quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

APRECIAÇÃO LITERÁRIA - Coisas Imperfeitas (VM)



COISAS IMPERFEITAS
Vianney Mesquita*


Grande vantagem é, para um sistema de Filosofia, ser substancialmente verdadeiro. (GEORGE SANTAYANA. Madrid, Y16.12.1863 – VRoma, 26.09.1952).


Bertrando (Artur Guilherme) Russel (1872-1970), notável eclético grão-britano e um dos principais promotores da Ciência Logística, tinha por amigo e par, na busca de pressupostos científicos, Luís José João Wittgenstein (1889-1951), celebríssimo vienense que, junto a um pugilo de eruditos, perfilou na origem dos cálculos não clássicos ao considerar as leis lógicas como tautologias.

O primeiro, Nobel de Literatura de 1950, entreviu no autor de Tratactus logico-philosophicus – quando o hospedou na casa nova em Londres – ligeiros sinais de perda da sensibilidade auditiva (MONK, 1995, apud BARRETO; MOREIRA, 1996).

Nós logo mergulhamos na Lógica e tivemos grandes discussões. Ele tem enorme capacidade para enxergar quais são, de fato, os problemas mais importantes [...] Somente sua saúde me parece muito precária [...] Acho que está ficando surdo [...] (RUSSEL, apud MONK, 1995).

Para Ray Monk (1995), não procede o vislumbre russerliano a respeito da ensurdescência de Wittgenstein. Este, apenas, se recusava a ouvir, mormente os conselhos sábios de Russel, o primeiro dos quais era de que Wittgenstein deveria publicar, de imediato, suas ideias, mesmo sem haver resolvido todos os problemas da Filosofia, o que jamais poderia ocorrer.

Certo dia, Bertrando Russel lhe externou esta verdade.

Ele teve um acesso ao ouvir isso [...] Eu lhe expliquei que não iria se formar nem conseguiria lecionar se não aprendesse a escrever Coisas Imperfeitas – o que só deixou mais furioso. (Apud MONK, 1995).

Na lúcida afirmação daquele que fez dos universais um mundo tão real como o das percepções, talvez os registos dos feitos não resultassem tão ricos, a marca humana não se fizesse de tal modo indelével, se não se houvessem produzido defeituosas peças, esposado falazes ideias nem delineado Coisas Imperfeitas.

Um estádio do conhecimento, em que a reflexão sobre o real latente (Mundo 1) daquele que idealiza, no instante da concepção de um juízo e com suas circunstâncias históricas, Karl Popper denomina de Mundo 2.

Quando, então, o resultado de um pensamento ou da indústria etnológica de cada um assume forma de peça socializada, tecida em mensagem massivamente propagada, passa a ter existência própria, como um produto objetivo e excogitado pelo próprio ensaísta, sujeito, portanto, a uma análise crítica. Adquire, pois, estatuto de componente do Mundo 3 popperiano, como Coisas Imperfeitas, suscetíveis de revisões, adendos, concertos e aperfeiçoamentos.

Sob a luz das asserções de Russel e Carlos Raimundo Popper, Anchieta Barreto e Rui Verlaine Moreira, em Coisas Imperfeitas, trazem a estudo compreensões diversas acerca de Filosofia da Ciência. Suas matérias consideram deva o tratamento pedagógico ter centro no estímulo à recriação do conhecimento, além dos limites da simples cópia, o que é absolutamente verdadeiro e divisado como meridianamente salutar.

Esses temas são indispensáveis para dotar da necessária prontidão intelectual o leitor e estudioso que intenta se aprofundar nos estudos e pretende continuar perlustrando os ínvios quanto nobilitantes caminhos da investigação neste inesgotável terreno, onde sempre haverá Coisas Imperfeitas, ao se ter em conta o constante fluir da reflexão filosófica e se considerar o caráter provisório do fato científico (MESQUITA, 1996).


REFERÊNCIAS

BARRETO, J.A. Esmeraldo; MOREIRA, Rui Verlaine Oliveira. Coisas Imperfeitas. Fortaleza: Casa de José de Alencar (UFC), 1996.

MESQUITA, Vianney. Resgate de Ideias – Estudos e Expressões Estéticas.  Fortaleza: Casa de José de Alencar (UFC), 1996.

MONK, Ray. Wittgenstein, o dever do gênio. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.



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