PADRE ANTÔNIO TOMAZ
O POETA (I)
Vicente Alencar*
O século XIX viu nascer, no interior do Ceará, precisamente em Acaraú,
a 14 de setembro de 1868, um dos maiores poetas do Brasil. Chamava-se Antônio
Tomaz, filho de Gil Tomaz Lourenço e Dona Francisca Laurinda da Frota.
Escolheu a carreira eclesiástica como a principal motivação de sua vida,
tornando-se um dos maiores guardiães da Igreja Católica.
Padre Antônio Tomaz foi um
poeta lírico, na mais expressiva concepção do termo. Mostrando ao mundo
intelectual que o acolheu uma imensa sabedoria, foi o Padre, inclusive,
escolhido o "Príncipe dos Poetas Cearenses".
Sabe-se dele, como homem, que foi um garoto vivaz, tendo o pai como
professor em seu curso primário. Com ele aprendeu as primeiras letras e os
rudimentos do Latim, Português, Retórica, Química, Física e Matemática. Estas
três últimas matérias não eram de sua simpatia, principalmente a
Matemática.
Conta Dinorá Tomaz Ramos, querida sobrinha do Padre: "Quase
diariamente, no curso primário, era castigado pela dificuldade que lhe
acarretava o estudo da aritmética. O professor Gil era intransigente e nunca
perdoava um erro na solução de cálculos ou problemas". Antônio Tomáz
confessou mais tarde que pela manhã, ao despertar, logo lhe acudia à mente,
entristecendo-o, a lembrança do castigo certo.
Depois, deixando sua Acaraú, por quem morria de amores, foi estudar em
Sobral, onde com o professor Vicente Arruda tomou aulas de Latim e Francês
reforçando seus conhecimentos. Naquela cidade foi aluno do Seminário, onde,
após ser interno, concluiu seus estudos, recebendo o Prebisterato, ou seja, sua
Ordenação Sacerdotal, a 6 de dezembro de 1891, então com 22 anos.
Durante 20 anos, exerceu o paroquiato, sendo vigário de Trairi e de
Acaraú, de 1892 a 1924, "quando, por motivo de saúde deixou o exercício do
múnus paroquial, a que dedicara todas as reservas da sua atividade apostólica,
com louvável dedicação, ao seu estremecido rebanho".
Em virtude dos problemas físicos, passou, então, a residir, mas sem
função paroquial, junto com a família, na cidade de Santana.
Quando piorou seu estado de saúde em meados de 1940, fixou residência na
Santa Casa de Misericórdia de Sobral, desobrigando-se de sua capelania em abril
de 1941, quando veio para Fortaleza, a fim de submeter-se a tratamento
indispensável. Seu falecimento deu-se a 16 de julho de 1941, alguns meses
antes de completar 50 anos como sacerdote, o que aconteceria a 6 de dezembro do
mesmo ano. Tinha então 72 anos de vida.
O reverendíssimo Padre Monteiro da Cruz, seu amigo, um incansável e
devotado confessor, conformou a todos os amigos do Padre Antônio Tomáz, quando
de sua morte, afirmando:
– Deus, quis que ele fosse
celebrar no Céu a sua festa.
A SIMPLICIDADE DO HOMEM
Sendo uma pessoa de inteligência fora do comum, mas de grande
simplicidade, o Padre Antônio Tomaz em documento testamentário deixou escrito:
"Nasci pobre e por gosto continuei a sê-lo até hoje, tendo tido
sempre como regra não acumular fortuna".
Nota nossa: Pesquisas realizadas junto àqueles que conhecerem o ilustre
ministro da Igreja, demonstram que ele deixou apenas: um tinteiro, um
genuflexório, escrivaninha, estante de livros, uma cobra de madeira – saliente-se que era marceneiro nas horas
vagas – alguns poucos objetos de seu uso pessoal. Todos estes pertences foram
recolhidos pela família do Dr. João Ribeiro Ramos, casado com Dinorá, sobrinha
do sacerdote. Inclusive, o fato é citado por Dona Dinorá Tomaz Ramos, à página
202 do seu livro "Padre Antônio Tomaz – Príncipe dos Poetas
Cearenses".
No documento citado, encontradas foram as seguintes determinações:
"Quero que meu corpo seja enterrado sem esquife, e que a pedra da
sepultura – construída por ele 11 anos antes de morrer – seja posta no mesmo
plano, ficando debaixo do chão, como atualmente se acha, e que não se ponha, em
tempo algum, sobre ela, nome, data, inscrição ou qualquer sinal exterior que a
faça lembrada". Querendo morrer como viveu, na mais inviolável
obscuridade.
Segundo Dona Dinorá Tomaz Ramos, o Padre Antonio Tomaz "homem dotado
de externa modéstia, ainda pede, em seu testamento, encarecidamente, aos
irmãos, sobrinhos, parentes e amigos, que nunca, de forma alguma e sob qualquer
pretexto, concorram para a publicação coletiva de seus versos, última vontade
que a família tem estritamente respeitado".
PRÍNCIPE DOS
POETAS
Porém, o Padre Antonio Tomaz não poderia fugir das homenagens dos seus
conterrâneos, seus compatriotas, haja vista que todos conheciam o seu potencial
poético.
Assim sendo, um extraordinário concurso aberto, com a participação
popular, foi eleito em 1925, pela Revista Ceará Ilustrado como o maior poeta
vivo do Estado, o "Príncipe dos Poetas Cearenses". A consagração era
devida a ele, em face de sua notável colaboração às letras cearenses.
Antonio Sales, o acreditado poeta cearense, autor de Aves de Arribação
(1914) e Fábulas Brasileiras, presidente da Academia Cearense de Letras, membro
da Padaria Espiritual, guardando o pseudônimo de Moacir Jurema, também
escreveria sobre o Padre Antonio Tomaz, do qual era colega de data aniversária,
pois ambos nasceram em 1868. Sales a 12 de junho e Tomaz a 14 de setembro.
Vamos às palavras de Antônio Sales:
"Por uma maioria de 48 votos sobre mim, a maioria maior sobre Júlio
Maciel, Cruz Filho e outros menos votados, está eleito Príncipe dos Poetas
Cearenses, o virtuoso sacerdote e primoroso poeta Antônio Tomaz.
Reconhecendo a lisura e a liberdade do pleito, é o meu dever e de todos
os que amam as letras render ao Príncipe do Parnaso o nosso preito de admiração
e afeto.
Apenas, lamento que tantos votos tenham sido dispensados para sufragar
meu humilde nome, votado, como fui "malgré
moi", e sem haver nutrido jamais a aspiração de ocupar o posto para o
qual foi mui merecidamente designado o meu prezado amigo e confrade Antônio
Tomaz.
Em todo o caso, o concurso me serviu para verificar que é nem maior do
que eu imaginava o número de pessoas que estimam meus versos. E entre essas,
que são todas idôneas, se encontram nomes cuja auréola reflete sobre o meu,
honrando-o com o seu sufrágio, um pouco da sua grande refulgência".
Antonio Tomaz, o Padre, o Poeta, foi um artífice da palavra e do verso,
derramando sobre asa palavras o seu sentimento mais puro. Aquele que nascia na
alma, mostrava seu espírito desarmado, e incorporava-se perante as demais
pessoas que admiravam a sua obra.
* Vicente Alencar
Jornalista, Poeta. Escritor
Presidente da União Brasileira de Trovadores - UBT Fortaleza.
Jornalista, Poeta. Escritor
Presidente da União Brasileira de Trovadores - UBT Fortaleza.
1º Vice-Presidente da ALMECE - Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará.
Secretário Geral da Academia Fortalezense de Letras
Membro da Academia Cearense da Língua Portuguesa,
da Academia Cearense de Retórica e da
Sociedade Cearense de Geografia e História
Titular da Cadeira nº 27 da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo
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