quarta-feira, 10 de setembro de 2014

CRÔNICA (RV)

CHAME O LADRÃO
Reginaldo Vasconcelos*


Chico Buarque de Holanda, lá pelos anos 60, para significar que o Poder Público de então era mais corrompido e menos confiável que a marginália nacional, compôs a música “Acorda Amor”, em cuja letra o cidadão que percebe movimentos suspeitos no rol do edifício, alta madrugada, manda que a mulher chame o ladrão, ao invés de recomendar que chame a polícia, como seria de esperar.

A crítica da época era contra o Regime Militar, que usava todo o aparato de segurança pública para mandar prender em casa os suspeitos de “subversão”, mesmo na calada da noite, sem mandado judicial, muitas vezes sumindo com os presos para sempre, o que fazia o marginal comum parecer um justo antagonista da polícia, na metáfora do autor.

Novamente se torna cabível a ilação crítica de que as gangues organizadas que infestam o submundo do Brasil atualmente, com parte dos integrantes presa, parte deles solta pelas ruas, praticando tráfico e sequestros, são apenas versões mambembes das quadrilhas desarmadas que frequentam os palácios de Brasília e que comandam a máquina pública brasileira.

Os membros desta malta, que ostentando gravatas e disparando canetadas, traficam prestígio e sequestram verbas públicas, também estão em parte presa atualmente, outra parte atuando na política e mentindo na campanha eleitoral. 

No início da década de 60 – eu tinha em torno de cinco anos de idade – os rapazes de esquerda da vizinhança me ensinavam a bradar a palavra de ordem do momento, popularizada por Getúlio Vargas na campanha pela criação da Petrobrás, a mesma que eles pichavam nas paredes contra o imperialismo americano: “O PETRÓLEO É NOSSO!”.


Agora a esquerda no poder se alia ao que há de pior nas ditas “forças do atraso”, por ela mesma assim chamadas, para saquear o Brasil utilizando a Petrobrás, que entre outras manobras ruinosas comprou refinarias sucateadas a peso de ouro, inclusive a americanos – conforme inquéritos parlamentares e policiais federais que já resultaram em prisões e em pedido de delação premiada. 

Pobre país tropical, que carnavaliza e acanalha as suas instituições mais importantes – e em que grande parte dos políticos, polarizados em esquerda e direita, de ambos os lados, nada mais são do que beneficiários de si mesmos e nada mais fazem do que defender seus interesses. 

Pobre povo brasileiro, que sofre índices elevados de insegurança nas ruas, com a bandidagem desvairada e impune atacando o seu patrimônio e ameaçando a sua vida, enquanto políticos no poder dão o pior exemplo aos marginais, pois muitos se revelam criminosos de colarinho branco que roubam o erário e conspurcam a consciência das pessoas.

 *Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista

Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ

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