IRACEMA,
UMA JOVEM SENHORA
DE 150 ANOS
Vicente Alencar*
“Iracema quer-te salvar e a teu irmão; ele tem
seu pensamento”.
A
grande Dama brejeira, cearense, a expressão maior do indigenismo em nosso
Estado, como símbolo da destreza, amor e beleza, sempre foi a menina dos
olhos de Alencar.
“O chefe potiguara é valente e audaz Irapuã é
manhoso e traiçoeiro como o acauã. Antes que chegues à floresta, cairás; e teu
irmão, da outra banda, cairá contigo”.
É
lindo, é maravilhoso sentir José de Alencar ao descobrir, escrever, louvar e
apresentar, a todos nós, a sua Iracema, “a virgem dos lábios de mel”.
Na
verdade, ele escreveu um belo poema épico, descrevendo nossa história, nossas
belezas bem tropicais, os primeiros passos dos colonizadores lusitanos, a
maneira de ser de nossos silvícolas, o seu “habitat”, com uma constituição
deveras diferente da do homem branco.
Ele
olhava o mundo como aqueles que viram o desabrochar da América. O continente e
o país, descobertos há pouco mais de 300 anos, mas, ainda, plenamente
desconhecido de tudo e de todos. E extrapola no raciocínio, mostra seu
espírito, cria sobre uma estrutura romanesca, colocando o romantismo aberto e
bem explicado para todos nós. Dá-nos uma lição de vida, o que poderia parecer
impossível para outro filho desta terra.
A
narrativa épica mostra ao Brasil e ao mundo um momento extraordinário. Era
vivido o ano de 1865, ou seja, há 150 anos, onde ele explica, com
simplicidade, e muito amor, a terra que se trata “de uma lenda sobre a origem do Ceará”, afirmando que “é narrada nas lindas várzeas onde nasci, à
calada da noite, quando a lua passava no céu, argenteando os campos, e a
brisa rugitava nos palmares”.
José
de Alencar nos colocou frente a frente com algumas passagens, das mais
importantes, que poderíamos reunir em três focos: 1) a fuga da jangada, cenário
e tripulantes; 2) a evocação de Iracema; 3) o aparecimento do Guerreiro Branco.
Todos
nós ou, pelo menos, a grande maioria dos cearenses, temos orgulho de Iracema,
agora completando 150 anos. Uma jovem e bela Senhora, na caminhada através dos
séculos e milênios que caminhará, pois, sempre ganhará estudos e pesquisas,
notas e observações de todos aqueles que se debruçam ou o farão sobre a
Literatura cearense.
Nosso
maior escritor estava realmente bafejado pela inteligência e pela sorte, quando
colocou no papel tudo aquilo que já havia pensado, projetado e destinado aos
anos que viriam depois, para que nossos jovens, nossa gente, pudesse conhecer um
pouco da história, juntando silvícolas e brancos.
O
cenário, os tripulantes, a fuga com a jangada, as cenas mirabolantes que foram
vividas, vendo-se o Guerreiro Branco, o filho de Iracema, Moacir, e o seu cão,
todos eles juntos, um quadro primitivo, nostálgico, protagonizando uma história
que, através dos anos, se movimenta, tem vida, mostra que a sina errante do
cearense não foi criada em vão.
A
história palpita, age, mostra vida, mesmo deixando para trás uma linda saga de
amor de uma corajosa virgem, sepultada ao lado da palmeira. Tudo o que foi escrito
é vida, é emoção e amor, os traços finos, uma delicadeza que até parecia
estranha, uma beleza diferente e o mel adocicando suas palavras.
A
imagem de uma mulher, até então tida como inexistente, porém saltitante,
rápida, com um porte tão esguio que lembrava o talhe da palmeira, sem esquecer
os cabelos pretos como a asa da graúna.
Feliz
Iracema, feliz mulher divina, que nos envolve e nos emociona, mesmo passados
150 anos. Estás aniversariando, estás festiva, estás feliz, viva e
agigantando-te no nosso raciocínio, no nosso pensamento, nos dando uma dimensão
maior, aberta, de tudo aquilo que foi vivido ontem, está sendo vivido hoje e
continuará amanhã.
*Vicente Alencar
Jornalista,
radialista, administrador, poeta,
criador do Movimento Cultural Terça-Feira em
Prosa e Verso, há 16 anos,
e dos jornais Café Literário e Correio Cearense.
Vice-Presidente Nacional da Sociedade de Cultura Latina do Brasil.
Presidente
da Sociedade Cearense de Geografia e História,
da União Brasileira de
Trovadores-UBT Fortaleza,
do Instituto Cearense de Cultura Portuguesa.
Secretário Geral da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo.
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