A ESPERA...
Aluísio Gurgel do Amaral Junior*
Quando a noite caía, a luz amarelada do poste de madeira
acendia e iluminava parcamente a esquina. Pouco tempo depois, o senhor
Cavalcante "baixava as portas" da mercearia, como ele mesmo costumava
dizer. Era então que a meninada se reunia à espera...
Uns brincavam de manjôu, outros jogavam bola, os mais
aquinhoados passeavam em suas bicicletas... Enfim, a vida lúdica prosseguia
eclodindo de todo em todo. Assim transcorria o tempo que conhecíamos como sendo
"a espera!".
Enquanto esperávamos, as senhoras mais antigas da rua
calmamente punham-se em rodas de conversas na calçada, normalmente defronte da
casa de dona Dulcinéia, que as recebia em sua sapientíssima humildade.
Logo, Frederico começava a passear de mãos dadas com a
Josete. Ambos altos, muito bem vestidos, levavam o namoro em caminhadas pela Rua
Pero Coelho; seguiam até a avenida Dom Manoel e depois voltavam até a rua
Rodrigues Júnior.
A espera era algo místico porque emoldurada pela beleza da
noite calma daquela nossa rua calçamentada que ficou na memória. Alguém sempre
acusava o fim da espera com o mesmo grito de guerra: "Lá vem ele, lá vem
ele!".
Os que corriam paravam de correr, os que jogavam paravam de
jogar, os que andavam de bicicleta estacionavam, e todos aguardávamos na
esquina da mercearia, debaixo da luz amarelada do poste de madeira, enquanto
ele vinha conduzindo sua placidez.
Parava o seu carinho, levantava a tampa e nos acercávamos.
Era sempre assim. Uma espécie de combinação silenciosa. Então ele acendia a
lamparina e em seguida retirava a calota central da bacia do carrinho para
operar a mágica suprema.
Ele "pegava" a chama com os dois dedos da mão
direita e a conduzia até a boca da calota central, onde "dava fogo"
em três pavios; e num piscar de olhos apagava o fogo dos dedos estalando-os e
sacolejando a mão vigorosamente.
Dali em diante, mesmerizados pela magia, testemunhávamos o
nascimento dos primeiros fiapos que, aos poucos, se encorpavam para virar uma
finíssima nuvem de algodão doce, que ele dobrava com a colher e nos entregava
em um pedaço de papel.
*Aluísio Gurgel do Amaral Jr.
Juiz de Direito, Professor, Músico, Escritor
Titular da Cadeira de nº 14 da ACLJ
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