O TAMANHO DO BURACO
Rui Martinho Rodrigues*
Os números do PIB, inflação,
desemprego e da maioria dos indicadores passam a cada dia por revisão, sendo
reajustados, invariavelmente, para pior. O PIB de 2015 seria positivo, embora
modesto, depois levemente negativo. Chegou a uma queda 3,8%, recessão cavalar.
A inflação ficaria dentro da meta, ainda que no limite superior. As primeiras
previsões para 2016 são piores. Caso se agravem, a exemplo do ano findo,
teremos desastre.
Temos quedas expressivas nos setores
automotivo, de imóveis, de confecções e muitos outros. Estados e municípios já
não podem pagar sequer o funcionalismo. Municípios encontram-se em situação
deplorável. A União, depois de um déficit de 120 bilhões de reais, não fez o
ajuste, nem fez ou tentou fazer as reformas necessárias. A situação da
previdência fica na discussão da idade e do tempo de contribuição. Ninguém fala
em separar as despesas da previdência daquelas da Lei Orgânica de Assistência
Social (LOAS). Ninguém explica os motivos pelos quais tais despesas devam
onerar apenas os segurados, ao invés de serem rateadas por todos os
contribuintes de tributos.
Qual é o tamanho do buraco?
O quadro deste ano é mais desfavorável
do que o ano anterior. A China declina, indicando decréscimo das exportações de
grãos e minérios. Os EUA iniciam uma tendência para a alta dos juros. O
petróleo, caindo de preço, pode até favorecer o caixa da Petrobras, que
continua vendendo combustível a preço dos tempos de petróleo caro. Mas os
preços baixos do “ouro negro” podem inviabilizar o pre-sal, em quem
depositaram-se tantas esperanças. No ano passado as economias desenvolvidas
cresceram 2%; as economias em desenvolvimento cresceram 5%; o mundo como um
todo cresceu 3%, e o Brasil encolheu 3,8%. Até a Colômbia, em guerra civil,
cresceu. O Brasil, porém, decresceu muito.
Agora o mundo está crescendo menos. Estados
beneficiados pela renda do petróleo serão prejudicados pela queda na produção
do setor. Os nossos produtos de exportação, grãos e minérios, estão se
desvalorizando e nada foi feito para debelar a crise. As reformas nas áreas de
tributo e previdência não foram sequer tentadas. Só cuidamos de aumentar o
Fundo Partidário.
A solução da crise política é necessária
à solução da crise econômica. Mas não há solução previsível para ela. O caminho
escolhido parece ter sido fazer uma grande pizza da operação Lava Jato.
Colaborações negociadas são modificadas ao chegarem em Brasília. O núcleo
político governista da organização criminosa está incólume. Apenas os políticos
dissidentes estão sendo pressionados, enquanto os núcleos de empresários, com
exceção da Odebrechet, e o de tecnocratas estão sendo condenados.
As empresas
envolvidas na corrupção estão sendo mimoseadas com uma legislação feita ad hoc para salvá-las, sob o rótulo de
acordo de leniência, desestimulando a colaboração negociada, que poderia
incriminar figuras situadas nas mais altas esferas da República, retirando a
confiança dos investidores e agravando a crise.
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