sexta-feira, 10 de julho de 2015

CRÔNICA - Happy Hour (RV)

HAPPY HOUR
Reginaldo Vasconcelos*


O Presidente Emérito da ACLJ, o Prof. Dr. Rui Martinho Rodrigues, é abstêmio. Diz que não bebe – e nunca bebeu – porque não gosta do sabor do álcool, tampouco do seu efeito cerebral. E então ele vara com total sobriedade a fase “rodoviária” das reuniões da Academia, como era de esperar.

Mas assim ele se mantém, serenamente, depois que, esgotados os temas graves, o grupo de acadêmicos relaxa e adentra nos assuntos vicinais, descontrai e se aventura sem grande seriedade pelas conversas carroçáveis – a filosofia, a poética, o violão, o anedotário.     

O confrade Vicente Alencar, por seu turno, não passa de um uísque. Roberto Martins Rodrigues, nosso decano, ainda vai a três doses. Evaldo Gouveia parou para sempre, pois já bebeu a sua cota toda. Todos os demais somos dionisíacos.

Aliás, a tasca está intimamente relacionada desde sempre com a atividade cultural criativa. Poetas, escritores, pintores, músicos, artistas em geral vão buscar inspiração na taberna, desde a antiguidade, passando pelo medievo.

Essa assertiva se confirma na França bellepoqueana de Toulouse Lautrec, na Cuba pré-revolucionária de Ernest Hemingway, no Rio de Janeiro dourado dos anos sessenta, em cujo Bar Veloso Vinícius e Tom Jobim compuseram a canção Garota de Ipanema.

Esses exemplos são apenas marcos notórios de uma realidade sociológica generalizada no tempo e no espaço. Mas a sadia necessidade humana de espairecer na roda social, expandindo os dotes líricos a partir da mesa de bar, corre no fio da navalha face ao vezo vicioso que leva aos hábitos insalubres da vida boêmia dissoluta.

Certamente há vetos puritanos aos folguedos e às libações, mas vale lembrar que a cerveja foi desenvolvida nos conventos da Europa, onde certamente ainda hoje é festivamente consumida pelos frades, e o vinho consta da Bíblia como alimento, para o corpo e para a alma.

Por outro lado, deve haver recomendações hipocráticas contra os hábitos etílicos desmedidos, mas também já há revelações científicas de que os benefícios médicos do consumo moderado de álcool podem superar os riscos de que ele possa causar dano ao organismo, pelo seu poder relaxante, numa sociedade massacrada pelo estresse.

Toda sorte, com a merecida reverência aos que não bebem, e com grande respeito aos que não podem beber, porque são alcoolistas patológicos, “a gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão e arte”, parafraseando o compositor Arnaldo Antunes. 

De fato, a vida precisa ser vivida com a seriedade necessária, mas também desfrutada no barzinho à happy hour, no boteco “pé sujo” aos finais de semana, no jargão dos cariocas, ou “pelos bares da vida”, como prefere o confrade Altino Farias.  




Diz a Profa. Ms. Luciana de Campos, historiadora brasileira da UNESP, no resumo de uma tese: 

“A taberna medieval foi apresentada na literatura – nas canções e poemas dos goliardos, nas Canções de Gesta e, também nos Fabliaux – como um espaço de prazer.

Esse espaço voltado principalmente para o consumo de bebidas – cerveja, vinho e sidra – acompanhada por porções de comidas simples como pães, carnes salgadas e sopas, existiu não somente como lugar de prazer e lazer, mas também, foi um local seguro para o descanso de comerciantes, viajantes e peregrinos oferecendo pouso, comida, bebida e diversão.

Analisando algumas  canções da obra Amatoria Potatoria Lusoria, (século III) selecionamos o trecho In Taberna que nos mostra o cotidiano de uma taberna medieval. Nosso intuito nesse artigo é analisar a taberna como espaço de prazer e descanso e sua representação na literatura medieval e sua reapropriação pela literatura contemporânea”. 



*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ

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