terça-feira, 5 de maio de 2015

PESQUISA LITERÁRIA (VA)

PADRE ANTÔNIO TOMAZ 
O POETA (I)
Vicente Alencar*

O século XIX viu nascer, no interior do Ceará, precisamente em Acaraú,  a 14 de setembro de 1868, um dos maiores poetas do Brasil. Chamava-se Antônio Tomaz, filho de Gil Tomaz Lourenço e Dona Francisca Laurinda da Frota.

Escolheu a carreira eclesiástica como a principal motivação de sua vida, tornando-se um dos maiores guardiães da Igreja Católica.

Padre Antônio Tomaz foi um poeta lírico, na mais expressiva concepção do termo. Mostrando ao mundo intelectual que o acolheu uma imensa sabedoria, foi o Padre, inclusive, escolhido o "Príncipe dos Poetas Cearenses". 

Sabe-se dele, como homem, que foi um garoto vivaz, tendo o pai como professor em seu curso primário. Com ele aprendeu as primeiras letras e os rudimentos do Latim, Português, Retórica, Química, Física e Matemática. Estas três últimas matérias não eram de sua simpatia, principalmente a Matemática. 

Conta Dinorá Tomaz Ramos, querida sobrinha do Padre: "Quase diariamente, no curso primário, era castigado pela dificuldade que lhe acarretava o estudo da aritmética. O professor Gil era intransigente e nunca perdoava um erro na solução de cálculos ou problemas".  Antônio Tomáz confessou mais tarde que pela manhã, ao despertar, logo lhe acudia à mente, entristecendo-o, a lembrança do castigo certo.

Depois, deixando sua Acaraú, por quem morria de amores, foi estudar em Sobral, onde com o professor Vicente Arruda tomou aulas de Latim e Francês reforçando seus conhecimentos. Naquela cidade foi aluno do Seminário, onde, após ser interno, concluiu seus estudos, recebendo o Prebisterato, ou seja, sua Ordenação Sacerdotal, a 6 de dezembro de 1891, então com 22 anos. 

Durante 20 anos, exerceu o paroquiato, sendo vigário de Trairi e de Acaraú, de 1892 a 1924, "quando, por motivo de saúde deixou o exercício do múnus paroquial, a que dedicara todas as reservas da sua atividade apostólica, com louvável dedicação, ao seu estremecido rebanho".

Em virtude dos problemas físicos, passou, então, a residir, mas sem função paroquial, junto com a família, na cidade de Santana.

Quando piorou seu estado de saúde em meados de 1940, fixou residência na Santa Casa de Misericórdia de Sobral, desobrigando-se de sua capelania em abril de 1941, quando veio para Fortaleza, a fim de submeter-se a tratamento indispensável. Seu falecimento deu-se a 16 de julho de 1941, alguns  meses antes de completar 50 anos como sacerdote, o que aconteceria a 6 de dezembro do mesmo ano. Tinha então 72 anos de vida. 

O reverendíssimo Padre Monteiro da Cruz, seu amigo, um incansável e devotado confessor, conformou a todos os amigos do Padre Antônio Tomáz, quando de sua morte, afirmando: 

 – Deus, quis que ele fosse celebrar no Céu a sua festa.


A SIMPLICIDADE DO HOMEM

Sendo uma pessoa de inteligência fora do comum, mas de grande simplicidade, o Padre Antônio Tomaz em documento testamentário deixou escrito:

"Nasci pobre e por gosto continuei a sê-lo até hoje, tendo tido sempre como regra não acumular fortuna". 

Nota nossa: Pesquisas realizadas junto àqueles que conhecerem o ilustre ministro da Igreja, demonstram que ele deixou apenas: um tinteiro, um genuflexório, escrivaninha, estante de livros, uma cobra de madeira –  saliente-se que era marceneiro nas horas vagas – alguns poucos objetos de seu uso pessoal. Todos estes pertences foram recolhidos pela família do Dr. João Ribeiro Ramos, casado com Dinorá, sobrinha do sacerdote. Inclusive, o fato é citado por Dona Dinorá Tomaz Ramos, à página 202 do seu livro "Padre Antônio Tomaz – Príncipe dos Poetas Cearenses".

No documento citado, encontradas foram as seguintes determinações: "Quero que meu corpo seja enterrado sem esquife, e que a pedra da sepultura – construída por ele 11 anos antes de morrer – seja posta no mesmo plano, ficando debaixo do chão, como atualmente se acha, e que não se ponha, em tempo algum, sobre ela, nome, data, inscrição ou qualquer sinal exterior que a faça lembrada". Querendo morrer como viveu, na mais inviolável obscuridade.

Segundo Dona Dinorá Tomaz Ramos, o Padre Antonio Tomaz "homem dotado de externa modéstia, ainda pede, em seu testamento, encarecidamente, aos irmãos, sobrinhos, parentes e amigos, que nunca, de forma alguma e sob qualquer pretexto, concorram para a publicação coletiva de seus versos, última vontade que a família tem estritamente respeitado".


PRÍNCIPE DOS POETAS

Porém, o Padre Antonio Tomaz não poderia fugir das homenagens dos seus conterrâneos, seus compatriotas, haja vista que todos conheciam o seu potencial poético.

Assim sendo, um extraordinário concurso aberto, com a participação popular, foi eleito em 1925, pela Revista Ceará Ilustrado como o maior poeta vivo do Estado, o "Príncipe dos Poetas Cearenses". A consagração era devida a ele, em face de sua notável colaboração às letras cearenses.

Antonio Sales, o acreditado poeta cearense, autor de Aves de Arribação (1914) e Fábulas Brasileiras, presidente da Academia Cearense de Letras, membro da Padaria Espiritual, guardando o pseudônimo de Moacir Jurema, também escreveria sobre o Padre Antonio Tomaz, do qual era colega de data aniversária, pois ambos nasceram em 1868. Sales a 12 de junho e Tomaz a 14 de setembro.

Vamos às palavras de Antônio Sales:

"Por uma maioria de 48 votos sobre mim, a maioria maior sobre Júlio Maciel, Cruz Filho e outros menos votados, está eleito Príncipe dos Poetas Cearenses, o virtuoso sacerdote e primoroso poeta Antônio Tomaz. 

Reconhecendo a lisura e a liberdade do pleito, é o meu dever e de todos os que amam as letras render ao Príncipe do Parnaso o nosso preito de admiração e afeto.

Apenas, lamento que tantos votos tenham sido dispensados para sufragar meu humilde nome, votado, como fui "malgré moi", e sem haver nutrido jamais a aspiração de ocupar o posto para o qual foi mui merecidamente designado o meu prezado amigo e confrade Antônio Tomaz. 

Em todo o caso, o concurso me serviu para verificar que é nem maior do que eu imaginava o número de pessoas que estimam meus versos. E entre essas, que são todas idôneas, se encontram nomes cuja auréola reflete sobre o meu, honrando-o com o seu sufrágio, um pouco da sua grande refulgência".

Antonio Tomaz, o Padre, o Poeta, foi um artífice da palavra e do verso, derramando sobre asa palavras o seu sentimento mais puro. Aquele que nascia na alma, mostrava seu espírito desarmado, e incorporava-se perante as demais  pessoas que admiravam a sua obra.


* Vicente Alencar 
Jornalista, Poeta. Escritor
Presidente da União Brasileira de Trovadores - UBT Fortaleza.
1º Vice-Presidente da ALMECE - Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará.
Secretário Geral da Academia Fortalezense de Letras
 Membro da Academia Cearense da Língua Portuguesa, 
da Academia Cearense de Retórica e da
Sociedade Cearense de Geografia e História
 Titular da Cadeira nº 27 da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo

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