quarta-feira, 30 de setembro de 2015

CRÔNICA - As Caras da República (RV)

AS CARAS DA REPÚBLICA
Reginaldo Vasconcelos*


O bom, o mau e o feio” é a tradução literal do título de um filme de western italiano, que, em vez de remeter à trama da história, como era de esperar, aponta características pessoais dos personagens (De Sergio Leone Com Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach1966).

Na trama imbricada da vida pública brasileira, neste momento, poder-se-iam indicar os protagonistas por suas características próprias, notadamente a beleza e a feiura, visto que os conceitos de bondade e maldade dependem sempre do ângulo político e ideológico de quem olha.

Aliás, os bons que fundaram o partido do governo já não estão mais no partido, nem no governo – os belos Chico de Oliveira, Hélio Bicudo, Ivan Valente, Plínio Arruda, Eduardo Suplicy – entre tantos outros que vazaram para o PSOL, ou foram postos à deriva.

Outras belezuras permanecem nas hostes, como Zé Dirceu e Zé Genuíno, antigos Adônis das lutas heroicas – hoje reduzidos a ladrões do erário, traidores da Pátria, bandidos apenados – foram de galãs a vilões em 30 anos de novela – mas ainda mantidos como grandes ícones do partido que fundaram.

Beldades femininas sacaram fora mais cedo, como Heloísa Helena, Luciana Genro e Marina Silva, enquanto as que ficaram estão com a lama no pescoço – caso da elegante Ideli Salvatti e da graciosa Gleisi Hoffmann.

Marta Suplicy resistiu muito, mas também se despediu, antes de ser alcançada pela onda piroclástica da Operação Lava-Jato da Polícia Federal, e nessa fuga será seguida pelo doce Paulo Pain – talvez “o último dos moicanos” a participar da debandada.

Mas o que fica é feiura pura, que as duchas sanitárias do Juiz Sérgio Moro tentam lavar em vão, porque tudo é pústula e podridão.

Dos esconsos das empresas públicas, das tocas do empresariado e dos socavões dos partidos políticos tem emergido uma teratologia assustadora. 


Resta ainda no cenário do Planalto Central a placidez fisionômica de alguns que poderiam, se atores profissionais fossem – e atores são de fato  integrar o elenco da peça portuguesa A Ceia dos Cardeais, conforme o seu perfeito phisic du rôle

      

terça-feira, 29 de setembro de 2015

APRECIAÇÃO LITEROCIENTÍFICA - Delírio em Freud e Jung


DELÍRIO EM FREUD E JUNG,
NA CIÊNCIA DE FILIPE JESUINO
Vianney Mesquita*


A loucura que me exalta vale a verdade que me abate (Christoph Martin Wileland, poeta iluminista. YAchstetten, 05.09.1733 - Weimar, 20.01.1813).


Certamente, não foge da normalidade o fato de um consulente, não afeito de todo ao trato desta matéria, manifestar estranheza em relação à ideia de alguém se afanar ainda no estudo de dois mentores da investigação psicológica, cuja finalidade é fazer sobrevir à consciência as sensações obscuras e adormecidas ou longínquas – no caso o austríaco Sigismundo Freud e o suíço Carlos Gustavo Jung.

Pensamento equívoco, decerto, o de arguir a possibilidade de se haver esgotado toda a angulação da Psicanálise, sob o argumento de já terem sido recorrentemente ensaiados os dois principais da chamada Teoria da Alma, porquanto não se há de cogitar, por impossível, em esvaziar toda a insondável repleção de fatos a descobrir sob a destra segura da Ciência, nos seus diversificados quadrantes, meios de cultura e terrenos para testes.

Quando, então, aquele a buscar o conhecimento se posta na dimensão intelectiva do jovem autor, psicólogo e docente em disciplinas jungidas a esse crucial esgalho do saber ordenado, o feito científico, incontroversamente, é tributário da verdade mais fidedigna. Isto porque, magnificamente teorizado nos enredos do saber escolhido para seu ofício, não poderia deixar de empregar métodos e técnicas compadecidas a investigações de tal natureza, ao exceder em muito a communis opinio, sem, contudo, deixar de a ela afluir quando necessário.

Desta sorte, ex-chatedra, Filipe de Meneses Jesuino, já qual escritor madurado na lonjura dos anos – ainda, felizmente, não contados – recolheu e esmiuçou sistemas e vertentes teórico-práticas, uns admitidos, outros revisados e alguns até rejeitados, haja vista o acurado exame dos conceitos de outrem e, principalmente, daqueles de sua lavra, fato auspicioso como fenômeno para nobilitar sempre mais o acervo do Conhecimento, agora acrescido dos qualificados e até então inéditos aportes deste estudioso de competência inconcussa.

Este ensaio acerca da psicopatologia do delírio (certeza equivocada, arrimada em conclusões falsas extraídas da realidade externa, conservada por uma pessoa, mesmo se a maioria do seu grupo pense o contrário e se possa mostrar certa) sob a óptica de Freud e a perspectiva de Jung, traz pontos de atinência e registos de dessemelhança relativos ao modus operandi conceitual dos dois estudiosos investigados. Sem dúvida, o exame procedido pelo Prof. Dr. Filipe Jesuino na Universidade Federal do Ceará, onde se graduou, é contribuição pessoal de monta, para o recheio teórico, e luz historiográfica a fim de delinear e aprofundar estudos psicanalíticos em patamares teoréticos de vanguarda.

A aproximação pessoal e afetiva com o autor e seu grupo familiar não me retira o humo da honestidade nem o fermento da verdade, pois, longe de ser aquele magistrado, o qual, julgando com amor, distingue alvura no corvo e, o fazendo com ódio, divisa o negrume da garça, honro meu compromisso com a verdade e a exatidão, para, obrigatoriamente, asseverar este livro – O Delírio Segundo Freud e Jung como de qualidade inconteste e alcance científico induvidoso.

Confira-se, também, o crédito, neste passo, à firme orientação do Prof. Dr. Ricardo Lincoln Laranjeira Barrocas, cientista do melhor naipe, espécie de preceptor acadêmico do Dr. Filipe Jesuino, a quem acolheu e deu guarida durante sua derrota pelos mares de clínico, e agora docente de Psicologia, fadado ao mais absoluto sucesso também como ensaísta.


ARTIGO - Palacete Brasil (GD)


PALACETE BRASIL
Geraldo Duarte*
(Enviado por Cássio Borges)


Esquina da Rua General Bezerril com a Travessa Morada Nova. Praça General Tibúrcio. 

Majestosa edificação, estilo neoclássico, enriquece o conjunto de marcos históricos da área central de Fortaleza. Inaugurado como Edifício Brasil, fez-se conhecido por Palacete Brasil, ícone centenário.

1915. A firma Rodolfo F. da Silva & Filho incumbiu-se de construir a obra, projeto do engenheiro João Saboia Barbosa e encomenda da empresa Frota & Gentil, do coronel José Gentil Alves de Carvalho.

O Palacete objetivou a instalação da sede local do Banco do Brasil.

Em 17 de março de 1945, o ramo hoteleiro tornou-se a destinação do prédio. Era instalado o famoso Hotel Brasil. No térreo funcionava o Restaurante Brasil e, nos pisos superiores, acomodações de hóspedes.

Restaurado em 1994, pelo arquiteto Gerardo Jereissati Filho, continua abrigando, em mesmo lugar, um restaurante e os cômodos da então hotelaria, adaptados para salas comerciais.

No entorno, encontram-se o Palácio Senador Alencar (antiga Assembleia do Estado e, agora, Museu do Ceará), a Igreja de N. S. do Rosário (construída em 1730), a Praça General Tibúrcio com estátuas do herói da Guerra do Paraguai e da escritora Rachel de Queiroz), o Palácio da Luz, as representações esculturais de dois leões trazidas de Paris, no início do século XX, e um antigo coreto.

A escultura do militar, instalada em 02/02/1887, foi o primeiro monumento exposto em logradouro da Capital.

Na Travessa, hoje calçadão, há simulados trilhos de bonde, um sebo e o desejo público da Secult colocar um vagão, original ou replicado, a servir de espaço estimulante à leitura.

 *Geraldo Duarte  
Advogado, administrador e dicionarista.  

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

ARTIGO - O Agressor, a Lesão e o Médico (RMR)

O AGRESSOR,
A LESÃO
E O MÉDICO
Rui Martinho Rodrigues*

O ministro Mercadante fez um esboço de autocrítica. Falou, genericamente, em erros que se cometem no governo. Pediu o apoio da oposição para os projetos de interesse do Estado, não do governo, embora todas as iniciativas governamentais devessem ser de interesse do Estado e da sociedade. Parece uma atitude avessa a arrogância tantas vezes exibida pelos governantes. Mas o ministro acusou a operação Lava Jato, atribuindo-lhe culpa pela recessão em que se encontra o Brasil. Admitiu, assim, que a recessão não é importada, não decorre de uma suposta crise internacional.

A crítica não deixa de ser pitoresca e trágica. Pitoresca porque é como atribuir ao médico a culpa pelos prejuízos sofridos pela vítima de uma agressão com lesão corporal. O agressor causou fraturas na vítima. O médico engessou-a. A vítima, impossibilitada de trabalhar, sofreu prejuízos financeiros. Na óptica do ministro, a culpa da crise econômica é da Lava Jato (e a presidente também disse isso), como se responsabilizasse o médico, não o agressor, pelos prejuízos causados à vítima.

É trágico que alguém, nas mais altas esferas da República, tenha uma visão tão enviesada. Parece atitude de advogado defensor de um mau direito. Dirigentes da República não deveriam patrocinar causas ruis, nem procurar desqualificar o trabalho da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça, nem se imiscuir no trabalho desses órgãos. Caso policiais, procuradores e juízes cometam erros a tarefa de corrigi-los cabe às instâncias recursais do Judiciário, das quais o Brasil é rico.

A iniciativa é ainda mais descabida quando se leva em consideração que os tribunais superiores estão compostos por ministros nomeados pelos atuais governantes. O STF acaba de decidir que não existe conexão entre os processos originados da operação Lava Jato, desmembrando-os. A mesma organização criminosa, os mesmos crimes, os mesmos métodos e desideratos não foram suficientes para o STF reconhecer a conexão entre os processos. A surpreendente decisão ameaça de nulidade parte do trabalho desenvolvido na citada operação da PF, do MPF e alguns atos do juiz Sérgio Moro. O Poder Executivo não precisa se preocupar com a defesa dos seus parceiros que se encontram na condição de réus.

A estranha lógica que responsabiliza o médico pelas lesões corporais decorrentes de agressão, quando foi esta que tornou necessária a intervenção do esculápio; o espírito faccioso; a solidariedade para com os transgressores; a ética situacional, que acaba por ser mero oportunismo; tudo isso é parte de um projeto liberticida de poder. A solidariedade mafiosa é compartilhamento de valores e é temor da delação dos companheiros.

A situação é gravíssima: “Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil”, rezava o brocardo dos anos 60. A "saúva" moderna deve ser combatida agora ou nunca. 

Caso a Lava Jato seja destruída pela força do projeto de poder que se apoderou das instituições, não haverá saída institucional para evitar a venezuelização do Brasil.


Porto Alegre, 26 de setembro de 2015.



APRECIAÇÃO LITERÁRIA - Conversas de Domingo (VM)


CONVERSAS DE DOMINGO
Vianney Mesquita*

Os insetos picam, não por maldade, mas por precisarem viver. A igual ocorre com os críticos – querem o nosso sangue, porém não assumem a nossa dor. (Frederico Guilherme Nietzsche YRocken, 15.10.1844 Weimar, 25.08.1900).

Armazeno na gaveta alguns escritos inéditos, pelo fato de não os haver tencionado publicar, meramente em razão de constituírem juízos restritivos a respeito de obras para mim defeituosas, pois insossas, não verdadeiras, de elocuções toscas, viciosas sob o prisma da Língua, e tantas outras deformidades a fazerem piso do bestunto de escritores, quer ingênuos, despreparados, insolentes literários ou mesmo ferroados pela mosca azul  o que, convenhamos, é bem pior.

Este evento sobrevém, justamente, numa terra onde muitas pessoas não se apropriam, por descaso, preguiça, inadvertência, incapacidade ou algo semelhado, dos aviamentos exigíveis para aportar à ilustração, no entanto, intentam – e logram sucesso – pertencer aos nossos silogeus, hoje delas cheios à repleção, saindo dos sangradores, pelos ladrões fluentes, ao despejarem presumidos artistas.

Não os publico porque, contrariamente às alocuções do Escritor de Genealogia da Moral e de A Gaia Ciência, na epígrafe a estas notas, acho de tomar suas dores, motivo pelo qual prefiro não editar nada a respeito de textos de má qualidade, nem tomar de assalto os bons escritos e assentar-lhes, de estudo, defeitos não contidos, como procedem certos arquitetos a posteriori, com vistas a emular arengas e conduzir vinditas.

Entrementes, com referência a Conversas de Domingo, nada me faz deixá-las como recheio dos escaninhos, porquanto me afiz ao jaez literário da crônica, medida perfilhada por João Soares Neto para compor os escritos desse livro, na qualidade de compositor a mancheias, de dotes escriturais irrefragáveis.

Costumo exprimir – e tenho isto por verdade – a ideia de a leveza desse gênero atrair a maioria dos leitores, principalmente se veiculado nos jornais sabatinos e dominicais. Nos finais da semana, pois – e tal já expressei noutras passagens – os cadernos se conformam, também, a matérias menos prosaicas, transpondo a trivialidade de notícias, reportagens, entrevistas e demais expedientes informacionais a suster o periodismo diurnal de nossas cidades.

A prática da crônica, malgrado exercitada desde datas por demais recuadas, como adjutório dos relatos verazes e nobres, passou, nos Oitocentos, a ser móvel da atenção de escritores de nomeada, os quais ainda a desenvolvem à saciedade, para refletir, com perspicácia e em momentos propícios, a vida da sociedade, concernente às relações sociopolíticas, aos motos culturais citadinos e a muitos outros motivos a ensejarem conceitos.


Consoante o procederam, e.g, no Brasil e em Portugal, esses quatro jotas – Joaquim Maria Machado de Assis, José Martiniano de Alencar, José Maria Eça de Queirós e José Duarte Ramalho Ortigão, muitos renomeados compositores ensaiaram seu gênio inventivo via recursos da crônica, em livros e folhetins. E também nos jornais, na expressão escorreita e no âmbito de procedência etimológica desta palavra – diários.

De passagem, e propositadamente, cumpre dizer, a espécie literária em alusão constitui usança particular, ainda hoje, na prática jornalística do Brasil, sendo este um dos poucos, senão o único, a exercer a crônica, mediante a qual obtiveram visão pública eminentes jornalistas patriais, hoje cultuados, como foram, dentre tantos, Evaristo (Ferreira) da Veiga, Alcindo Guanabara, José (Carlos) do Patrocínio e Carlos (Frederico Werneck de) Lacerda.

Com grande satisfação, revi, nesses dias, o volume Conversas de Domingo, crestomatia muito bem joeirada, da autoria do acadêmico, administrador de empresas, advogado e homem de negócios do Ceará, João Soares Neto, da Academia Cearense de Letras.

Aqui ele exprime suas prendas naturais na grade literária ora sob glosa, obediente ao melhor padrão estético e sujeito às regras do Português, averso, no entanto, daqueles servilismos elocutórios, de natureza estilística, tão comuns aos escrevinhadores ainda visitantes à senda nem sempre muito acessível da Literatura.

Sua prosa é fácil, magnificamente correta, arquitetada com o esmero vocabular e o veio imaginativo do escritor terminado, na qual demonstra, nas entrelinhas, conhecimento lato e erudição temperante, como se estivesse a cuidar para não parecer afoito na manifestação dos seus capitais cultural e social, fato, convenhamos, alentador para o consulente sinistro a exibicionismos estilísticos e jactâncias pessoais.

Conversas de Domingo reúne poucas dezenas de textos curtos, emasculados pelos editores por economia de espaço, de apurado paladar artístico, a serem saboreados de vez única, para regozijo do espírito e levitação anímica, tais se exibem seus alteados teores, sob agradáveis recursos literoestilísticos.

Tem seu continente achegado dos toques de esteta, assinados pelo escritor imortal Geraldo Jesuino da Costa, bem como da Nota a si acrescida por Nilto Maciel, produtor de livros e editor baturiteense, intelectual de visão internacional (transferido para a outra vida há pouco mais de um ano), ao ataviar redundantemente um trabalho já por si nutrido de alcance e merecimento.

Prazer enorme foi reler esta obra e dever é recomendar sua leitura a quem não o fez.




NOTA DO EDITOR: 

A primeira observação a se fazer sobre esse artigo de Vianney Mesquita é o fato de não ter nele o autor aplicado nenhuma vez a palavra “quê”, um exercício feito por ele muitas vezes para censurar o uso vicioso e abusivo dessa partícula gramatical, pelo redator menos zeloso. “Às vezes, o quê tinge o estilo, e há expedientes para deixar de empregá-lo, eludir seu uso a bem da elocução” – segundo a sua própria explicação.

A segunda anotação a respeito do texto refere a existência de intelectuais de pouco fôlego literário na composição das academias de letras do País.

Confirmando essa assertiva para tentar justificá-la, vale o exemplo dos grandes conventos católicos, em que há teólogos eruditos e frades de sabença modesta, essenciais para as tarefas mais pedestres da irmandade. Todos, entretanto, absolutamente reverentes aos sublimes princípios que os unem. Talvez aqueles mais humildes cheguem ao Céu antes dos outros.  

Por último, o registro que o artigo transporta sobre a crônica, esse magnífico gênero literário, difícil de definir, uma derivação dos escritos cotidianos dos escrivães náuticos, que traçavam o dia a dia dos navios, e dos “diários” em que algumas pessoas registravam todos os fatos de sua vida. Sem esse rigor cronológico, os cronistas modernos sabem extrair graça e lirismo de suas vivências comezinhas.
       

sábado, 26 de setembro de 2015

NOTA JORNALÍSTICA - A Sereia de Ouro

A SEREIA
DE OURO




Transcorreu,  com o brilho de sempre, na noite desta sexta-feira, 25 de setembro, a solenidade de entrega do Troféu Sereia de Ouro deste ano, no Teatro José de Alencar, no centro de Fortaleza.

O laurel, instituído pelo saudoso industrial Edson Queiroz em 1971, é outorgado a quatro personalidades do Ceará a cada ano, selecionadas pelo Sistema Verdes Mares de Comunicação.

Foram agraciados nesta 45º edição o ex-governador Cid Ferreira Gomes, os médicos Elias Boutala e Lúcia Alcântara Albuquerque, e o educador Jesualdo Farias.

Ao longo desses 45 anos já receberam a honraria, dentre tantos outros, o comediante Renato Aragão, a escritora Rachel de Queiroz, o Cardeal Aloísio Lorscheider, o poeta Patativa do Assaré e os artistas sônicos Luiz Gonzaga, Evaldo Gouveia e Raimundo Fagner.


O evento foi concorrido por uma seleta representação da sociedade cearense, todos os convidados recebidos no foyer do teatro e ali cumprimentados pessoalmente por membros da família Queiroz – Dona Iolanda, o neto Igor e sua mulher Aline.

Fizeram as honras da casa o Chanceler Airton Queiroz e sua ilustre mãe, Dona Iolanda, considerada por esta ACLJ a “Primeira Dama do Empresariado Cearense”, a qual encerrou a cerimônia com um discurso primoroso.

Aliás, a participação elegante dessa mulher extraordinária, firme continuadora da obra monumental do marido, foi o ponto alto da festa, como tem sido desde sempre. Sua presença de matriarca, queridíssima por filhos e netos, personalidade estimada e respeitada por toda a sociedade cearense, esplende de beleza e de ternura, dotando o ambiente de uma aura especial.

O mundo literário esteve representado por dois presidentes da Academia Cearense de Letras, o anterior e o atual, Pedro Henrique Saraiva Leão e José Augusto Bezerra (à esquerda), respectivamente.

Esta ACLJ esteve oficialmente presente na pessoa de seu Presidente interino Reginaldo Vasconcelos (na imagem, com a filha Thiena), e entre os convidados vários de seus membros, titulares e beneméritos. 

O  evento teve ampla cobertura fotográfica das colunas virtuais Balada In, de Pompeu Vasconcelos, e Frisson, de Gaída Dias, acessíveis na WEB, de onde colhemos esses registros emprestados, destacando os convidados acelejanos. 

Casais Edilmar Norões, Deusmar Queirós e Cândido Albuquerque; o Chanceler Airton Queiroz, filho e nora; Famílias Lúcio Alcântara e Ivens Dias Branco; jornalista Wilson Ibiapina, Fernando César Mesquita e Roberto Moreira.







CRÔNICA - Praia do Ideal (RV)

PRAIA DO IDEAL
Reginaldo Vasconcelos*


O encontro entre um ser convulso e um outro ser, manso mas escaldante, tal como o mar e a areia da praia ao meio dia, se repete continuamente entre os jovens que deslizam da cidade ao fim de semana em direção à orla idealense, um trecho estreito que mal excede a um quarteirão, e que o Ideal Clube escraviza como seu.

A areia do Ideal foi sempre ideal para o amanho da paixão, no diálogo lúdico das conquistas, nos olhos de água e nos dentes de sol das sereias que a frequentam, na abordagem despretensiosa dos homem caçador, na verdade repleto em pretensões. O mar, sempre cúmplice e alcoviteiro, com o seu contorcionismo lúbrico.

Amor e sol, sal e amavios, namorice e maresia. Neste jogo se sucedem gerações, que se renovam e mudam de hábitos, mas jamais esquecem aquela praia. Só o fazedor de caipirinhas, monumento de ébano, testemunha as coisas e o tempo como uma estátua viva.

Há vinte anos o negro Sebastião vende ali boa limonada, juntando em cada copo três dedos de vertigem, que põem as ideias em tobogã, as cores mais vivas, o tempo doce, o corpo leve, a vida mais fácil. O hercúleo Sebastião e os coqueiros gigantes permanecem na paisagem da Praia do Ideal, por mais que o tempo passe, porque o mais é flutuante.

Volto ali uma vez, tantos anos depois, e descubro que em nenhum rosto me encontro mais, de todas as rodas íntimas tão queridas do passado. Nenhum conhecido. No entanto, uma menina lê para outra uma carta cursiva, e distante percebe articular no fim da missiva a sentença “te amo, te amo, te amo”.

Não ouvi as palavras, pois ruge a onda, bate o frescobol, deblateram meninos, na balbúrdia organizada de uma praia. Mas li nos lábios de uma das moças a velha frase, e lembrei-me de já tê-la dito eu mesmo ali, e de já tê-la ouvido ali mais de uma vez, uma delas no inglês da Tony Harn: “I love you”.

Descubro então que os rostos mudam, mas a Praia do Ideal é sempre a mesma, e a ela outras Glaúcias, outras Graças, outras Anelenas semi-apaixonadas comparecem, levando na bolsa e na alma o documento do seu amor.



Nota do autor:

Crônica produzida e publicada no Jornal Diário do Nordeste em setembro de 1984, e no livro Traços da Memória – Laços da Província-Volume I, em 1992. Hoje a Praia do Ideal sofreu aterro de engorda e se descaracterizou.



sexta-feira, 25 de setembro de 2015

ARTIGO - Preconceito (NZ)

PRECONCEITO
Nirez*

A crise econômica que nos atinge é uma crise mundial que nos atingiria da qualquer forma  fosse o governo de qual partido fosse. Se analisarmos os atos dos dois governos petistas, veremos que cometeram erros crassos, mas vários governos também assim o fizeram.

O governo atual já reconheceu os erros, está trabalhando ardentemente para sair da crise, apesar do congresso que temos. Infelizmente temos carência profunda de lideranças. Penso que no momento como atual, a pior coisa seria o “impedimento” da Presidente Dilma. Quem assumiria? O vice é uma lástima; o Cunha, também; o Renan, nem se fala. Nova eleição? O povo, mal informado como é, elegeria qualquer degenerado que se opusesse ao atual governo.

Já pensou se no meio dessa crise fosse eleito um elemento da extrema-direita? Eles são mil vezes piores que os petistas. Aliás, não sei o que faz esse "S" (de socialista) na sigla do PSDB, que tem se mostrado o mais direitista de todos os partidos, bem mais que o DEM (Os democratas vindos do PDS, que por sua vez vieram da Arena).

O momento atual é dos verdadeiros democratas e patriotas procurarem ajudar o governo a sair desse buraco, e depois disso conseguirem uma maneira de fazer uma reforma política, em que nos deem verdadeiros candidatos para votarmos. Nos últimos 15 anos só tenho votado nos menos ruins, para não deixar subirem as piores pragas. Não nos são dadas boas opções; ou você vota no cão ou vota em lúcifer.

Tudo o que se fizer em favor de nossa pátria deve ser feito agora. Unamo-nos, assim como nos unimos durante a Segunda Guerra. Depois das tempestades sempre vem a bonança, e durante ela, aí sim, poderemos criticar, apontar erros, procurar debater, apontar saídas. Não basta criticar. Toda crítica deve apontar soluções.

No caso da Petrobras, se ocorresse no governo de Fernando Henrique, nem haveria CPI, como não houve – e já havia a corrupção por lá. A lei contra a corrupção, editada no governo Itamar, foi posta de lado em seu governo, e todas as denúncias contra roubos, desvios e corrupção tinham o mesmo destino da "pasta rosa". Por que se faz tanto alarde por qualquer malfeito do governo atual, se NADA se dizia no governo FHC?

O brasileiro, por natureza, é oportunista. Todos são a favor da lei do Gerson, e querem que os que governem sejam exemplos de virtude. Como pode, se todos eles saem do povo? O jeitinho brasileiro é dado para tudo: não se recolhe impostos, não se paga multa, compram-se juízes, rouba-se em todos os recantos da Nação.

Enquanto nós aqui malhamos e desrespeitamos Lula, unicamente por suas origens – é o velho preconceito – o resto do mundo lhe rende homenagens com medalhas, títulos e até estátua. É preciso que vejamos naqueles que governam suas qualidades e seus defeitos. Que deixemos de lado os preconceitos e reconheçamos que, após a ditadura, o único presidente que tivemos que pode ser assim chamado foi Lula, e que ele colocou o Brasil numa posição privilegiada no cenário mundial.

Da maneira como o Congresso age, é impossível que seja feita uma reforma política. Se queremos uma reforma política, só há um meio: formar uma Assembleia Constituinte para elaborar uma nova Carta, após a qual seus membros não possam se eleger por, pelo menos, 15 anos. Se ficar como está, é como colocar raposas para cuidar do galinheiro.