segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

ARTIGO - Iracema (VA)

IRACEMA,
UMA JOVEM SENHORA
DE 150 ANOS
Vicente Alencar*

“Iracema quer-te salvar e a teu irmão; ele tem seu pensamento”.

A grande Dama brejeira, cearense, a expressão maior do indigenismo em nosso Estado, como símbolo da destreza, amor e beleza, sempre foi a menina dos olhos de Alencar.

O chefe potiguara é valente e audaz Irapuã é manhoso e traiçoeiro como o acauã. Antes que chegues à floresta, cairás; e teu irmão, da outra banda, cairá contigo”.

É lindo, é maravilhoso sentir José de Alencar ao descobrir, escrever, louvar e apresentar, a todos nós, a sua Iracema, “a virgem dos lábios de mel”.

Na verdade, ele escreveu um belo poema épico, descrevendo nossa história, nossas belezas bem tropicais, os primeiros passos dos colonizadores lusitanos, a maneira de ser de nossos silvícolas, o seu “habitat”, com uma constituição deveras diferente da do homem branco.

Ele olhava o mundo como aqueles que viram o desabrochar da América. O continente e o país, descobertos há pouco mais de 300 anos, mas, ainda, plenamente desconhecido de tudo e de todos. E extrapola no raciocínio, mostra seu espírito, cria sobre uma estrutura romanesca, colocando o romantismo aberto e bem explicado para todos nós. Dá-nos uma lição de vida, o que poderia parecer impossível para outro filho desta terra.

A narrativa épica mostra ao Brasil e ao mundo um momento extraordinário. Era vivido o ano de 1865, ou seja, há  150 anos, onde ele explica, com simplicidade, e muito amor, a terra que se trata “de uma lenda sobre a origem do Ceará”, afirmando que “é narrada nas lindas várzeas onde nasci, à calada da noite, quando a lua passava no céu, argenteando os campos, e a brisa rugitava nos palmares”.

José de Alencar nos colocou frente a frente com algumas passagens, das mais importantes, que poderíamos reunir em três focos: 1) a fuga da jangada, cenário e tripulantes; 2) a evocação de Iracema; 3) o aparecimento do Guerreiro Branco.

Todos nós ou, pelo menos, a grande maioria dos cearenses, temos orgulho de Iracema, agora completando 150 anos. Uma jovem e bela Senhora, na caminhada através dos séculos e milênios que caminhará, pois, sempre ganhará estudos e pesquisas, notas e observações de todos aqueles que se debruçam ou o farão sobre a Literatura cearense.

Nosso maior escritor estava realmente bafejado pela inteligência e pela sorte, quando colocou no papel tudo aquilo que já havia pensado, projetado e destinado aos anos que viriam depois, para que nossos jovens, nossa gente, pudesse conhecer um pouco da história, juntando silvícolas e brancos.

O cenário, os tripulantes, a fuga com a jangada, as cenas mirabolantes que foram vividas, vendo-se o Guerreiro Branco, o filho de Iracema, Moacir, e o seu cão, todos eles juntos, um quadro primitivo, nostálgico, protagonizando uma história que, através dos anos, se movimenta, tem vida, mostra que a sina errante do cearense não foi criada em vão.

A história palpita, age, mostra vida, mesmo deixando para trás uma linda saga de amor de uma corajosa virgem, sepultada ao lado da palmeira. Tudo o que foi escrito é vida, é emoção e amor, os traços finos, uma delicadeza que até parecia estranha, uma beleza diferente e o mel adocicando suas palavras.

A imagem de uma mulher, até então tida como inexistente, porém saltitante, rápida, com um porte tão esguio que lembrava o talhe da palmeira, sem esquecer os cabelos pretos como a asa da graúna.

Feliz Iracema, feliz mulher divina, que nos envolve e nos emociona, mesmo passados 150 anos. Estás aniversariando, estás festiva, estás feliz, viva e agigantando-te no nosso raciocínio, no nosso pensamento, nos dando uma dimensão maior, aberta, de tudo aquilo que foi vivido ontem, está sendo vivido hoje e continuará amanhã.

*Vicente Alencar
Jornalista, radialista, administrador, poeta, 
criador do Movimento Cultural Terça-Feira em Prosa e Verso, há 16 anos, 
e dos jornais Café Literário e Correio Cearense. 
Vice-Presidente Nacional da Sociedade de Cultura Latina do Brasil. 
Presidente da Sociedade Cearense de Geografia e História, 
da União Brasileira de Trovadores-UBT Fortaleza, 
do Instituto Cearense de Cultura Portuguesa. 
Secretário Geral da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo.

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