OS JARDINEIROS
DE BRASÍLIA
Wilson Ibiapina*
OS JARDINEIROS
DE BRASÍLIA
Wilson Ibiapina*
Brasilia fica muito mais colorida nesta época do ano.
São os ipês florando na seca.
Muita gente pensa que Burle
Marx é o pai do verde de Brasília. A maioria desconhece que foram três
cearenses que arborizaram a Capital, que criaram os pulmões que ajudam o
brasiliense a respirar. Roberto Burle Marx formado no exterior, deixou em
Brasília a marca de sua genialidade.
Ele trouxe para as praças e jardins dos palácios a vegetação nativa, desprezando as flores exóticas que compunham os jardins de nossas cidades naquela época. São deles os jardins da praça dos Cristais, no Setor Militar Urbano, a praça das Fontes, no Parque da Cidade.
Ele trouxe para as praças e jardins dos palácios a vegetação nativa, desprezando as flores exóticas que compunham os jardins de nossas cidades naquela época. São deles os jardins da praça dos Cristais, no Setor Militar Urbano, a praça das Fontes, no Parque da Cidade.
O paisagista criou os jardins
externos do Itamaraty, com Stênio Bastos, do Palácio da Justiça e do Jaburu. Os
jardins do Tribunal de Contas da União, do Teatro Nacional e das embaixadas da
Alemanha, Irã, Bélgica e Estados Unidos. E foi embora para o Rio.
O verde de Brasília tem outros
pais, outra história. Falo das árvores plantadas ao longo dos eixos, nas
superquadras, das flores dos balões rotativos. Tudo começou com Stênio Bastos,
cearense de Mondubim, como Ary Cunha, seu grande amigo. Sua missão, em 1962,
quando trocou a Fundação Zoobotânica pela Chefia da Divisão de Parques e
Jardins, era plantar.
Esse engenheiro agrônomo
mandou trazer para cá todo tipo de árvores. As mudas chegavam de todas as
partes, de todos os países e Stênio ia plantando, testando quais as que se
adaptariam ao cerrado. As mudas foram sendo fincadas entre as árvores
retorcidas. E até árvores frutíferas ganharam espaço. Umas morriam, outras
apodreciam e tinha até as que não cresciam. Com cuidado, carinho, elas foram
brotando, se adaptando, dando sombra, frutos. E foram chegando os pássaros e a
cidade foi mudando e ficou mais colorida, mais alegre.
O ajudante de Stênio era outro
agrônomo cearense, Ozanam Coelho, filho de Barbalha, primo de Edilmar Norões.
Chegou em 1959 e encontrou poucas árvores retorcidas e muita poeira. Não
entendia de plantas, mas aprendeu tudo com o conterrâneo Stênio Bastos, o
primeiro responsável pelos jardins da cidade. De assistentes a diretor, Ozanam
deixou sua marca nos espaços concebidos pelo urbanista Lúcio Costa que queria
Brasília uma cidade-parque. E foram surgindo os canteiros de flores, ipês,
flamboyants, sapucaias, quaresmeiras e muitas e muitas espécies de árvores.
À frente de uma equipe de dez
profissionais, Ozanam pesquisou o cerrado em 1970, selecionando as espécies que
vieram a se adaptar ao clima e ao solo. São os ipês roxos, brancos e amarelos
que hoje enfeitam Brasília. Ele plantou três milhões das atuais 4 milhões de
árvores que dão sombra à cidade. Foi ele quem plantou 40 milhões dos 50 milhões
de metros quadrados de gramados que escondem o amarelo do chão do Planalto
Central. Foi Ozanam quem projetou os mil jardins que enfeitam o centro de
Brasília. Toda a sua experiência está contada no livro Arvores de Brasília.
O terceiro cearense que deixou
seu nome ligado à história do verde de Brasília é o engenheiro agrônomo Guarany
de Lavor. Filho de Itapipoca, Guarany foi contratado nos anos 70 por Stênio
Bastos. Estava com 65 anos quando se envolveu com os jardins da cidade. Só
permitia o corte de uma árvore quando não havia mais jeito. Em maio de 1992, um
homem atacou a machado o Buriti solitário que dá nome à praça que fica em
frente ao palácio da Justiça e ao palácio sede do governo do Distrito Federal,
que tem o nome da árvore.
O que impressiona é que foram
esses três agrônomos, saídos do árido Ceará, sem a menor experiência em
jardinagem, transplante de árvores, migração de planta de uma região para
outra, que transformavam a descampada Brasília num florido jardim. Não tinham a
formação internacional de Burle Marx, paisagista, gravurista, designer, pintor
músico, mas mostraram a força de sua sensibilidade. Pesquisaram, estudaram,
foram competentes. Ozanam e Guaracy, assim como Stênio, nunca gostaram do
título de doutor nem de engenheiro agrônomo. Preferem ser chamados de
jardineiros. Os jardineiros que encheram Brasília de árvore e de vida.
*Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ
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