quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

ARTIGO - Um Vácuo de Ideias (AR)

UM VÁCUO DE IDEIAS
Arnaldo Santos*


As ideias são haveres que não rendem juros nas mãos do talento. (ANTOINE DE RIVAROL, escritor francês. YBagnols-sur-Cèze, 26.06.1753; VBerlim, 11.04.1801).

Em um esforço de compreensão das motivações, paixões e todos os interesses que gravitam à órbita dos governos, como jornalista ainda jejuno, em minhas primeiras incursões pela política, cheguei a internalizar reflexões inerentes às iniciações de um foca, repórter novo, desprovido de experiência.

Dentre outras indagações que a mim dirigia, por exemplo, estavam: i) quando as oposições se negavam a colaborar com suas ideias para solução dos problemas da sociedade, como somar esforços e buscar recursos para se estabelecer uma infraestrutura de transporte público de qualidade? ii) De que modo debater a implantação de um amplo sistema de saneamento para o Estado? iii) Qual a maneira mais eficiente para se tirar o lixo e a lama da porta do cidadão; buscar os meios para melhorar os salários dos servidores; viabilizar um bom sistema de ensino para os filhos dos trabalhadores e fazer funcionar a rede de hospitais públicos?

Nesses casos, aqueles que trabalhavam na oposição ao governo não o faziam apenas pelo mesquinho sentimento de que, em assim agindo, fortaleceriam os mandarins do momento. Assim reflexionava, quando ainda verde no meu ofício.

Hoje, mais experiente e também racionalmente postado na consciência de que a virtù não está na política, pois não é exercida por homens virtuosos, e após um longo tempo de observação de como atuam as oposições, no plano estadual e nacional, a minha percepção mudou.

Atualmente, noto é que, em ultrapasse à atrofia ou total ausência de ideias, elas padecem ainda da incapacidade de compreensão do significado da política, na perspectiva de se constituir o bem comum.

O Governo do Ceará, por exemplo, já consumiu seu primeiro ano de administração, nos legando uma sensação de vazio. Desta sorte, a avaliação feita pelas oposições não passou do diagnóstico. Não se leu, nem se ouviu, uma proposta, por exemplo, para uma ação mais objetiva sobre que plano o Governador tem para encaminhar e debater, diretamente com a sociedade, e com os vários setores da economia, os dois mais graves problemas do Estado, configurados na seca e na crise na rede estadual de saúde.  Os mesmos que mal e parcamente fazem a crítica superficial, se omitem de liderar uma discussão mais substanciosa com a sociedade, na busca de soluções para os problemas que atingem a todos, em maior ou menor grau.

Percebem o vácuo de ideias? A Assembleia Legislativa, que deveria ter a iniciativa, também se cala. E, então, reunidos em meia dúzia, os deputados fazem um comentário desprovido de qualquer conteúdo, cujo foco repousa nas eleições municipais.

Ante, pois, o gosto amargo da inércia e da inapetência para o debate dos graves problemas que temos de resolver no curto prazo, ouso sugerir ao governador Camilo Santana que avoque, urgentemente, a liderança de uma discussão mais ampla com a sociedade civil a respeito dos graves e múltiplos problemas da nossa Unidade Federada, com os mais diversos setores de sua representação.

Insinuo, também, implantar um “conceito” que balize as ações do governo sob sua batuta, já no seu segundo ano – e aqui não me refiro a um entendimento de marketing, e sim a uma filosofia político-administrativa, que explicite em geral para o Estado, e em todas as áreas de atuação, para onde o seu Governo conduzirá o Ceará, como o que será feito, de que forma e quanto vai custar.

Tudo isso vai muito além do simples diálogo. Este tem a sua importância, mas é apenas o meio pelo qual se encaminharão soluções propostas para os problemas. A indagação, pois, é: onde estão os planos e os programas? E, subsidiariamente, que Estado queremos e podemos constituir nos próximos três anos de governo? Transpondo as ações de curto prazo, quem está pensando e quais os vetores estão sendo definidos para o Ceará nas próximas duas décadas?


Esse é o desafio expresso ao Governador Camilo Santana, que haverá de responder às múltiplas demandas em um contexto econômico com baixa perspectiva de retomada do crescimento, com uma sociedade assustada e um empresariado esperando o que vai acontecer.

A propósito, a história nos indica o fato de ser em momentos de instabilidade, conforme agora vivenciado, que os líderes se revelam e estabelecem o diferente.

A sociedade, por conseguinte, confia e espera do governador Camilo Santana uma atitude de governança com fundamentos em pelo menos três vertentes, a saber: um Estado ambientalmente sustentável, economicamente viável e socialmente menos desigual, enquanto não é factível o estabelecimento de uma Unidade Estatal socialmente justa.

*Matéria publicada no jornal Diário do Nordeste em 10.01.2015


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