FUTEBOL NÃO É COISA SÉRIA;
A PETROBRÁS DEVERIA SER.
A PETROBRÁS DEVERIA SER.
Reginaldo Vasconcelos*
Futebol é coisa séria para os seus
profissionais: para os jogadores, para os treinadores, para os gandulas, para
os repórteres desportivos. Mas futebol é apenas brincadeira para os consumidores
desse esporte, os torcedores dos times que assistem aos jogos e vão aos
estádios, que são milhares de vezes mais numerosos que os que dele vivem e
precisam. Futebol é só brincadeira. Nada mais que brincadeira.
Brincadeira, como se sabe, é divertimento,
confraternização e alegria. Brincadeira, por mais que envolva competição
lúdica, não comporta rivalidade odiosa nem confronto violento. Torcendo pelo
seu time, abraçando os companheiros de torcida, agitando bandeiras, soltando
fogos de artifício, fazendo alegres carreatas, o sujeito “desopila”, se abstrai
dos problemas, dos maus negócios, do salário baixo, dos desenganos da política,
das doenças em família.
Mas futebol não é pátria, não é religião, não
é família, e não afeta a honra nem a moral do torcedor. Se o time perdeu o jogo
ou o campeonato, o torcedor, de qualquer maneira, ganhou a oportunidade de
torcer, que é sempre prazerosa, e ganhou a grande expectativa de vê-lo vencer
na rodada seguinte, porque a derrota de hoje é o tempero da vitória de amanhã. Sim.
Um time que ganhasse sempre, todos os jogos, com toda a certeza esse time não
teria torcedores, porque não teria graça nenhuma.
Aqueles que vivem do futebol, tirando dele
o seu sustento, são esses que alimentam a paixão do povo pelo velho “ludopédio”,
e portanto lhes caberia trabalhar para
que o torcedor inculto entenda a verdadeira índole desportiva.
Pelo contrário, a imprensa especializada resolveu
alterar a denominação tradicional e pacífica de “estádio” para a pecha grotesca
de “arena”, local apropriado para batalhas sangrentas.
A propósito, um dia desses via-se
reportagem de TV mostrando torcedores se
digladiando ao final de um jogo, dentro de um estádio de
futebol, que o
repórter designava com “arena” – e então se verificava o quanto esse termo
combina com a violência de hoje em dia. Tudo muito lamentável.
Torcida não pode virar gangue, de modo que
os seus componentes devem ser desestimulados pela mídia a praticar o
banditismo. Aliás, pelo que se tem ouvido dizer pela imprensa, o banditismo vêm
se adonando das torcidas, como já faz com o grande carnaval do Sudeste,
contaminado por dinheiro ilícito da contravenção e da traficância.
No Brasil é assim. Até a sacrossanta Cruz
Vermelha, instituição internacional benemérita, criada há cem anos na Suíça e
com sede em Genebra, com a finalidade de socorrer vítimas de guerras civis e de
catástrofes naturais, neste nosso país ela se corrompeu completamente, desviou
recursos, descaminhou doações feitas pela população para os desabrigados de
Petrópolis, atingidos por enxurrada colossal no ano de 2011.
E a coisa vai assim nesta Terra de Santa
Cruz. Uma mera brincadeira desportiva toma foros de coisa séria, para
justificar conflitos sangrentos, enquanto coisas sérias não têm a menor
seriedade. Por exemplo, políticos indicam os ministros integrantes do Supremo
Tribunal Federal, corte competente para julgar eles próprios, por prerrogativa
de sua função, quando indiciados por delitos. Não... Isso não pode ser levado a
sério.
Mas não é só isso: governantes no exercício
do cargo podem concorrer à reeleição, sem se afastar do poder, concorrendo com
os demais candidatos usando a seu favor toda a máquina do Estado. Isso parece
uma piada.
Como se não bastasse, empreiteiras,
autorizadas por lei, fazem doações de campanha para eleger os políticos que, uma
vez eleitos, as contratarão para a execução de obras públicas... Convenhamos:
não há a mínima seriedade nisso!
A nossa Seleção Brasileira de Futebol, por seu
turno, o grande orgulho desportivo do povo, uma “brincadeira” que de fato
envolve a dignidade nacional face ao mundo, em 2014 foi formada e treinada de forma
irresponsável, para ser usada como propaganda de Governo, e naufragou
fragorosamente nos estádios brasileiros. É grave!
Porém isso é a ponta do iceberg. A
Petrobrás, o maior orgulho empresarial da Nação, administrada por um time moleques,
cooptados por políticos ladrões, vira uma brincadeira de mau-gosto. Sessenta
bilhões de prejuízo... Isso sim é mesmo gravíssimo.
Dizem que não foi o presidente francês Charles
de Gaulle quem sentenciou que “o Brasil não é um país sério”, mas um diplomata da embaixada brasileira na França, durante o Governo João Goulart. Seja como for, convenhamos, o autor
da frase tinha muita razão no que afirmou – até porque, cada vez mais, esse é o conceito que o nosso país constrói lá fora.
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