“Em Tempo de Viajar nas Calças”
Vianney Mesquita*
Na mocidade, são as viagens uma parte da educação. Na
senescência, um componente da experiência. (FRANCIS BACON).
Viagem
pedagógica empreendida à Cidade de São
Sebastião, tirante escorrego de lembrança,
nos finais dos anos 1970, nos levou, a mim e os jornalistas, meu compadre
Godofredo Pereira de Sousa, e a repórter Rosânia Farias para um treinamento na
TV Educativa do Rio de Janeiro, a fim de conformar, em modus operandi como unidade nacional, os programas informativos das
estações de TV afiliadas ao SINRED – Sistema Nacional de Radiodifusão
Educativa, conduzido por aquela emissora carioca, da Fundação Roquette Pinto.
Jornalistas
de televisão educativa de todo o País – como nós da então TV Educativa- canal
5, hoje, TV Ceará – participaram da dita reciclagem, com o melhor
aproveitamento, em razão do excelente planejamento efetivado pela Direção
nacional do SINRED – ainda nas mãos de autoridades castrenses, pois não se
havia efetivado, ainda, na plenitude, o projeto de abertura política tão
anelado pelos segmentos profissionais e populares, sujigados pelos Ai-s e
atravancados por uma legislação, ainda vigorante, constituída quase à ponta das
botas.
As
aulas ocorreram, em parte, em um centro de treinamento da Universidade Estácio
de Sá, nas proximidades da cidade do Rio de Janeiro, bem como no Hotel
Marialva, localizado na Lapa, na esquina da avenida Gomes Freire de Andrada com
rua da Relação, onde as atividades se desenvolveram por uma semana.
Ali,
conheci, entre outros, os jornalistas Nahum Benjamin Sirotski (hoje, com 90
anos e vivendo em Tel Aviv), Luís Carlos Bittencourt, Leda Nagle e Mounir
Safatli, Recigrid Rodrigues Campainha (Amazonas) e o conterrâneo Hamilton
Alcântara. Com este mantive muito contato, notadamente no que diz respeito às
molecagens do Ceará dos anos 1950, especialmente, em relação aos tipos
populares de Fortaleza, às estórias engraçadas, como, por exemplo, a vaia ao
sol na praça do Ferreira, após dias de chuva, e os apupos ao cantor Cauby
Peixoto, quando, paletó róseo, escorregou e caiu com as pernas abertas na frente do Cine
São Luís, para gáudio da canalha e, no então presente, recheio futuro do nosso
passado.
Lembramo-nos
da estória do Bem-bem, que vendia refresco
no Centro de Fortaleza, o qual chegou a visitar Paris, com grande sacrifício e
a instâncias dos cordiólogos de
ofício, ainda hoje existentes, à exaustão, no Ceará moleque. Essa negrada, após seu retorno da Cidade-Luz, insistiu em que ele
substituísse, no cartão de visitas, o seu nome para Bien-Bien – Garapière de Paris, objeto de mofa eterna.
Sempre
apreciei por demais as viagens, tanto de mero lazer como a mistura com as de
teor universitário, havendo procedido a bom número desses périplos com sentido
pedagógico, no Brasil, Argentina, Uruguay e Peru, defendendo trabalhos
acadêmicos, bem harmonizadas ao que prescreve na epígrafe desta estória o
filósofo e político inglês, autor do Novum
Organum (21.01.1561-09.04.1626).
Uma
vez jubilado por aposentação – e cá se completa o acima reproduzido pensamento
de Francis Bacon – passei a empreender excursões, pelo Brasil e também ao
Estrangeiro, aí, às vezes, três por ano, como à Colômbia e Europa quase inteira
– Rússia, Espanha, Portugal, Inglaterra, França, Suíça, Itália, Bélgica e mais
e mais, conhecendo e curtindo extraordinárias cidades, algumas de nomes pouco
referidos aqui, como Gant e Bruges (Bélgica), Cartagena de las Indias e Zipaquira
(Colômbia), Haia, Roterdan e Madurodan (Países Baixos), San Petesburgo e
Moscou, Berlim, Assis e Siena, Porto e Póvoa do Varzim ... e tantas outras.
Por
motivos diversos, a não ser pelo Brasil, a última jornada mais distante ocorreu
por França, Holanda e Bélgica, durante 12 dias, em novembro de 2012, havendo
cancelado uma, no final do ano passado, a Israel e Jordânia, em razão de atos
de terror de gravidade ocorridos no primeiro citado país da Ásia.
Agora,
a vontade de viajar é imensa, já estando acertada uma para vários lugares da
Europa Ocidental, a ocorrer, Deus querendo, em novembro, com a mulher, meus
irmãos e as mulheres, amigos e cônjuges, em número de 12 pessoas.
Em
razão desse imenso desejo (por mim expresso) de viajar, retomo a figura do
Hamilton Alcântara, que foi há muito tempo embora para o Rio de Janeiro. É
filho do Casco Escuro, alcunha do Professor Tancredo Halley de Alcântara – porque
bem moreno, e também havia com essa denominação uma cerveja, na época vendida
no Ceará, objeto de muita publicidade nos meios locais de comunicação
coletiva.
O
tempo foi 1962 e Tancredo postulou vaga para o Senado Federal, concorrendo pela
coligação das oligarquias - UDN-PSD-PSP – tendo sido derrotado pelo “Calila”,
Carlos Jereissati (PTB), para a Câmara Maior do Poder Legislativo nacional.
No
citado treinamento que descerra esta narração, num dia,
pela manhã, conversava com o Hamilton Alcântara e, já por volta das oito e meia,
à espera do demorado desjejum, ele quase não mais para de rir, ao lhe dizer que
estava “em tempo de tomar café nas calças” – moto a que recorri para titular
esta crônica.
Dá
uma saudade!
Escritor e Jornalista.
Professor adjunto IV da Universidade Federal do Ceará.
Árcade titular e fundador da Arcádia Nova Palmaciana;
acadêmico titular das Academias Cearense da Língua Portuguesa e
Cearense de Literatura e Jornalismo.
Membro do Conselho Curador
da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura, da U.F.C.
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