AÇUDE CASTANHÃO:
BENDITO ERRO
Cássio Borges*
O
Açude Castanhão tem duas finalidades não
comuns nos demais construídos pelo DNOCS na região nordestina.
A primeira é a regularização de vazões para uso múltiplos, e a segunda, para o
controle das enchentes do Baixo Jaguaribe.
Para
esta última, os projetistas destinaram um espaço na sua bacia hidráulica, da
cota 100m à cota 106m, denominado de “volume de espera”, para amortizar os
picos das enchentes em caso de invernos excepcionais, tendo como objetivo salvaguardar
o Baixo Jaguaribe de inundações catastróficas.
No
final do inverno de 2009, que não foi um ano excepcional de chuvas, houve aqui
em Fortaleza uma discussão nos meios de comunicação envolvendo técnicos,
políticos, jornalistas e o próprio Governador do Estado, além do Diretor Geral do
DNOCS, quando se discutia se as comportas do Açude Castanhão deveriam ou não
ser abertas, ou permanecer fechadas. A discussão tinha por objetivo usar o
“volume de espera” do referido reservatório para uma acumulação adicional de
água de 2,3 bilhões de metros cúbicos.
Este
“volume de espera”, como o próprio nome diz, deverá, sempre que possível, estar
seco. Mas não foi o que realmente
aconteceu no ano de 2009. Àquela altura, o reservatório já havia atingido o seu
nível máximo de alerta (cota 100m), portanto as 12 comportas (acima do
sangradouro) obviamente deveriam estar abertas. Os pretendidos 4,4 bilhões de
metros cúbicos de água, da chamada cota de regularização, já haviam sido
alcançados.
Felizmente,
ou graças à proteção Divina, não tivemos naquele ano uma chuva de 100mm, ou de 120mm,
como a que ocorreu, inesperadamente, no
dia 03/01/2015, em plena seca, da ordem
de 148mm. Se tal fato tivesse ocorrido, um dos diques daquele açude poderia ter
se rompido, com consequências trágicas para o Baixo Jaguaribe.
Graças
a esse erro de engenharia o Castanhão ganhou uma acumulação adicional (não
prevista) de 2,3 bilhões de metros cúbicos de água que, atualmente, está sendo
responsável pelo abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza.
Em
outras palavras, caso esse erro não tivesse sido cometido, o Açude Castanhão já
estaria seco desde o início do ano passado, e até mesmo
antes.
*Publicado no Jornal O Povo em 03 de janeiro de 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário