segunda-feira, 28 de março de 2022

ARTIGO - Eu Na Cúpula (AF)

 EU NA CÚPULA
Altino Farias* 



Na tarde do domingo, dia 12 de março, recebi uma chamada de vídeo pelo Whatsapp do amigo Nélson Duarte. Como a ligação não completou, e eu sabia que ele estava reunido com seus pares da Cúpula da Cachaça na Pousada Macaúva, em Analândia, São Paulo, participando do V Ranking da Cúpula da Cachaça, achei que tivesse sido uma chamada acidental e desconsiderei. Minutos depois nova chamada, devidamente atendida, e aí veio a grande surpresa: um convite para ser membro da Cúpula, convite esse aceito de pronto e com muita honra.

 

Fundada há dez anos, a Cúpula da Cachaça é um confraria de admiradores, apreciadores e especialistas em cachaças, e tem por finalidade “incentivar o desenvolvimento e a profissionalização dos setores de aguardente de cana, cachaça e demais destilados brasileiros, e defender e trabalhar pela valorização e incremento da imagem pública da cachaça, destilado nacional brasileiro”. Atualmente composta por quatorze membros de todo o Brasil, a cada dois anos ela realiza, dentre outras atividades, um ranking que elege, ao final do concurso de três etapas, as cinquenta melhores do país. 

Bem, na sequencia, o Sr. Manoel Agostinho, atual Presidente da Cúpula, entrou em contato comigo via e-mail formalizando o convite através de documento eletrônico, o qual foi respondido, positivamente, de imediato. 

“... Assim sendo, Altino, temos a honra e o prazer de convidá-lo a vestir a nossa camisa, a camisa do legítimo destilado brasileiro, e se tornar, a partir da data de hoje, membro efetivo da Cúpula da Cachaça”.

 


Finalizando meu acesso à Cúpula, recebi sábado, dia 23 de março, das mãos do amigo Nélson Duarte, a camisa promocional da entidade, simbolizando minha posse como membro efetivo. Um forte abraço e um brinde selaram esse momento. 

Desde a primeira vez que ouvi falar na Cúpula da Cachaça acompanhei seus passos de longe, sempre com respeito e admiração, tanto à entidade em si, quanto aos nomes que a compõe hoje, e a compuseram ao logo do tempo. 

Eleito por aclamação, com mais dois grandes nomes da cachaça, Illan Oliveira e Nina Bastos, modestamente, jamais imaginei, nem em meus melhores sonhos, que um dia estaria lá, entre os tais integrantes da Cúpula, e agora sou um deles!

Sim, isso merece um brinde, o qual eu compartilho com todos os amigos particulares e clientes da Embaixada da Cachaça, que têm me acompanhado nessa trajetória. TIM, TIM!


 


NOTA DO EDITOR 

A cachaça é o único destilado nacional. Está para o Brasil como o uísque está para a Escócia, o gim para a Inglaterra, o saquê para o Japão, a tequila para o México, o Rum para o Caribe e a vodca para a Rússia – bebidas que são os respectivos símbolos nacionais, no campo do etilismo gastronômico. 

Hoje a cachaça – que se não for produzida no Brasil se denomina genericamente “aguardente de cana” – é item da nossa pauta de exportação, à medida que a indústria se moderniza e sofistica, e que a qualidade da bebida se aprimora, elaborada com canas especiais e métodos naturais, resguardada a excelência dos rótulos mais tradicionais. 

O engenheiro Altino Farias, Membro Titular da ACLJ, é o cearense mais engajado na valorização desse produto genuinamente nacional, trabalhando contra a visão estigmatizada da bebida, ainda considerada por alguns como grogue popular de baixa qualidade – mesmo labéu que todas as demais bebidas citadas superaram, cada uma a seu tempo, em seus países. 

Altino fundou a Embaixada da Cachaça em Fortaleza, e hoje já se destaca no movimento nacional de produtores, comerciantes e especialistas na bebida.


domingo, 27 de março de 2022

NOTA ACADÊMICA - Reunião Especial (Dez Homens e Uma Setença)

 DEZ HOMENS 

UMA SENTENÇA*


Neste chovido sábado, 26 de março, se viabilizou a reunião presencial da ACLJ, na Tenda Árabe, com a participação de sete acadêmicos: Rui Martinho Rodrigues, Vicente Alencar, Reginaldo Vasconcelos, Sávio Queiroz Costas, Altino Farias, Adriano Vasconcelos e Humberto Ellery.



Desta vez, a dificuldade foi para os participantes virtuais, em virtude da instabilidade da Internet. De toda maneira, ainda compareceram três dos nosso confrades algurais: Wilson Ibiapina (Brasília-DF), Stênio Pimentel (Rio de Janeiro-RJ) e Murílio Vasconcelos (Porto Velho-RO).

Porém, os três acadêmicos se conectaram por via digital, embora precariamente, com o Presidente Reginaldo, e Wilson Ibiapina apresentou a moção de que fosse incluído o compositor Rodger Rogério entre os agraciados com a Medalha Evaldo Gouveia, a ser outorgada pela ACLJ, no próximo dia 04 de maio, aos artistas sônicos Raimundo Fagner, Ednardo e Fausto Nilo.


Essa mesma ponderação já fora apresentada pelo confrade Ulysses Gaspar, que ainda incluía em sua proposta a extensão da homenagem a outros nomes do dito "Pessoal do Ceará", como os das cantoras Teti e Amelinha, bem como, in memoriam, ao do saudoso Belchior, cuja filha caçula, Vannick, recentemente se lançou como cantora.

O Presidente Reginaldo esclareceu ao Ibiapina, como já fizera ao Ulysses, que a Decúria Diretiva instituiu a Medalha Evaldo Gouveia, cujo paraninfo é o maior compositor cearense, que se projetou nacionalmente, destinada especificamente aos três compositores cearenses vivos que também lograram obter renome nacional – e que, por isso mesmo, tiveram conexão pessoal com Evaldo Gouveia.

Mas o pleito dos dois acadêmicos, que não é desprezível, será aproveitado pela Decúria Diretiva, organizando para a próxima Assembleia Geral de Fim de Ano uma homenagem especial a todo o "Pessoal do Ceará"  – inclusive Belchior, que a cantora Vannick poderá representar. Desde logo foram nomeados curadores oficiais do projeto os confrades Ulysses Gaspar e Wilson Ibiapina, que têm relações pessoais com os homenageados.

 
Na reunião presencial deste sábado foram discutidos detalhes do roteiro cerimonial da solenidade do dia 04 de maio, bem como, como é tradicional, foi submetido ao colegiado o discurso que será proferido pelo Presidente na abertura do evento.

A experiência gastronômica se consistiu em uma saborosa macarronada a Gravojoma: espaguete grano duro ao molho de camarão, flavorizado com conhaque e vinho do Porto, saborizado com limão e manjericão, servido com torradas gratinadas.


 

 *Paródia do título para o Brasil da peça cinematográfica americana "12 Homens e Uma Sentença", produzida em 1957 (12 Angry Men), dirigida por Sidney Lumet e roteirizado por Reginald Rose. 



ARTIGO - Os Sonânbulos (RMR)

 OS SONÂMBULOS
Rui Martinho Rodrigues*

 

A Primeira Guerra Mundial (IGM) foi estudada por muitos pesquisadores. Os líderes das grandes potências, na ocasião da conflagração, estariam desligados da realidade (Christopher F. Clark, 1953 – vivo), em “Os sonâmbulos: como eclodiu a Primeira Guerra Mundial”. O título sugere a interpretação do autor para a conflagração. A perda de contato com os fatos acontece repetidas vezes ao longo da História. Barbara Tuchman (1912 – 1989), em “A marcha da insensatez” enumera situações em que governos caminharam para o desastre, apesar das advertências, excluídos os casos em que as decisões foram tomadas apenas por um chefe absoluto, limitada aos governos em que havia espaço para a divergência. 


O momento atual pode ser mais uma marcha insensata. É semelhante aos dias que antecederam a IGM, pela leitura de “Os canhões de agosto”, outra obra de Tuchman, que é uma interpretação segundo a qual os chefes de governo, na IGM, tornaram-se prisioneiros de uma retórica e de algumas decisões adotadas pela oratória política. A tragédia pode se repetir. A humanidade é trágica e farsante. A repetição é comum, com licença de Karl H. Marx (1818 – 1883). A política e a guerra têm a farsa como tática. A repetição de interesses e paixões humanas; de fatores geográficos que levam ao confronto pelo controle de estreitos nas rotas de navegação e dos desfiladeiros estratégicos e outros fatores recorrentes promovem a repetição histórica. 

Alianças contribuíram para a guerra generalizada em 1914. A ilusão de que a integração econômica, gerando interdependência, fortaleceria a paz foi um erro. A Alemanha dependia de grãos e minérios da Rússia. Isso não impediu a guerra entre o os impérios do Czar e do Kaiser. A interdependência aprofundou o medo e levou ao conflito. A retórica em 1914 defendia o “direito” da Alemanha a um pedaço da África e da Ásia (outras potências tinham colônias). A França deveria recuperar a “honra nacional” retomando a Alsácia-Lorena. A Rússia era a “protetora dos eslavos”. A Sérvia lutaria pelos bósnios de etnia eslava. 

Hoje a retórica é democracia, mudança climática (causada pelos outros), a governança mundial para combater terrorismo, tráfico de drogas, pessoas e armas, corrupção de políticos e empresários, a superação da soberania de nações (fracas) e o fortalecimento de organismos supranacionais. Tudo isso aprisiona políticos e dificulta acordos. 

A situação financeira, depois da bolha imobiliária em 2008, que foi tratada pelos bancos centrais dos EUA, Europa e Japão, com expansão dos meios de pagamento, gerou uma bolha de tudo, que a pandemia fez crescer exponencialmente. Guerra, sanções econômicas e despesas militares ameaçam a cadeia de produção e distribuição de bens, a inflação pela restrição da oferta, o desequilíbrio fiscal e a bolha financeira crescem. 

Erros de “sonâmbulos”, sem contato com a realidade? Ou estratégia arriscada para substituir o dólar por uma moeda, talvez universal e virtual, criar um governo das grandes potências como alternativa ao desastre nuclear? Seria o programa dos intelectuais, megaempresários e políticos do Collegium Internacional, defendido em “O mundo não tem mais tempo a perder” (coord. por Sacha Goldman), com uma só moeda, um só governo, um só exército, uma só Filosofia e uma só religião (liberdade de consciência excluída em nome da paz), invocando ou não “A paz perpétua: um projeto filosófico” Immanuel Kant (1724 – 1804). O calote da dívida das grandes potências viria junto com o grande reinício?

 

terça-feira, 22 de março de 2022

CRÔNICA - Na Farmácia do Seu Almeida.


 

ARTIGO - Eles São a Constituição (RMR)

ELES SÃO
A CONSTITUIÇÃO
Rui Martinho Rodrigues*


O STF, com o neoconstitucionalismo e a Nova Hermenêutica Constitucional, é uma Assembleia constituinte sem a legitimidade das urnas. Alega preservar textos legais ao modificar o significado de normas escritas fazendo “interpretação conforme [o entendimento do STF]” modificando o sentido das normas para harmoniza-las com a Constituição. 

Pode também valer-se da “mutação constitucional”, mudando o significado das palavras em nome das transformações sociais. O Macunaíma não inventou nada disso. Mas o personagem de Mário de Andrade (1893 – 1945) abusa dos contorcionismos hermenêuticos. 

O STF discutiu se “vedado” poderia significar “permitido”, ao examinar a possibilidade de mais uma reeleição dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Decidiu, contrariamente a tal interpretação, por seis votos a cinco. Mas o cidadão não pode alegar desconhecimento da lei. 

Saber o significado das normas, porém, é impossível, quando as palavras podem ter significados insuspeitos para os próprios juristas do STF, como se pode concluir pelas divergências entre eles, não sobre doutrinas jurídicas, mas sobre o significado de palavras. 

A obra “Sereis Como Deuses”, organizada por Cláudia R. de Morais Piovezan, que reúne treze artigos acadêmicos, aponta transformações semânticas no malabarismo hermenêutico do STF, que qualifica como corrupção da linguagem. 

A faculdade de ressignificar palavras é um poder ilimitado. A interpretação extensiva (quando o interprete considera que legislador disse menos do que deveria e alarga o alcance da norma) e a integração mediante analogia in malam partem (prejudicial ao réu) são proibidas. Os tipos penais são taxativos (não exemplificativos), só podem ser criados por lei e seguem o princípio da anterioridade. Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (CF/88, art. 5º, inc. XXXIX)). Mas o STF criou tipo penal (homofobia e transfobia) por analogia com racismo, reformou a CF/88 e invadiu a competência dos outros poderes.


O STF agiu como poder constituinte reformador. Mudou a CF/88 sem ser representativo. O Legislativo para reformar a Constituição deve obedecer à exigência de duas votações em cada casa do Congresso, maioria qualificada de três quintos e outros obstáculos. O STF reforma a CF/88 sem nada disso. A segurança jurídica depende da relativa estabilidade das normas. A revolta dos plebeus romanos (494 a.C.), no Monte Aventino, exigiu leis escritas, segurança jurídica. Texto indecifrável não é segurança. Sem segurança jurídica não há direito. 

Poder sem representatividade tem arrimo no Direito Divino? Seríamos uma teocracia? Na Inglaterra a rainha é a chefe da Igreja Anglicana, mas a Inglaterra não é uma teocracia, não é governada em nome de Deus, a rainha chefia a igreja, não o governo. E não fala como porta-voz de Deus. O STF não representa o povo, nem representa a moral social ou uma ordem cósmica que seria igual para todos os países. Então representa uma religião, como em Thomas O’Dea, na obra “Sociologia da religião”, algo dotado de totalidade, radicalidade e transcendência. 

A proposta confessional do “Collegium International”, na obra “O mundo não tem mais tempo a perder” (coord. Sacha Goldman), em harmonia com as metas da ONU é de uma religião universal. O ministro Luiz Fux citou a ONU como inspiração do STF (acima da CF/88?). O ex-ministro Aires Brito elogiou o STF por “arejar a sociedade”. Ministros são oráculos, dirigentes políticos, guias espirituais. São deuses, não juízes.

domingo, 20 de março de 2022

NOTA ACADÊMICA - Reunião Especial (Quatro Homens e Um Destino)

 QUATRO HOMENS
E
UM DESTINO


Neste chovido sábado, feriado de São José, não se viabilizou a reunião presencial da ACLJ, pois que grande parte dos convivas regulares apresentou motivo-viagem ou conveniências sociais para não participar. Sávio Queiroz, Arnaldo Santos, Adriano Vasconcelos, Vicente Alencar. 

Porém, três Membros Correspondentes se conectaram com o Presidente Reginaldo por via digital, quais foram Stênio Pimentel, do Rio de Janeiro-RJ, Dennis Clark, de Maringá-PR e Maurílio Vasconcelos, de Porto Velho-RO. Foram abordados assuntos masculinos como as mulheres, a maturidade, os divórcios, os casamentos.



Mas o destino da ACLJ foi o assunto principal da reunião, sobre esses onze anos de existência da entidade, que se completarão em maio próximo, e que serão desta vez comemorados em Assembleia Geral presencial, após dois anos de aniversários restritos ao meio virtual do nosso Blog, em face das restrições sanitárias impostas pela Covid-19.

A metade conspícua e circunspecta das fisionomias captadas no mosaico fotográfico ilustra as análises filosóficas dos assuntos paralelos que transitaram pela estrada vicinal das discussões, enquanto os rostos efusivos denotam o trânsito pela BR das temáticas acadêmicas, rodovia ampla que nos motiva a percorrer.

quinta-feira, 17 de março de 2022

ARTIGO - Os Russos e a Teoria de Hertland (LA)

 OS RUSSOS E A
TEORIA DE HEARTLAND
Luciara Aragão*
 

 

Em suas origens, como quer o geógrafo e especialista em geoestratégia e geopolítica, Sir Halford John Mackinder (1861-1947), os russos viviam agrupados e protegidos nas florestas, e para garantir a sua própria segurança iniciaram conquistas, desde a Alta Idade Média aos primórdios da guerra moderna. Nas florestas, com seus inimigos emboscados nas estepes, envolveram-se com o animismo e a religião. 

A longa e persistente presença de mongóis com suas hordas douradas na Moscóvia medieva, e as hordas azuis nas Ásia Central, negou aos russos a experiência renascentista, mas conferiu aos ortodoxos eslavos uma vigorosa reação, que os tornou capazes de resistir ao jugo mongol e ao aumento do território. Noutras palavras, a aceitação da totalidade religiosa e comunista russa remonta a esta época de desamparo nas matas e junto às estepes, incentivando conquistas, “habituando-os a privações e afligindo-os com um medo paranoico de invasões”. “(March. G Patrick. Eastern Destiny: Russia e Asia and the North Pacific Praeger ed., 1996 p.18)”.

Mackinder formulou (1904), uma teoria que apontava para o jogo político de controlar territórios aumentando o poder econômico e o apoio militar. Chamou essa teoria de Heartland (coração da terra). O domínio dos mares era então essencial ao domínio britânico, e por julgar esta posição ameaçada, aprofundou-se na teoria criando uma zona, abrangendo as áreas agrícolas russas até a Ásia Central e chegando às planícies da Sibéria, rico território com recursos como carbono e minerais. Essa área interligada por ferrovias seria uma chave de poder

Na conferência de Versailles, pós Primeira Grande Guerra, a promessa era redesenhar as fronteiras sob a égide democrática e a extinção das guerras. A realidade geográfica poderia ceder espaço para que a Rússia ou a Alemanha transformassem a região em base militar, levando ao domínio da África e da Eurásia. Na prática, Europa e Rússia deveriam, pois manterem-se divididas, reconhecendo-se que o domínio do leste da Europa leva ao domínio de Heartland, e daí ao governo do mundo inteiro (Mackinder, Ideais Democráticos e a Realidade – Cósimo Classics reedição de 2020). Historicamente, o primeiro grande império da Rússia e mesmo do corpo político do leste da Europa foi o principado de Kiev (fins do Século XIX), o que permitiu um contato regular com o Império Bizantino ao sul, facilitando a conversão dos russos ao cristianismo ortodoxo. 

Em termos demográficos, Kiev foi um mix de eslavos orientais nativos e de vikings escandinavos vindos pelos rios que desaguavam ao norte. Os solos pobres impuseram a conquista de terras mais amplas para assegurar os víveres, delineando um império que reuniu vikings e bizantinos – “a Rússia como um conceito geográfico cultural nasceu daí” (Kaplan, A Vingança da Geografia-RJ, Elsevier, 2013). 

A invasão dos mongóis destruiu a primeira tentativa significante de expansão imperial na Eurásia. Aos poucos, deslocou-se para o Norte, na direção de cidades como Smolensk, Novgorod, Vladmir e Moscou, daí despontando mais forte em fins da Idade Média. Caracterizada no período Medieval como autocrata e até paranoica, “haja vista a pressão mongol” a proeminência de Moscou firmou-se na sua vantajosa posição comercial na rota de embarcações entre os rios da bacia do Médio e Alto Volga. 

Para Mackinder, a geografia é uma ponte entre as ciências naturais e as humanas, que plasma o povo russo e estuda os efeitos do “Earth’s Geography” na política das relações internacionais. Em “The Geographical Pivot of History”, submetida ao Royal Geographical Society, Londres, apresenta a sua teoria, Hearthlander, a qual, a partir da realidade geográfica, engloba o interior da Ásia e o oeste da Europa, tornando a região um centro estratégico do mundo. 

A Primeira Grande Guerra, com a sua organização de fronteiras (que influencia a geopolítica até hoje), pedia precauções. Para levar avante os ideais de democracia e a extinção das guerras, recomendava o fechamento de portas, evitando que Rússia e Alemanha dominassem o Hearthlander, criando uma base militar gigante. Seria como fechar um mar de forças, pois quem domina o Hertlander também dominará a “ilha do mundo”.

Com os nazistas, o Heartland de Mackinder foi estudado pelo geógrafo Carl Haushofer, transformando-a numa estratégia, com o principal objetivo de atingir o império britânico. Sua teoria interessou a Ruldolf Hess, membro do partido nazista. Na tentativa de tomada do poder (1923), Hess e Hitler foram presos e Haushofer foi visitá-los, oferecendo aulas sobre o assunto. 

O sonho era unir a Alemanha, depois da guerra, ao Japão e à Rússia, anulando o poder naval britânico. Ele celebrou o pacto de não agressão, firmado entre Alemanha e Rússia, e suas ideias, extraídas de Mackinder, foram usadas também pelos americanos. A Foreign Affair lhe consultou sobre os rumos da Segunda Grande Guerra e ele afirmou que se a União Soviética saísse como vencedora da Alemanha chegaria a ser a grande província terrestre do mundo. O colapso nazista não invalidou a teoria de Mackinder e pressagiou o enfrentamento Leste-Oeste da Guerra Fria. Com a absorção de países do leste europeu a União Soviética passou ao domínio. Com o poder soviético em expansão, o diplomata e historiador George Kennan sugeriu a contenção da expansão do domínio soviético, a partir do mercado simbólico descentrado e multipolar. 

Com o falecimento de Mackinder (6 de março de 1947), Truman, falando ao Congresso, pediu a contenção da URSS e o apoio dos países que poderiam ser incorporados na sua expansão. Várias bases militares foram construídas em volta dos blocos dominados, política vista como “imperialista” e reeditada em nossos dias, sob os auspícios da União Europeia e dos Estados Unidos, com a tática de adesão ao bloco europeu e instalação de bases em torno do território russo. 

Com a desintegração do bloco soviético (1991) a teoria de Mackinder, com Aleksandr Dugin, professor e geopolítico russo, fundador do Partido da Eurásia, apresenta o seu país como “prisioneiro da ânsia do poder ocidental” (Dugin, Fundamentos da Geopolítica, 1ªed. 1997, utilizado na Academia do Estado Maior das F.A. russas), e considera a geopolítica em dois polos distintos: o poder naval ocidental e o poder terrestre que é o da Rússia, numa disputa pelo Heartland. Seus estudos, enquanto líder do Centro de Estudos Conservadores na Universidade Estatal de Moscou, sugerem o incorporar das antigas Repúblicas Soviéticas. 

Com o intuito de fortalecer a região, o presidente Putin propôs a União Econômica da Eurásia (2011) e assinou com o Cazaquistão e a Bielorrússia (Acordo de Astana – Capital do Cazaquistão – 2014) a União Econômica Euroasiática, permitindo maior integração entre esses países ligados por uma união aduaneira, desde 2010, com o propósito de fortalecer o desenvolvimento econômico de mercado regional. A Ucrânia não desejou participar e com Poronsheco a Ucrânia negociava a entrada na União Europeia. A pressão russa fez o presidente ucraniano Victor Yanukovich recuar, reprimindo as manifestações pró-europeias, e não as pró-russas, as quais foram apoiados pela Rússia, que na oportunidade anexou a Crimeia, de grande importância estratégica. A Crimeia fora cedida à Ucrânia (1954) por Krhrushchev, para reforçar a unidade entre ela e a Rússia e celebrar a grande e indissolúvel amizade entre os dois povos.

 

Putin concebe a dimensão europeia da geografia russa e a Ucrânia como podendo ser parte do todo de um projeto maior, estabelecendo uma esfera de influência a ancorar na Europa. Brezezinski, conselheiro no período Carter, considera que sem a Ucrânia a Rússia será um império predominantemente asiático (Global Domination or Global Leadership, 2004) e incorporando uma população de cerca de 44 milhões voltada para a Europa. 

As consequências do domínio soviético geraram a demanda de incorporação doa países a União Europeia, receando-se uma futura opressão russa e, por sua vez, levando a Rússia a preocupações com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e o excessivo poder ocidental. O governo russo mantém estrita vigilância nas fronteiras e observa os desdobramentos do avanço indireto do Ocidente na Ucrânia, bem como as evidências da instalação de atividades biológicas suspeitas por cidadãos não ucranianos. Era previsível que o atrito acontecesse, a qualquer momento. 

Ao longo da História, o Império Russo fragmentou-se e ruiu várias vezes, mas de modo diverso a outros impérios com ascensão, expansão e queda definidos no tempo e espaço, reergueu-se inúmeras vezes. Seria um erro crasso, o desprezo à maior potência terrestre do mundo (quase 50% da circunferência da terra), ressurgindo em nossa época e com uma intensa e longa contribuição civilizatória.

sábado, 12 de março de 2022

RESENHA - Reunião Virtual da ACLJ (12.03.2022)

REUNIÃO VIRTUAL DA ACLJ
   (12.03.2022)





PARTICIPANTES

Estiveram reunidos na conferência virtual deste sábado, que teve duração de uma hora, sete acadêmicos. O Jornalista e Advogado Reginaldo Vasconcelos,  o Professor, Teólogo e Latinista Pedro Bezerra de Araújo, o Marchand e Publicitário Sávio Queiroz Costa, o Bacharel em Direito e Especialista em Comércio Exterior Stênio Pimentel (Maricá - RJ), o Engenheiro e Empresário Maurílio Vasconcelos (Porto Velho - RO), o Radialista Vicente Alencar, e o Advogado e Sionista Adriano Jorge (da Fazenda Três Corações, em  Morada Nova).


Simbolicamente presente, porque justificou previamente a sua ausênciao Jornalista e Sociólogo Arnaldo Santos, preparando viagem profissional ao Chile, onde participará de conferência, conforme acima comprovado. 

 


TEMA DE ABERTURA


Reginaldo Vasconcelos abriu a reunião virtual da ACLJ deste sábado abordando a visita do Sr. Ministro da Educação, o Advogado e Pastor Presbiteriano paulista Milton Ribeiro, que veio ao Ceará fazer a entrega simbólica de R$ 21 milhões ao Magnífico Reitor Cândido Albuquerque, da Universidade Federal do Ceará (UFC), Membro Titular da ACLJ  verba destinada a reformas nos campi do Pici e de Sobral. As imagens são da fotógrafa Bia Bley.


O Presidente Reginaldo comentou a recepção do Ministro, do Reitor e do Presidente da Federação das Indústria do Estado do Ceará (Fiec), Empresário Ricardo Cavalcante, pelo casal Ana Maria e Beto Studart, nosso Membro Benemérito.


O casal ofereceu um jantar em sua casa em torno das referidas autoridades, festim de que participaram amigos dos anfitriões – o Barão Lauro Chaves e sua Ana D'Aurea, o Empresário Cláudio Targino, o Educador Ednilton Soárez, o Gráfico Chico Esteves, os Médicos Glauco e Cláudia Lobo – ele Vice-Reitor da UFC – e o próprio Presidente da ACLJ, Reginaldo Vasconcelos, acompanhado por sua neta Júlia Vasconcelos Studart além de membros da Reitoria da UFC e da Diretoria da Fiec. 





Na oportunidade Beto Studart agradeceu ao Professor Doutor Cândido Albuquerque o merecido titulo de Doutor Honoris Causa da UFC de que é recipiendário, como também foi comunicado oficialmente ao Empresário Ricardo Cavalcante que ele foi eleito à dignidade de 21º  Membro Benemérito da ACLJ, por indicação e proposição de Beto e Cândido, respectivamente, com eleição unânime pela Decúria Diretiva  investidura de que tomará posse em solenidade do dia 04 de maio, no Palácio da Luz.


 OUTROS TEMAS ABORDADOS

Vicente Alencar, sempre "elleryzando", lamentou que o pesquisador cearense Ésio de Sousa  escreveu o livro "Presença do Café no Ceará", e ainda não editou a obra por falta de patrocínio – tendo Reginaldo sugerido que ele procurasse o Grupo 3 Corações, empresa cujo "carro chefe" é a industrialização de café. Vicente registrou também que o Dia Mundial da Poesia é 21 de março, data consagrada pela Unesco em 1999.

A propósito de café, Sávio Queiroz exibiu o seu requintado canto de café no seu apartamento, com todos os implementos necessários para um expresso de boa qualidade. 


A propósito da Medalha Evaldo Gouveia, instituída pela ACLJ para homenagear o saudoso compositor cearense, que era Membro Benemérito – e com essa láurea distinguir os três maiores compositores cearenses vivos,  Maurílio Vasconcelos comentou que, coincidentemente, foi contemporâneo e tem relações cordiais com os três agraciados – Raimundo Fagner, Ednardo e Fausto Nilo, razão pela qual virá de Rondônia para assistir à solenidade de outorga, em 04 de maio próximo, em Fortaleza.  

DEDICATÓRIA 

A reunião virtual deste sábado, dia 12 de março de 2022, foi dedicada ao Empresário Ricardo Cavalcante, Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), pela profícua gestão da entidade, bem como pela grande colaboração institucional que dispensou à UFC e ao Governo do Estado no combate à Covid-19 durante a pandemia, notadamente no desenvolvimento do "Elmo", revolucionário equipamento concebido e projetado por cientistas cearenses para substituir o traumático procedimento de intubação respiratória.

Além disso, Ricardo Cavalcante é o mais novo Membro Benemérito da ACLJ – a mais elevada distinção da Entidade – indicado e proposto pelos confrades Beto Studart e Cândido Albuquerque, em reconhecimento de sua disponibilidade e colaboração para com esta instituição lítero-jornalística, dignidade  da qual já foram detentores nomes como Yolanda Queiroz, Ivens dias Branco e Airton Queiroz, dentre outros ícones do mecenato cearense já falecidos – e que também ostentam Igor Queiroz Barroso, Lúcio Alcântara, José Augusto Bezerra e o próprio Beto Studart.