sábado, 29 de junho de 2019

CRÔNICA - Roberto Martins Rodrigues Descansou (RV)


ROBERTO MARTINS RODRIGUES
DESCANSOU
Reginaldo Vasconcelos*


Não que ele quisesse descansar. Era incansável. Aos novent’anos ainda era um menino. O andador lhe prestava reverência; a bengala era uma concessão que ele fazia à Natureza.   

Mas o Pai Celeste Absoluto insistiu com ele que era preciso descansar. Ele resistia. Passou um mês argumentando que ainda havia namoradas em flor para regar com o seu carinho galante, com a sua britânica elegância juvenil.

Seu sobrinho e homônimo intermediava a negociação. Ainda havia uns uisquinhos a tomar, na ceia larga da Tenda Árabe, contando seu passado idílico vivido sem grandes sobressaltos, geralmente elogiando e, se muito, narrando sem mágoa nenhuma e perdoando.

Principalmente – com certeza dizia ele ao Pai Celeste – tinha gravações a fazer nas sextas-feiras; não podia deixar na mão o nosso confrade Arnaldo Santos, em cuja mesa de debates na TV tinha cadeira cativa. Ainda não era hora de sair de cena – ele obtemperava.

Na arquibancada do afeto nós esperávamos ansiosos,  acompanhando a sua luta para convencer o Arquiteto do Universo a deixá-lo conosco um bocadinho mais, mais um pouco de manhãs e entardeceres, algumas noites a mais nos brindando com a sua honrosa amizade e companhia.

Mas não deu. Finalmente ele teve que despedir o amigo motorista, com o qual ganhava pernas pelas ruas da cidade, para, ainda que de mau grado, embarcar na vistosa carruagem do Divino e seguir para o destino universal.

Da Beira-Mar, quem estivesse atento agora há pouco veria a sege divina seguindo direto para o céu dos justos, tirada a dois cavalos brancos, símbolos da paz e da virtude, com o nosso Robertinho sentado ao lado direito de Deus Pai, vergando a pelerine ritual da nossa Academia, para nos representar no Paraíso. 

Em 29 de junho de 2019 - às 20 h.





NOTA DO EDITOR

Acaba de falecer em Fortaleza, aos 90 anos de idade, após muitos dias de internação na UTI do Hospital Monte Klinikum, Roberto Martins Rodrigues – advogado, professor, jornalista – Membro Titular da ACLJ, componente de seu grupo inaugural, fundador da Cadeira de nº 6, patroneada por seu ilustre genitor, José Martins Rodrigues.  Ele teve vários casamentos, mas em nenhum deles houve filhos.

Na 8ª Assembleia Aniversária da ACLJ, na noite do dia 04 de maio deste ano, no Palácio da Luz, Roberto Martins Rodrigues recebeu a última homenagem em vida, a Comenda Benemérito Ivens Dias Branco, recebendo o diploma e a medalha das mãos de Dona Consuelo Dias Branco e da Dra. Graça Dias Branco da Escóssia. 
      



COMENTÁRIO

Meu caro Presidente Reginaldo, uma noite triste.

Estou em Beberibe. Acabo de “abrir” o computador agora às 11 e 20, e tomei conhecimento do acontecido. Sem redundância, uma tristeza triste. Fiquei abalado. Meu Professor era um “papo” fora do comum. Mesmo sabendo do seu frágil estado de saúde, tomei um choque. Que pena! Mas a vida é assim. Amanhã lhe telefono para saber onde se realizará o velório.

Que Deus nos ajude a todos.

Vicente Alencar.

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A Faculdade de Direito da UFC lamente e comunica o falecimento do Prof. Dr. Roberto Martins Rodrigues, um dos mais respeitados intelectuais e ilustre conhecedor das Ciências Jurídicas do nosso Estado.

O Direito perde um dos seus mais valorosos e respeitados operadores, a sociedade perde um cidadão ético e humanista, e a intelectualidade cearense fica mais empobrecida.

Descanse em Paz.

Prof. Cândido Albuquerque
Diretor da Faculdade de Direito da
Universidade Federal do Ceará – UFC

Velório no Ethernus – Das 8:00h às 12:00h

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A CRÔNICA DO MEU SENTIMENTO, do Senador Cid Carvalho, que vai ao ar pela Rádio Cidade de segunda a sexta, na tarde de hoje (01.07.2019) foi dedicada a Roberto Martins Rodrigues. 

                       


POEMA - O Meu Deus (KK)


O MEU DEUS
Karla Karenina*




Já faz tempo que meu Deus saiu de dentro de um livro de capa preta!

Faz tempo que meu Deus desceu da nuvem, saiu do trono e não tem mais forma de senhor de barbas longas!
O meu Deus se fez canção, se fez poema... se fez arte!

O meu Deus aquece a tudo num amarelo incandescente a que chamam de sol, tem ondas e sal e também é feminino. É mãe generosa e faz brotar tudo que há. Tem tantas formas, cores e nomes...

Bate suas asas num voo rasante, chamando a atenção da sua porção felina que se espreguiça em minhas pernas e segue cantando, por cima das flores, dizendo que me viu!

O meu Deus corre leve pelas águas em suas penas brancas impermeáveis.


O meu Deus gargalha em corpo de criança quando o pai lhe beija a barriga, me aparece nos longos dedos da filha amada e bate dentro do meu peito!

Ah! O meu Deus conversa comigo nas palavras dos amigos e nos livros…

Meu Deus está agora florindo aos borbotões, exalando seu cheiro pelo ar... Ao mesmo tempo ouço o ruído das rodas do seu carrinho de colher sucata. Sim, ele vem cedinho recolher o que descarto e faz disso maravilhas! As maravilhas que não vemos e existem mesmo assim. Anonimamente ele passa e cumpre sua missão de transformar.

Depois toma nova forma, agora mais atlética, corre, pula, sobe e desce de um caminhão e pega, em sacos, meus restos, tudo aquilo que não me serve mais e é podre e desprezível e leva consigo no caminhão do lixo. E se não fosse ele?

Pois é! O meu Deus faz isso tudo!

Está aqui e aí onde o seu olhar se põe e às vezes toma banho de sol deitado no meu jardim, abanando o rabo quando me vê!


POEMA - Vino (ES)


Vino
Edmar Santos*


Beber vinho, uma arte
Um saber apreciar
Tem no rótulo a história
A origem, o lugar

Saca a rolha, vem o cheiro
O frescor a constatar
Vem a taça, só um pouco
Movimento circular


Outro cheiro, mais profundo
O aroma inalar
Segue um gole, um bochecho
Equilíbrio, harmonizar

No desfecho o prazer
O sabor a degustar
Uma sequência, uma técnica
Uma arte de tomar.



quarta-feira, 26 de junho de 2019

ARTIGO - Aculturação Forçada (RMR)


ACULTURAÇÃO FORÇADA
Rui Martinho Rodrigues*


Comunicadores, professores e intelectuais empreendem uma cruzada pela mudança cultural, uma luta por um mundo melhor. Querem mais tolerância, menos violência e menos desigualdade (confundida com diferença).

Desqualificam comportamentos e valores tradicionais como preconceituosos, ignorância ou próprios de personalidades violentas, sem respeito pelo diferente e o mais vulnerável. Até criminalizam os valores tradicionais.

Os que assim procedem se colocam como mais esclarecidos, moral e intelectualmente superiores, como herdeiros do iluminismo. O relativismo cultural é uma das bandeiras destes “esclarecidos”, sem embargo da contradição entre esta ideia e a suposta superioridade da presunção de esclarecidos.

A campanha pela mudança cultural quer aculturar os tradicionalistas, substituindo suas referências pelas concepções modernas ou pós-modernas. Injustiças, desigualdades, intolerância e violência seriam afastadas.

Mas o processo de destruição da cultura desorienta, gera resistências, ofende, acirra ânimos e incrementa a violência. Índios que passam por aculturação apresentam altos índices de suicídio, alcoolismo, desinserção social e violência. Quando os índios somos nós, integrantes do mundo ocidental, o fenômeno tem as mesmas características. Imigrantes passam por culturação e apresentam maiores índices de violência e desajustes sociais diversos.

Os defensores do relativismo cultural se mostram incoerentes quando pretendem promover a aculturação dos tradicionalistas. O relativismo aludido tem fundamento na ausência de superioridade das culturas quando comparadas entre si. A superioridade dos supostamente evoluídos precisaria promover uma melhor convivência do indivíduo consigo mesmo; com o outro e com a natureza, como prelecionam Sérgio Paulo Rouanet (1934 – vivo) e Alain Touraine (1925 – vivo). Tal não acontece. Mas o relativismo em apreço tem limites. Matar crianças recém nascidos por serem gêmeos ou albinos, como prática cultural, não deve ser tolerado.

Ressalvadas as exceções (vida, integridade física e a liberdade) é preciso respeitar os valores das tradições culturais. Mudança cultural forçada fracassa em seus objetivos. Não promove a paz, mas a violência que acompanha a aculturação. Não expressa o respeito e a tolerância que prega, pois desqualifica o outro como preconceituoso, ignorante, violento ou machista. Gera reação violenta e acirramento dos ânimos, conforme os índices de violência. Não promove felicidade. Não é mais correta cientificamente. Práticas tradicionais são naturalizadas pelo costume. Não incomodam a quem as tem como referência. Não promove a felicidade. Culturas pertencem ao campo da metafísica, não ao mundo da ciência. Os novos valores não têm superioridade científica. A imposição de novas referências, inclusive pela criminalização de condutas, é oficialização de consciências, moral estatizada, convertida em ortodoxia. Destrói a liberdade de consciência, expressão e crítica. É o réquiem da democracia.

Desqualificar conceitos como “preconceitos” ultrapassa o limite da crítica respeitosa. É errado. Preconceito não é a moral do outro. É juízo de valor formulado antes de conhecer o objeto da cognição. Juízo sobre o que se conhece é conceito. Pode ser criticado, mas desqualificá-lo com adjetivos pejorativos é agressão incompatível com a pregação de paz e amor. Novos valores não têm base no antropocentrismo, pois tentam modificar costumes. Não têm arrimo no cosmocêntrismo, pois não se demonstra que estejam escritos no cosmos. Não são revelação teocêntrica. Não são científicos. Representam o interesse em adaptar pessoas ao modo de vida moderno, à produtividade, consumo e competitividade e ajustar a mulher ao “apito da chaminé de barro” (Noel Rosa, 1910 – 1937), submetendo todos ao consumismo. Foi a revolução industrial e a mobilização dos homens para a guerra que modificou os costumes, não a promoção da felicidade ou de relações justas. Não somos mais felizes do que no passado.


CRÔNICA - Na farmácia do Seu Almeida (TL)


NA FARMÁCIA DO SEU ALMEIDA
Totonho Laprovitera*


Cidadão de bem, “Seu” Almeida vive na tranquilidade da sua moradia, posta no sobrado de sua tradicional e bem estabelecida farmácia, no Conjunto Esperança, em Fortaleza.

Pois bem, após trabalhar pesado o sábado inteiro, fazendo as vezes de balconista, caixa, farmacêutico e enfermeiro, “Seu” Almeida subiu para seus aposentos, onde banhou-se, jantou, aboletou-se na velha rede de dormir, assistiu um riliquim de televisão e caiu num sono ferrado. A noite cerrou-se e uma repentina e brusca chuva começou a cair, compondo um clima ideal para a boa qualidade da dormida de qualquer cristão.

Lá pelas tantas, Dona Mazé, sua esposa, ouviu o ecoar de um insistente toque-toque metálico na porta da farmácia.

– Almeida, Almeida...
 
– Que foi Mazé?
 
– Almeida, tão batendo na porta da farmácia...
 
– Ah, Mazé, essa não...

– Almeida, vá lá ver o que estão querendo...
 
– Mazé, tô morrendo de sono e não vou, não...
 
– Almeida, vá lá... Vai que é um pai agoniado, na precisão de algum medicamento para um filho com febre, sei lá... Vá lá, ômi.

– Mazé... Isso lá é hora de se ir à farmácia...
 
– Vá, meu filho... Deus está vendo e é até uma caridade que você vai fazer.

Aí, “Seu” Almeida decidiu largar o conforto de seu sono para atender ao “necessitado” cliente. Por riba do listrado pijama comprido vestiu-se de calça e camisa e, protegendo-se da chuva, desceu a escada externa da edificação.

No aguardo, Dona Mazé escutou o subir e descer da porta de enrolar dar-se de jeito avexado. Depois, o arrastar das alpercatas e o tibungar do marido na rede.

– Que que foi, Almeida?
 
– O que foi?
 
– Sim...

– Ora... Era só um bêbado querendo se pesar!






REUNIÃO NA TENDA ÁRABE E MOMENTO CULTURAL - 25.06.2019

REUNIÃO NA TENDA ÁRABE
E MOMENTO LITERÁRIO 
DA EMBAIXADA


Na noite da última terça-feira (25.06.2019) reuniram-se na Tenda Árabe os acadêmicos  Reginaldo Vasconcelos, Rui Martinho Rodrigues, Adriano Vasconcelos, Paulo Ximenes, Alana Alencar, Arnaldo Santos, Dorian Sampaio, Durval Aires, Júlio Soares,  Vicente Alencar, Altino Farias, Karla Karenina e Márcio Catunda. 



A experiência gastronômica da semana seria Bobó de Camarão, prato de origem baiana preparado a base de macaxeira e o referido marisco, do repertório culinário da família Vasconcelos. Contudo, o prato principal não chegou a ser servido, porque os comensais se fartaram com a entrada de mini-acarajés, com vatapá de camarão, ou de frango, para os alérgicos ao crustáceo. 

Seguiu-se à reunião a sessão de leitura de poesia e de prosa poética, o “Momento Literário da Embaixada da Cachaça”, evento cultural semanal instituído pelo Embaixador Altino Farias, Membro Titular Fundador da ACLJ.

Essa prática artística e performática, internacionalmente designada como poetry slam,  nasceu em Chicago, na Green Mill Tavern, em meados dos anos 80, por inciativa do escritor Marc Kelly Smith, disseminando-se por todo o país e depois pela Europa, e por outras partes do mundo. A palavra inglesa slam refere a poesia produzida para ser lida em público.














Nas imagens, participando da declamação, Altino Farias, Otávio Menezes, Durval Aires Filho, Vicente Alencar,  Karla Karenina, Dorian Sampaio e Márcio Catunda. Roberto Paiva estava no grupo mas não estava inspirado para ler uma de suas crônicas. Entretanto aparece extasiado com a leitura do texto de Reginaldo Vasconcelos. No vídeo, Reginaldo lê o soneto "Holderlin Catunda", do confrade Vianney Mesquita, escrito em homenagem ao Membro Correspondente Márcio Catunda. 



No vídeo abaixo, Romeu Duarte, em vez de fazer a declamação de um poema, cantou à capela uma de suas composições em parceria com Totonho Laprovitera. 



terça-feira, 25 de junho de 2019

NOTA JORNALÍSTICA - Cândido Albuquerque - Cotado para Reitor da UFC


CÂNDIDO
ALBUQUERQUE
CUMPRINDO MISSÃO DA UFC EM PARIS
NESTE MOMENTO
É UM DOS MAIS COTADOS CANDIDATOS
A REITOR

O advogado e professor Cândido Albuquerque, Membro Titular da ACLJ, fundador da sua Cadeira de nº 15, patroneada por Antônio Martins Filho, compõe a lista tríplice da qual será escolhido o futuro Reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Suas chances são consideradas muito boas, porque os critérios do Governo Bolsonaro para nomear e manter os indicados aos escalões do Poder Executivo excluem nomes relacionados ao esquerdismo nacional, ao comunismo, ao socialismo, ao sindicalismo.

Cândido Albuquerque, Diretor da Faculdade de Direito da UFC, é “mosca branca” no meio universitário, pois não se caracteriza como militante ideológico e tem se mantido equidistante na política partidária – porquanto não haja nenhuma referência a qualquer experiência militar em seu currículo, o que representaria mais um ponto positivo. Na imagem, com o Presidente e o Presidente de Honra da ACLJ, Reginaldo Vasconcelos e Cid Carvalho.

Atualmente em missão da UFC na Capital francesa, tratando da integração internacional entre instituições do ensino superior, Cândido aguarda serenamente a definição do próximo reitor, prevista para o início deste mês de julho.

E como era de se esperar, o nosso confrade tem sido violentamente alvejado por fake news a seu respeito – o mal do século – de que vêm lançando mão os arautos da mentira para aniquilar reputações. Vejamos se os responsáveis pela escolha do novo reitor saberão separar o joio do trigo.


COMENTÁRIO

Confrades.

Muito obrigado. Enquanto eu estava em busca de ações de empreendedorismo, inovação e internacionalização para a UFC, em missão regular e oficial, como muitas que já fiz, determinada figura, destilando maldade e golfando ódio, criou uma situação irreal e caluniosa, interpretando um encontra casual com um casal de amigos, como se fosse uma comemoração. Pura maldade! Aliás, maldade já conhecida, em se tratando de um ofensor contumaz, embora desacreditado! 

Recebam o meu abraço amigo.

Cândido Albuquerque

     

domingo, 23 de junho de 2019

CRÔNICA - Maneiras de Olhar para o Céu (ES)


Maneiras de
olhar para o céu
Edmar Santos*


A curiosidade nossa nos leva a viagens mentais surpreendentes. Vez por outra!

Dizem que todo cientista tem um toque de curioso que o leva a buscar os porquês das coisas que lhes chamam a atenção. Deve ser mesmo.

Olhei para o céu outro dia, acompanhando as viagens ideativas de Stephen Hawking e Neil Degrasse – astrofísicos conceituadíssimos. Deles apreendi uma perspectiva bem lúcida sobre o Cosmo. Tudo que vem depois do azul é uma infinita massa negra que se expande, e o buraco negro é um fato.

Mas o que me surpreendeu mesmo foi quando o Neil disse: “A perspectiva cósmica é espiritual – até mesmo redentora – mas não religiosa!” Gostei demais dessa perspectiva!

Distante de religiosidade, mas pelo roteiro espiritual, é bem possível viajarmos também nas ideações do apóstolo Paulo (Bíblia Sagrada, Coríntios 2-12) quando disse: “Conheci um homem que foi elevado em êxtase espiritual ao terceiro céu (...) não sei se no corpo ou fora dele”. Não é de se maravilhar?

Olhar para o céu passou assim, para mim, e desde então, a ser uma aventura astrofísica espiritual – a cada galáxia, astro, estrela ou outro corpo celeste qualquer, visualizo a grandiosidade e a beleza de tudo, e a infinitude da glória de Deus. Olhe mais para o céu!


POEMA - O Tédio da Libélula (AA)


O Tédio da Libélula
Alana Alencar*


Dependurada sobre o equilíbrio do vento apega-se ao tempo de, em meio ao balé trepidante das asas, ter interrompido o folheado das páginas por olhos de felino.

Anseia, no desafio de voar oculta, o fim do imperioso tédio e cria, predadora do medo, o receio indiscreto de não flutuar sobre as cores.


Náiade, selvagem, única... deflagra-se leve. E absurdamente leve contrasta o eterno enfado.

E o mundo, num arsenal de jardins de raso valor, realça a translúcida pele... e esbarra na incansável espera.



POESIA - Soneto Decassilábico Português – Partida Dobrada (VM)


PARTIDA DOBRADA*
Vianney Mesquita**


Também a dor tem suas hipocrisias. (MACHADO DE ASSIS).

Nunca é feliz com um vestido de chita a mulher que tem amigas com vestidos de seda. (Camilo Castelo Branco).



A pessoa que tem por corolário,
Firmeza imperiosa de vitória
Ancora em pensamento adversário,
Se nada penar na trajetória.

Ao diligenciar um bom fadário,
Certeza é receber na compulsória
Rápido efeito – um consectário
De penas, circunstância vexatória.


Para se ser feliz, obter glória,
A fim de uma existência promissória,
Impende aprestar todo o cenário.

Por mais intensa e contraditória
Deste juízo está sortida a história:
Inexiste ventura sem calvário.

 *Alusão às partidas dobradas da Contabilidade – a relação débito/crédito.