Zé Macedo Acorda Cedo, do PTN.  Os aventureiros apareceram em todos os Estados. Agora, são famosos, artistas, atletas que chegam de paraquedas para disputar o voto. 

Em 1950, a imprensa de Fortaleza noticiava a chegada à capital cearense do Diretor da Divisão de Administração do Sesi, no Rio. Dr. Antônio Horácio Pereira, candidato a deputado federal. Foi considerado pela imprensa como pioneiro. Foi o primeiro paraquedista a desembarcar por lá, com a mala cheia de dinheiro para trocar por votos. O jornalista Ciro Saraiva lembra que, em Quixeramobim, o aventureiro foi recebido pelos pais dele, Raimundo Cristino e dona Amanda, que ganhou logo uma nota de mil cruzeiros, daquelas que exibia a efígie de Pedro Álvares Cabral. Dona Amanda preparou-lhe um almoço de galinha guisada. A partir daí, em toda eleição, dona Amanda lamentava: “Antônio Horácio não apareceu mais. Só foi eleito uma vez. Outros Antônios continuam por aí, sem projeto, pedindo voto.

Na eleição de 2014 houve uma campanha sórdida, como a chamou Aécio Neves. O corpo a corpo que tomou conta das redes sociais entre candidatos e eleitores acabou  com muitas amizades e foi preciso a intervenção do TSE para acalmar os ânimos. O cientista político Marco Aurélio Nogueira disse, em entrevista à Época, que o baixo nível da campanha refletiu a desqualificação dos partidos.

Estiveram, também, na mira dos críticos as pesquisas dos institutos de opinião, que  caíram em descrédito. O jornalista Augusto Nunes colocou lá no blog dele, na Veja: “Proponho aos amigos da coluna que esqueçam as sopas de algarismos espertos servidas pelas fábricas de porcentagens. Como se viu no primeiro turno, todas se tornam intragáveis depois da abertura das urnas. ”E fez cálculos para mostrar que os institutos de pesquisas erraram”.

A urna eletrônica afastou a possibilidade de fraudes, como as que ocorriam no tempo das cédulas individuais. No interior as mocinhas, à serviço dos coronéis, pediam ao matuto para ver a chapa que ele ia colocar na urna. Inocentes, eles entregavam a cédula que era beijada, deixando marcas de batom que anulavam o voto. Diz a lenda que em muitas cidades, o eleitor já recebia a chapa dentro de um envelope para ser colocado na urna.

– Em quem eu to votando, coronel?
– Cala a boca! Tu não sabe que o voto é secreto?

A urna eletrônica fez desaparecer também a contagem manual dos votos e com ela as histórias de juízes corruptos: 

– O juiz daqui é corrupto? – pergunta um candidato, querendo mais votos para se eleger.

– É, mas  já foi comprado.

História de jacaré comer a urna que caiu no rio quando era transportada de barco no Norte do País, nunca mais vai ser ouvida.  Num passado recente, a apuração só começava no dia seguinte à eleição. A polícia e fiscais dos partidos passavam a noite pastorando as urnas. O resultado, que levava semanas, hoje sai quase na mesma hora, no mesmo dia, tudo via satélite, computador. Infelizmente, só a segurança que a informática tem dado ao pleito, não é suficiente. O conselheiro digital dos congressistas americanos, Adam Sharp, constata que a tecnologia evoluiu, mas os políticos continuam os mesmos.

 *Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação
em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ