AINDA SOMOS O
PAÍS DO FUTURO?
Rui Martinho Rodrigues*
Éramos o país do futuro. Tínhamos uma
dinâmica demográfica favorável. Éramos uma nação jovem, com uma grande força de
trabalho. Agregávamos à população produtiva, todo ano, uma grande parcela da
população total. Já não somos tão jovens.
Agregamos uma parcela cada vez menor, a cada ano, de novos contingentes de trabalhadores à população economicamente ativa, adicionando parcelas cada vez maiores de aposentados e pensionistas aos inativos. Perdemos a chamada janela de oportunidade demográfica.
Agregamos uma parcela cada vez menor, a cada ano, de novos contingentes de trabalhadores à população economicamente ativa, adicionando parcelas cada vez maiores de aposentados e pensionistas aos inativos. Perdemos a chamada janela de oportunidade demográfica.
Éramos um país rural em mudança para
as cidades. Os neocitadinos se modernizavam. Hoje somos um país urbano. Esgotou-se
o manancial rural a ser modernizado. Perdemos este potencial de crescimento.
Expandíamos a fronteira agrícola, compensando
a baixa produtividade. Já não temos tanto espaço para alargá-la. Mais uma
facilidade perdida.
Tínhamos um rico potencial hidrelétrico.
Aproveitamos os melhores projetos. Restam os mais distantes e de menor qualidade,
agora limitados por novas exigências ambientais. Mais um trunfo nos foi
subtraído.
As vagas nas escolas eram restritas. Bastava
expandi-las e aprendia-se alguma coisa nelas. Éramos um país de analfabetos. Bastava
alfabetizá-los. Hoje somos escolarizados, mas é precário o nosso letramento. É
mais complicado empreender uma recuperação em massa. Mais uma dificuldade
decorrente do não aproveitamento de oportunidade.
A carga tributária era baixa, onerava menos a atividade produtiva, deixava margem para aumentos e realizávamos grande parte dos investimentos com superávit fiscal. Hoje os tributos representam um pesado ônus, deixam estreita margem de possibilidade para aumentos e temos déficit.
Contraíamos dívidas, mas fazíamos
usinas hidrelétricas, aeroportos, estradas, linhas de telecomunicação e outras
obras da infraestrutura de transportes e serviços. Hoje contraímos dívidas sem
fazermos obras.
Responsabilidade e sentido do dever
eram parte do senso comum. Hoje, influenciados pelo contexto internacional, que
Norberto Bobbio chamou de “era dos direitos”, inflamos as demandas com aumento
de despesas, enquanto vivenciamos o ocaso do senso do dever, de que nos fala
Giles Lipovetsky, em prejuízo da nossa produtividade.
** Artigo publicado na edição de hoje (19.01.16) do Jornal O Povo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário