quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

SAUDAÇÃO

NOVA DIRETORIA DA ACM TOMA POSSE
Por Reginaldo Vasconcelos*


Recorro a este Blog para saudar de público a nova diretoria da Associação Cearense de Magistrados – ACM, na pessoa do Dr. Antônio  Alves Araújo, que assume a sua Presidência nesta sexta-feira, dia 31 de janeiro, e o faço em nome da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, entidade na qual o Dr. Araújo é um dos Membros Honorários.

Ademar Mendes Bezerra
Ricardo Alexandre
Dentre os novos diretores destaco o Dr. Ademar Mendes Bezerra, que na ACM lidera a ala dos magistrados eméritos; a Dra. Lisete Gadelha, culta desembargadora do nosso Tribunal de Justiça; o Dr. Irandes Bastos Sales, um dos mais preparados juízes do Estado, e, especialmente, os Drs. Roberto Viana Diniz de Freitas, Diretor de Comunicação Social, e Ricardo Alexandre da Silva Costa, aquele que na ACM responderá por educação e cultura, pastas que tocam mais de perto a ACLJ.

Lisete Gadelha
Também fazem parte da nova diretoria os Drs. José Maria Sales, Daniel Carneiro, Francy da Costa Farias, Lirete Spínola, Antônio Teixeira de Sousa, Ana Cleyde e Henrique de Vasconcelos.

Eu e o Dr. Antônio Araújo nos conhecemos em um longínquo entroncamento do destino, quando éramos ambos muito jovens e iniciávamos a vida na profissão de industriário.

É claro que isso nos vincula pela nossa história pessoal, mas não somente isso importa, pois muitos velhos conhecidos e ex-colegas de trabalho não se consagram amigos, não constroem uma relação sólida, e não guardam um do outro a lembrança de uma convivência memorável.

Mas o Dr. Araujo e eu nos aproximamos por afinidades filosóficas, que mais se fortaleciam à medida que contrapúnhamos teses e antíteses em nossas longas discussões, cada um trazendo de sua experiência de vida convicções diversas, mas todas tendentes à melhoria do mundo, pela reflexão humanitária e pela síntese da ética.

RV e Antônio  Alves Araújo
Conto uma pequena história para dar uma medida de nossa velha relação. Certo dia, transitando juntos pelos jardins da fábrica em que ambos trabalhávamos, eu quis cortar caminho pela grama, transpondo uma pequena cerca que delimitava as alamedas, mas hesitei ao ouvir o protesto do Araujo:

Reginaldo, essa cerquinha foi instalada aí para ser obedecida. A gente pode lutar para que ela seja removida, mas até então não devemos transpassa-la.”

Não pulei a cerca e não pisei na grama aquela vez, e ao longo de toda a vida tenho evitado forçar limites, ainda inspirado na lição daquele jovem amigo, que depois foi objeto de uma crônica biográfica que fiz publicar já no meu primeiro livro, na qual eu descrevo a sua bela trajetória, e os seus meritórios sucessos – quando ele ainda era delegado de polícia.

Enfim, em meu nome e em nome dos pares da nossa Academia, quero parabenizar a todos os novos diretores da ACM pela bela campanha eleitoral que realizaram, bem como pela vitória honrosa sobre a chapa concorrente, certo de que o próximo triênio representará uma fase de muitos êxitos dessa Associação, tendo à frente o Dr. Antônio Araújo, que certamente continuará e engrandecerá o ótimo trabalho que vinha sendo realizado pelo Dr. Ricardo Barreto, o presidente anterior.

*Reginaldo Vasconcelos
Jornalista e Advogado
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

CRÔNICA

Doces Bárbaros
Por Altino Farias*


Europa, século IV.

Bárbaros, era como os romanos denominavam os povos que viviam fora de suas fronteiras e não adotavam o latim como língua. Esses povos, de poucos conhecimentos em relação outras civilizações contemporâneas, viviam da agricultura e pecuária de subsistência. Alguns, nômades, mudavam de lugar em busca de solos férteis. Invasões de outras terras, seguidas de saques, eram fonte de riqueza.

Os bárbaros não tinham organização social e política formal. Viviam em tribos e clãs. Não dominavam a escrita e tinham em seus deuses e crenças as normas de convivência em grupo.
A histórica crueldade deles que chegou aos nossos tempos vem do que foi exposto: vida nômade, agricultura e pecuária de subsistência, falta de organização política e social, necessidade de invadir terras e saquear aldeias para auferir riqueza.

Os hunos eram particularmente cruéis. Um de seus reis, Átila, era chamado pelos cristãos de “Flagelo de Deus”. Por onde passavam, deixavam um rastro de sangue e destruição. Essa era a vida deles. Não conheciam outra forma.

Esses bárbaros vieram da Ásia ocidental obrigando os germanos, que chegaram a ter uma convivência pacífica com Roma, a forçar as fronteiras do Império Romano, àquela época em declínio, até sua queda, em 476 D.C..


Dessa forma a Europa Ocidental foi sendo ocupada por bárbaros. Encontrando povos mais avançados nas terras invadidas, eles foram absorvendo suas culturas e religiões. Evoluíram e consolidaram a civilização europeia como conhecemos hoje.


Brasil, século XXI.

Não se sabe ao certo como se iniciou a degradação de nossa sociedade. O subdesenvolvimento e falta de educação e cultura contrastaram com o boom da informação e do consumo. A esse choque associou-se o uso generalizado de drogas entorpecentes e a impunidade geral (por vários motivos). Nesse quadro, a maioridade penal a partir dos dezoito anos agravou a situação.

Grupos criminosos organizados, e bem armados, dominaram favelas, verdadeiras cidades. Lá se entrincheiraram, impedindo qualquer ação social ou policial. Inverteram-se os valores. Nesses territórios, o Estado é o intruso.

A droga, por sua vez, potencializou a violência. No mais das vezes, gratuita. Assim, mata-se por um par de tênis ou um celular. Jovens de classe média ateiam fogo a moradores de rua. Jovens de famílias humildes querem possuir artigos de alto luxo como afirmação pessoal. Famílias inteiras são tragadas para guetos, produtos dessas mesmas ações violentas e desregradas, num efeito bumerangue.

Diferentemente dos antigos bárbaros, os violentos e cruéis de hoje têm esclarecimento e informação à sua disposição. Uma rede de atendimento do Estado está pronta a atender às demandas sociais de forma ao menos razoável. Existem leis para proteger os cidadãos e instituições para preservá-las e fazê-las cumprir. 

Acontece que essa massa crítica ganhou uma proporção que o Estado não consegue mais mantê-la sob seu jugo, e o cidadão comum ficou à mercê da violência brutal nas ruas das cidades, nas estradas e nos recantos mais remotos do interior desse imenso país.

“Crianças” portam armas nas salas de aula. Professores, hoje, são reféns. Corruptos permeiam a máquina pública da mais humilde repartição aos mais altos gabinetes oficiais da República. Drogas são comercializadas e consumidas em público e à luz do dia. A morte deixou de causar consternação e indignação. Banalizou-se.


O recente episódio numa penitenciária do Maranhão, no qual presidiários decapitaram presidiários, e ensaiaram passes de futebol com suas cabeças enquanto uma criança de seis anos morria queimada dentro de um ônibus urbano a mando do crime organizado, leva-me a pensar: AH! COMO ERAM DOCES AQUELES BÁRBAROS!

*Pedro Altino Farias
Engenheiro Civil e Jornalista

Titular da Cadeira de Nº 16 da ACLJ

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

ARTIGO

Castanhão: Fui vencido nos meus argumentos, mas detestaria estar ao lado dos que venceram.

22 de janeiro de 2014 às 12:28 Eliomar de Lima

Em artigo enviado ao Blog do jornalista Eliomar de Lima, o engenheiro Cássio Borges avalia a construção do Castanhão.

Este breve artigo já diz tudo, entretanto o que nele está dito, ainda é muito pouco para caracterizar o erro grosseiro e inconcebível de engenharia de recursos hídricos que foi a construção da Barragem do Castanhão, não só por sua proximidade do mar (RN= 50m) como pelo seu excepcional volume de acumulação de 6, 7 bilhões de m3 de acumulação d’água.

É profundamente lamentável que a Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Ceará-SRH, no início da década de 90, contrariando a opinião unânime da comunidade técnica local, tenha desprezado o excelente planejamento elaborado pelo DNOCS para o Vale do Jaguaribe em prol de vaidades e interesses pessoais ou corporativos. Uma decisão infeliz divorciada do uso otimizado dos recursos hídricos daquela importante região do Estado do Ceará e em total desrespeito ao prestígio, à tradição e o conceito do DNOCS em toda a região nordestina.


Agora, só me resta dizer, para traduzir este lamentável desserviço que a referida secretaria prestou à população cearense e em particular à população do Vale do Jaguaribe, é que a incompetência venceu a lógica, o bom senso e a razão. Parodiando Darcy Ribeiro, eu diria que fui vencido nos meus argumentos nos 14 anos de discussão que sustentei contra a construção desse empreendimento, mas “detestaria estar ao lado dos que venceram”.

* Cássio Borges
 Engenheiro Civil 
    Especialização em recursos hídricos e barragens 
  Membro Honorário da ACLJ

LÍNGUA DE CAMÕES


SÉRIE
DESLIZES DA ESCRITA
Impropriedades do Discurso
(2 de 4)
Por Vianney Mesquita*


A Filosofia é como uma árvore de que resulta como fruto a ciência (FARIAS BRITO, Raimundo. *São Benedito-CE-Brasil, 24.07.1862; + Rio de Janeiro, 26.01.1917).



“Marx – Pai do Positivismo” (!!!)

Esta, sem dúvida, é escorregadela inconcebível, pois sua vítima derrapa na lógica, defraudando a História. Ele escreveu, em monografia de curso de pós-graduação lato sensu em Ciências Sociais, que o Positivismo teve inspiração marxista. Para que a informação resultasse verdadeira, era necessário inverter a realidade. Isto porque, quando O Capital terminou de ser escrito (1867), Augusto Comte havia morrido em 1857 – dez anos antes, portanto.

O Manifesto do Partido Comunista, escrito com Friedrich Engels, foi publicado em 1848, isto é, 18 anos depois de haver sido iniciada a obra-prima Curso de Filosofia Positiva (1830), de Isidoro Augusto Maria Francisco Xavier (COMTE. *Montpelier, 19.01.1798; +Paris, 05.09.1857).

Mesmo sem fazer qualquer referência a uma identidade marxista-positivista, tempos e fatos parecem desabonar nosso autor. Talvez ele tenha intentado escrever inspiração saint-simonista, pois Comte, Littré, Taine e outros se apegaram (adequando-os ao Positivismo) às ideações de Claude Henri Rouvroy, Conde de Saint-Simon, diga-se, de passagem, depois abandonadas pelos mentores do sistema positivista.[MARX, Karl Heinrich – *Tréveris (Al.), 05.05.1818; +Londres (Highgate-UK), 14.03.1883; ENGELS, Friedrich– *Barmen (Prússia), 28.11.1820; +Londres, 05.08.1895;  LITTRÉ, Émille Maximilien Paul, - *Paris, 01.02.1801; +02.06.1881; TAINE, Hippolite Adolph – *Vouziers (Champ.- Ardenas), *21.04.1828; +París, 05.03.1893; e SAINT-SIMON - *Paris, 17.10.1760; +19.05.1825]. (IDEM, IBID.).


Inovação Administrativa

Para dirigir repartição pública, de natureza complexa, as autoridades optaram por uma direção colegiada, composta por três pessoas. No momento da escolha, foram chamados dois homens e uma mulher.

A imprensa noticiou amplamente a inovação: a citada unidade do Governo do Estado entraria em fase diferente, com futuro promissor, sob a direção de um TRIUNVIRATO, esquecidos, o jornalista e a fonte da informação, de que este só pode ser composto por homens (vir = homem).

Seria uma versão tupiniquim dos triunviratos romanos?
Se assim fosse, o primeiro teria sido composto por César, Crasso e Pompeia, ao passo que o segundo se haveria formado por Marco Antônio, Lépido e Otávia .(ID. IBID).


Geografia Violentada II

Acerca do assunto “Economia dos Países Africanos”, monografia de graduação traz a República do Mali (capital Bamaco) como detentora de reservas latentes de petróleo, diamantes, ouro e tungstênio – o que é verdade.

Informa equivocamente, entretanto, que o país se localiza no Mediterrâneo, sem saída para o mar. Longe do Mar Mediterrâneo (a Argélia no meio), Mali é um país interior, isto é, mediterrâneo, literalmente no meio das terras.

Se estivesse no Mar Mediterrâneo, era litorâneo. Caso, entretanto, queira ficar no Mar Mediterrâneo – como informou o ensaísta – terá, no mínimo, que anexar a Argélia, o que não nos parece plausível (ID.IB).


Estranha Inserção !

Um dirigente cearense, participando de evento de cobertura nacional, no Rio de Janeiro (UERJ), agradeceu o apoio recebido quando realizada a versão do acontecimento no ano anterior – reunião anual do CRUB – Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, em sua cidade, Fortaleza.

Complicou, todavia, com o pedido ao presidente da Mesa, Prof. Dr Charley Fayal de Lira, reitor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro de 1984-1988, para que o registro feito fosse inserido no ANAL daquela Sessão Plenária.

Ocorreu que, embora sensível à solicitação, o presidente ficou com as mãos na cabeça, sem saber o que fazer... (ID. IBID.).


Geografia Violentada III

São muito frequentes erros geográficos em trabalhos universitários, o que remete à insuficiência e à impropriedade dos conteúdos dos primeiros graus de ensino e até da universidade.


Vejamos a desordem que este professor, em texto de conferência, felizmente trazido para correção, fez na corografia do Ceará: deu Beberibe como limítrofe a Fortaleza; tirou Itapebuçu de Maranguape e o concedeu, de mão beijada, a Canindé; disse que Caucaia é município interiorano, subtraiu do Aquiraz o Porto das Dunas, doando-o a Fortaleza. Para completar, mudou o curso do rio Pacoti, para que este banhasse, também, o Município de Baturité (ID. IBID.).


*Vianney Mesquita
Professor da UFC
Escritor e Jornalista
Membro da Academia Cearense 
da Língua Portuguesa
Titular da Cadeira de nº 22 da ACLJ

CRÔNICA

TUDO É NATURAL!
Por Paulo Maria de Aragão*

Estamos sob o domínio da violência. O descrédito do cidadão na capacidade do poder público de oferecer segurança é manifesto. Rebotalhos humanos dizimados pelo crack espalham-se pelas cidades. Programas policiais, num vibrante ritmo radiofônico e televisivo, alardeiam crimes.

O mais irônico é que o sensacionalismo eleva a audiência. Por isso, é exitoso no setor publicitário – atrativo para patrocinadores, ao mesmo tempo em que vulgariza a violência e fomenta escândalos, às vezes sem fundamento, bastando um indício para ganhar espetaculosidade.  Muitas acusações são falsas. Vítimas são inocentadas, mas suas vidas já estão destroçadas.

Será legítimo falar em direitos humanos quando a imagem de presos, pés de chinelos, envolvidos em pequenos furtos, alguns inocentes, que são ridicularizados por comunicadores? Danos morais irreversíveis os estigmatizam para o resto da vida.  Bem diferente se fossem delinquentes de alto coturno. Quem ousaria achincalhar um “mensaleiro”?

A ausência de respeito pela vida instaura um estado selvagem. Desprezam-se os salutares fins midiáticos, sociais e informativos. O exercício da informação tem limites. Não se insinue a famigerada censura, mas o respeito humano e profissional, elevando-se o prestígio dos órgãos de comunicação.

A barbárie não indigna. Nos presídios, “sucursais do inferno”, decapitam-se detentos como nos tempos medievais. O melhor adjetivo para qualificá-los é mero eufemismo. O corpo estendido no meio da rua, esvaindo-se em sangue, não mais apavora; proporciona, em seu derredor, alegria à meninada comprimida e saltitante, acotovelando-se e gesticulando freneticamente para ser vista na tevê.

A vida tem valor absoluto, preceito básico de segurança. Difícil é acreditar: a cada instante, um crime ocorre, aumenta a estatística e cai no esquecimento.

* Paulo Maria de Aragão
Advogado e professor
Membro do Conselho Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira nº 37 da ACLJ.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

DISCURSO

RIO DE JANEIRO À LUZ DA ASTRONOMIA E DO CORAÇÃO
(No lançamento deste livro de Maria José Botelho)
Por Vianney Mesquita*
Constantemente repito o pensamento segundo o qual um dos melhores momentos da vida de uma pessoa, entre tantos outros que se costuma experimentar de bom, configura-se na solenidade de lançamento de um livro. 
Ainda mais – acrescente-se – numa circunstância especial como esta, quando em reunião amistosa, na própria oficina de vida da autora, se encontram tantos amigos, que prestam culto à sua inteligência e preparo intelectivo, muitas vezes comprovados, no curso normal de sua vida funcional de professora e com registo in albo lapillo  na intensiva atividade editorial.

Evidentemente, não devo surripiar dos leitores a satisfação de deparar  os encantos de RIO DE JANEIRO À LUZ DA ASTRONOMIA E DO CORAÇÃO, adiantando-lhes passagens prazerosas para lhes retirar o prazer e a graça da descoberta.

Tenciono imprimir destaque é no conteúdo multidisciplinar de toda a obra da Professora Maria José, a qual cresceu de proporções, em especial após se jubilar como docente da Universidade Estadual do Ceará.

Das pessoas comuns, espera-se o reverso – o abandono da atividade acadêmica e adesão ao puro lazer. Contrario sensu, seu trabalho avulta em quantidade e substância, conquanto perpasse momento difícil, porém o atravessa com sobranceria, no raciocínio maior de que cada derrocada é pretexto para nova escalada.

Enuncio, então, neste lance, o meu enleamento pelo trabalho ininterrupto de quem, após tanto tempo dedicado à causa nobílima do saber, na sala de aula, na pesquisa e no ensino universitário , acompanha o moto continuo das atividades do espírito, sem ensejar oportunidade ao ócio pernicioso e ao lazer exagerado, de ordinário, produtores de deformidades.

Guardo apreço muito pessoal por aquele que, como a Aurora, mesmo fanada no trato temporal de vivência, é renovada de ideações imaginosas ao cuidar de ciência, tecnologia e arte, dando oportunidade também à reflexão transcendente, da qual todos somos dependentes.

Hoje lançado à inteligência do nosso Estado, consoante comprovarão os leitores, este volume não é matéria do saber ordenado para emprego didático em universidades. Constitui, todavia,   rica nascente de ideias apreendidas, para servirem como informações e relembranças para um público de mediana a culta leitura, transferidas em escrita simples e Português escorreito, fato comprobatório do valor intelectual da Autora, tomado nas mais importantes escolas e em selecionado acervo documental e livresco  durante o curso de sua vida de mulher culta desde o uso da razão.
Em decorrência de tudo o que expressei até agora, e por outros motivos, também,  recomendo a companhia desta peça de teor precioso e dotes gráficoeditoriais visíveis, para enriquecimento da biblioteca particular de qualquer  um que aprecie a boa leitura e admire a inteligência.
É um referente editorial de qualidade, para honra das letras do Ceará, adorno grácil da literatura do nosso País.

Propositadamente, deixei  para rematar esta – certamente – imperfeita fala com os cumprimentos ao preclaro ex-mestre, Prof. Caio Lóssio Botelho, de quem recebi a luz das primeiras compreensões, em caráter científico, dos ditames da Geografia e demais saberes corográficos, uma evocação que muito me enobrece e perfaz como ser humano e indivíduo metido a escrevinhador provinciano.

Parabéns à Autora desde volume, pela nova publicação e, de bom respingo, ao acadêmico Caio Lóssio Botelho, por privar, há dezenas de anos, do consórcio desta mulher imensa, configurada na sua consorte, a escritora Maria José Régis Rondon Botelho.

DISSE.

*Vianney Mesquita
Professor da UFC
Escritor e Jornalista
Membro da Academia Cearense 
da Língua Portuguesa
Titular da Cadeira de nº 22 da ACLJ

                                 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

CONTO

VALDIQUE
Por Rui Martinho Rodrigues*

1º Ato

O CRAQUE E O PERNA-DE-PAU

Valdique era um craque. Dominava a bola como poucos. Tinha o dom da finta, espécie de garrincha do subúrbio; chute certeiro, goleador consagrado. Mas Valdique também praticava outro esporte: levantamento de copo. Fumante incansável, era um jogador cansado, faltava-lhe fôlego em poucos minutos de futebol. Faltava, igualmente, velocidade ao craque. José Alves era um perna-de-pau. Os dois amigos gostavam de formar no mesmo time, no areal sombreado, sob o mangueiral da casa de um terceiro atleta de fim-de-semana.
José Alves não se dava bem com a bola, nem com estudo ou com o trabalho. Espertalhão, criativo, buscava solução para todo problema sem muitos escrúpulos. Um dia, José Alves, antes do joguinho das tardes de sábado, convidou Valdique para um rápido lanche. O craque relutou, alegando que iam jogar.
O Perna-de-pau replicou: era só um suco de fruta, o calor estava insuportável e tal e coisa. Valdique topou. Depois do suco foram ter com a bola. O craque surpreendeu a todos. Jogou como uma fera, correu o campo todo, mostrou o melhor condicionamento físico por toda a tarde, da defesa ao ataque.
No dia seguinte, Valdique estava arrasado. Doíam-lhe todos os músculos. Mal podia andar. No bar da esquina revelou-se o segredo: José Alves dopara o Valdique.
  2º Ato
UMA MISSÃO BASTANTE POSSÍVEL
Valdique não era nada habilidoso com as mulheres. Um dia, melhor dizendo, uma noite, arranjou uma namoradinha de ocasião. Liso, levou-a para um prédio em construção. Desajeitado, apressado, temendo o lugar perigoso, Valdique rompeu o períneo na moça. Isso no tempo em que defloramento era coisa muito séria, tinha que ser feito muito discretamente, quando fora das condições consagradas pelos costumes. A hemorragia assustou tanto a mocinha quanto o rapaz. Era preciso hospital e demais providencias. A moça escapou e o segredo morreu. Era preciso casar. O casamento “reparava o mal” perante a lei e a sociedade.
Valdique, desesperado, foi orientado pelo amigo José Alves. A solução era simples. Bastava tirar uma nova certidão de nascimento, com outro nome. Valdique virou Valmir. A moça estranhou, mas foi convencida pelo Craque: Valdique era apelido de casa. Era preciso, ainda, mais uma testemunha para o casório.
Valdique chamou outro amigo, Amadeu, um rapaz do bairro, que não estudava nem trabalhava regularmente, mas acompanhava o Valdique naquele outro esporte: levantamento de copos. Amadeu reagiu, cheio de escrúpulos. Mas precisava saldar algumas dívidas nos bares do bairro. Além disso, Valdique sempre lhe pagava uma dose aqui e outra ali, nem o descriminava como tantos outros. Não ficava bem abandonar o amigo numa hora dessas.
Amadeu era cheio de nove horas: “homem de honra não abandona um amigo”. Adotado – digo, criado por uma senhora idosa – Amadeu vivia no limbo. Não era “classe média” nem era pobre, ou era pobre, mas diferente. Era um cara inteligente, com boa compreensão do mundo. Queria ser correto e respeitado. Não reconhecia como superiores os amigos de infância que – discretamente ou não – se afastaram dele progressivamente, enquanto cresciam e se sentiam hierarquicamente superiores pela diferenciação social, emprego, estudo e outras coisinhas mais.
Os filhos da velha senhora que o criou, temendo dividir a herança, não deixaram que ela o adotasse. Nem filho nem empregado: eis o limbo de Amadeu. Nem igual nem diferente dos outros meninos e, mais tarde, rapazes do bairro. Amadeu agora fazia biscates e... precisava que os companheiros de infância lhe pagassem uma dose! Só uma... de cada vez. Era a tal da diferenciação social. O amigo, que nem era tão amigo assim, apenas não o discriminava, não seria abandonado naquela situação.
Valdique – ou melhor, Valmir – casou-se, com testemunha e tudo. Valdique continuava, porém, solteirinho da Silva. Quem se casou foi “Valmir”, conforme a certidão de nascimento e as testemunhas. Valdique foi embora pra São Paulo e nunca mais voltou.
Amadeu não recebeu nada por isso, além dos agradecimentos.


*Rui Martinho Rodrigues
Professor e Advogado
Presidente da ACLJ
Titular de sua Cadeira de nº 10

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

LÍNGUA DE CAMÕES

SÉRIE
DESLIZES NA ESCRITA
Impropriedades do Discurso
(1de 4)
Por Vianney Mesquita*


Se não quiseres ser esquecido, mal estiveres morto e apodrecido, escreve coisas dignas de ler ou opera coisas dignas de escrever. (FRANKLIN, Benjamin – Boston, Mass, 17.01.1706; Filadélfia – Pens., 17.04.1790).


Martins Filho
No já recuado 1997, eu e meu preclaro amigo, consultor literário e ex-reitor da Universidade Federal do Ceará, Prof. Dr. José Anchieta Esmeraldo Barreto, na qualidade de orientadores e revisores de textos universitários, nos ajuntamos com vistas a preparar o livro A Escrita Acadêmica – acertos e desacertos, publicado pelo Programa Editorial da Casa de José de Alencar, na época sob a direção do reitor perpétuo da U.F.C., Prof. Antônio Martins Filho (* Crato, 22.12.1904; + Fortaleza, 20.12.2002).

Reunimos, então, anotações de erros gramaticais e estilísticos, muito comuns, evidentemente, no texto de qualquer um que transfere a ideia, do jeito como nasceu, para o suporte de escrita – seja papel ou espécie outra – sem submetê-la ao próprio crivo revisional ou a outra pessoa que lhe possa aprestar a qualidade escritural, a fim de poder restar pronta, responsavelmente, para publicação.

Não nos ativemos, porém, a esse estalão de impropriedade, até pelo fato de serem naturalíssimos enganos de tal casta, hajam vistas as dificuldades inerentes à Língua Portuguesa.

Preferimos, então, congregar as manias, clichês, modismos, redundâncias, frases feitas, contradições lógicas e – por que não referir – teimosas bestagens da moda, com vistas, senão a banir, pelo menos a reduzir a frequência desses escorregos que tanto malefício trazem à escrita, mui particularmente aos estilos, ao postar na vala comum todos os que se prestam à atividade de externar pensamentos, por intermédio de qualquer condutor verbal.

Cuidamos de não proceder somente aos comentários a respeito dessas pérolas reunidas, mas, também, preparamos um ensaio propedêutico, fazendo alegações gramaticais e relativas à elocução, muito particularmente atinentes aos escritos acadêmicos, móvel principal da edição.

Na segunda parte do trabalho, cobrindo as bobices, decidimos nos liberar da circunspecção do léxico científico e imprimir ao escrito o tão apreciado retoque cearense de espirituosidade, objetivando conquistar o leitor, e até porque, por si mesmos, os causos escolhidos trazem conteúdo burlesco, conforme a pessoa que os ler poderá divisar naqueles poucos reproduzidos à frente.

Sobra, felizmente, o ensejo de expressar o fato de que o volume se esgotou rapidamente e o resultado foi a quase supressão, de nosso meio universitário, desses sestros ingênuos, porém malfazejos, verdadeiros vírus do repertório da Língua de Luís Vaz de Camões (*Coimbra,? 1514; +Lisboa, 10.06.1580).

Desafortunadamente, entretanto, outros ocuparam seus lugares, como os indefectíveis a partir, construção-construir, apresentar (emprego excessivo), através, partindo do pressuposto, por suposto (este trazido do castelão), dar visibilidade e tantas outras muletas novas do aleijado repertório universitário, o qual, pela “fé do carvoeiro” que imprime, se espalha pelo jornalismo, a literatura, a língua (dita) culta e a todos os quadrantes de fala, a qual, indebitamente, é havida como correta, amodernada e estilisticamente assentada.

Trago, neste passo, à colação, com as modificações solicitadas pela diacronia imanente aos códigos glotológicos – pelas quais me responsabilizo – a narração de algumas dessas escorregadelas de consulentes nossos, elegidas para compor esta parte do volume, do qual fui coautor com o nomeado Professor Doutor Anchieta Barreto.

Generalidades

São registadas no discurso acadêmico, em ultrapassagem às manias, redundâncias, clichês e contradições lógicas, desconveniências de ordem conceitual e informativa, fato denotativo, em muitos casos, do despreparo das pessoas até no estádio elementar.

Quando da exposição de conceitos, reprodução de brocardos célebres, informações acerca de datas e lugares, ou de quaisquer comunicações de que não se guarda a devida certeza, é sempre de boa proposta conferir, se possível em mais de uma fonte idônea, a exatidão da ideia que se vai publicar. Somente assim, os produtores de mensagens didático-científicas não serão responsáveis por induzir ao engano e conduzir leitores à falácia, haja vista a propriedade, encerrada pelo erro, de velozmente se multiplicar.

Demonstrativo da carência de informação primária é, verbi gratia, o caso de uma mestranda cuja dissertação foi-me entregue para revista. Ela mencionou, numa passagem do seu estudo, a admiração de Leonardo Da Vinci ante a perfeição do seu David: “Parla”! – teria dito.

Todos hão de notar, de plano, que a ensaísta, no calor, agitação, cansaço e falta de conhecimento, permutou a obra e o escultor: a peça era Moisés e Miguel Ângelo Buonarroti o artista (BUONARROTI, Michellangelo di Ludovico Simoni. *Caprese, 06.03.1475; + Roma, 18.02.1564).
Sem-razões como esta, e de outras naturezas, são corriqueiras nos ensaios de altos estudos da seara científica. Para efeito de demonstração, foram pinçados do livro sob comentário uns poucos desses sucessos.

Geografia Violentada 

Um estudante de doutorado em História (note-se o veio mordente) prejudicou sensivelmente os suecos e, muito particularmente, o historiador de religiões, filósofo e filólogo francês Georges Dumézil (Paris, *04.05.1898; + 11.10.1986), que preferiu ficar na Suécia com a transferência da cidade de Uppsala para a Suíça . Os estudos de Dumézil, decerto, foram interrompidos, porquanto lhe subtraíram a célebre Universidade, fundada em 1477, e com ela a biblioteca, com o Manuscrito de Ulfilas (Codex argenteus).

Outro fez pior, pois tirou Liége da Bélgica e a entregou à França; transferiu Estrasburgo para a Alemanha e se referiu às belas praias marítimas do interior do Ceará. Complementando o dislate, identificou Eire e Irlanda do Norte como o mesmo país.

Creio em Deus Pai!

A profissão de fé e símbolo dos apóstolos referida aqui não é o Credo de Niceia, tampouco de Constantinopla, mas o “Credo de Messejana”, no qual o mestrando arranjou um lugar para Judas Iscariotes.

Dizendo que o tema do seu estudo (invasões de propriedades rurais) não era do seu agrado, quase imposto que foi pela orientadora, acentuou:

Entrei neste assunto como Judas entrou no Credo!
E eis que invadiu a propriedade de Pôncio Pilatos, cuja atitude foi, de pronto, lavar as mãos.

Lineu, Ventríloquo de Leibniz

Lineu
Godofredo Guilherme Leibniz (*Lípsia – Al., 01.07.1646; +Hannover, 14.11.1716) asseverava aquilo que, mais tarde, Nelson Rodrigues chamou de “óbvio ululante”: Tudo corre pelo melhor no melhor dos mundos possíveis. François Marie Arouet, dito Voltaire (*Paris, 21.11.1694; +30.05.1778), desdenhou do Sábio alemão por esta sentença.

Voltaire
Ririam ambos – Voltaire e Nelson Rodrigues (*Recife, 23.08.1912;+ Rio de Janeiro, 21.12.1980) – da transferência de autoria feita por um ensaísta, que atribuiu a Lineu o Natura non facit saltus (“A natureza não dá saltos”), do mencionado Leibniz.

O botânico sueco Carl von Linné (*Rässhult-Kronoberg, 23.05.1707;  +Uppsala, 10.01.1778) – o pai – tinha apenas nove anos quando Leibniz  morreu.

Leibniz
Com efeito, caso se queira acreditar nesta informação, se haverá de aceitar o fato de que, nessa curta contemporaneidade e vivendo um na Alemanha e outro na Suécia, o Filósofo tedesco falou pela boca fechada de Lineu (BARRETO & MESQUITA, 1997).


*Vianney Mesquita
Professor da UFC
Escritor e Jornalista
Membro da Academia Cearense 
da Língua Portuguesa
Titular da Cadeira de nº 22 da ACLJ