Rápidas Notações à Excepcional
Caligrafia de Aíla Sampaio
Vianney Mesquita*
Sê ávido por saber e saberás. [ISÓCRATES, retórico ateniense - 436 – 338 a. C ].
Liminarmente,
me remeto ao título destas notas e, sem conceder ao leitor o lance de me repreender
por uma aplicação defeituosa, cumpre proceder a uma referência ao entendimento
polissêmico do vocábulo. De procedência grega, kalligraphia, as, tem o senso de boas letras, texto de qualidade, com
elocução inventiva e estilo agradável e correto, em vez de meramente “letra
bonita”, graficamente perfeita, como nos célebres Sete Cadernos de
caligrafia vertical, por Francisco Furtado Mendes Vianna, Edições
Melhoramentos, vigentes do começo do século XX até, salvante engano, os anos de
1970.
Reafirmo,
constantemente, como bordão de um redondilho maior, e repito, qual num estribilho
de ária religiosa, a noção de que só deve conduzir a palma aquele que a
conquistou – Palmam qui meruit ferat –
conforme a divisa da nossa Arcádia Nova Palmaciana. Já se exprimia, no meu tempo de estudante
secundarista, quando pratiquei caractere cursivo à Francisco Vianna, a conceição
de o saber não se denotar por via de pressão osmótica, menos adentrar o raciocínio
sob a mera comparência física, do pretendente ao conhecimento, a eventos de
natureza cultural, científica e artística, ou onde quer que haja estesia em
qualquer das seis artes.
Nas
mais das vezes, a participação é descabida e a conquista sobra ética e deontologicamente
defesa, lograda por meio de valimentos pessoais e importância socioeconômica do interessado, própria da óptica
patrimonialista ainda vigente no Brasil desde a Colonização, a fim de aportar a
silogeus e a circunstâncias prestigiosas especiais, desprovido do exigível
atestado de valor.
Impende,
em primeiro lugar, no decurso da normalidade existencial, a pessoa cumprir os curricula das escolas, acompanhá-los
didaticamente, submetendo-se às avaliações ordinárias determinadas pelos organismos
oficiais, a fim de auferir os conceitos acadêmicos (convém atentar para a noção
de que acadêmico não é palavra
unívoca, significativa apenas de ambiência universitária) – quer em
estabelecimentos propedêuticos, secundários ou de formação superior - suficientes
para se achegar a novos níveis de instrução formal, no estrito acompanhamento
do estado d’arte dos conceitos que demanda receber.
É
cediço, entretanto, o fato de muitas pessoas jamais terem experimentado a
contingência de uma escola formal. Bastaram-se, entretanto, no exercício
diuturno do autodidatismo, estudando sem orientação docente e desprovidos de
estabelecimentos acadêmicos efetivos, de sorte a granjearem destaque absoluto
na sociedade, em vários campos, como ocorreu, verbi gratia, com o nosso Machado de Assis e o escritor lusitano
José Saramago, exemplos oferecidos, de caso pensado, para não sair do terreno
das letras.
Em
razão, entretanto, de incontáveis conhecimentos transferidos pelas ciências e
técnicas deixarem labilmente de viger, rendidos por outros mais proveitosos
(muita vez, enganosamente) aos seres humanos, parece ideal adotar a instrução
continuada, sob aperfeiçoamento perene, em persecução às circunstâncias d’arte
e aos estados da questão, no concerto de programas stricto e lato sensu nas
universidades e institutos de pesquisa, com vistas a conservar a atualização
constante, para compensar as perdas, nomeadamente aquelas forçadas pela
massificação, via indústria cultural, tão execrada por Theodor Wiesengrund
Adorno e Marx Horkheimer, os maiores expoentes da Escola de Frankfurt, em suas
principais vertentes de exame.
O
expediente da autodidaxia, porém, é o aconselhável, desde que o consulente
logre enxergar a axiologia do assunto sob exame, por meio de um suporte
informacional - adotando-o, por consultar-lhe os interesses, ou o abandonando,
porque nele não divisa nenhum proveito. Em todas as situações, aliás, é o meio
recomendado, pois até o currículo escolar dos programas ordinários de ensino em
todos os graus jamais alcança cobrir inteiramente o espectro de conhecimentos,
com nuanças e peculiaridades, de modo a serem estritamente necessárias
reflexões ancilares com o escopo de se aproximar, quanto mais melhor, da
informação da qual se intenta dispor.
Quem
não exercita o estudo regular, tampouco se adestra na leitura nem estimula a
curiosice diletante e, por cima, ainda se arvora em ocupar lugares de mulheres
e homens apercebidos de obtenções intelectuais de peso, se comporta indignamente
e, não raro, está sujeito a incorrer em vexames, quando suceder, por exemplo,
de ser necessário demonstrar o status de
que é formalmente portador.
Esta
reflexão, procedida repetidas vezes, libelo aos sodalícios recipiendários de
congregados dessa marca, não cabe, no que de negativo, nas medidas de muitos
literatos cearenses, alguns dos quais ainda de fora das academias e sociedades
literárias, científicas e artísticas do Ceará.
É
o caso, e.g., da escritora Aíla Maria Leite Sampaio, que alberga estas notas, pajem
de invejável cultura formal em escolas de excelente padrão e partidária do
preparo auxiliar por via da diuturna autodidaxia, sendo, ipso facto e por enorme merecimento, imortal titular da Cadeira 21
da Academia Cearense da Língua Portuguesa, competente operadora do batente professoral
universitário, transitada pelos melhores programas acadêmicos em sentidos largo
e estreito.
A
Escritora caririense, autora de Desesperadamente
Nua (1987) e Amálgama (2001), é contista
da melhor felpa – casta bem difícil de operar, notadamente no que diz respeito
à originalidade e às tramas rápidas - cronista de alteado valor, poetisa de
veio distinto e fino lavor, original, ao ponto de alguém, como eu, que priva
dos seus escritos reconhecê-la até num texto não assinado, tal exprime o seu
estro regular e agradável, sem as simplicidades indigentes da elocução,
tampouco os voos exagerados dos poetas albatrozes das estâncias cifradas e
ilegíveis.
Da
sua produção constante (não há escritor sem produto), ressai o texto
ensaístico, decerto pelo fato de que, tendo por ofício ministrar conteúdos de
Letras e teores de redação em Língua Portuguesa, necessita de incessante
efetividade em relação aos feitos desses misteres, de modo a ter sido o ensaio
literocientífico o gênero eleito para se adestrar à proporção do tempo.
Ocorreu
de ser, então, este o jaez literário aproveitado para trazer ao lume sua Magnum opus, moto desenvolvido com
esplendor n’Os Fantásticos Mistérios de
Lygia, escrito básico da dissertação de mestrado, sustentada, suma cum
laude, na Universidade Federal do
Ceará. Publicado pela Expressão Gráfica e Editora – e acerca do qual pretendo
ainda oportunamente fazer glosa – nele Aíla Sampaio perlustra a obra de Lygia
Fagundes Telles, mormente no vigor dos motivos fantásticos que emolduram parte
da produção da escritora e jurista paulistana, hoje com 92 anos (19 de abril de
1923).
A
Autora, que também assina De Olhos
Entreabertos (2012) e cujo patrono na Academia Cearense da Língua
Portuguesa é o gramático José Marques da Cruz, tem produção multímoda, como já
adiantei, e, conquanto tenha elegido o ensaio para tornear, pratica versos
brancos maravilhosos e a crônica e o conto e o poema, num estilo alegre e
faustoso sob o prisma de emprego da língua, sem descer ao vulgo nem se dissipar
nos páramos do inexprimível, onde costuma se perder o leitor.
Seu
produto de prima qualidade, de poetisa feliz, é exibido, sempre com novidades,
suas e de outros autores, no blog http://literail.blogspot.com.br
Sem
dúvida, será providência salutar o consulente lhe experimentar o acesso e
comprovar a estesia dos expedientes informáticos emoldurando a magnificência
dos seus escritos.
COMENTÁRIO:
Grande
Vianney! Grata pela leitura!
Aíla
Sampaio.
Grande Vianney! Grata pela leitura!
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