A POLÍTICA BRASILEIRA
VIROU PÂNTANO
Reginaldo Vasconcelos*
Pântano
é um terreno alagadiço muito fértil para os processos naturais primitivos, onde
pululam os sanguessugas, os batráquios, os carcinóides em geral, e onde se vão
muita vez nutriz e reproduzir os bichos mais rudes e beluínos do Planeta, em
meio a uma flora semiaquática contorcida e agressiva – os tubarões, as
anacondas, os crocodilianos.
Mas
os seres mais evoluídos e os animais superiores não podem sobreviver com
higidez e com conforto nessas geenas naturais, nesses charcos fétidos e lúgubres,
pois ali o solo é lamacento e movediço, cheio de umidades e de miasmas insalubres, repleto de armadilhas com cúspides cruentos, que fazem do caçador de hoje a carniça de amanhã.
Pois
está neste momento caindo o pano de cena em que se desenhava o Brasil como um
país boscarejo e maravilhoso, capaz de prodígios olímpicos no futebol e de um
paradisíaco carnaval, pretensa pátria de Deus e objeto de milagres econômicos,
mercê de seu exuberante patrimônio ecológico, de sua alma pacifica e
humanitária, de sua vocação para ser um dia uma superpotência mundial, autossuficiente
em riquezas naturais.
Qual
nada, a realidade que se desvela e revela no momento, pela queda do falso cenário
mítico, é um pântano nojento, em que uma elite política sórdida, brandindo
falso espírito público para iludir as grandes massas nacionais votantes, chafurda no lodo verdoengo do dinheiro.
Promoveram o superfaturamento de obras para a Copa Mundial de Futebol, muitas das quais que sequer foram concluídas, prejudicando a saúde financeira das maiores empresas públicas nacionais, lesando gravemente a economia do País; parasitavam a fortuna dos capitalistas do topo da pirâmide, haurindo o contributo fiscal do trabalhador de classe média para manter-se no poder, sugando as veias quase exangues dos patrícios miseráveis, tributados no seu consumo essencial.
Promoveram o superfaturamento de obras para a Copa Mundial de Futebol, muitas das quais que sequer foram concluídas, prejudicando a saúde financeira das maiores empresas públicas nacionais, lesando gravemente a economia do País; parasitavam a fortuna dos capitalistas do topo da pirâmide, haurindo o contributo fiscal do trabalhador de classe média para manter-se no poder, sugando as veias quase exangues dos patrícios miseráveis, tributados no seu consumo essencial.
A
Presidente da República está no fio na navalha pelo cometimento notório de uma grande
mentira fiscal para se reeleger, que o Tribunal de Contas da União vai decidir se configura
crime, ou se meramente um pecadilho perdoável, um deslize venial. Toda sorte, ela foi reeleita com base
em uma campanha suja e mentirosa – um rei absolutamente nu, que todos enxergam,
mas que somente alguns oposicionistas mal lavados denunciam.
O
mentor político da sua sucessora, o ex-presidente da República, por seu turno, é
investigado por enriquecimento ilícito, com tráfico de influência no governo
atual. Por outro lado, um presidente antigo, que já fora banido da presidência e da política, o qual voltou à vida pública como senador, é acusado de vultosa roubalheira.
Usou
ele nesses dias a tribuna do Senado para defender-se – sem nada dizer contra as
acusações e os seus acusadores – mas partindo de duas premissas curiosas.
Primeiro, alegando que a autoridade que preside as investigações contra ele é
um corrupto rematado. Segundo, insinuando que, em sendo esta autoridade pessoa indigna,
ele também teria o direito de sê-lo.
Ora,
começa que ele é suspeito para, neste momento (e somente agora que está sendo
investigado) denunciar a conduta pretensamente imprópria do seu investigador.
Termina que ele não consegue (nem tenta) explicar por que o Procurador da República
investiria contra ele injustamente, expondo-se a ter os seus próprios alegados
podres revelados.
Acontece que também são apontados como estando até o pescoço no atoleiro desse mangue
odiento, entre tocas de caranguejos carniceiros e ninhos de salamandras
venenosas, dentre outros parlamentares, o deputado presidente da Câmara e o
senador presidente do Senado, o que compromete agora por inteiro dois dos três
montesquianos Poderes da República Brasileira.
Mas,
desgraçadamente, também se vislumbra lama na toga do Poder Judiciário (que, a essa
altura dos acontecimentos, é a última esperança dos brasileiros de bem), cujo
presidente foi flagrado pela imprensa em encontro secreto no Exterior com o
Poder Executivo, na pessoa de suas figuras principais.
Uma
vez pilhados nessas vexatórias calças curtas, os protagonistas do fato dizem
que tudo foi casual, e que aquele Ministro do Supremo Tribunal não foi tratar
dos processos contra os políticos do partido do governo, que é a sua maior angústia
no momento – e que ele eventualmente
terá que julgar – mas para cobrar à Presidente o seu próprio aumento de
salário, saindo a emenda muito pior do que o soneto, porque isso configura um
eventual objeto de barganha para julgamentos bonançosos.
É. A política brasileira "virou pântano", na expressão do linguista russo Dmitry Sidorenco, membro honorário da ACLJ, quando ele se refere genericamente à degradação das boas coisas – ele que nasceu e vive na belíssima cidade de São Petersburgo, que o imperador Pedro, O Grande, fez construir sobre os brejos pantanosos do Golfo da Finlândia, estuário do Rio Nava, que ali deságua no Mar Báltico.
Caro
professor Vianney, tudo isso posto – e deixando de dizer mais, pelo princípio da síntese e da economia – concluo repetindo o velho bordão, e aplicando o
vernáculo da melhor forma que a tua sapiência nos ensina: QUE DEUS SE APIADE DE NOSSAS ALMAS!
*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº
20 da ACLJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário