O PERFIL DO PT
Rui Martinho Rodrigues*
O PT nasceu de um cruzamento híbrido da
Igreja, da vertente da teologia da libertação, com os agrupamentos de tendência
socialista dos sindicatos e universidades. Socialistas democráticos, trotskystas
e leninistas se faziam presentes.
Mas os leninistas assumiram o controle. A
postura inicial era marcada pela bandeira da ética na política, a democracia
direta e a heterodoxia econômica. Esta incluía o repúdio da dívida pública, do
capital estrangeiro e do assistencialismo.
A visão do conflito como combustível
da história dominava o partido, levando à agressividade. A compreensão segunda
a qual o motor da história é a solução de problemas era rejeitada, levando a
estigmatização dos “reformistas” e do “sindicalismo de resultado”. O que
interessava não eram resultados ou a solução de problemas no varejo.
O objetivo
era a solução no atacado, pela superação de um problema supostamente
fundamental, resolvendo todas as desventuras humanas. Era a revolução. O
problema
fundamental era a propriedade privada, com a consequente divisão social
do trabalho, origem presumida da desigualdade entre os homens.
Quem tem a solução para todas as
desventuras humanas se sente legitimado para fazer uso de todos os meios, nos
termos da ética teleológica, a qual acaba por não ser ética nenhuma. A bandeira
da ética na política foi abandonada após a chegada ao poder.
Não houve um
“desvio” dos objetivos ou traição de líderes. É da essência do messianismo
político: só as conveniências são consideradas. Internacionalistas exploram o
nacionalismo; ateus usam argumentos teológicos; críticos do assistencialismo
não hesitam em praticá-lo. Tudo sem a menor cerimônia, se atender às
conveniências.
A vitória nas urnas se beneficiaria da
mudança do discurso. Veio a “carta aos brasileiros”, de Lula da Silva, em que a heterodoxia econômica e
a agressividade associada à compreensão da história, como um festim dionisíaco, foi declarada abandonada. A eleição foi ganha, e as políticas econômicas
ortodoxas foram adotas.
A economia, propiciada pelos bons ventos
internacionais, melhorou. Surfando na situação favorável, o PT passou a adotar
o assistencialismo, antes criticado por seus líderes; aparelhou o Estado; sentiu-se
sem concorrente político. Afinal, todos os seus adversários haviam sido
desmoralizados pela campanha da “ética na política”... de
tempos passados.
Com o controle de quase todo o meio
sindical, e a simpatia dos círculos universitários, o partido sentiu-se forte e
abandonou a “carta aos brasileiros”. Voltou às ideias econômicas heterodoxas.
Afinal, a “ética teleológica" permite metamorfoses e surpresas.
Partido de convicção não se curva às evidências
factuais. Pratica o voluntarismo. Sentindo-se legitimado pelos fins, desdenha
das experiências históricas e ignora o fracasso reiterado do seu
receituário.
Diante da crise, a Presidente retornou à economia ortodoxa. Mas o partido alega que esta está sendo imposta por “interventores”, como se
não fosse necessária, nem fosse obra do seu próprio governo.
*Rui Martinho Rodrigues
Professor – Advogado
Historiador - Cientista Político
Historiador - Cientista Político
Presidente Emérito da ACLJ
Titular da Cadeira de nº 10
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