DO MAIS ESCONSO D’ALMA
Vianney Mesquita*
A tua alma, a
tua mente, será tais quais forem as coisas em que frequentemente pensares,
porque ela fica imbuída e como que penetrada de tuas ideias e pensamentos. (Marco Aurélio. YRoma, 26.04.121; †Vindobona,
Áustria, 17.03.180).
No dia 10 de maio de 2014, publiquei neste veículo de
propagação coletiva o artigo de apreciação literária intitulado Dos escaninhos da alma, a respeito do
livro Memórias esparsas – flagrantes
da vida real, de Antônio de Araújo Costa Filho, lançado em Fortaleza em 2012.
Meu texto ora mencionado fez parte do recheio de Arquiteto a posteriori, antepenúltimo volume de minha edição
(Fortaleza: Universidade Federal do Ceará - Imprensa Universitária, 2013, 252
pp).
Muitas vezes, repito, qual estribilho, a noção de que
as palavras sentenciosas, mormente dos ilustrados romanos, costumam nos ajudar
quando tencionamos revestir nossas frases literárias da beleza e alcance dessas
dicções oriundas da sapiência.
Por esse pretexto, reporto-me, de novo, a um juízo
procedente da Filosofia de Santo Tomás de Aquino, que me adverte do fato de
dever ser breve no relato, a fim de agradar os circunstantes, ao que sou agora
obediente.
Aliás, Miguel de Cervantes Saavedra, criador de Engenioso hidalgo Don Quijote de la Mancha, atentava
para o fato de que os raciocínios longos enfadam os circunstantes.
Eis que o casal mecenas – Doutora Lúcia Medeiros do
Carmo e Raimundo Barbosa do Carmo, na sua bondade e atenção a si particulares,
a mim invitaram para batizar o mencionado trabalho de Raimundo de Araújo,
acerca do qual – conforme adiantado – comentei, escrevendo o suelto de abertura
do retrodito trabalho literário.
“Digo-vos a vós que ouvis” do destacado regozijo que
ora me conquista, mercê, em especial, das circunstâncias nas quais o livro de
Raimundo de Araújo foi produzido, felizmente preservado pelo sagrado dom da
escrita, perpetuado, então, per omnia
secula, pelo expediente editorial. Felizmente porque, como anuncia sua irmã
– Rosário Araújo Costa, no esmerado escrito por ela produzido para as abas do
livro – Antônio já não consegue escrever, porquanto óbices motores e sua quase
afasia o impedem de fazê-lo.
A despeito, porém, dos limites físicos a si impostos
pela Providência, decerto estudadamente, para dele fazer uma pessoa de bem,
sobrelevou-se magnificamente e demonstrou, biblicamente, que tudo pode nAquele
que o conforta.
Corrobora cabalmente este fato o lançamento de Memórias esparsas, constante das mais
ponderadas lições, dirigidas a nós, perfeitos e hígidos, verdadeiros quinaus
para aqueles que não fazem sua parte no que concerne à cultura imaterial – a
produção intelectual para leitura por seus pósteros.
É deveras admirável, acima até da ocorrência de o
autor se haver superado nas suas restritas circunstâncias físico-materiais, o
fato de lhe haverem sobrado verve e engenho criador bastantes, suficientes para
nos presentear com escritos de refinado veio; estes, tanto na forma como na
profundidade e na linguagem artisticamente agradáveis e bem legíveis, em uma
estética peculiar aos sábios, particular dos artistas habilidosos e
plasticamente destros.
Sua prosa é distinta e conforme, levemente erudita,
hajam vistas as selecionadas leituras por si empreendidas ao largo de sua faustosa
vida intelectual, conquanto sob o jugo das limitações do corpo, as quais
somente serviram para lhe afinar o veio intelectivo e sustentar o estro de
prosador postado no orto da poesia.
A elocução de Antônio de Araújo Costa Filho é
particular, com estilo próprio, sem parecença com nenhum dos múltiplos autores
por ele lidos e estudados, ressaltando aos olhos de quem o lê a magnificência
de Santo Agostinho de Hipona, a quem vez por outra se refere.
Para não me alongar – e, por isso ser agradável – só
posso rematar dizendo, permutatis,
permutandis, o que externei na nota propedêudica do volume sob comento:
Antônio, nesta crestomatia a excelir qualidade, vazada
em bom português, comprova, à saciedade, a competência anímica da sobrepujança,
malgrado tantas restrições de caráter orgânico, pois alcança o galardão, sua
aspiração há longas datas, ora propiciado, muito particularmente, pela médica
Dr.a Lúcia Medeiros do Carmo, alma nobílima, de tanta fidalguia de caráter, que
a ele proporcionou, mercê de seu valor como pessoa e escritor, ensejo tão
sublime, como sucede no batismo de um livro.
Possam, pois, aqueles que leem as preciosas páginas
deste compêndio, de apreciável beleza poética, admirar sua arte, pinçada do
mais encoberto do seu coração transbordante de amor.
Com as palavras deste termo, lembro meu amigo e colega,
Prof. Dr. Padre Brendan McDonald Coleman, nas guarnições do meu ...E o Verbo se fez carne:
A Deus, pois,
senhor da vida do autor deste livro e de sua distintíssima família, pelos dons
recebidos e, pela graça do trabalho por ele edificado, louvor e gratidão...
Sursum corda!
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