sábado, 30 de março de 2019

NOTA JORNALÍSTICA - A Foto do Ano


A FOTO DO ANO


Essa bela imagem, enviada ao Blog por Wilson Ibiapina, conforme a legenda em inglês indica, teria sido eleita a foto do ano em 2018, por alguma publicação americana.

Nem se tem certeza se é mesmo uma fotografia bem filtrada, ou uma pintura hiper-realista, estilo muito a gosto dos artistas daguerreanos do Tio Sam.

Mas, a par da estética e da sensualidade que transporta, a essência desse trabalho é a mensagem, entrevista na crítica ao uso vicioso dos smartphones.

Porém, também se pode inferir que essa gravura insinue a prática do menáge à quatre, por meio digital, que,  se sabe, à sorrelfa já vem sendo praticado mundo a fora. 

  

NOTA SOCIAL - Exposição "Eu Somos Nós" de Totonho Laprovitera


“EU SOMOS NÓS”

TOTONHO LAPROVITERA
COMEMORA E EXPÕE

O artista plástico Totonho Laprovitera, ocupante da Cadeira de nº 38 da ACLJ, cujo Patrono Perpétuo é o saudoso agitador cultural Cláudio Pereira, está realizando a exposição de pinturas e desenhos denominada “Eu somos nós”.

A exposição, em comemoração aos 45 anos de atividade artística de Totonho Laprovitera, agora completados, tem lugar no Espaço Cultural Ana Amélia, no Hotel Sonata da Iracema, na Av. Beira-Mar 848 – Praia de Iracema.

Importante conferir o talento desse grande cearense, configurado em seu traço artístico e em seus pincéis, visitando a mostra (cujo vernissage foi no último dia 27 de março), para apreciar a sua obra, com algumas peças disponibilizadas para venda.

  

ARTIGO - Uma Aposta na Crise (RMR)


UMA APOSTA NA CRISE
Rui Martinho Rodrigues*


Presenciamos uma aposta no aprofundamento da crise? A manobra conhecida como “pauta bomba”, usada com sucesso pelo então deputado Eduardo Cunha, está de volta. Agora a ameaça é engessar ainda mais o orçamento da União, que passaria a ter uma parcela ainda maior de execução obrigatória. O Poder Executivo não terá, caso isso se concretize, quase nenhuma margem de manobra para realizar políticas concernentes ao equilíbrio fiscal.

No sistema presidencialista isso tende a tornar o país ingovernável. O Parlamento estaria definindo despesas, mas não estaria assumindo a responsabilidade pelos atos de governo, seu sucesso e fracasso. Poderia aprovar despesas tais como aumentos salariais e assistencialismos, simpáticas ao eleitorado. Mas o desastre causado por estas medidas seria atribuídos ao Poder Executivo.

Maximilian Karl Emil Weber (1856 – 1920) observou que o Parlamento britânico era melhor do que o alemão, antes da Constituição de Weimar, de 1919. Explicou que isso ocorria porque o Legislativo tedesco não tinha a responsabilidade de governar, como o britânico. A prerrogativa de fazer orçamento impositivo, ao invés de meramente autorizativo poderia ser adotado no sistema parlamentarista. O Legislativo definiria as despesas, mas também seria responsável pelo governo, cuja queda arrastaria consigo o Parlamento, ensejando novas eleições. Assim os senhores parlamentares pensariam duas vezes antes de criar despesas potencialmente desastrosas.

Pescadores de águas turvas imaginam ganhar com o aprofundamento da crise. Mas quais seriam os benefícios que ela poderia proporcionar a quem? A volta da inflação, causada pelos orçamentos bombas não beneficiaria os pescadores aludidos, independentemente de quem sejam eles. Uma segunda hipótese seria a quebradeira generalizada dos Poderes Públicos.

União, estados federados e municípios se tornariam financeiramente inviáveis. A quebradeira geral, no estilo fluminense, beneficiaria alguém? Governantes perderiam, fracassando administrativamente. Empresários sofreriam com a inadimplência dos governos. Consumidores sofreriam as consequências do aprofundamento da crise, principalmente com o desemprego. Opositores poderiam até herdar o Poder, receberiam um problema que os obrigaria a adotar medidas draconianas de austeridade, sempre antipáticas.

Além da crise econômica, poderá juntar-se a uma crise institucional. O Legislativo passou por grande renovação. Reeditar políticas que revoltam o eleitorado poderá levar a uma renovação ainda mais profunda. O Executivo nada tem a ganhar, na hipótese de uma crise cada vez maior. O Judiciário está desgastado. Usurpa a função legislativa quando procede como órgão supletivo do Congresso, criando leis tacitamente vetadas pelo Legislativo. Este, quando se omite de legislar conforme o desejo de ativistas e de formadores de opinião, o faz por saber que o eleitorado não aprova a pretensão aludida.

A quebra da liturgia do Supremo Tribunal Federal, com pronunciamentos de Ministros prejulgando processos, situações de impedimento ou suspeição não reconhecidas, bem como a instabilidade normativa, deixaram-no totalmente sem prestígio. O aprofundamento da crise, principalmente no seu aspecto institucional, não trará benefício para o Poder togado.

A desorientação geral da sociedade atingiu os Poderes da República. A imagem da Nau dos insensatos (Sabastian Brant, 1457 – 1521), poema satírico, passou a representar navegantes que não sabem nem querem saber para onde se dirigem. Uma comédia satírica do nosso tempo também representa a situação: Apertem os cintos, o piloto sumiu (1980). “Quem ganhar e quem perder não vai perder nem ganhar”, alguém já disse. Mas, na realidade, todos só têm a perder.


sexta-feira, 29 de março de 2019

ARTIGO - Justiça Divina (HE)


JUSTIÇA DIVINA
Humberto Ellery*


A doutrina da Igreja Católica ensina que Deus é a Suprema Perfeição. Deus é onipotente, onisciente e onibenevolente. Não pretendo entrar detidamente na discussão do Paradoxo de Epicuro (ou Trilema), que contesta a prevalência dessas três virtudes ao mesmo tempo, e conclui que havendo duas a terceira é obrigatoriamente excluída.

Resumidamente, Epicuro afirmava que, se Deus tudo pode e tudo sabe, não deve condescender com a existência do Mal, que Ele conhece, tem poder para destruí-lo e não o faz, então não é onibenevolente; se Deus tudo pode e tudo perdoa, é porque desconhece a existência do Mal, portanto não é onisciente; e se Deus tudo sabe e tudo perdoa, porque Ele é bom, então deveria destruir o Mal, que Ele conhece, e mesmo assim não o faz, então não é onipotente.

Outra boa discussão da Teologia se dá acerca da Perfeição de Deus. Segundo as Sagradas Escrituras, se o maior dos pecadores se arrepender sinceramente de seus pecados, e pedir perdão em sua hora extrema, Deus, em sua infinita misericórdia, o perdoa.

Ora, que Justiça é essa que leva para Sua Glória o pior dos pecadores, em igualdade de condições com pessoas de uma vida inteira de santidade? Dimas, o bom ladrão, seguiu no mesmo dia com Ele para o paraíso. Que Justiça perfeita é essa? Nenhum castigo? Simplesmente o perdão? A quem responde que Seu Amor por nós é maior, está admitindo que Seu Amor é maior que Sua Justiça. Ora, se a Justiça é menor que o Amor, então não é perfeita, pois há algo maior que a anula.

Consequentemente, mesmo admitindo que o Inferno existe, e que os pecadores vão todos para lá, chorar e ranger os dentes, a Santa Madre Igreja Católica jamais nominou nenhum dos condenados, só o próprio Deus tem esse conhecimento.

Temos historicamente apenas uma exceção, que é uma anedota. Quando Michelangelo Buonarroti estava fazendo os afrescos da abóbada da Capela Sistina, o Mestre de Cerimônias do Vaticano, Biagio da Cesena, subiu nos andaimes que o genial florentino utilizava para fazer sua pintura. Perguntado pelo Papa o que achava daquela maravilha o infeliz desandou a criticar duramente a obra, “uma coisa desonesta, em um lugar tão respeitável pintar tanta gente nua; esse tipo de pintura ficaria melhor em prostíbulos”. 

Permitam um breve parêntese: a cena do Pecado Original parece dar razão ao Biagio. Adão é retratado em pé, com as pernas levemente afastadas, Eva sentada numa pedra em frente a ele, com o corpo todo voltado para Adão e bem próximos um do outro, ambos nus, e o rosto dela voltado para trás, com ar de espanto. Sei não: parece que ali houve um flagrante de fellatio, que seria o Pecado Original, nada de maçã. Honi soit qui mal y pense. Fecha o parêntese.

O gênio resolveu se vingar daquele sapateiro que ousou ir além das sandálias, e o retratou no inferno, com orelhas de burro, enlaçado por uma cobra que morde sua genitália, e com Minos “fungando no seu cangote”. (“O Juízo Final”, no grande painel, ocupa toda a parede por trás do altar, no canto inferior, à direita de quem olha).

O “condenado” resolveu se queixar ao Papa Paulo III, que, muito bem humorado, resolveu participar da galhofa/vingança de Michelangelo e respondeu: “Meu caro Biagio, se você estivesse no Purgatório eu poderia ajudá-lo, mas eu não tenho jurisdição no Inferno. Lá, só Deus”. E o desgraçado está até hoje no seu martírio eterno.

Mas eu vou encerrar com um fato mais recente, lá do Século XVI, voemos para o Século XXI. Recentemente, numa entrevista em Harvard, o então Juiz Sérgio Moro afirmou que o crime de Caixa-dois é mais grave que a corrupção para enriquecimento ilícito.

Eu não concordo, mas, enfim o homem é um jurista, deve saber o que está dizendo. Aconteceu que ele abandonou o trono de Robespierre de Curitiba e assumiu o Ministério da Justiça (trono já foi ocupado pelo Marombado de Nilópolis, com coroa, cetro e manto).

Confrontado com a confissão do ministro Chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que admitiu o pecado de Caixa-dois, se disse arrependido e pediu desculpas à Nação, o incorruptível (sem gozação) respondeu candidamente: “É verdade, ele praticou o crime hediondo de Caixa-dois. Mas afirmou que está arrependido e pediu desculpas”. Pronto! Está perdoado.

Tomara que ele consiga incluir este cânone da Igreja Católica no nosso arcabouço jurídico. O Sérgio Cabral, por exemplo, já começou a admitir seus pecados e a pedir perdão, o próximo deve ser o Lula.




COMENTÁRIO

Não sou teólogo como Ellery, nem filósofo, do tipo que se especializa em conhecer, cotejar e comentar o pensamento existencial e ontológico concebido e consagrado por terceiros.

Mas, como livre pensador, intuo que não há nenhuma contradição ou incongruência na ideia-força que se tem chamado Deus – a concepção de um Intuito Lógico exterior e superior à Natureza.

Esse Intuito também seria superior ao ser humano, mas não totalmente exterior a ele, desde que este dispõe de consciência, sendo capaz de se comunicar entre si, pela palavra, e consigo mesmo, por meio do pensamento.

Essa fagulha de Deus que os seres conscientes detêm em si não é suficiente para que possam fazer uma análise plena desse Fenômeno de caráter imperscrutável, determinando seus atributos, seus métodos e seus planos finalísticos.  

Tendemos então a cair no antropomorfismo ao imaginar e tentar configurar essa Entidade Suprema como se humano fosse, e a elaborar sobre Ela os mais pedestres raciocínios.

Para mim, pecado e castigo são conceitos humanos, que não se podem refletir no Absoluto. Pecado é fato atual, nascido do equívoco da pessoa, enquanto castigo tem efeito corretivo, preventivo de futuros erros. 

Mas, em Deus, esse mecanismo não é tão cartesiano. Dele, só o perdão se pode esperar, se a Ele se pedir. Talvez aqueles que a lei dos homens ainda mantenha em expiação, de dentro dos calabouços e masmorras já se tenham confessado a Deus, que os tenha perdoado, como aconteceu ao bom ladrão.

Então, segundo entendo, cabe a cada um aceitar a sua sorte, para bem identificar e aproveitar de forma lícita e digna as oportunidades que ela ofereça, em busca da felicidade, tolerando humildemente os percalços que o destino lhe imponha,  e elevando sempre o pensamento a Deus para Lhe dizer de seus justos anseios e lhe agradecer os seus sucessos, augurando por melhoras.

Já a política, que Ellery aborda na conclusão do seu artigo, deve se prestar a manter e ampliar as oportunidades do povo de empregar e desenvolver os potenciais de cada um dos seus elementos, no limite da sorte e do mérito de cada qual, sempre com fraternidade, igualdade e liberdade.  

Também cabe ao Poder Público segregar da sociedade e afastar da vida pública os escolhos morais que ainda não tenham entendido que o objetivo da vida é ser feliz, e que só se pode ser feliz de fato sendo pacífico, verdadeiro, gentil, e, principalmente, honesto e justo.

Reginaldo Vasconcelos.
             


quinta-feira, 28 de março de 2019

NOTA SOCIAL - Tapioca Aniversária de Juarez Leitão


JUAREZ LEITÃO RECEBE PARA
TAPIOCA AMIGA 
ANIVERSÁRIA


O Prof. Juarez Fernandes Leitão – nas letras apenas Juarez Leitão – reúne políticos, poetas, jornalistas, literatos, de seu círculo seleto de amizades, na última quarta-feira de cada mês, no encontro marcado pelo especial servido de tapiocas com café, ou com sucos de safras cearense.

Atual Vice-Presidente da Academia Cearense de Letras, no exercício da Presidência, Juarez e sua Maria receberam os amigos na tarde de ontem (27.03.19) para uma Tapioca Amiga especial, em que se comemorou o natalício dele, em louvor dos seus 71 anos de idade, completados no último dia 11.

Como sempre, compareceu à festa vespertina em torno do anfitrião um grande número de personalidades da sociedade cearense, além das suas três filhas – na imagem, Juarez com a Promotora de Justiça Camila e o marido dela, o arquiteto Roberto de Pinho Pessoa.

Filósofo, Historiador, Político, Biógrafo, Cronista, Poeta, Juarez tem um dos textos mais brilhantes do nosso meio, é um dos mais vigorosos intelectuais cearenses contemporâneos, grande agitador cultural, sendo ainda um catalizador de afetos e amizades, pelo seu modo simples e simpático de ser.


Registramos a presença da atriz e escritora Fernanda Quinderé, do médico Lineu Jucá, do economista Antônio Padilha, do Deputador Leorne Belém, do Advogado Neuzemar Gomes de Moraes, dos ex-prefeitos de Fortaleza Antônio Cambraia e Luiz Marques, do promotor de eventos Roberto Farias, do Prof. Galileu Viana, e do jornalista e escritor, imortal da Academia Cearense de Letras, Pádua Lopes. 

A ACLJ esteve representada na Tapioca Aniversária desta última quarta-feira pelo seu Presidente, Reginaldo Vasconcelos, pelos Membros Titulares Geraldo Amâncio e Humberto Ellery, e pelo Membro Benemérito Ubiratan Aguiar.    

quarta-feira, 27 de março de 2019

PARÓDIA - Oh, Maminha! (LC=VM)


OH, MAMINHA!
Luz de Canhões*

Oh maminha senil que te partiste
Com medo desta serra renitente
É cousa de beréu impenitente...
M’esquiva eu cá da perra que me assiste!

No momento funéreo em que cindiste
A escória desta lida putrescente,
Jamais te esqueças do fedor ingente
Que já do olfato meu também sentiste.


Se tu vires que podes esquecer-te
Da cousa: o mau odor que me restou
Da água – oh que tédio – a corromper-te,

Ora a Zeus, que teus planos abreviou,
Que tão cedo daqui leve a comer-te
Quem, ledo, sob escolhos, te cheirou.




NOTA DO EDITOR

Paródia configura um arremedo burlesco de um texto de prosa ou poesia. Luz de Canhões é o pseudônimo (neste soneto) de Vianney Mesquita.

O autor parodia o célebre soneto de Luís de Camões, dedicado a Dinamene (Tin Nam Men), ninfa aquática (nereida) chinesa, uma das 50 filhas de Nereu, inserida na Ilíada, de Homero.

Decerto, de caso pensado, critica o cacófato que há no soneto de Camões, na expressão Alma minha gentil que te partiste – maminha – que gerou a paródia.

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ALMA MINHA GENTIL, QUE TE PARTISTE
Luiz Vaz de Camões

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento Etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente,
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Algũa cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.



REUNIÃO NA TENDA ÁRABE (26.03.19)


REUNIÃO 
NA 
 TENDA ÁRABE
E MOMENTO LITERÁRIO
DA EMBAIXADA


Na noite da última terça-feira (26.03.2019) reuniram-se na Tenda Árabe os acadêmicos Altino Farias, Reginaldo Vasconcelos, Paulo Ximenes, Adriano Jorge, Rui Martinho Rodrigues, Cássio Borges, Alana Girão Alencar e Júlio Soares. 


A experiência gastronômica da semana foi um tradicional peixa à delícia.. 

Seguiu-se à reunião a sessão de leitura de poesia e de prosa poética, o “Momento Literário da Embaixada da Cachaça”. 

Essa prática artística e performática, internacionalmente designada como poetry slam,  nasceu em Chicago, na Green Mill Tavern, em meados dos anos 80, por inciativa do escritor Marc Kelly Smith, disseminando-se por todo o país e depois pela Europa, e por outras partes do mundo. A palavra inglesa slam refere a poesia produzida para ser lida em público.


Roberto Paiva, cliente da casa, sempre presente entre os partícipes, abriu a sessão de leituras com um seus poemas filosóficos. Seguiram-se os oradores Altino Farias, Reginaldo Vasconcelos, Romeu Duarte e Humberto Ellery. No grupo, os amigos Venício Guimarães e Marcelo Vasconcelos Alves.

Altino apresentou uma interessante coletânea de anexins e frases de efeito de sua autoria,  Ellery leu excertos do célebre poema "O Melro", de Guerra Junqueiro, e Reginaldo Vasconcelos  duas croniquetas  de sua lavra, "Os Pescadores" e "A Voz do Papel", publicadas em sua coluna no extinto Jornal Tribuna do Ceará em 1981, e na sua coletânea "Traços da Memória - Laços da Província".





ARTIGO - Cosi È Se Vi Pare (HE)


COSI È SE VI PARE*
Humberto Ellery**



O teatrólogo italiano Luigi Pirandello criou uma peça teatral cômica, “Assim é se lhe parece”, para tratar de um assunto sério (ele a classificou como uma “farsa filosófica”), que é a discussão entre o que vemos e o que é a verdade, entre o que realmente é, e o que parece ser.

Um exemplo muito claro dos enganos que nossos sentidos nos induzem a cometer é que, se não fosse Nicolau Copérnico, autor do Heliocentrismo, poderíamos pensar que a terra está parada e o sol fica orbitando em torno, surgindo todas as manhãs no leste e desaparecendo ao entardecer no oeste. É isto que vemos diariamente. 

Aliás, a discussão entre o que é apenas uma opinião e o verdadeiro conhecimento, já era uma preocupação dos filósofos pré-socráticos (Século IV a.C), que Platão desenvolveu nos seus Diálogos e n´A República: Doxa e Episteme.

Todos esses pensamentos ficaram ocupando meu cérebro a partir da prisão preventiva do Michel Temer. Como não sou jurista fui pesquisar o que dizem os doutores no assunto, e procurei ler não só a denuncia do MP, como também o Despacho do Juiz Marcelo Bretas. Não sem antes ler e reler o Art. 312 do CPP, e tendo em mente sempre o brado do pintor Apeles: ne sutor ultra crepidam!

Sem querer ir “além das sandálias”, mas como sei ler e interpretar o que leio, fiquei estarrecido ao ler no despacho do Doutor Bretas coisas como “Não há um decreto condenatório em desfavor dos investigados (nenhum é réu, nem sequer indiciado) a análise a ser feita é ainda superficial, mas o fato é que o crime de corrupção, numa análise ainda superficial” (repete a superficialidade que embasou a prisão de um Ex-Presidente da República). Mais adiante afirma que “...o chefe da suporta Organização Criminosa parece ser o Ex-Presidente Michel Temer”.

Depois fiz uma releitura do Despacho contando quantas vezes o Juiz se pautou pelo parece ser; em dezenove oportunidades foi utilizado o verbo “parecer”. A cada duas páginas está lá o Doutor tomando a Doxa pela Episteme.

Depois de ler o Habeas Corpus exarado pelo Desembargador Antônio Ivan Athié, que desmontou, peça por peça, a ficção do Doutor Bretas, fui ler artigos de professores de Direito comentando o despautério, inclusive um manifesto assinado por dezenas de juristas, e deparei com um artigo do Professor Doutor João Paulo Martinelli (FSP 25/03/19) que, em apenas cinco parágrafos alertou para um absurdo que grassa hoje em nossa sociedade: a banalização da prisão no Brasil!

Agora uma pergunta: será que o Juiz Bretas pretendia mesmo prender o Michel Temer como parte de um implacável combate à corrupção? Não acredito, creio serem outros seus objetivos, e ele atuou com invulgar maestria.

Em primeiro lugar, ele atuou num campo que ele conhece muito bem, o meio jurídico, onde juízes são praticamente inimputáveis, praticamente fora do alcance da Lei de Combate ao Abuso de Autoridade (Lei 4.898/65); em seguida, soube escolher o alvo perfeito: o Ex-Presidente Michel Temer, o mais impopular presidente do Brasil, apesar de ter feito o mais profícuo e benfazejo governo dos últimos trinta anos.

Quais eram então seus objetivos? O primeiro, e mais importante, tomar para si a coroa que o Robespierre de Curitiba deixou sobre o trono quando o trocou pelo Ministério da Justiça.

Com isso o Doutor Bretas sentou-se ao trono e pôs a coroa antes que algum aventureiro lance mão. Ninguém o tira mais do trono, e o Caçador de Corruptos é sempre vivamente aplaudido até quando eventualmente erra. Ou será que nunca erra?

O segundo objetivo, também importante, foi dar uma violenta canelada no STF, que ousou mandar que se cumprisse a Lei, e determinasse que os crimes conexos ao caixa dois sejam julgados também pelo TSE, (os primeiros parágrafos do despacho são um ataque direto à Suprema Corte), retirando do parquet o filé de prender políticos e os aplausos daí decorrentes.

O terceiro objetivo foi dar um “chega pra lá” nas pessoas que “querem acabar com a Lava-Jato’; foi uma injeção de ânimo, mais que isso, uma revigorante transfusão de sangue. Antes que os militantes do lavajatismo queiram me colocar no rol dos “inimigos da Lava-Jato”, faço minhas as palavras da Dra. Raquel Dodge: “Sou a favor da Lava-Jato, mas não de interesses políticos na Operação”.

O quarto objetivo talvez não seja alcançado, que é inibir a aprovação da Reforma da Previdência, uma vez que o Moreira Franco, meio sogro do Rodrigo Maia, não é tão querido assim pelo Presidente da Câmara dos Deputados. Mas o Rodrigo Maia, como um dos principais fiadores da Reforma, talvez tenha entendido o recado: o Judiciário, com seus salários e aposentadorias extravagantes, não quer a Reforma, e não vai poupar ninguém.

Cosi è se vi pare...



*É assim, se lhe parece.



ARTIGO - A Paranoia dos Aparelhos (RMR)

A PARANOIA
DOS APARELHOS
Rui Martinho Rodrigues*


Durante a luta armada, os insurgentes desconfiavam de tudo e de todos. Os próprios companheiros facilmente tornavam-se suspeitos, tendo havido até justiçamentos em razão de suspeitas. Tratando-se de uma guerra, havia necessidade de muita disciplina. Orientados por uma doutrina para a qual o conflito é o motor da História, pensavam sempre em termos de guerra, e de fato havia um conflito armado.

A menor divergência era vista como coisa de traidor ou de agente inimigo infiltrado, sendo que infiltração de agentes inimigos era uma realidade. A militarização dos grupos políticos em luta tinha ênfase na disciplina, situação que agravava o clima de suspeita e de intolerância. A divergência não podia ser tolerada. A hipersensibilidade, em face da divergência ou do pensamento independe, recebeu o nome de “paranoia dos aparelhos”. O termo aparelho, nesse sentido, designa o completo domínio de um grupo ou instituição por uma – e somente uma – orientação doutrinária.

A exacerbação de ânimos, hoje, reintroduziu na política o clima de guerra. Já não temos competição, mas conflito. Não temos concorrentes na política, mas inimigos. Militantes agem como soldados em guerra. A sensibilidade, própria do combatente, agravada pelas limitações intelectuais de quem não conhece outras referências além daquelas do seu “aparelho”, alimenta a paranoia, em meio à mistura de paixões, limitações intelectuais e desinformação. O que não esta nas referências do “combatente” é interpretado como sinal de traição, ou coisa de “infiltrado”.

Ataques de ordem pessoal e condutas agressivas podem, em certas circunstâncias, definir eleições. Dificilmente, porém, contribuem para o exercício de influência cultural. Mudança de mentalidade se faz no âmbito da formação intelectual. Institutos de pesquisa e centros de formação intelectual, cursos de pós-graduação preparando formadores de opinião, publicação de trabalhos de pesquisa, bancas de concurso que selecionam agentes de mudança cultural, publicação de livros, todos esses são fatores necessários para que se exerça influência cultural na luta pela hegemonia ideológica.

Isso foi feito com sucesso ao longo da segunda metade do Século XX, para o estabelecimento da atual hegemonia, com os seus quadros de referência teórica e metodológica de uma mesma vertente das tradições políticas. Assim, foram formados professores, comunicadores e formadores de opinião em geral. Isso não se faz denunciando “infiltrados” e “traíras”.

Temos aparelhamento das instituições ou temos hegemonia ideológica na sociedade? As instituições foram tomadas por alguma minoria, valendo-se de processos seletivos tendenciosos? Isso aconteceu durante o processo de conquista da hegemonia. Hoje, todavia, as instituições culturais, a burocracia estatal e os meios de comunicação estão homogeneamente filiados a uma mesma vertente ideológica.

A pluralidade foi extinta. Isso se fez ao longo de décadas. Houve caneladas, aparelhamento nos processos seletivos dos cursos de pós-graduação, concursos para o magistério, concessão de bolsas de pesquisas, publicação de trabalhos acadêmicos. Aliança com interesses corporativos e particularistas esteve presente. O domínio de tradições de uma só vertente, hoje, se faz por falta de quem apresente algo diferente. Toda uma geração não conhece outra coisa. O mundo quase todo está mais ou menos assim, com exceção do Leste Europeu. No Brasil, porém, a situação é mais grave.

Briga de foice no escuro não modificará tal situação.


terça-feira, 26 de março de 2019

NOTA JORNALÍSTICA - Novo Programa Alfredo Marques

Novo 
Programa Alfredo Marques


!!!! EM QUESTÃO !!!!
Pela
TV CAPITAL
ESTREIA NO DIA 8 DE ABRIL

Vem aí o melhor programa político da televisão cearense. Programa Alfredo Marques – EM QUESTÃO.  De segunda a sexta, das 12 às 13 horas, com reprise das 20 às 21 horas, pela TV Capital – Canal 9 da televisão aberta. Confira a lista de participantes.