sábado, 16 de janeiro de 2016

ARTIGO - As Ideias e o Ideal (RV)


AS IDEIAS E O IDEAL
Reginaldo Vasconcelos*



O jornalista Arnaldo Santos, em seu primoroso artigo “Um Vácuo de Ideias”, relata as suas perplexidades de quando ainda tinha as ilusões do repórter moço e idealista, diante da ineficiência administrativa dos Governos, observando que a polarização eleitoral não propiciava a produção de agendas sociais resolutivas.

O jovem Arnaldo vinha do povo, e os simples da população ainda acreditam que a classe política vise realmente ao bem comum, e que seus próceres tenham de fato espírito público, quando tudo o que eles buscam é o poder pelo poder, ainda quando, para obter votos, seja necessário perder tempo com a pobreza.

Às Primeiras-Damas é dado o regalo de evitar o ócio majestático presidindo a instituição beneficente oficial, cada uma elegendo para receber a sua atenção uma causa social específica – uma determinada favela, um dado hospital público, um tal foco de miséria do Estado – já que não se tem o condão de corrigir as desigualdades.

Enquanto isso, seus maridos dignitários têm que estar focados na politicagem, loteando cargos para saldar dívidas de campanha, rebatendo ataques, garantindo apoios para o próximo certame eleitoral. Cuidar dos pobres não é atividade fim, mas é apenas como cevar os camundongos que alimentam as hipnóticas serpentes da concupiscência e da vaidade.

Augura o autor do artigo a quimérica possibilidade de que situação e oposição se possam unir em nome das grandes causas sociais, esta última oferecendo sugestões, em vez de apenas apontar os defeitos do grupo político no poder, embora ciente de que as mesmas dificuldades e os mesmos percalços tiveram, teriam e terão os seus próprios quadros, uma vez encastelados nos mandatos.

Considera Arnaldo que a política não é feita de pessoas virtuosas, deixado ele de notar que é a própria mecânica da política eleitoral presidencialista que não tem base na ética – entendida a ética como “a disposição pessoal para firmar e cumprir compromissos”.

As alianças, os pactos, as promessas, os conceitos de fidelidade e lealdade, tudo isso na política fica adstrito aos interesses de ocasião, conforme se comportem o mercado de influências, o comércio de prestígio, a oferta de favores, o capital financeiro e eleitoral que cada um capitalize no momento.  

Por fim, Arnaldo Santos lança um repto ao atual Governador do Estado, Camilo Santana, no sentido de que convoque todas as forças intelectuais, políticas e econômicas – a academia, a imprensa, a empresa, a sociedade civil organizada – enfim, todos os pró-homens da comunidade alencarina, para que forneçam ideias que solucionem os maiores problemas do Estado – cita ele a seca e a rede de saúde como os principais – esquecendo a segurança pública, que é outro nó górdio da Administração Estadual.

Camilo Santana é um exemplo de jovem político que exala virtude e probidade, que inspira serenidade e confiança, não obstante sua origem e sua base. É como uma flor que nasce do lodo, traindo as mofadas tradições ideológicas belicosas e arrogantes dos seus mentores, e dissentindo da incompetência administrativa do Governo Federal de que é aliado e do mar de lama moral em que se afoga o partido a que pertence.

Na segurança pública Camilo tem tido sucesso, não por ideias novas que tenha concebido e aplicado, mas porque manteve à frente da Polícia Civil heróis abnegados, servidores de altíssima qualidade, profissionais valorosos oriundos do governo anterior, de modo que conseguiu controlar os índices de criminalidade, não obstante as agudas dificuldades estruturais que fazem do Ceará um dos Estados mais violentos do País, o qual, por limitações conjunturais e judiciárias, já é violentíssimo como um todo.

Mas, de fato, Camilo precisa buscar ideias mais proativas. Por exemplo, em louvável exercício de modéstia resolveu exibir nas repartições do Estado fotografias de pessoas do povo, em vez do retrato oficial do Governador, como tradicionalmente se fazia. Uma iniciativa simpática, cheia de ousadia, porém equivocada – e como se diz popularmente, o caminho do inferno é pavimentado pelas boas intenções.

Isso porque, eleito para defender os interesses coletivos no Executivo Estadual, não lhe fica bem esconder-se atrás do povo, em vez de lhe “dar a cara à tapa”. 

Há, inclusive, implicações jurídicas no uso da imagem de cidadãos comuns, sem mandato e sem delegação para representar a sociedade. Nos eventuais fracassos do Governo, no caso de envolvimento de seus componentes em algum escândalo financeiro, na hipótese de erronias em políticas públicas, a incolumidade moral dessas pessoas, indevidamente expostas, estaria gravemente ameaçada.




COMENTÁRIO:

O artigo as "Ideias e o Ideal", do confrade Reginaldo Vasconcelos, referindo ao meu despretensioso texto "Um Vácuo de Ideias", além de ser uma bem elaborada releitura e reflexão interpretativa do meu pensamento, revela igualmente uma lúcida é bem intencionada visão crítica da realidade que vivenciamos.

Como advogado experimentado e sensível, treinado para o exercício do bom direito, aonde busca a justiça para reparação dos danos sofridos por aqueles abandonados pelo Estado, que nega o mínimo aos seus cidadãos, de igual modo vem o autor se somar ao meu inconformismo, quando me nego a aceitar a falsa ideia de que a resolução dos graves e múltiplos problemas da sociedade seja responsabilidade exclusiva do governo.

O texto, com o qual o autor nos brinda, mais do que revelar a sua indignação cívica, valor que deve balizar os fundamentos do bom jornalista, que também o é, (como nos ensina, Nietzsche), explicita a sua determinação de colaborar com a construção de uma sociedade e um Estado mais igualitário.

Arnaldo Santos
Jornalista e Sociólogo



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