quinta-feira, 7 de maio de 2015

ARTIGO (RV)

FUTEBOL NÃO É COISA SÉRIA;
A PETROBRÁS DEVERIA SER.
Reginaldo Vasconcelos*


Futebol é coisa séria para os seus profissionais: para os jogadores, para os treinadores, para os gandulas, para os repórteres desportivos. Mas futebol é apenas brincadeira para os consumidores desse esporte, os torcedores dos times que assistem aos jogos e vão aos estádios, que são milhares de vezes mais numerosos que os que dele vivem e precisam. Futebol é só brincadeira. Nada mais que brincadeira.

Brincadeira, como se sabe, é divertimento, confraternização e alegria. Brincadeira, por mais que envolva competição lúdica, não comporta rivalidade odiosa nem confronto violento. Torcendo pelo seu time, abraçando os companheiros de torcida, agitando bandeiras, soltando fogos de artifício, fazendo alegres carreatas, o sujeito “desopila”, se abstrai dos problemas, dos maus negócios, do salário baixo, dos desenganos da política, das doenças em família.

Mas futebol não é pátria, não é religião, não é família, e não afeta a honra nem a moral do torcedor. Se o time perdeu o jogo ou o campeonato, o torcedor, de qualquer maneira, ganhou a oportunidade de torcer, que é sempre prazerosa, e ganhou a grande expectativa de vê-lo vencer na rodada seguinte, porque a derrota de hoje é o tempero da vitória de amanhã. Sim. Um time que ganhasse sempre, todos os jogos, com toda a certeza esse time não teria torcedores, porque não teria graça nenhuma.

Aqueles que vivem do futebol, tirando dele o seu sustento, são esses que alimentam a paixão do povo pelo velho “ludopédio”, e portanto lhes caberia trabalhar para que o torcedor inculto entenda a verdadeira índole desportiva.

Pelo contrário, a imprensa especializada resolveu alterar a denominação tradicional e pacífica de “estádio” para a pecha grotesca de “arena”, local apropriado para batalhas sangrentas.

A propósito, um dia desses via-se reportagem de  TV mostrando torcedores se digladiando ao final de um jogo, dentro de um estádio de 
futebol, que o repórter designava com “arena” – e então se verificava o quanto esse termo combina com a violência de hoje em dia. Tudo muito lamentável.

Torcida não pode virar gangue, de modo que os seus componentes devem ser desestimulados pela mídia a praticar o banditismo. Aliás, pelo que se tem ouvido dizer pela imprensa, o banditismo vêm se adonando das torcidas, como já faz com o grande carnaval do Sudeste, contaminado por dinheiro ilícito da contravenção e da traficância.

No Brasil é assim. Até a sacrossanta Cruz Vermelha, instituição internacional benemérita, criada há cem anos na Suíça e com sede em Genebra, com a finalidade de socorrer vítimas de guerras civis e de catástrofes naturais, neste nosso país ela se corrompeu completamente, desviou recursos, descaminhou doações feitas pela população para os desabrigados de Petrópolis, atingidos por enxurrada colossal no ano de 2011.

E a coisa vai assim nesta Terra de Santa Cruz. Uma mera brincadeira desportiva toma foros de coisa séria, para justificar conflitos sangrentos, enquanto coisas sérias não têm a menor seriedade. Por exemplo, políticos indicam os ministros integrantes do Supremo Tribunal Federal, corte competente para julgar eles próprios, por prerrogativa de sua função, quando indiciados por delitos. Não... Isso não pode ser levado a sério. 

Mas não é só isso: governantes no exercício do cargo podem concorrer à reeleição, sem se afastar do poder, concorrendo com os demais candidatos usando a seu favor toda a máquina do Estado. Isso parece uma piada.

Como se não bastasse, empreiteiras, autorizadas por lei, fazem doações de campanha para eleger os políticos que, uma vez eleitos, as contratarão para a execução de obras públicas... Convenhamos: não há a mínima seriedade nisso!

A nossa Seleção Brasileira de Futebol, por seu turno, o grande orgulho desportivo do povo, uma “brincadeira” que de fato envolve a dignidade nacional face ao mundo,  em 2014 foi formada e treinada de forma irresponsável, para ser usada como propaganda de Governo, e naufragou fragorosamente nos estádios brasileiros. É grave!

Porém isso é a ponta do iceberg. A Petrobrás, o maior orgulho empresarial da Nação, administrada por um time moleques, cooptados por políticos ladrões, vira uma brincadeira de mau-gosto. Sessenta bilhões de prejuízo... Isso sim é mesmo gravíssimo.

Dizem que não foi o presidente francês Charles de Gaulle quem sentenciou que “o Brasil não é um país sério”, mas um diplomata da embaixada brasileira na França, durante o Governo João Goulart. Seja como for, convenhamos, o autor da frase tinha muita razão no que afirmou – até porque, cada vez mais, esse é o conceito que o nosso país constrói lá fora.

*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ

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