O PSDB
Rui Martinho Rodrigues*
O PSDB nasceu como partido de quadros.
Até aí tudo bem. Isso o afasta do fascismo. Pretendia seguir a terceira via.
Partidos de quadros necessitam de intelectuais e estadistas em suas fileiras.
Não foram muitos os intelectuais que aderiram ao tucanato. Estadistas, esses são muito raros.
A terceira via é um desafio. O Estado
provedor se financiava na economia capitalista para suprir as necessidades dos
cidadãos. Mas já não se fala tanto nas delícias do Estado bem-estar. A crise
fiscal lembrou que a conta sempre chega. Fala-se em custo Brasil. Pouco se fala
no custo do tal Estado do bem-estar. É charmoso citar o exemplo nas maravilhas do
Estado provedor, enumerando os benefícios, mas nunca se ouve alguém citar o preço disso.
A terceira via europeia foi implantada
depois das sociedades do Velho Mundo se tornarem ricas. Uma sociedade com uma
maioria próspera promovia o bem-estar de uma minoria não incluída na prosperidade.
O bolo havia crescido quando se deu o corte das fatias, nos termos da metáfora
famosa, que por conveniência o ex-ministro Delfim Netto, seu autor, repudiou. No
Brasil temos uma minoria próspera e uma maioria não incluída na prosperidade. O
desafio é muito maior. Na Europa a relação numérica entre financiadores e
assistidos permitiu êxitos espetaculares por um algum tempo.
O bem-estar atraiu imigrantes. As
aspirações que definem os limites do que seja "bem-estar" alargaram suas
fronteiras. A conta ficou mais cara. A quebradeira começou pelos elos mais
fracos da corrente: Portugal, Espanha, Grécia e Itália desmoronaram. Até o
Reino Unido caiu no atoleiro, levando os conservadores ao poder e a um ajuste
fiscal de doze por cento do PIB, dolorosa medida que tirou os britânicos do
fundo do poço. E a Ásia arrebatou a liderança mundial dos europeus.
Os tucanos, no poder, foram obrigados
a contrariar as expectativas mágicas de um saco de bondades. Perderam a
credibilidade como arautos da terceira via dadivosa. Adquiriram a marca da
impiedade própria de quem diz que "não existe almoço de graça". Temem proclamar
a racionalidade econômica, mas tiveram de fazer o ajuste dos “malvados”, por
imposição da realidade, a exemplo do que agora se repete com o PT. Perderam a
confiança dos “generosos” e também dos realistas. Nem podem comparecer às
manifestações mais autênticas da história deste País, temendo vaias.
O eleitorado que os tucanos perderam
tem aversão aos vaqueiros da boiada cidadã. Não tolera a improbidade
administrativa, o desrespeito às leis, às instituições e o aparelhamento do
Estado.
Os tucanos não denunciam escândalos. Não
tiveram protagonismo de oposição. Opuseram-se aos oposicionistas autênticos.
Sentem-se mais próximos daqueles a quem oficialmente se opõem do que do sentimento
de oposição disseminado na sociedade. Não estão na base governista porque o personalismo
não deixa. A disputa se resume no problema da definição de quem seria o
primeiro violino da orquestra.
*Rui Martinho Rodrigues
Professor – Advogado
Historiador - Cientista Político
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