quarta-feira, 31 de julho de 2019

REUNIÃO NA TENDA ÁRABE E MOMENTO LITERÁRIO - 30.07.2019

REUNIÃO NA TENDA ÁRABE
E MOMENTO LITERÁRIO


Na noite da última terça-feira (30.07.2019) reuniram-se na Tenda Árabe os acadêmicos  Reginaldo Vasconcelos, Rui Martinho Rodrigues, Alana Alencar, Arnaldo Santos, Júlio Soares, Humberto Ellery, Vicente Alencar, Altino Farias e os convidados Mouzinho, Durval Aires Filho e Jackson Albuquerque.

A experiência gastronômica da semana foi Frango Frito ao Molho de Soja, prato clássico da cozinha chinesa de composição auto-explicativa, tendo como guarnição arroz shop suey. É item tradicional do cardápio do primeiro restaurante oriental de Fortaleza, o Hong Kong, na Av. Beira Mar. A receita é uma contribuição pela filha chinesa da família Vasconcelos, Yeh Yu Ping, hoje residente em Porto Alegre-RS.  

Seguiu-se à reunião a sessão de leitura de poesia e de prosa poética, o “Momento Literário da Embaixada da Cachaça”, evento cultural semanal instituído pelo Embaixador Altino Farias, Membro Titular Fundador da ACLJ.

Essa prática artística e performática, internacionalmente designada como poetry slam,  nasceu em Chicago, na Green Mill Tavern, em meados dos anos 80, por inciativa do escritor Marc Kelly Smith, disseminando-se por todo o país e depois pela Europa, e por outras partes do mundo. A palavra inglesa slam refere a poesia produzida para ser lida em público.







Participaram da declamação Altino Farias, Vicente Alencar, Reginaldo Vasconcelos, Akemi Ito, Roberto Paiva, Alana Alencar, Mouzinho e Humberto Ellery. Romeu Duarte e Wagner Castro fizeram uma performance de voz e violão, executando uma canção de sua mútua autoria.







NOTA EDITORIAL

No encontro na Tenda Árabe desta terça-feira o grupo homenageou o casal de acadêmicos Alana e Júlio, os quais  estão comemorando suas Bodas de Cerâmica, correspondentes ao aniversário de nove anos de casados.

Surpreendidos com um bolo especial, com o tradicional canto de parabéns, os dois agradeceram emocionados. Eles vão reunir os confrades e amigos na Boate Clube Retrô, no dia 03 de agosto, conforme convite anexado.


ANEDOTA - Plural de Qualquer (EN)

PLURAL DE QUALQUER
Edmilson Nascimento*


Naquela arguição de português, a professora, só para se vingar do aluno mais trabalhoso, perguntou-lhe se o plural de qualquer é quaisquer, qualqueres ou quaisqueres.

Como não prestou atenção na aula anterior sobre o assunto, já que passou todo o tempo trolando a professora e os colegas, Joãozinho respondeu que a segunda e a terceira opções eram corretas, pensando até que era mais uma casca de banana, em represália pelo seu mau comportamento, pois achava impossível uma palavra fazer o plural no meio.


A professora imediatamente pediu para ele dizer uma frase com qualqueres.

Como ele tem sempre uma saída para tudo, veja a pérola da vez: Maria, tenho uma notícia boa e uma ruim para lhe dar; qual queres ouvir primeiro?

Sem querer acreditar no que ouvia, e intrigada com a perspicácia do moleque, a professora lhe prometeu a nota máxima se ele conseguisse formular uma frase correta usando o plural quaisqueres.

Veja a astúcia do peralta:

Maria, tens de escolher duas frutas entre abacaxi, banana e caju; quais queres?

Em seguida, ele cobrou a nota prometida, ao que ela reagiu:

— Ah, não, Joãozinho! Você está de brincadeira comigo!
Joãozinho não deixou por menos:

— Tem razão, tia, mas foi a senhora quem começou!


ARTIGO - Ideias Políticas na Era Romântica (RMR)


IDEIAS POLÍTICAS
NA ERA ROMÂNTICA
Rui Martinho Rodrigues*



A filosofia romântica dominou por muito tempo as cogitações teóricas. Ciclos estéticos e teóricos passam, mas alguma coisa fica. Nas reflexões políticas as impressões digitais do romantismo são bastante visíveis.

Isaiah Berlim (1909 – 1997) na obra “Ideias políticas na era romântica”, analisou pensadores ligados à filosofia romântica ainda influentes. São traços românticos do pensamento político contemporâneo o titanismo e A oposição ao racionalismo.

Fatos objetivos, como os dos indicadores estatísticos de qualidade de vida, analisados racionalmente, encontram resistência injustificada porque contrariam a denúncia de algumas injustiças sociais. Temos o titanismo, que é a tendência para resistir aos fatos. Temos o uso da hipérbole, figura de linguagem típica do romantismo.

Os exageros da revolta contra os males denunciados são hipérboles, contrastam claramente com a tendência secular dos dados sobre mortalidade infantil, analfabetismo, escolaridade média, esperança de vida, acesso aos bens e serviços e tudo mais.

Há também a tática descrita em análise transacional, na análise dos jogos, em que os comunicantes desempenham, ou procuram atribuir uns aos outros, os papéis de perseguidor e vítima, ensejando a intervenção de um salvador.

A letra da música “mulher de trinta”, de Luiz Antônio Drink Fermata, tem sido citada como exemplo disso. Nela um personagem descreve a mulher de trinta como vítima (“você mulher, que já viveu, e já sofreu, não minta”) e em seguida se coloca como salvador (“no meu olhar, na minha voz um novo mundo sinta”). Intelectuais usam de hipérbole, ao modo romântico, para tornar a vítima dramaticamente sofrida, colocando-se como salvadores ou autores da receita messiânica.

Não falta a promoção mercadológica. Sofrimento atrai espectadores e promove audiência. Um poeta romântico de sucesso disse que “todo grande amor só é bem grande se for triste” (Marcus Vinicius de Moraes, 1913 – 1980).

Os primeiros tempos da Revolução Industrial são descritos como terríveis. Crianças retiradas dos folguedos para as fábricas; mulheres arrancadas do conforto dos lares e escravizadas na indústria; altos índices de mortalidade, longas jornadas de trabalho em péssimas condições; e baixos salários.

A descrição, além do jogo de vítima, perseguidor e salvador, ajuda a vender livros ou jornais e a amealhar votos e incorre na prática do anacronismo, atitude de quem olha o passado com os parâmetros do presente. As crianças do período referido não foram retiradas de atividade lúdica. Elas trabalhavam na zona rural; a mortalidade, inclusive a infantil, era altíssima então. Os salários do período pré-industrial eram mais baixos, tanto que os fluxos migratórios voluntariamente se dirigiram do campo para as cidades. Mulheres não foram a arrancadas do conforto do lar. Viviam miseravelmente, submetidas ao duro trabalho do campo e em casa.

A falta de regulamentação das relações trabalhistas, a economia de mercado e a propriedade privada são apontadas como causa dos “terríveis males” descritos. Mas salários guardam relação com produtividade. Regulamentação não muda isso. A Revolução Industrial aumentou a produtividade e melhorou os salários, não comparados aos de hoje, mas quando cotejados com a alternativa da época. Remuneração artificialmente inflados, de pequenos grupos com poder, obtidos via regulamentação ou pressão sindical prejudicam outros grupos, como demonstrou Lawrence W. Reed (1953 – vivo). Sem o jogo da análise transacional, sem anacronismo e sem romantismo a Revolução Industrial trouxe foi melhora.


segunda-feira, 29 de julho de 2019

CRÔNICA - Cidade na Medida (TL)


CIDADE NA MEDIDA
Totonho Laprovitera*



Para mim, falar de cidade é pensar em qualidade de vida. Cogitar a razão da sua existência, de suas razões e de seus significados. É dizer sobre a sua ambiência e a sua escala.

Sobre escala, eu entendo o palmo como muito mais do que os estipulados 22,86 centímetros medidos com a mão toda aberta desde a ponta do dedo polegar até a ponta do dedo mínimo. Assim como a braça (com 2,20 metros, medidos de ponta a ponta de cada braço aberto dos dedos maiores das mãos), o côvado (com 67,2 centímetros medidos da distância entre o cotovelo e a ponta do dedo médio da mão), o pé (com 30,48 centímetros, calculado no tamanho do pé de um homem), a polegada (com 2,54 centímetros, da largura do dedo polegar humano na base da unha) e a passada, além dos convencionados 64 centímetros.


Seguramente, são medidas que contém sentimentos e carregam em silêncio os desejos do “ir e vir”, do “partir e chegar”, do “planejar e realizar”. Muito mais do que números, elevam os sentidos das pessoas, oferecendo-lhes a extensão de referência com o próprio corpo humano.

Pois é, aí eu me lembro de quando certa vez disse Dr. Fran Martins, na medida certa, ao apresentar a minha exposição “A Cidade como Extensão do Corpo”, em 1982: “Os desenhos de Totonho Laprovitera representam um grito em favor da humanização da cidade – já que as cidades, como as pessoas, tem um corpo cuja beleza depende exclusivamente dos cuidados e do carinho dos que a administram e dos que a habitam”.


CRÔNICA - Conselho de Mãe Improvisada (EN) - 29.07.19


CONSELHO de mãe
improvisada
Edmílson Nascimento*


O episódio se passou no tempo em que fusca era carro e a gente ainda o chamava de Volks, já que ele era literalmente o carro-chefe da marca mais famosa da época.

Também naquele tempo eram comuns as trocas de visitas entre casais amigos, quando a maioria das famílias ainda morava em casas, pois, devido à grande disponibilidade de terrenos, a cidade ainda não começara a crescer verticalmente.

Era também costume, após terminada a visita, os anfitriões acompanhar os visitantes até seu carro, enquanto arrematavam o penúltimo capítulo daquela animada conversa que mais parecia uma novela sem fim.

E, devido à tranquilidade da época em que não havia perigo de assalto como hoje, era comum também o papo se prolongar na calçada da rua, só terminando quando os visitantes entravam no carro estacionado ali mesmo defronte ao portão e a ignição era acionada, não raras vezes em torno da meia-noite.

Conterrâneas daquela cidadezinha do Interior, as duas amigas de infância, ambas agora casadas com bancários, passaram a morar na capital, onde deram continuidade à amizade, encontrando-se principalmente nos aniversários dos filhos pequenos.

Naquele fim de noite, quando, após terminar uma alegre visita, o casal se despedia dos anfitriões na calçada, já com o motor funcionando, ouvem um barulho de uma trombada entre dois carros naquela importante avenida que ficava a 50 metros dali.

Não dava para não acorrer ao local, menos por curiosidade e mais para oferecer ajuda a eventuais vítimas, como era da natureza da gente do Interior.

Ao se aproximar, porém, presenciaram quando um dos motoristas saiu do seu carro em direção ao outro guiador, que, de tão embriagado, não só não conseguia sair de seu automóvel, como não esboçava qualquer reação para se livrar de ser morto pelo outro, que, aos gritos e palavrões, e já com as duas mãos no seu pescoço, tentava esganá-lo.

Ao perceber que era iminente uma tragédia, uma das duas jovens senhoras correu para tentar impedir o assassinato, pedindo ao rapaz descontrolado que pelo amor de Deus largasse o pescoço do outro, argumentando que senão ele podia acabar com a vida do pobre bêbado indefeso.

E era tão grande a raiva do agressor pelo prejuízo sofrido, que ele estava visivelmente transtornado, totalmente fora da razão e decidido a se vingar ali mesmo, de maneira que, ao ouvir que sua agressão poderia matar o outro, isso só o estimulava a prosseguir na violência.

Ao perceber que sua argumentação não surtia o efeito desejado, a jovem senhora resolveu mudar de tática, e decidiu tentar um infalível pretexto que alcançasse o âmago de seu inconsciente egoístico, passando então a alertar o rapaz de que ele não deveria sujar suas mãos de sangue, pois o crime que estava prestes a cometer somente prejudicaria sua própria vida para sempre.

E, apesar do clima de tensão e nervosismo do momento, somente após ouvir um argumento tão convincente ele finalmente soltou o pescoço do outro, como se seu inconsciente o alertasse para as graves consequências que o impensado e tresloucado gesto poderiam trazer para ele próprio.

Não foi a primeira vez nem seria a última que aquela jovem e experiente mãe salvaria uma vida em perigo, recorrendo aos seus conhecimentos caseiros de psicóloga autodidata, já postos em prática bem-sucedida com seus filhos tão jovens e imaturos como aquele inconformado motorista.




domingo, 28 de julho de 2019

ARTIGO - A Civilização de Hoje (RMR)


A CIVILIZAÇÃO DE HOJE
Rui Martinho Rodrigues*



Civilizações podem ser estudadas como categorias de análise. Arnold Toynbee (1889 – 1975) examinou mais de uma centena delas. Registrou suas tendências cíclicas de ascensão e declínio. Casos exemplares têm sido examinados por muitos pesquisadores, como o Império Romano.

Crise econômica, exaurimento do escravismo, declínio da agricultura e burocratização são fatores assinalados por Maximilian Karl Emil Weber (1864 – 1920), cuja interpretação enfatizou fatores internos. Charles-Louis de Secondat, Barão de La Brède e de Montesquieu (1689 – 1755), também ressaltou aspectos intrínsecos ao analisar a queda de Roma.

Considerações políticas, porém, foram mais destacadas pelo pensador francês, que ressaltou a instabilidade pós-republicana. O início de tudo, porém, teria sido o êxito de Roma: sucesso levando à derrota.

O Ocidente enfrenta graves problemas vivendo o período mais próspero jamais visto, com bem-estar jamais experimentado. O grande salto tecnológico oferece soluções e cria problemas.

O choque cultural agudizado pelos fluxos migratórios e comunicações globais parecem desencadear um conflito entre civilizações (Samuel P. Huntington, 1927 – 2008). 

Mas o que é o Ocidente? Existem identidades? Não se toma banho duas vezes no mesmo rio (Heráclito de Éfeso, 540 – 470 a.C.)? Ou sem um significado diante do espelho resta o caos? Romanos e gregos e entraram em decadência quando perderam suas referências.

O Ocidente é uma mistura heterogênea das tradições grega e hebraica, contendo contradições. Cria significados e tenta destruí-los. Gera conhecimento que soluciona e cria problemas. A instabilidade ronda as instituições, lembrando a queda de Roma, na visão de Montesquieu.

Déficits fiscais endêmicos e crises econômicas lembram a explicação de Weber para o declínio dos romanos. O desgaste da identidade e os multiculturalismos interativista e diferencialista recordam o choque entre civilizações, apontado por Huntington.

O Ocidente criou o habeas corpus, o governo consentido por eleições e outros dispositivos preciosos. Mas é autodestrutivo. O trabalho de Sísifo, hoje, se faz com grande velocidade, gerando instabilidade. Mitos políticos são desacreditados mais rápido do que construídos.


sábado, 27 de julho de 2019

ARTIGO - Rio ou Choro? (HE)


RIO OU CHORO?
Humberto Ellery*


O Brasil já teve um Embaixador em Washington que não era diplomata de carreira, portanto há um precedente. Apenas uma pequena diferença: era um exemplo insofismável de erudição e elegância, sendo, à época, considerado o primeiro intelectual brasileiro respeitado internacionalmente, membro brilhante da Academia Brasileira de Letras (amigo pessoal de Machado de Assis).

Se eu tivesse competência para tanto escreveria um livro sobre esse gigante de minha irrestrita admiração. Quando de seu falecimento, no posto de Embaixador, por conta de seu enorme prestígio pessoal compareceram ao seu velório as maiores autoridades dos Estados Unidos, inclusive (fato raríssimo naquele país) o Presidente William Taft.

É para o posto tão brilhantemente ocupado no princípio do Século XX (1905/1910) que Jair Bolsonaro  vai nomear seu filho escrivão de polícia Eduardo, o Zero Três. Vai certamente “abrilhantar” o cargo, antes desempenhado por ninguém menos que Joaquim Nabuco, honra e glória de nosso querido Pernambuco (rimou).

Há outros precedentes: Oswaldo Aranha, Walther Moreira Sales e Roberto Campos. É mole?

Ainda não sei se rio ou se choro...
  



COMENTÁRIO

É mesmo uma ousadia disruptiva do Presidente Bolsonaro – ou “rompedora” – como preferiu traduzir o Ministro Paulo Guedes – a iniciativa de nomear um jovem inexperiente, fosse quem fosse, e notadamente sendo seu próprio filho, para um dos cargos mais cobiçados e estratégicos da República, a Embaixada brasileira em Washington – sem ser do Itamarati e sem formatura no Instituto Rio Branco.

Mas, bem ou mal, trata-se de uma prerrogativa do Presidente da República fazer livre escolha dos embaixadores, como já era no tempo de Joaquim Nabuco, e o legítimo dignitário do Poder Executivo, democraticamente eleito, é Jair Bolsonaro. Rir não cabe, que não tem graça nenhuma. Vale chorar, inalienável direito ao jus esperniandi

Aliás, o advogado e jornalista Joaquim Nabuco, que Ellery toma como exemplo, foi também, em seu tempo, um polêmico “rompedor” de paradigmas, que durante a vida encontrou várias estradas de Damasco

A princípio crítico ferrenho da Igreja Católica numa família católica, abolicionista em uma família escravagista, maçom e monarquista, amásio notório de uma moça milionária – foi depois nomeado pelo Governo Republicano para a Embaixada nos EUA, principalmente por falar inglês fluentemente, em tempos de absoluto francesismo cultural. Depois deixou a amante e se casou, reconvertendo-se ao catolicismo. Teve filho padre e filho diplomata, titular da Embaixada em Washington. Cada homem, um universo.  

Reginaldo Vasconcelos   




quinta-feira, 25 de julho de 2019

NOTA CULTURAL - ICCP (VA) - 25.07.19


INSTITUTO CEARENSE
DE CULTURA
PORTUGUESA – ICCP
(Fundado em 01 de junho de 1992)

Vicente Alencar*

25 de Julho de 2019

Comemora-se hoje o Dia do Escritor, data de suma importância para todos aqueles que lidam com a Cultura Brasileira, particularmente com a Literatura. Escritores estão de parabéns nesta data.

Aqui no Ceará, o saudoso escritor Artur Eduardo Benevides nasceu nesta data em 1923, portanto há 96 anos. Dentro de quatro anos comemoraremos o seu centenário de nascimento.

Artur Eduardo Benevides, que por 10 anos foi Presidente da Academia Cearense de Letras, publicou sua primeira obra em 1944, o seu “Navio da Noite”. A última é “Cantares de Outono” em 2004.

Ele, que foi o terceiro “Príncipe dos Poetas Cearenses”, eleito em 1985, faleceu em 21 de setembro de 2014, deixando em grande tristeza seus amigos, ex-alunos e colegas da Academia Cearense de Letras.

Três outros nomes ligados as Letras que aniversariam no Dia do Escritor: 

Paulo da Silva Araújo, natural de Niterói, nascido em 1883 e falecido no Rio de Janeiro em 22 de outubro de 1918. Autor de “Alto Mar” em 1915 e “Alma das Cores” (sonetos).

Davi Moreira Caldas, nascido em Vila de Barras, Piauí, em 1835. Escritor que nos deixou em  03 de Janeiro de 1878, em Teresina. Publicou o “Dicionário Histórico e Geográfico do Piauí” e pertenceu a Academia Piauiense de Letras, ocupando a cadeira de número 4.

Luiz Pistarini nasceu em Resende, no Estado do Rio, em 1877. Escritor de largos méritos, publicou “Bandolim”, “De Luto”, “Sombrinhas” e “Postais”, além de “Agora” e “Ressurreições”. Morreu em 24 de Fevereiro de 1918.

Redatores:
Emanuela Cavalcanti.
Izete de Alencar.
Editor: Vicente Alencar.


quarta-feira, 24 de julho de 2019

POEMA - Sessão N. 8.036 (AA)


Sessão n. 8.036
Alana Alencar*


No desconcerto final, o eco…
a persistência sonora de tudo o que não foi dito.
… o clamor divino, o despedaçar do espelho.
Os cacos enterrados na memória cortam e devastam
e a manhã, trágica e intacta, implora as consequências do que reverbera.


Cada minuto sangra o que silencia.
Cada arbítrio aprisiona o que ganha força de poema.
- um grito -
A síntese dos pensamentos que trafegam não coincidem...
embriagam-se perdidos corpo a dentro… e tudo, outra vez, ressoa.


ARTIGO - Reminiscências Medievais (RMR)


REMINISCÊNCIAS
MEDIEVAIS
Rui Martinho Rodrigues*




A Idade Média condenava o lucro (dos outros). Auferir ganhos sobre empréstimos (alugar dinheiro) era imoral. Jacques Le Goff (1924 – 20114) explica a invenção do purgatório como tendo sido criado para apaziguar os acusados de usura. Até hoje há um sentimento contrário aos ganhos e à riqueza. Pessoas letradas e “bem informadas” alimentam o sentimento aludido.

A condenação dos cobiçosos, cúpidos, gananciosos é, até certo ponto, compreensível. É preciso, todavia, distinguir os diferentes caminhos da aspiração por ganhos. As trocas, no âmbito dos valores de natureza econômica, sofrem o efeito do modo como se procura obter ganhos.

O saque e o engodo não levam ao desenvolvimento. A busca do lucro pela redução dos custos de produção e aumento da produtividade, somadas à conquista da confiança dos parceiros assim fidelizados, produzem resultado positivo. Henry Ford (1863 – 1947) reduziu custos e promoveu um salto de produtividade, barateou o preço, democratizou o acesso aos carros, aumentou a arrecadação de tributos e gerou empregos. Sua meta era o lucro.

Muitos professores e profissionais de comunicação dizem que os problemas do Brasil têm origem no lucro. A imunização cognitiva incide fortemente sobre os letrados. “O conhecimento pode ser obstáculo epistemológico” (Gaston Bacelard, 1884 – 1962).

Os profissionais citados não lembram que a Idade Média, tempo em que lucro e ganhos (dos outros) eram severamente reprovados, foi tempo de pobreza e privação. Não sabem que quando o lucro deixou de ser satanizado, na modernidade, todos os indicadores objetivos de qualidade de vida passaram a melhorar. Mortalidade infantil, expectativa de vida ao nascer, analfabetismo, escolaridade média, acesso aos bens e serviços.

Alegou-se que só os países desenvolvidos auferiam as vantagens referidas. As teorias difusionistas, segundo as quais as conquistas humanas se espalham progressivamente entre os povos, foi repudiada em nome da teoria da dependência. Esta supõe que todos os povos originariamente são desenvolvidos. Tendo surgido nesta condição, se tornariam subdesenvolvidos como consequência de trocas desiguais com outros povos. O dependentista recusou-se a ver que o desenvolvimento original é fruto da lenda do tempo em que se amarrava cachorro com linguiça, reforçada no Brasil pela ficção indigenista, com a Iracema, de José de Alencar (1829 – 1877).

Povos isolados vivem em piores condições do que os que participaram das “trocas desiguais”, conforme a comparação entre São Paulo e Roraima. Os índices objetivos de qualidade de vida melhoraram enormemente entre os povos “explorados pelas relações desiguais”, forçando a emenda da teoria da “dependência” em teoria da “interdependência”.

Reminiscências medievais, inveja travestida de virtude e convicção ideológica alimentam a condenação da busca por lucro. Adam Smith (1732 – 1790) percebeu que o caminho para a prosperidade não é a busca da virtude, mas o direcionamento das imperfeições humanas para o bem-estar da sociedade pela recompensa. Quem inventou o crediário queria lucrar, mas proporcionou conforto para muitos. Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Singapura e China retiraram centenas de milhões de pessoas da miséria adotando a busca do lucro pela via da redução de custos e aumento da produtividade.

Marcus Tullius Cicero (106 a.C. – 43 a.C) diria: até quando Catilina, insistirás perguntando: espelho meu, espelho meu, quem é mais virtuoso do que eu, que condeno o lucro dos outros e nego os fatos contrários ao moralismo medieval?


REUNIÃO NA TENDA ÁRABE E MOMENTO LITERÁRIO - 24.07.2019

REUNIÃO NA TENDA ÁRABE
E MOMENTO LITERÁRIO


Na noite da última terça-feira (23.07.2019) reuniram-se na Tenda Árabe os acadêmicos  Reginaldo Vasconcelos, Rui Martinho Rodrigues, Alana Alencar, Arnaldo Santos, Júlio Soares, Vicente Alencar, Altino Farias,  Márcio Catunda, e o convidado Jackson Albuquerque.


A experiência gastronômica da semana foi uma Moqueca de Peixe, prato clássico da cozinha baiana, uma caldeirada que tem como base o leite de coco, o azeite de dendê e cheiro verde, preparada com rodelas de cebolas, tomates e pimentões, e no caso postas de arabaiana e de sirigado, os mais indicados na receita. É item do repertório culinário da família Vasconcelos. 



Seguiu-se à reunião a sessão de leitura de poesia e de prosa poética, o “Momento Literário da Embaixada da Cachaça”, evento cultural semanal instituído pelo Embaixador Altino Farias, Membro Titular Fundador da ACLJ.

Essa prática artística e performática, internacionalmente designada como poetry slam,  nasceu em Chicago, na Green Mill Tavern, em meados dos anos 80, por inciativa do escritor Marc Kelly Smith, disseminando-se por todo o país e depois pela Europa, e por outras partes do mundo. A palavra inglesa slam refere a poesia produzida para ser lida em público.

Participaram da declamação Altino Farias, Márcio Catunda, Vicente Alencar, Reginaldo Vasconcelos, Luciano Maia, Akemi Ito e Romeu Duarte, que apresentou, com voz e violão, uma canção de sua autoria, em parceria com Luciano Maia. Na self, o casal de poetas da ACLJ, Alana e Júlio.






COMENTÁRIOS

Na reunião da ACLJ desta última terça-feira, na Tenda Árabe, a leitura de um prefácio produzido para o próximo livro do confrade Rui Martinho Rodrigues, obra que está no prelo, suscitou uma sadia discussão sobre a diferença entre as expressões “argumento de autoridade”, em português, e outra em latim, “argumentum ad baculum”, lembrada pelo acadêmico Júlio Soares, que é bem versado no idioma litúrgico eclesiástico. 

Apurou-se que, em ambos os casos, trata-se de postulados dogmáticos, que, portanto, tem-se que aceitar sem discutir.  Mas “argumento de autoridade” é aquele que se pretende consagrado e irrefutável em virtude de ser abonado pela citação de sumidades na matéria. Já “argumentum ad baculum” é a afirmação imposta pela autoridade da Igreja.

Isso levou ao comentário de que a palavra “báculo” é um sinônimo clássico de “cajado”, utilizado geralmente em referência ao “báculo episcopal”, o longo bastão de extremidade encurvada, tradicionalmente portado pelos bispos, ou ao “báculo papal”, empunhado pelos papas.

Entrou-se então por especulações sobre a etimologia da palavra “imbecil”, que viria do latim indicando aquele tão desassisado, tão desatinado, que sequer usava um bastão (ou um báculo) para se defender e se impor socialmente, segundo as necessidades e costumes da Antiguidade.

Porém apurei depois que a acepção da palavra “imbecil”, na sua versão latina, não indicava o idiota, como indica hoje, mas o fisicamente doente, o debilitado, o vulnerável, de modo que seria aquele que não podia prescindir de um bastão para se locomover.

Tudo indica então que, enquanto o termo “báculo” evoluiu semanticamente para significar o cetro que indica  autoridade, o palavra “imbecil” migrou semanticamente da acepção de deficiente físico para a de tolo ou inepto. Esse é o nível das conversas e debates nas reuniões da ACLJ – o que deveria ser também no âmbito das demais academias literárias.  

Reginaldo Vasconcelos


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Após tão eloquente e bem fundamentada tese, nada mais resta senão dizer: Sine glosa. Brilhante. O nível dessa e de tantas conversas resta notado que a Academia Cearense de Literatura e Jornalismo tem prestado uma valorização da cultura, seja local, seja nacional, em todos os tempos.


Júlio Soares