quinta-feira, 29 de setembro de 2016

ENSAIO LITERÁRIO - Folhas Mortas II (VM)


Folhas Mortas
Inspirações em Versos Ecléticos (II)
Vianney Mesquita*


Só há poesia no desejo do impossível ou na dor do irreparável. (Calos Maria LECONTE DE LISLE. Poeta e sábio francês. Saint-Paul – Reunião, 22 de outubro de 1818; Voisins-le-Bretonneux, 17 de junho de 1894).



3 APARELHAMENTO INTELECTUAL DO AUTOR

Embora nem sempre seja fácil apreciar analiticamente arte poética, em Folhas Mortas ressai, de imediato, a manifestação da apreciável prontidão intelectiva do seu compositor, com trânsito livre pela História, Geografia, Historiografia Literária, Artes, Ciências Físicas, História Natural, além de outros saberes, exemplos dos quais são os quartetos do soneto decassilábico português Protogênese, onde se vislumbram parecenças com os versos naturalistas de Augusto dos Anjos, antevendo-se, instantaneamente, a escolaridade de Vasques Filho, no concernente, também, aos recursos métricos.

Protogênese

No turbilhão de épocas passadas,
Que foste tu? Um protoplasma? Um fruto?
Portanto, protogínico ou um bruto
Estrugindo feroz nas madrugadas?

Das eras ancestrais, nas cavalgadas
De monstros colossais fostes produto
De micronúcleos vegetais, tributo
Do despertar de feras alvoradas?

Mas, afinal, que foste tu? Que encerra
De mistério o conjunto do teu ser,
Que em parto horrendo produziu a terra?

Quem sabe no telúrico Nirvana,
Não foste em protandria, sem querer,
O primitivo embrião da raça humana?

Aliás, eu evocava  no livro Reflexões sobre Augusto dos Anjos, do acadêmico Antônio Martins Filho (MESQUITA, 1996, p. 141) – o fato de Augusto, como, ainda, Álvares de Azevedo, Fagundes Varela, Casimiro de Abreu e outros atingidos pelo mal do século, haver influenciado bastante a maneira de versificar daqueles seus cultores e cultivadores, feito uma das maiores expressões da literatura poética do País, não apenas pela temática naturalista chocante e bela, bem assim em razão de sua cultura científica manifesta em seus cadenciados e sonoros versos.

Escrevia, ainda (permita-me o leitor esta digressão), noticiando o fato de, ainda muito jovem – com 15 anos – haver feito pasticho dos versos de Augusto dos Anjos, provindo do cosmopolitismo das moneras, com os decassilábicos intitulados Morbidez, meramente imitativos e com defeitos de consonância, sem qualquer valor artístico ou literário.

Morbidez

Tomam-me por inteiro as mialgias,
Na arteriosclerose das matérias,
E o bater pressuroso das artérias
Pareço escutar todos os dias.

Seguir calado, acalentando sonhos,
Já não resisto de tal modo insano.
Extravasa-se o fluido raquidiano,
S’esvaema cada dia meus neurônios.

É a cefaleia ultradolorosa!
Ela agride, me açoita e me anquilosa ...
Como se me fendesse um parietal.

O bisturi meu cérebro não cinde
Porque o doutor da epífise imprescinde...
Pois já findou: partiu-se a pineal.

Fortaleza, outubro de 1961.

Não é razoável asseverar ter ocorrido influência do Poeta da Vila do Espírito Santo sobre o Protogênese, como no meu caso, em exercício feito de adrede, de intenção preparado, para imitar o estilo de Augusto dos Anjos, em tarefa didática na antiga Escola Industrial de Fortaleza, hoje Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado do Ceará.

Se assim ocorreu – nisso não acredito – não há nenhum desdouro, considerada a grandiosidade do Vate Paraibano. Eça de Queirós influenciou grandes realistas lusos e brasileiros; Leconte de Lisle, o autor da epígrafe deste módulo, chefiou escola, com vários seguidores; e François Malherbe (1555-1628) foi o regente do Parnaso e mestre de grandes clássicos franceses.

Não apenas na literatura, desses valimentos a história é repleta.

Tencionei somente, pois, em breve exemplo, fazer denotar a erudição do Autor de O Grande Mártir, no concernente ao repertório das Ciências Naturais. Assim o mostra, com relação à História Antiga e Medieva, à mitologia (desta se vale a literaturamundial), conforme acontece com Para uma Escrava (de Dario, persa), exempligratia, comentado em passagem ulterior deste artigo. Indiscutíveis são, portanto – e o leitor há de comprovar – a prontidão intelectual e o preparo ecumênico deste escritor admirando.

(Continua no módulo III)



TÚNEL DO TEMPO – PUBLICADO HÁ 20 ANOS


OS HOMENS DO ANO

Muita gente tomou por ironia a nossa indicação do palhaço Tiririca como “O Homem do Ano no Ceará em 1996”. Bem… foi ironia, e não foi. Quer dizer – se foi, não foi de nossa parte.

De fato, durante o ano passado, nenhum cearense teve mais destaque no País do que aquele artista circense, para desespero de uma certa ala de sudestinos, dos mesmos que abominam Ciro Gomes, e que procuraram por todos os meios dinamitar o sucesso do Tiririca, conseguindo apenas fazer o oposto.

Agora… que de fato faltou um nome de maior destaque entre os pró-homens do Estado, lá isso também é verdade. 

E talvez isso se deva à esmagadora força da dinastia Jereissati, convertendo os grandes líderes locais em meras balizas semafóricas, para orientar com bandeirolas o seu imenso trator de obras, que conta, inclusive, com impulso federal. Porto do Pecém, Castanhão, aeroporto internacional, energia eólica, tudo tem a mesma assinatura.

Mas, para que não haja ressentimentos, vamos mencionar alguns cearenses que se destacaram durante 1996, em suas áreas respectivas de ação.

Temos o mérito do Procurador da República, Dr. Francisco Araújo de Macedo Filho, que inaugurou prédio próprio (e muito próprio) na Aldeota, para o funcionamento da Procuradoria, a qual era instalada (e mal instalada) em imóvel improvisado para os lados do Jacarecanga.

Temos ainda Anselmo Mororó, jovem que há pouco tempo era surfista e que fundou um canal doméstico de televisão, a TV COM, para castigo das outras emissoras locais, repetidoras das grandes redes, e muito infensas a dar espaço aos valores regionais. Ele divide o mérito com o jornalista Nelson Faheina, que tem sustentado com heroísmo e poucas condições técnicas um jornalismo decente, e com a professora Adísia Sá, a qual avaliza a seriedade da emissora.

O prefeito Juraci Magalhães, que obteve das urnas maioria aclamadora nas eleições municipais. Este certamente merecerá um título de homem do ano se resolver em Fortaleza o apocalíptico problema do lixo e não esculhambar a Praia da Iracema com projetos faraônicos. A palavra “esculhambar” no seu sentido culto, o mesmo que “castrar”. A castração, ainda que cruel, mutiladora e aviltante, sempre encontrou justificativas éticas, estéticas e econômicas.

O mestre em jornalismo Ricardo Guilherme, fazendo o “Diálogo”, melhor show de personalidades da TV Cearense, que não comete nenhum dos dois tipos tão comuns de auto- entrevistas: aquele em que o entrevistador pergunta o que ele mesmo pretende responder, interferindo nas respostas, discordando delas, ou emitindo pareceres, e aquele em que o jornalista só pergunta o que o convidado precisa responder, para se justificar ou promover.

De resto, citamos o presidente do BEC, José Alencar, e o bancário Erotildes Teixeira, presidente da Associação dos Funcionários, que se digladiaram em praça pública, através da imprensa, na defesa de suas posições. No calor da refrega, excessos foram cometidos de parte a parte, o que produziu mágoas e contramarchas. Na verdade, ambos demonstraram-se aguerridos no cumprimento de suas missões, cada um visualizando método diverso para a defesa da Instituição. O que é fato é que a atividade bancária, como um todo, enfrenta percalços no momento e “em casa em que não tem pão, todos gritam e ninguém tem razão”.

Fica aqui também uma referência póstuma ao imortal da Academia Cearense de Letras, intelectual de peso e jornalista apaixonado, Geraldo Fontenele, que, em parceria com Maurício Xerez, fundou o jornal alternativo ABC Fortaleza, de muito boa qualidade, e que veio a falecer no último dezembro, vítima de um infarto fulminante.

Reginaldo Vasconcelos - JORNAL SCANDALUS - 1996



NOTA DO EDITOR:

A matéria foi publicada quando Francisco Everardo Oliveira Silva, o palhaço Tiririca, despontava no cenário nacional com a canção burlesca "Florentina". Everardo é hoje deputado federal por São Paulo. 

O Jornal Scandalus o elegeu o cearense do ano de 1996, para demonstrar que os grandes personagens do Estado, mesmo os que brilhavam internamente, não tinham projeção Brasil a fora. Era um tempo em que ainda não existiam a telefonia celular, a fotografia digital, e em que o computador pessoal ainda não se popularizara. 

O Banco do Estado do Ceará ainda não fora extinto, mas Ricardo Guilherme já tinha seu programa de TV, em que aparece entrevistando o pesquisador, musicófilo e historiador Cristiano Câmara, falecido no dia 22 de maio último.

Enfim, a Praia de Iracema seria "esculhambada" anos à frente, pela prefeita Luizianne Lins, que aterrou a célebre "Piscininha" e transformou um espaço histórico, boêmio, romântico e acolhedor em um mero e despersonalizado calçadão para um mafuá de bicicletas e skates.   

    

    

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

ENSAIO LITERÁRIO - Folhas Mortas I (VM)


Folhas Mortas
Inspirações em Versos Ecléticos (I)
Vianney Mesquita*



Se o poeta não pode iludir, não é poeta; e falar em poesia com raciocinio é igual a se referir a um animal pensante. (G. LEOPARDI. Poeta e filólogo italiano. Recanati, 29 de junho de 1798; Nápoles, 14 de junho de 1837).

       

1 INTRODUÇÃO

Embora coetâneo de Santiago VASQUES FILHO e conhecedor de sua obra artística, não experimentei a ventura de privar do seu convívio.

Dado às coisas do espírito, o Rapsodo piauiense cultuou vigorosamente a arte da Pintura, havendo deixado copiosa produção em variados gêneros, registados em guaches, óleos e aquarelas. Jornalista colaborador de periódicos do Ceará, Paraíba e Estado do Rio de Janeiro (Niterói), frequentou movimentos culturais dos mais diversos jaezes, como, exempli gratia, no exercício da logogrifia, discurso em prosa escrita e aplicação na atividade de composição e decifração de palavras cruzadas.

No século, hic est, em contraposição aos exercícios da cultura incorpórea, o Poeta foi magistrado e advogado competente, creditando, ainda, ao seu currículo, a pertença à vida castrense.

Dessa atividade multímoda, nos misteres seculares e fora destes, destaca-se em motos literários do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul, e até do Exterior, feito titular de uma cátedra do Instituto de Cultura Americana, do México.

Ao atestar a grandiloquência de sua produção na senda das letras, com destaque para a poesia, o Autor de Bronzes e Cristais granjeou muitos prêmios, em concursos de poesia, trova e soneto, representados por diplomas, medalhas e troféus, consoante registam Girão e Sousa (1987 p. 231), em cidades das diversas unidades federadas há pouco mencionadas.

A despeito de sua obra multifária, foi o metro a socializá-la no País inteiro, mercê dos trabalhos de rara beleza, como o prefalado Bronzes e Cristais (1975), Cantigas de Três Patetas, em parceria com Aloísio da Costa e César Torraca (1985), e o Folhas Mortas (glosado no meu Fermento na Massa do Texto - Apreciações – MESQUITA, Vianney -2001), dado ao público em 1985, em edição princeps, numericamente limitada e artesanal, com o sinete das Academias Espirito-santense de Letras e Brasileira de Literatura, reeditada, desta vez industrialmente, em 2000, pelas Edições UVA, de Sobral-CE.

Caminhos sem Fim, romance de 1984, O Testamento e outros Contos, e O Azarado e outros Contos pertencem à prosa de ficção do Autor, assinante, também, de Três Ensaios Literários, todos eles de apreciável valor artístico e didático, não editados.

2 TRÊS ASPECTOS DA PRODUÇÃO

Sem qualquer pretensão ensaística para cobertura de toda a obra desse Autor, evidencio três aspectos de suma relevância em qualquer escritor e em todos os seus produtos, nomeadamente no de feição poética, o qual, além do gosto estético a infundir nos leitores, solicita outras tenções autorais a fim de conferir às composições do gênero verdadeira axiologia de conteúdo, tornando-se resistentes a modismos, épocas e escolas.

Neste passo, apraz-me remeter o leitor à ideia do crítico de nomeada nacional, o cearense Pedro Lyra, sustentada na segunda edição de Utiludismo – a Socialidade da Arte (1982:39, acerca dos conceitos de a) a forma como eficácia, b) o conteúdo como interesse e c)a fusão de ambos como condição de permanência da obra de arte, pressupostos habitantes dos trabalhos de Vasques Filho.

Três requisitos, conforme o Autor de O Reduto Ontológico do Poema, são indescartavelmente requeridos para configurar a verdadeira obra de arte: eficácia, interesse e transcendência.

O argumento da eficácia está na capacidade de um sistema para alcançar os objetivos constituintes de sua razão de ser, enquanto o interesse se vincula à capacidade de atrair o outro e mantê-lo indefinidamente em contato. A seu turno, a transcendência, conforme a ideação de logo conota, está na capacidade de ultrapassar os limites espaçotemporais de origem, para permanecer no convívio das sucessivas gerações. Pedro Lyra ainda explica:

[...] a transcendência reside na sua substância ideológica, a sua eficiência reside na maneira como essa substância é preparada e apresentada ao público, ou seja, na FORMA como é considerada concluída pelo autor. (LYRA, op. cit, p. 40. Versal meu).

Convicto, pois, estou do fato de os trabalhos de Vasques Filho resguardarem essas características, coerentemente divisadas por Lyra, constituindo teores transcendentes.

Então, inventario os aspectos há pouco mencionados, intrínsecos aos escritos de Vasques Filho:

 detenção de sólido e apurado aparelhamento intelectual;

 conhecimento e domínio das técnicas de métodos de
versificar; e

 saber, domínio e emprego vasto e correto da Língua Portuguesa.

(Continua, oportunamente, com o módulo II).



Observação


Conforme é de costume, vez por outra, o autor deste trabalho seriado de crítica literária experimenta abandonar a partícula quê, a fim de demonstrar o fato de seu emprego não fazer – ou fazer pouca – falta numa escrita, aplicando recursos substitutivos oferecidos pela extraordinária “última flor do Lácio”.


NOTA JORNALÍSTICA - Homenagens a Pamaraga e a Wanda Palhano


HOMENAGENS
A PAULO MARIA DE ARAGÃO E A
WANDA PALHANO


Informa a acadêmica Luciara Aragão e Frota que em novembro próximo,  dia 18, às 17 horas, teremos o lançamento do E-book “No Laboratório das Palavras – História da PUC/Coletânea de Documentos (1979-1985)”.

Na mesma solenidade, haverá a entrega da Comenda D. Hélder Câmara, in memoriam, ao Dr. Paulo Maria de Aragão e à Dra. Wanda Palhano, pela SOCER - Sociedade Cearense de Cidadania, no salão de visitas do jornal.


O saudoso Paulo Maria de Aragão, professor, advogado, jornalista, escritor, falecido no dia 1º de dezembro do ano passado, é o titular fundador da Cadeira de nº 37 da ACLJ.

Vanda Palhano, por seu turno, advogada, Procuradora Federal aposentada, diretora do jornal O Estado, é o nosso 3ª Membro Benemérito.

A Dra. Luciara Aragão e Frota, aclamada para suceder ao irmão Paulo Maria em sua cadeira acadêmica, tomará posse na dignidade de titular na ACLJ na manhã do próximo dia 15 de outubro, no Palácio da Luz, sede da Academia Cearense de Letras. 

Na mesma solenidade tomará posse na Cadeira de nº 3 da ACLJ o jornalista Paulo César Norões, sucedendo ao pai, falecido em 20 de outubro de 2015, oportunidade em que será descerrado o retrato pictórico do fundador da Cadeira, jornalista Edilmar Norões. 

domingo, 25 de setembro de 2016

ARTIGO - A Donzela do Bordel (RMR)


A DONZELA DO BORDEL
Rui Martinho Rodrigues*


Uma mulher sedutora, persuasiva e envolvente trabalha em um grande bordel por longo tempo, desde a sua fundação; reside no alcoice; desfruta dos favores dos seus clientes. Grande é o companheirismo entre a sedutora senhora e as prostitutas do lupanar, que são lideradas por ela.

Mas a líder das meretrizes alega não saber que elas exercem a antiga profissão; nem que ali é uma casa de prostituição. A líder daquela casa não sabe nem jamais suspeitou ou ouviu falar a respeito do que se praticava na sua casa, sob sua liderança, entre os clientes que lhe prestigiaram tanto. Suas amigas íntimas e lideradas jamais lhe confidenciaram nada sobre as “tenebrosas transações” – como diria o grande poeta da MPB.

É pouco? Tem mais: a sedutora senhora, que conta inúmeras primaveras na casa e na vida, afirma que é donzela e não existe virgem tão pura quanto ela!

Qualquer semelhança com a política não é mera coincidência.

O ex-ministro da Casa civil, José Dirceu; um tesoureiro do PT, Delúbio Soares; um segundo tesoureiro do PT, João Vaccari; o ex-deputado e destacada liderança do PT, José Genuíno; o ex-deputado João Paulo, do PT e tantos outros petistas foram condenados no mensalão e/ou no petrolão.

A senadora Gleise Hoffmann e o marido, que é ex-ministro do governo petista; Delcídio do Amaral, ex-senador do PT e ex-líder do governo do PT; o governador Pimentel, de Minas Gerais; o senador Luiz Lindbergh Farias, do PT fluminense e uma relação interminável líderes próximos do ex-presidente Lula, se ainda não foram condenados já viraram réus ou estão sendo investigados em face de um dilúvio de indícios de autoria de crimes cuja materialidade já está comprovada.

O próprio ex-presidente se acha na condição de réu.

Morando no PT, liderando o PT, sendo intimamente ligado ao PT, o líder do partido não sabe e jamais ouviu falar das atividades ilícitas dos companheiros. Petrobrás, mensalão, fundo de pensões da Petrobrás, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, dos Correios. Eletrobrás, BNDES. Ligaram-se aos maiores escândalos da história contemporânea, sempre sem que o ex-presidente sequer desconfiasse.

O filho dele tornou-se milionário subitamente. Rios de dinheiro inundaram as campanhas do PT. O experiente líder do ABC desfruta de largos favores dos maiores empreiteiros do país. Mas não desconfia de tanta generosidade nem de nada disso, embora veja as elites como a personificação da torpeza e seja um homem vivido e “passado na casca do alho”.

Amigo íntimo da “elite torpe” que frequenta o lugar das “tenebrosas transações”; líder dos agentes políticos que negociam com a “elite torpe”, o experiente líder não sabe, não viu, nem desconfia de nada e mete a mão no fogo pelos companheiros. Não falta desenvoltura ao senhor Luiz Inácio Lula da Silva para proclamar a sua própria pureza, declarando-se a pessoa mais honesta do Brasil.

Merece tanto crédito quanto a sedutora senhora que mora no bordel do qual é fundadora, lidera as “meninas” da casa, recebe favores dos seus clientes, mas jura ser donzela e a mais pura das virgens do Brasil.




COMENTÁRIO:

É perfeita a analogia que faz Rui Martinho Rodrigues entre os pretensos titulares inocentes do governo deposto e a “madame” de um bordel que alegue nada saber sobre a atividade das prostitutas que abriga em sua casa, e que lidera e explora, para assim se eximir do lenocínio que pratica.

Mas, ainda que não existisse um crime intelectual de patrocínio da prostituição a escrutinar, existe a responsabilidade objetiva do pai de família sobre a conduta de seus filhos menores, e isso aqui se presta para uma comparação ainda mais trágica.

Imagine-se um pai, ou uma mãe, cujos filhos sejam ladrões, e com o produto do roubo ajudem a sustentar a família, propiciando vida boa a si aos genitores – mas que estes, flagrados aqueles, aleguem desconhecer inteiramente a sua atividade criminosa.

Só um idiota acreditaria nisso, mas, ainda que acreditasse, esse pai (ou mãe) não poderia escapar da obrigação moral que pesa sobre um sujeito negligente que nem desconfia da origem duvidosa dos benefícios materiais que produz a sua prole, até mesmo em seu proveito.

Mas nem todos os que dizem acreditar nessa alegada inocência são idiotas realmente, pois muitos conhecem bem os fatos, que preferem desculpar por interesses fisiológicos, já que de alguma maneira tiraram proveio pessoal da corrupção, ou porque suas convicções ideológicas justificam a bandalheira, o sacrifício do povo, e até o homicídio, se necessário à sua sanha.

Reginaldo Vasconcelos  


  

ARTIGO - O Polígrafo Linhares Filho (VM)



O ORTÔNIMO,
OS HETERÔNIMOS E
A OUTRA COISA, NA CALIGRAFIA DO POLÍGRAFO LINHARES FILHO
Vianney Mesquita*

O que penso do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.


[Alberto Caeiro – heterônimo de PESSOA, FERNANDO Antônio Nogueira de Seabra  – *Lisboa, 13.06.1888; +Lisboa (Jerônimos), 30.11.1935].


Procedia a uma regulagem nas minhas (como eu) desorganizadas estantes, quando divisei A Outra Coisa na Poesia de Fernando Pessoa, do escritor polimático Linhares Filho, professor titular de Literatura Portuguesa da U.F.C. mestre nesta linha investigativa (Pessoa) e doutor no mesmo veio (Miguel Torga).

José Linhares Filho, de quem experimentei o prazer de assistir ao lançamento do broto intitulado Junto à Lareira Invisível, há poucos meses, é lavrense (da Mangabeira), como ocorrem ser Dimas Macedo, Batista de Lima, Josafá e Joel Linhares e Joaryvar Macedo, bem assim muitos autores de renome, procedentes desta fonte prolígera de pessoas de letras, cultura e ciência.

Tanto em razão de sua diversa e qualificada produção na poesia, ensaio e noutros gêneros de escritura, como, em particular, em decorrência dos estudos empreendidos em profundez acerca de Pessoa e Miguel Torga (Adolfo Correia da Rocha), LF é produtor apreciado, estudado e policitado no Brasil, Portugal e nas várias nações lusofônicas, razão por que constitui nome de referência terciária no ecúmeno literário nacional e mesmo ultrapassando os limiares patriais do idioma português.

Na releitura do mencionado clássico da ensaística literária, restou mais cristalina ainda (a leitura repetida tempos após é procedida sempre noutra perspectiva) a ideia de que descobrir lances novos, por exemplo, na produção de literatos da grandeza de Machado de Assis, Eça de Queiroz, José de Alencar, Fran Martins ou Fernando Pessoa não constitui labor no alcance das pessoas comuns, porquanto, se pensa, desarrazoadamente, suas obras já restam eficientemente dissecadas pelos mais eminentes analistas.

Desta sorte, depreende-se a noção de que a Arte, na sua acepção melhor, não é tão estreita ao ponto de se esgotarem valores latentes, e sempre haverá no seu recôndito entretons ainda intocados e que somente poderão ser devassados pela argúcia do estudioso exigente e fiel à pesquisa para descodificação perfeita da mensagem.

A Outra Coisa na Poesia de Fernando Pessoa, ora apreciada com visão renovada, diversa da leitura inaugural, não constitui, decerto, um livro a maior na bibliografia passiva do Lisbonense notável, conforme se poderia erroneamente supora priori, pois LF percorre intimamenteo discurso admirável do Poeta luso e, sine ira et studio, no frasear de Públio Cornélio Tácito, imagina, supõe, fotografa, conclui e explica, com a clareza do bom tradutor, as diversas facetas da obra do Autor de Mensagem.

Linhares Filho estabelece as relações entre o ortônimo e os heterônimos Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis; exprime singularmente as posições de Caeiro e Reis, bem assim o relacionamento de Campos-Caeiro; formula coerentemente as soluções idealista e realista no contexto pessoano, explicando, no que chamou solução realista, o infinito de Pessoa, o impossível de Reis e o realismo de Campos.

Linhares Filho, pois, no volume sob comento, deu continuidade ao seu fado de excelente escritor de ensaios, garantindo um lugar de destaque no concerto da crítica especializada; e, ao demostrar a personalidade multíplice do Escritor de Primeiro Fausto, arremata com o enfeixe maior de Pessoa – o empenho deste em compreender o mundo e atingir o ser.

O experimento literocientífico sob exame, por conseguinte, malgrado assunto espreitado amiúde por teóricos de toda parte, é uma vertente exata para quem tencionar proceder a incursões mais demoradas pela obra de Fernando Antônio Nogueira de Seabra Pessoa, em decorrência da absoluta originalidade das suas proposições.


Glória e paz e parabéns e vida longa ao excelso ensaísta e enorme cristão, ocupante de uma cadeira (a de Luís Antônio da Rocha Lima) na Academia Cearense de Letras, o lavrense José Linhares Filho!


ARTIGO - Cuidado! (JA)


CUIDADO!
Jovino de Alencar*


Depois de retirar o ensino de grego e de latim do currículo do estudante brasileiro, na década de 30; depois de acabar com o Exame de Admissão ao Curso Ginasial; depois de esvaziar o vestibular com vistas aos cursos superiores, e de criarem o ENEM (Eu Não Estudo Mais), o Governo Brasileiro (seja lá quem for o governante) deseja agora enterrar o País.

Numa Medida Provisória publicada no Diário Oficial da União de ontem, dia 23, e após afirmar que ainda vai definir o programa (pode?), o Governo deseja enterrar o ensino brasileiro. Grade de Ensino? Para que?.

São com atitudes assim, como outras de FHC, Lula da Silva e Dilma, que desejam assassinar o Brasil, como fizeram com Cuba, Venezuela, Bolívia e tentaram com o Paraguai e Uruguai. Mas não conseguirão. O Brasil é igual a mororó: enverga mas não quebra.

O melhor de tudo: todos eles também morrerão. Pegarão 7 palmos, mais cedo ou mais tarde. Rico ou pobre. De morte morrida mesmo.

*Jovino Nunes de Alencar
INSTITUTO CEARENSE DE CULTURA PORTUGUESA
Fundado em 01 de junho de 1992
Fortaleza – Ceará

Enviado por Vicente Alencar



COMENTÁRIO:

Calma! Ainda não há como saber se acertarão a fórmula, mas há consenso geral de que alguma coisa precisava ser feita para melhorar os ensinos fundamental e médio no Brasil, onde se finge transmitir uma montanha de conteúdos didáticos, e grande parte dos formandos saem da faculdade sem capacidade de fazer uma regra de três e de redigir um simples bilhete. Aliás, há muitos anos se diz que se o estudante brasileiro concluísse o curso médio sabendo tudo o que é prescrito pelo currículo oficial ele seria um grande sábio.

Imagine-se um estudante que dominasse realmente as ciências exatas – a matemática, a física, a química – como também a gramática – análise sintática e morfológica, concordância, regimes verbais etc. – mas também conhecesse a literatura clássica e as técnicas de redação, sendo ainda fluente em inglês ou espanhol.

E que pudesse discorrer sobre História Universal, desde as guerras púnicas, passando pela revolução francesa, os grandes descobrimentos, as duas Guerras Mundiais, sabendo ainda todos os fatos, todos os personagens, todas as datas da vida brasileira, de Cabral a Tancredo Neves. Seria um gênio. 

Mas, além de estudarem somente para se sair bem no risca-risca, em vez de aprenderem aquilo de que realmente precisarão na vida prática, para a sua evolução intelectual e para o progresso do País, os nossos estudantes de hoje perdem tempo com matérias ideológicas sobre libertinas liberdades, com base no que os opressores fascistoides modernosos consideram "politicamente correto", sobre supostos merecimentos sociais naturais, sem esforço e sem mérito, e sobre as subidas virtudes do homossexualismo.

Um estudante alemão ou japonês é capaz de dar aulas aos nossos professores universitários da cadeira específica que interesse ao curso que escolheu, e ele sai da universidade falando, lendo e escrevendo em inglês, e pronto para produzir tecnologia de altíssima qualidade – grandes médicos, grandes engenheiros, grandes cientistas.

Mas esses estudantes só conhecerão a etimologia de seu próprio idioma, o nome de seus imperadores do passado ou onde fica o Brasil se forem estudantes de letras, de história, de geografia, conhecimentos de que não precisam para desenvolver máquinas agrícolas super eficientes, técnicas cirúrgicas sofisticadas, fármacos revolucionários ou softwares de última geração.

O fato é que estamos vivendo no mundo da superespecialização, que se resume em conhecer cada vez mais, sobre cada vez menos, de modo que não podemos mais manter um currículo estudantil do tempo em que um médico, por exemplo, tratava da labirintite ao panarício, do impetigo ao câncer no cérebro. Um engenheiro estava apto a projetar edifícios e motores de automóveis e um agrônomo tinha que entender do plantio de cacau e de laranjas.

No passado ainda havia a opção rudimentar de se escolher o curso científico, ou o curso clássico, ou ainda o curso normal, para que o optante pudesse focar mais em ciência exatas ou humanas, de conformidade com a área do conhecimento eleita para a sua futura profissão.

Então, que se retome essa divisão vocacional, voltando ao ensino do latim e do grego antigo para os que priorizarem as letras, deixando exponenciais e logaritmos para quem prefira aritméticas. Mas que todos aprendam o básico para fazer as quatro operações matemáticas (sem uso de calculadora), e a falar e escrever corretamente em português e em inglês, que é língua universal.

Reginaldo Vasconcelos