O PAI
Reginaldo Vasconcelos*
Perder
pai é coisa banal e previsível. Grande parte dos adultos que conheço já são desfalcados
dessa peça. Eu é que resisti até os 60 com pai vivo e ativo. Mas acabo de
perder esse trunfo... e, como diria Drumond, como dói!
Meu
pai era pai 24 horas. Levava menino pela mão aonde fosse, às vezes dentro do jipe
pelos subúrbios e sertões, fiscalizando o comércio, às vezes por estradas carroçáveis
em demanda das fazendas (e o mesmo fez com os netos).
Pela
mão dele, aos três anos de idade, assisti ao arrombamento do Orós, e naquela
mesma noite tormentosa, sujos de barro, voltamos de avião a Fortaleza, onde
ficara todo o resto da família. Minha avó, mãe dele, o repreendeu pela aventura,
enquanto minha mãe apenas ria.
Se
lhe fizessem raiva era um perigo. Ele pegava firme e batia com força. Mas de
regra era doce e engraçado. Alto, para os padrões cearenses da época, vozeirudo,
com jeito de “bichão”, como o classificou certa vez um operário, ele enfrentava
qualquer um.
Fosse
autoridade, que moralmente lhe batia continência, fosse o pistoleiro do
Jaguaribe ao qual, viajando sozinho, deu carona em sua camionete Studbaker, e o criminoso a lonjuras tantas noite adentro comentou com reverência: “O Senhor é
canhoto. O revolver está do lado esquerdo”.
Nos
anos de chumbo o chefe da repartição o enviou a cidade sertaneja, encomendando pesados
autos de infração contra os comerciantes com ficha de subversivos na Polícia
Federal.
Foi,
orientou a todos, regularizou tudo, não multou ninguém. De volta, cobrado pelo
superior hierárquico, olhando nos olhos dele respondeu: “Doutor... o homem é o homem e o bicho e o bicho!”. Punido,
afastado, voltou depois ao serviço por ordem direta e expressa da Presidência
da República, segundo pleito de minha mãe à Primeira Dama Scila Médice.
Ninguém
pôde com ele: nem as doenças, que se acumularam para vencê-lo, nem a morte, que
o surpreendeu na madrugada. A médica da família foi ao apartamento do hospital,
para lhe consultar sobre os incômodos que sentia, e ele respondeu: “O único problema é que eu esqueci de morrer”.
No
meio da noite a enfermeira intensivista nos convocou para dizer, com os olhos
rasos d’água, que ele morrera, mas que jamais vira na UTI um paciente tão vivaz,
a agitar o ambiente. Elogiava uns, escrachava outros, ameaçou chamar seus
advogados para processar o hospital.
E
declamara Bocage para provocar os médicos: “Lia-se
numa sepultura, da antiguidade afonsina: Aqui jaz quem não jazera se jazesse a
medicina”. E, já no caixão, nem ali baixara a cabeça, como um El Cid de
outros tempos. O pessoal da tanatus
não conseguiu dobrar suas vértebras rígidas: o defunto tinha o queixo erguido,
e o rosto levemente inclinado para a viúva amantíssima que o velava à direita.
Enfim, não vou mais poder encerrar assim a nominata
dos meus discursos na Academia, a cujas solenidades ele sempre comparecia, ainda que em cadeira de rodas: “... meu pai e minha mãe aqui
presentes”. Então, falei aos que foram ao pé do túmulo:
“Ayrtinho, para as colegas de trabalho; Ayrtão, para os amigos mais
diletos; Ayrton Rico, para os moradores da fazenda; Coronel Ayrton, para os
outros fazendeiros. Padrinho Ayrton, para os tantos afilhados que criou”. O que
nós estamos aqui devolvendo à natureza é apenas um espectro do que ele foi de
fato. Sua essência já atingiu outro nível da existência, onde certamente
encontrou os ancestrais, os irmãos, os muitos amigos que já foram”.
E, enquanto fazia um bonito tempo de chuva, que ele
adorava, Adriano, o outro filho acadêmico, recitou poema bíblico:
“Porque há esperança para a árvore,
que, se for cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus renovos. Se
envelhecer na terra a sua raiz, e morrer o seu tronco no pó, ao cheiro das
águas, brotará e dará ramos como a planta” (Jó 14:7-9).
NOTA:
Gratidão da família aos acadêmicos Paulo Ximenes, Arnaldo Santos,
Vianney Mesquita, Humberto Ellery e Altino Farias, que espontaneamente disseram
presente ao funeral, além de Antonino Carvalho, Rui Martinho Rodrigues e Maria
Josefina, que estando em viagem o fizeram por mensagem.
Gratidão ainda pelas musicistas Lucile, Célia e Rejane Cortez, que
embelezaram a missa fúnebre com voz, teclado e violino, esta última levando
música até a campa.
Louvores ao celebrante, Padre José Dantas, benemérito das obras pias do
bairro Jangurussu, que enlevou a todos com um sermão belíssimo e com a refinada
voz de barítono aplicada aos cânticos da Igreja.
Comentários:
Meus sinceros pêsames a Sra. Estefânia, filhos e demais familiares.
Tive o imenso prazer de conhecer o Sr. Ayrton Vasconcelos, grande homem, decidido e esmerado em seus objetivos.
Tive o imenso prazer de conhecer o Sr. Ayrton Vasconcelos, grande homem, decidido e esmerado em seus objetivos.
Que Deus o tenha em bom lugar, concedendo a toda família enlutada muita saúde e paz, ficando na eterna lembrança a firmeza e perseverança do Comandante Ayrton.
Amém.
Sinceramente,
Betoven Rodrigues
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Amém meu amigo. Que Deus vos abençõe e vos guarde! Meus
sentimentos mais uma vez a todos e vamos sempre lembrar de FAZER O BEM SEM OLHAR
A QUEM! Fé, Esperança e principalmente Caridade!
Pe. Dantas
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Aluisio Gurgel
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Comentário:
Ayrton agora é luz!
Aluisio Gurgel
Amém meu amigo. Que Deus vos abençõe e vos guarde! Meus sentimentos mais uma vez a todos e vamos sempre lembrar de FAZER O BEM SEM OLHAR A QUEM! Fé, Esperança e principalmente Caridade!
ResponderExcluirMeus sinceros pêsames a Sra. Estefânia, filhos e demais familiares.
ResponderExcluirTive o imenso prazer de conhecer o Sr. Ayrton Vasconcelos, grande homem, decidido e esmerado em seus objetivos.
Que Deus o tenha em bom lugar, concedendo a toda família enlutada muita saude e paz, ficando na eterna lembrança a firmeza e perseverança do Comandante Ayrton.
Amém.
Sinceramente,
Betoven Rodrigues
Ayrton agora é luz!
ResponderExcluirAluisio Gurgel