PROF. DR. AUTO FILHO
CONSULTOR NATA FINA
CONSULTOR NATA FINA
Vianney Mesquita*
Mais vale ler um homem do que dez livros. (Charles
Augustin SAINT-BEUVE. YBologne-sur-Mer, 23.12.1804; †Paris, 13.10.1869).
Aprendi
muito cedo a homenagear este brocardo saint-beuveano, quando a ignorância, muito recorrentemente, me
tortura, em particular pelo fato de aqueles a quem peço valimento serem também subscritores
de livros, nas mais das vezes, até muitos, os quais costumo ler somente depois
de haver descodificado convenientemente os primeiros.
Só
assim, já vou com a certeza de não encontrar colagens em excesso, repetições,
tautologias e, não raro, ideações alheias e sem referência, ao ponto de o
leitor inábil e bobo intuí-las como da lavra do escrevinhador e, com muita
frequência, ache de admirá-lo e dele sair a fazer apologias e jogar confetes,
ao propagar ideias subtraídas de outra pessoa na qual o “autor” indevida e
desonestamente se hospedou.
Mancheias
de nomes sem livros e de valor inconteste saciam a história, exemplares dos
quais pinço dois. O primeiro foi meu pai, Vicente Pinto de Mesquita,
excepcional autodidata, cujas lições de vida constituíram verdadeiro manual, aide mémoire do conhecimento e da
cultura, da lógica e do acerto, da retidão e da verdade – tudo isto haurido de
leituras seletas amanhadas no trato do cotidiano e contato com a literatura de
teor clássico, brasileira quanto internacional, malgrado jamais haja feito piso
de uma escola formal. Ainda menino, na
Palmácea (1) do final dos ‘50, enquanto me deleitava com a Coleção Terramarear
(de que constavam volumes sobre Tarzan,
de Edgard Rice Burroughs), lembro-me de tê-lo visto lendo A Cidadela, de A. J. Cronin, com dois na reserva – O Castelo do Homem sem Alma (1931) e Os
Verdes Anos (1944), do mesmo Archibald Joseph Cronin (YCardross,
Dumbartonshire-UK, 19.07.1896; †Montreux – Suiça, 06.01.1981).
Wagner
Turbay Barreira é o outro titã do saber – evidentemente em dimensão diversa de seu Mesquita – do qual não guardo
notícia de haver deixado trabalho editorado, e de quem fui aluno em duas escolas
da Universidade Federal do Ceará, em disciplinas de perfis diametralmente
opostos, sendo ele perito em ambas, o bastante para argumento do seu preparo e
manifestação da diligência professoral que conduzia, derradeiro reduto de
extinção da dúvida. Espelho de mestre. Cristal se ser humano. “Um homem” –
conforme disse, certa vez, João Pandiá Calógeras a respeito de Afonso Celso de
Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, ao narrar temas da Proclamação da
República do Brasil.
Noutro
texto, inserto no trabalho Nuntia Morata
– Ensaios e Recensões (Fortaleza: Expressão Gráfica, 2014, 368 p.),
exprimia a noção de que, desde iniciado nos misteres da escrita, quando
adentrei estudos do antigo curso primário, cuidei de afiançar a veracidade dos
conceitos a manifestar, por intermédio, em especial, de obras de referência e
de outras produções obsequiosas à consulta.
Apenas
depois de convalidadas, as ideias prosperavam no texto, a fim de não conduzir
os, então, frugais leitores ao logro, os quais poderiam multiplicar a falácia e
perpetuar a inverdade. À medida, pois, que progredia a recepção dos curricula, no contato mais reiterado com
excelentes professores – tive-os em profusão – usei de a eles apelar, não
somente para obtenção de seus juízos atinentes aos assuntos por mim cuidados,
bem assim para que me indicassem fontes onde me pudesse satisfazer da curiosice
e amatar o apetite de conhecer, em ultrapasse à mera opinião comum.
A
esses referenciais de pessoas cultas, que me não deixam na mão da dúvida e do
não saber, costumo chamar “consultores padrão-ouro”, homens e mulheres postados
na dimensão intelectual do Prof. Dr. Francisco Auto Filho, sobre quem muito me
enleva proceder ao corrente comentário especial, para lhe dirigir,
publicamente, um sentido agradecimento depois de salvar um artigo meu para um
periódico científico, ao divisar impropriedades que, decerto, reduziriam em
muito os proveitos já escassos daquele escrito. Isto ele o fez com a máxima
presteza e o maior desvelo e, mui especialmente, sem panos mornos – ao amostrar
a nueza real – nem parcimônia, e, inda mais, com incrível acuidade de um
pensador de precioso alcance intelectivo.
Quando,
em 2004, com a coautoria do Prof. Dr. Anchieta Barreto, demos a público A Escrita Acadêmica – Acertos e
Desacertos, servimo-nos – e eu, em particular – de sua habílima consultoria em
assuntos filosóficos, de sorte que, de lá até aqui, sempre que se me aza o
ensejo, a ele me dirijo a fim de pedir amparo, na minha condição de semicego do
saber, pois já chamava à atenção Karl Raimund Popper, em As Origens do Conhecimento e da Ignorância, para o fato de que
[...] “somos todos iguais no infinito da nossa incompetência”, ao validar a
confissão de Sócrates, quando disse, em síntese mais do que comprimida, só saber
que nada sabe, o que muitos doutores e “ph-deuses” não têm a compostura de
confessar.
Estudioso
por compulsão, esse conhecido e celebrado jornalista investigativo e filósofo
cearense, pelos seus escritos mui apreciados, magnas aulas e palestras
subministradas aqui e alhures, dentre outras qualidades que lhe ataviam o
caráter como prócer da Filosofia e da Ciência, ressalta a particularidade,
pouco comum – seja isto expresso – de não rezar, sem que a convicção lhe
permita, pelo catecismo de qualquer filósofo ou pensador de nenhum ramo
ordenado do conhecimento, pois seu preparo adrede, cuidadoso e atilado lhe
concede a circunstância do lume próprio, sem necessidade de uma lucerna
emprestada que indiretamente o ilustre.
O
Professor Auto Filho sempre me convence nas minhas constantíssimas incertezas,
nas repetidas hesitações quando vou manifestar conceitos, razão por que, para
gáudio meu, ele é outro dos meus consultores
padrão-ouro, que me não permitem em
meus escritos vazar a informação falseada.
(1)
Palmácea é o nome correto da minha cidade de nascimento, o qual, por
corruptela, virou Palmácia. A Arcádia Nova Palmaceana, por meio do Árcade
Antônio Carlos Sampaio de Oliveira, vai instar, junto à Câmara Municipal, para
que a denominação seja corrigida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário